terça-feira, 30 de abril de 2024

A MAGNUM OPUS

 

 

                                            


 

        É uma designação latina cuja tradução seria "A Grande Obra".

        Mas, o que seria esta Grande Obra, amplamente descrita na literatura mística e esotérica, assim como também em inúmeras obras de ficção incluindo filmes, desenhos e séries televisivas?

        Respondendo de maneira mais sintética possível: seria o processo de transformação e purificação alquímica cuja meta viria ser a obtenção do "Lápis Philosophorum" — muito mais conhecida como a "Pedra Filisofal".

        O essencial é conhecermos onde terminam as especulações lendárias e onde se inicia a mais profunda das simbologias metafísicas.

        Sobre esses aspectos místicos, alegóricos e conjecturais, vamos explanar sobre o divisor de águas, onde desmistifica as lendas e se descortina a filosofia por trás das alegorias envoltas nas mais difusas perspectivas.

 


        A Magnum Opus tradicionalmente vem dividida em quatro etapas essenciais: (Nigredo, Albedo, Citrinitas e Rubedo).

        À primeira delas denomina-se Nigredo, que vem ser uma denominação latina cujo significado literal é "escuro" ou, segundo alguns autores mais antigos, "sombrio". Os antigos alquimistas se utilizavam desta nomenclatura para designar o estágio inicial do processo alquímico que seria a morte espiritual — e sua consequência decomposição. É como o próprio nome especifica, a fase negra, na qual se inicia o processo a partir do decomposto — a matéria preta uniforme. Aqui há o verdadeiro mistério daquilo que nos arcanos esotéricos se especifica como a "Noite Negra da Alma", quando o indivíduo se defronta com o seu eu inferior, onde residem todas as suas sombras, às quais deverá sobrepujar para que encete o seu caminho nas trilhas ascensionais.

 

        Albedo vem ser a designação alquímica, cuja tradução do latim vem ser branqueado — esbranquiçado segundo alguns autores. É o segundo estágio da Magnum Opus, que expressa a fase compreendida como purificação. É a fase, dentro dos aspectos esotéricos, onde o ser, após sobrepujar suas prospecções sombrias, afasta-se da penumbra, adentrando nas dimensionalidades objetivas, redescobrindo a centelha divina no íntimo de seu ser. É a purificação da alma, a regeneração interior inaugurando uma nova concepção da realidade intrínseca.

        Citrinitas é uma designação em latim que significa "amarelado". Vem ser a etapa após a purificação. É o terceiro e penúltimo estágio do processo alquímico que, pela própria sugestão da nomenclatura — a coloração amarela — simboliza a "transmutação da prata no ouro alquímico" — a purificação subsequente à etapa da regeneração.

        Rubedo é a designação da última etapa. É a palavra em latim que significa "avermelhado". Neste estágio é plasmada a iluminação, onde o Lápis Philosophorum é alcançado — a amplitude da consciência cósmica é alcançada — a Grade Obra se vê cumprida, e o discípulo torna-se mestre em sua plena autorrealização, expandindo o amor a todos os seres em sua unidade com o universo.

 

 

 


 

                                          A Transmutação do chumbo em ouro.

 

        Vem ser uma metáfora que, assim como o "lapidar da pedra bruta", simboliza o aprimorado refinamento do ser humano à iluminação espiritual.

        É certo que vivemos em um universo que, como disse Jacques Bergier, de infinitas possibilidades, onde as transmutações poderão se estabelecer como uma realidade em algum local e em algum momento.

        Mas pensemos: a obtenção de riquezas transitórias em nada se compara com a riqueza permanente da auto realização. Toda materialidade está envolta na impermanência, e todos os grandes mestres vivenciam esta realidade. Tanto que a transmutação material sempre foi chamada de "Pequena Circulação" pelos alquimistas, enquanto que a plenitude da iluminação era denominada "A Grande Circulação" no contexto transformador.

        "Aquele que não nascer de novo não pode ver o reino dos céus" — Disse Jesus no Evangelho de João, capítulo 3, versículo 3. Ora, para nascer novamente é necessário que ocorra a morte. A morte do velho homem para o nascimento do novo homem. A morte do ego para o renascimento em espírito. A morte é a fase do Nigredo. Seu renascimento a fase do Albedo, a purificação. Para a posterior regeneração na fase de Citrinitas, e, na sua subsequência, a iluminação, o Rubedo — o ouro provado a fogo que emana sua essência de sublimidade à sua total adjacência.

 

 

 


 

 

                                                  A Quintessência:

 

        Por esta designação se entende a essência superior que transcende os quatro elementos — por esta razão o número cinco: "quinta essência" — acima dos elementos conhecidos do planeta terra: água, fogo, terra e ar. Na literatura alquímica clássica, o Lápis Philosophorum contém esta substância essencial que interpenetra toda matéria universal. Nesta mesma literatura, onde se descreve a quinta essência, denota-se sua essência espiritual presente no âmago de todas as coisas, alicerçando as coisas visíveis. Através da Pedra Filosofal, a quinta essência seria manipulada para que fosse possível a transmutação dos metais assim como a obtenção do Elixir da Longa Vida, o qual permitiria ao alquimista viver indefinidamente, como rezam as lendas de Nicolas Flamel (Autor dos Mistérios das Figuras Hieroglífica), Fulcanelli (Autor das Mansões Filosofais e Os Mistérios das Catedrais), assim como o Conde de Saint Germain entre inúmeros outros alquimistas célebres.

