quarta-feira, 27 de março de 2019

OS KAMA-RUPA E O PODER DA ANCESTRALIDADE


                             

       No plano astral há uma imensa variedade de seres, humanos e não humanos, todos seres naturais seguindo o caminho normal da evolução.
       Há, porém, outros seres, que não pertencem à categoria de seres naturais, e sim artificiais, pois são originados a partir de emoções e sentimentos intensamente efetivados pelo poder criador inerente ao ser humano, mas precisamente à latente divindade interior, inerente a cada ser. Tais sentimentos, pensamentos e canalizações, produzidas pelos seres humanos, atua diretamente sobre a matéria astral ( lembremos que é a partir do astral que todas as formas físicas tomam concretude), gerando então um turbilhão vibratório que reúne em seu centro toda a energia  imantada pela força produzida pelo ser humano. Constituindo um "esboço" de vitalidade, como o germe de um ser em formação, dotado de um centro de força. Se tal sentimento, pensamentos ou canalização tendem a ser efetuados com repetida frequência, formará um "ser" astral, alimentado pela própria energia humana, e este, com a contribuição energética frequente, acaba adquirindo uma espécie de "consciência" própria, que é um reflexo da própria consciência de ser "criador", ou "criadores", de maneira proposital ou não.
       Mencionei a palavra "criadores", como poderemos ver nas linhas que se seguem.
       Este ser possui o nome sânscrito de Kama-Rupa, cuja tradução literal seria "forma-pensamento", ou "desejo-forma" astral.


       Esta forma de "consciência" que adquire, impele este a dar continuidade à sua existência, de acordo com a mais misteriosa lei oculta, que confere a mais simples forma de vida a intrínseca razão da persistência, estabelecendo com seu meio uma simbiose que permite a efusão de "vida" que lhe plasma a essência. Este não é o mistério apenas da co-criação, mas o próprio equacionamento da criação, o poder criador divino manifestado a partir da própria divindade que permeia todo o universo manifestado. Aqui, para quem entender, está resumida a mais plena essência da mais alta magia.
       Tal ser, assume seu padrão existencial nas adjacências da aura de seus criadores, de onde permuta troca e utilização das energias que lhe deram vida, provocando vibrações semelhantes a estas , sejam positivas ou negativas. Tais vibrações constituem as sensações próprias que induzem às práticas que formaram tal ser, sejam emoções, vícios, ideias e ritualísticas, que muitas vezes podem ser traduzidas por vícios culturais. Dessa forma tais seres poderão ser guardiões, protetores, ou verdadeiros demônios tentadores que aprisionam seus criadores em suas próprias armadilhas.
       Mas qual a relação entre os Kama-Rupa e o poder da ancestralidade?
       O poder da ancestralidade está na formação de seres artificiais que aglutinam espíritos naturais aos propósitos mútuos através dos quais foi estabelecida a perfeita simbiose.
       Através das práticas, crenças, ritualísticas e padrões comportamentais, tais seres tendem a ganhar volume. Suas formas vão se delineando de acordo com as características emocionais de um indivíduo, de um grupo religioso, ou até mesmo de um povo, se nutrindo de suas energias.
       Os Kama-Rupa, também chamados de elementares no ocidente, (não confundir com elementais), são muitas vezes criados por magos negros para efetuar propósitos nefastos, podem também ser criados por magos brancos para fins positivos. Podem, porém, ser criados por mentes obcecadas e doentias. Os mais poderosos são, contudo, aqueles criados por grupos .
       Há um antigo provérbio oriental que diz o seguinte: "Deus criou os homens, e os homens criaram seus deuses". Isso é bem verdade, pois os grupos tribais ou religiosos acabam criando , alimentando e fortalecendo seus "deuses", que o lhes protegem, punem e exigem dispensações compatíveis com as energias pelas quais foram engendrados.
       “Por essa razão, é muito perigoso o enfrentamento com determinadas seitas ou grupos, pois possuem seus “deuses” ou demônios” fortemente ativos contra todo aquele que ousa desbaratar seus domínios. Isso não significa dizer que não existam espíritos ou entidades associados a tais seres. Eles existem e formam um grupo astral coeso, fortemente estruturado na defesa de suas convicções.
       Podemos imaginar o poder que conferem através das energias emitidas através dos séculos, dos milênios...
       Muitas vezes ligados à natureza, formam com ela uma associação energética profícua e benéfica. Este é o poder da ancestralidade, onde tomam a forma da energia, emanada da natureza, efetuando prodígios indizíveis sobre a própria natureza humana. Por esta razão, muitas vezes benéficas, as religiões ancestrais conferem sabedoria e proteção àqueles que mantêm o propósito antigo de seus ancestrais.
       A magia ancestral reside neste princípio da tradicional continuidade, evitando o esmorecimento da cultura e dos padrões milenares de adoração e ritualística.
       Em todas as coisas estão permeados o bem e o mal. Tudo depende daquilo que a intencionalidade determina.
       A destruição de um Kama-Rupa se faz inversamente à sua criação. Tanto os "deuses" avolumados por grupos através dos séculos, quanto aos individuais, criados pelas pessoas. Como são seres artificiais, cortando o suprimento energético que lhes dá existência, desvanecem e se desfazem nas correntes astrais. O que pode testar, muitas vezes são as entidades naturais a eles associadas há muito longo espaço de tempo.


