terça-feira, 30 de abril de 2024

A MAGNUM OPUS

 

 

                                            


 

        É uma designação latina cuja tradução seria "A Grande Obra".

        Mas, o que seria esta Grande Obra, amplamente descrita na literatura mística e esotérica, assim como também em inúmeras obras de ficção incluindo filmes, desenhos e séries televisivas?

        Respondendo de maneira mais sintética possível: seria o processo de transformação e purificação alquímica cuja meta viria ser a obtenção do "Lápis Philosophorum" — muito mais conhecida como a "Pedra Filisofal".

        O essencial é conhecermos onde terminam as especulações lendárias e onde se inicia a mais profunda das simbologias metafísicas.

        Sobre esses aspectos místicos, alegóricos e conjecturais, vamos explanar sobre o divisor de águas, onde desmistifica as lendas e se descortina a filosofia por trás das alegorias envoltas nas mais difusas perspectivas.

 


        A Magnum Opus tradicionalmente vem dividida em quatro etapas essenciais: (Nigredo, Albedo, Citrinitas e Rubedo).

        À primeira delas denomina-se Nigredo, que vem ser uma denominação latina cujo significado literal é "escuro" ou, segundo alguns autores mais antigos, "sombrio". Os antigos alquimistas se utilizavam desta nomenclatura para designar o estágio inicial do processo alquímico que seria a morte espiritual — e sua consequência decomposição. É como o próprio nome especifica, a fase negra, na qual se inicia o processo a partir do decomposto — a matéria preta uniforme. Aqui há o verdadeiro mistério daquilo que nos arcanos esotéricos se especifica como a "Noite Negra da Alma", quando o indivíduo se defronta com o seu eu inferior, onde residem todas as suas sombras, às quais deverá sobrepujar para que encete o seu caminho nas trilhas ascensionais.

 

        Albedo vem ser a designação alquímica, cuja tradução do latim vem ser branqueado — esbranquiçado segundo alguns autores. É o segundo estágio da Magnum Opus, que expressa a fase compreendida como purificação. É a fase, dentro dos aspectos esotéricos, onde o ser, após sobrepujar suas prospecções sombrias, afasta-se da penumbra, adentrando nas dimensionalidades objetivas, redescobrindo a centelha divina no íntimo de seu ser. É a purificação da alma, a regeneração interior inaugurando uma nova concepção da realidade intrínseca.

        Citrinitas é uma designação em latim que significa "amarelado". Vem ser a etapa após a purificação. É o terceiro e penúltimo estágio do processo alquímico que, pela própria sugestão da nomenclatura — a coloração amarela — simboliza a "transmutação da prata no ouro alquímico" — a purificação subsequente à etapa da regeneração.

        Rubedo é a designação da última etapa. É a palavra em latim que significa "avermelhado". Neste estágio é plasmada a iluminação, onde o Lápis Philosophorum é alcançado — a amplitude da consciência cósmica é alcançada — a Grade Obra se vê cumprida, e o discípulo torna-se mestre em sua plena autorrealização, expandindo o amor a todos os seres em sua unidade com o universo.

 

 

 


 

                                          A Transmutação do chumbo em ouro.

 

        Vem ser uma metáfora que, assim como o "lapidar da pedra bruta", simboliza o aprimorado refinamento do ser humano à iluminação espiritual.

        É certo que vivemos em um universo que, como disse Jacques Bergier, de infinitas possibilidades, onde as transmutações poderão se estabelecer como uma realidade em algum local e em algum momento.

        Mas pensemos: a obtenção de riquezas transitórias em nada se compara com a riqueza permanente da auto realização. Toda materialidade está envolta na impermanência, e todos os grandes mestres vivenciam esta realidade. Tanto que a transmutação material sempre foi chamada de "Pequena Circulação" pelos alquimistas, enquanto que a plenitude da iluminação era denominada "A Grande Circulação" no contexto transformador.

        "Aquele que não nascer de novo não pode ver o reino dos céus" — Disse Jesus no Evangelho de João, capítulo 3, versículo 3. Ora, para nascer novamente é necessário que ocorra a morte. A morte do velho homem para o nascimento do novo homem. A morte do ego para o renascimento em espírito. A morte é a fase do Nigredo. Seu renascimento a fase do Albedo, a purificação. Para a posterior regeneração na fase de Citrinitas, e, na sua subsequência, a iluminação, o Rubedo — o ouro provado a fogo que emana sua essência de sublimidade à sua total adjacência.