        A quinta essência alquímica é, na verdade, um símbolo: da energia primordial que estrutura o próprio universo, e a centelha divina, presente no homem — o Âtman a essência imortal do ser humano.

 

 


 

                         O Elixir da Longa Vida e seu simbolismo.

 

        Na simbologia alquímica o Elixir da Longa Vida se traduz em uma significação muito mais elevada. Traz em si a ideia da iluminação, a transcendência do "indivíduo ego" para o Eu Crístico. A imortalidade não corresponde a uma imorredoura estruturação física, mas uma elevação de níveis de consciência em conexão com o divino, o Eu Maior desprendido das limitações da materialidade — a autorrealização humana no regresso à sua natureza divina — do Adam Belial ao Adam Kadmon, anterior à queda.

 

 


                                                        O Atanor.

 

        "Attanur" é um vocábulo árabe cujo significado é "forno".

        Vem ser um forno usado nos processos alquímicos para propiciar a "digestão filosófica", cuja meta seria a obtenção do Lápis Philosophorum.

         Se adentrarmos nas obras como Guia Prático de Alquimia de Fráter Albertus, ou nas obras clássicas de Basílio Valentine, como “As Doze Chaves”, veremos que são descritos processos — caminhos de execução prática para o alcance da meta alquímica essencial.

        Inúmeros processos, vistos através do prisma da moderna ciência, seriam a destilação, condensação e sublimação. Os antigos, no entanto, utilizavam termos alheios à moderna concepção das análises químicas, como a "digestão alquímica", e esta era elaborada no atanor.

        Neste tipo de forno, as substâncias poderiam permanecer por um extenso período de tempo sob uma temperatura cujo valor seria expresso com exatidão, e mantida dentro da mais perfeita uniformidade, sem alterações.

        Nos processos alquímicos encontraremos toda uma ciência mística denominada espargiria, a qual já explanamos em textos anteriores.

        É essencial sabermos que a Pedra Filisofal era obtida através do trabalho neste forno de temperatura constante.

        Todo esse processo, incluindo o forno, essencial à obtenção do Lápis Philosophorum representa uma simbologia comentada pelos grandes sábios dos  mais profundos arcanos. O forno representa o mergulho em um mundo de maior aceleração transformadora. É o espírito sendo purificado através do mergulho na densificação. O sutil atravessando o denso — a analogia do fixo atravessado pelo volátil — também chamado na linguagem esotérica: "A União do Fixo com o Volátil" — A Rosa Hermética brotando da Pedra Filosofal.

        Uma água turva é filtrada quando atravessa as rochas de calcário. Assim é a viagem do espírito na materialidade: através dos ciclos das reencarnações o espírito se destila de suas impurezas, se purificando  gradativamente sob os eflúvios dos aeons.

        O Atanor simboliza o mundo da matéria densa, ou energia densa — o plano físico no qual atravessamos seguindo a nossa jornada evolutiva. A evolução exclusiva no plano astral — de alguns seres que não mais reencarnam — se processa de maneira incontavelmente mais lenta que através das sucessivas encarnações no plano mais denso de existência.

        A simbologia alquímica é tão profunda quanto bela, tudo é análogo no universo.

 

 

 


                                            A essência da simbologia alquímica.

 

        Para concluir, é essencial saber que os grandes sábios não dedicavam suas vidas na busca de coisas materiais, do ouro e das riquezas "onde os ladrões minam e as traças corroem". Buscavam a transformação do próprio ser, o "grande tesouro em vasos de barro" que se perpetua na sucessão das eras. O homem terral se transformando, ou melhor, se transmutando em ser de luz, imperecível em sua união com o divino.

        O Lápis Philosophorum vem ser o veículo dessa transformação. É a Luz Crística que dissipa todas as trevas da ignorância indicando o caminho à plenitude da alma — os rios de águas vivas que aplacam, definitivamente, a sede daqueles que se perderam nos desertos da incerteza. É a nova concepção que descortina os horizontes desconhecidos — o caminho, a verdade e a vida na sublimação do próprio ser — a Magnum  Opus da grande alquimia divina.

 

        Paz e Luz.

 

 


sexta-feira, 29 de março de 2024

OS SETE PRINCÍPIOS NO UNIVERSO E NO HOMEM.

 


                  

 

        "Aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo, assim como aquilo que está em baixo é como o que está em cima" — explanou Hermes em seu Princípio ou Lei da Correspondência. E, esta simples expressão reflete uma ideia profunda sobre a natureza do universo e a interconexão entre seus diversos níveis, entre os quais está o Homem, o qual traz em sua essência toda infinitude, assim como toda eternidade que exprime o dinamismo celeste. O Homem é, pois, o universo em miniatura.