       Alexandra David-Néel, em sua obra clássica "Tibete, Magia e Mistério", nos relata detalhadamente a formação de Kama-Rupa pelos monges tibetanos, assim como um criado diretamente pela própria autora, assim como também a destruição do tal ser.
       Em certa ocasião, alguns amigos espíritas estavam com dificuldade em remover um obsessor, que , segundo a pessoa que o via com frequência, a atormentava rotineiramente.            

       Perguntaram-me se poderia ser um problema de natureza psíquica, mas como tal entidade era perceptível em visão astral, tal ideia foi imediatamente descartada. Tal ser não respondia à "doutrinação" dos amigos espíritas, e nem à ritualística que estabelecemos.  Como esta entidade se enfraquecia assim que era feito bloqueio energético na pessoa vitimada pela presença, tivemos quase a certeza de que se tratava de um elementar, um Kama-Rupa criado pelo pensamento obsessivo da própria pessoa.
       Então foram feitas as "negações", os mantras e o recondicionamento mental da pessoa, suprimindo as energias mantenedoras da "vida" de tal horrendo ser. Após toda explicação necessária à pessoa pudemos ter como encerrado o trabalho de libertação.
       Voltando à relação com a ancestralidade, existe em inúmeras ordens um "enfrentamento" que o aspirante deve executar.


       Não poderia deixar de mencionar o maior Kama-Rupa existente, conhecido no oriente como o "Dragão das Sombras" também chamado por muitos ocidentais de dragão do umbral. Muito falado em diversos textos esotéricos do oriente, é constituído pela aglutinação das energias de todos os "demônios", criados por nós mesmos, desde o início de nossa condição humana, ou até mesmo antes de nos tornarmos propriamente humanos. É este o primeiro portal daí iniciação, onde o discípulo deve "matar" seu próprio "dragão" suprimindo as energias vitais que lhe conferem a existência. É uma terrível luta descrita de maneira implícita no Bhagavad Gita. Está presente também no simbolismo de São Jorge, e poder de sua espada de luz e verdade.
       Criamos a cada momento esboços de Kama-Rupa, na grande maioria das vezes, se desvanecem na correnteza e na diversidade de nossas emoções. Há um Kama Rupa intrínseco, ancestral inerente ao nosso ego. Temos a espada do discernimento, e sabemos que para transpor o portal da plenitude se faz necessário debelar tal ser preso em nossos corações. A fé se consubstancia na certeza, e nada é mais certo que o poder "Eu Sou" intrínseco ao nosso ser e nossa única realidade, capaz de suprimir toda a irrealidade, todas as forças artificiais desprovidas de verdade e de luz.
Namastê
Om tat sat


2 comentários:

  1. Maravilhoso texto.
    Esse texto já tinha sido postado me parece e não encontrei mais aqui .
    Ocorreu algo ?
    De qualquer forma fico feliz em rever estas informações inigualável

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  2. Sim. Vários textos desapareceram sem que eu soubesse a razão. Porém, como tenho todos salvos, estou postando novamente aqueles que foram removidos.
    Agradeço seu comentário, que como sempre, se faz gentil e motivador.
    Paz e luz.
    Namastê 🙏🏻🕉️

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