 

 

 


 

 

                                                  A Quintessência:

 

        Por esta designação se entende a essência superior que transcende os quatro elementos — por esta razão o número cinco: "quinta essência" — acima dos elementos conhecidos do planeta terra: água, fogo, terra e ar. Na literatura alquímica clássica, o Lápis Philosophorum contém esta substância essencial que interpenetra toda matéria universal. Nesta mesma literatura, onde se descreve a quinta essência, denota-se sua essência espiritual presente no âmago de todas as coisas, alicerçando as coisas visíveis. Através da Pedra Filosofal, a quinta essência seria manipulada para que fosse possível a transmutação dos metais assim como a obtenção do Elixir da Longa Vida, o qual permitiria ao alquimista viver indefinidamente, como rezam as lendas de Nicolas Flamel (Autor dos Mistérios das Figuras Hieroglífica), Fulcanelli (Autor das Mansões Filosofais e Os Mistérios das Catedrais), assim como o Conde de Saint Germain entre inúmeros outros alquimistas célebres.

        A quinta essência alquímica é, na verdade, um símbolo: da energia primordial que estrutura o próprio universo, e a centelha divina, presente no homem — o Âtman a essência imortal do ser humano.

 

 


 

                         O Elixir da Longa Vida e seu simbolismo.

 

        Na simbologia alquímica o Elixir da Longa Vida se traduz em uma significação muito mais elevada. Traz em si a ideia da iluminação, a transcendência do "indivíduo ego" para o Eu Crístico. A imortalidade não corresponde a uma imorredoura estruturação física, mas uma elevação de níveis de consciência em conexão com o divino, o Eu Maior desprendido das limitações da materialidade — a autorrealização humana no regresso à sua natureza divina — do Adam Belial ao Adam Kadmon, anterior à queda.

 

 


                                                        O Atanor.

 

        "Attanur" é um vocábulo árabe cujo significado é "forno".

        Vem ser um forno usado nos processos alquímicos para propiciar a "digestão filosófica", cuja meta seria a obtenção do Lápis Philosophorum.

         Se adentrarmos nas obras como Guia Prático de Alquimia de Fráter Albertus, ou nas obras clássicas de Basílio Valentine, como “As Doze Chaves”, veremos que são descritos processos — caminhos de execução prática para o alcance da meta alquímica essencial.

        Inúmeros processos, vistos através do prisma da moderna ciência, seriam a destilação, condensação e sublimação. Os antigos, no entanto, utilizavam termos alheios à moderna concepção das análises químicas, como a "digestão alquímica", e esta era elaborada no atanor.

        Neste tipo de forno, as substâncias poderiam permanecer por um extenso período de tempo sob uma temperatura cujo valor seria expresso com exatidão, e mantida dentro da mais perfeita uniformidade, sem alterações.

        Nos processos alquímicos encontraremos toda uma ciência mística denominada espargiria, a qual já explanamos em textos anteriores.

        É essencial sabermos que a Pedra Filisofal era obtida através do trabalho neste forno de temperatura constante.

        Todo esse processo, incluindo o forno, essencial à obtenção do Lápis Philosophorum representa uma simbologia comentada pelos grandes sábios dos  mais profundos arcanos. O forno representa o mergulho em um mundo de maior aceleração transformadora. É o espírito sendo purificado através do mergulho na densificação. O sutil atravessando o denso — a analogia do fixo atravessado pelo volátil — também chamado na linguagem esotérica: "A União do Fixo com o Volátil" — A Rosa Hermética brotando da Pedra Filosofal.

        Uma água turva é filtrada quando atravessa as rochas de calcário. Assim é a viagem do espírito na materialidade: através dos ciclos das reencarnações o espírito se destila de suas impurezas, se purificando  gradativamente sob os eflúvios dos aeons.

        O Atanor simboliza o mundo da matéria densa, ou energia densa — o plano físico no qual atravessamos seguindo a nossa jornada evolutiva. A evolução exclusiva no plano astral — de alguns seres que não mais reencarnam — se processa de maneira incontavelmente mais lenta que através das sucessivas encarnações no plano mais denso de existência.

        A simbologia alquímica é tão profunda quanto bela, tudo é análogo no universo.

 

 

 


                                            A essência da simbologia alquímica.

 

        Para concluir, é essencial saber que os grandes sábios não dedicavam suas vidas na busca de coisas materiais, do ouro e das riquezas "onde os ladrões minam e as traças corroem". Buscavam a transformação do próprio ser, o "grande tesouro em vasos de barro" que se perpetua na sucessão das eras. O homem terral se transformando, ou melhor, se transmutando em ser de luz, imperecível em sua união com o divino.

        O Lápis Philosophorum vem ser o veículo dessa transformação. É a Luz Crística que dissipa todas as trevas da ignorância indicando o caminho à plenitude da alma — os rios de águas vivas que aplacam, definitivamente, a sede daqueles que se perderam nos desertos da incerteza. É a nova concepção que descortina os horizontes desconhecidos — o caminho, a verdade e a vida na sublimação do próprio ser — a Magnum  Opus da grande alquimia divina.

 

        Paz e Luz.