        O universo se dispõe em sete planos, o Homem em sete corpos, sendo cada um destes correspondentes a cada um dos planos que se elencam na infinitude cósmica.


 

        Como vimos em textos anteriores, o nosso ser essencial, ou seja, o nosso ser real, o "Jivatman" é a essência suprema do ser e não um determinado corpo. E, essa essência é aquilo que se aplica em cada corpo — cada qual constituído pela matéria/energia peculiar a cada plano em que o ser atua em sua viagem pela eternidade.

       Assim, nosso invólucro físico, em sua concretude material — aquilo que chamamos matéria nada mais é que energia em seu estado de maior amplitude de condensação — vem a ser formado pela matéria retirada do plano físico universo, permitindo ao homem se interagir com este plano — em sânscrito denominado "Sthuloupadhi", ou o "veículo físico" do Jivatman.

        Upadhi é um termo muito utilizado na literatura esotérica, do qual explanaremos a seguir.

 


 

                 Uphadi:

        Se tomarmos ao pé da letra a tradução literal da língua sânscrita vem ser "limitação" — sugerindo um fator limitante ou uma qualificação extra de alguma coisa. Esta designação é utilizada na filosofia hindu como um "disfarce", uma camuflagem da verdadeira realidade de algo, se referindo aquilo que limita uma determinada essência. Por exemplo, o corpo físico, do qual falamos acima, é o Upadhi de seu Espírito, assim como a sombra de uma espada em um muro seria o Upadhi dessa espada, e não a espada em si.

        No orientalismo, ou mais precisamente, no Raja-Yoga, o Homem — em sua essência — é subdividido em três Upadhis:

        1. O "Karanoupadhi", o Upadhi causal — a Mente Espiritual.

        2. O "Shmoupadhi", o Upadhi do Manas Superior, Manas Inferior e astral — veículo destes planos.

        3. O "Sthuloupadhi", já citado anteriormente, como veículo do plano físico.

 

        Na interação do Jivatman com o mundo físico, nos três estados físicos que o compõe — sólido, líquido e gasoso (o etéreo também faz parte do plano físico em seu grau maior de sutileza) — conforma a consciência física, em seus incontáveis níveis de elevação, configurando sua presença e ação no mundo físico no qual está inserido.

        Na interação do Jivatman com o mundo astral ou Plano Astral, o ser possui a capacidade de perceber, sentir e atuar no plano astral, resultando outro estado de consciência que assegura a interação, através dos sentidos astrais, com este plano de maior sutileza em relação à concretude física.

        O mesmo ocorre nos demais planos superiores onde os corpos, ou veículos de atuação do Jivatman, dão ao ser os meu9s suficientes para integrar, viver e interagir com os planos do universo.

 

        Após o desenlace físico, o corpo material se desagrega decompondo as substâncias que lhe deram forma e permitiram que integrasse a este plano encetando seu aprendizado no caminho evolutivo.

        Todas as vezes que o ser abandona seu veículo, estes se desagregam e, as substâncias que formaram esses corpos, retornam ao plano de onde foram retiradas.

 


        Lembremos que, o ser, quando encarnado no plano físico, seu corpo denso — peculiar a este plano — funciona como um veículo de atração e coesão para os demais corpos mais sutis. O inverso também é verdadeiro, pois tudo aquilo que tem sua existência física está estruturado também nas energias sutis — tudo está interligado, tudo se corresponde.

 

 

                  Na Reencarnação:

 

        Após a desagregação de seus corpos inferiores — o quaternário inferior: físico, etéreo, astral e mental inferior (Manas Inferior) — é que o homem pode reencarnar, através de sua tríade superior, ou o que chamamos Corpo Causal — a saber: mental superior, ou Manas Superior, Búdico e Âtmico.

 

 


                As energias:

 

        Sabemos que não há distinção entre matéria e energia, pois aquilo que chamamos matéria é a energia densificada, conforme frisamos anteriormente. Existe a energia primordial, a energia divina que permeia e interliga todo o universo. Desde as partículas-ondas dos subníveis atômicos até as Super novas, desde as mais ínfimas densificacões até os Espíritos Planetários, esta energia essencial ou primordial está impulsionando o caminho do retorno, dela é estruturado o Jivatman no homem, a centelha divina, assim como a mônada dos elementos ou a alma-grupo nos vegetais e animais da escala zoológica inferior (nos animais superiores há rudimentos do Manas Inferior), tudo se encaminha na terceira efusão do Logos em seu primeiro aspecto — conforme explanamos em textos anteriores — para a unidade em sua energia essencial.

        Tudo nasce da energia essencial e tudo se encaminha para esta, a qual sempre permanece estruturando o universo na sucessão dos aeons.

        Deus é esta energia, e a existência é a sua "respiração" — a vida é a respiração divina, na sucessão dos manvântaras e pralayas (ver a "Congênese e a formação do universo).

        Como já dissera um sábio: "Somos a Poeira das Estrelas". Assim como estamos inseridos no universo, o universo está inserido em nós. Como um bloco de gelo flutuando no Oceano Ártico, o qual é a própria água do oceano em um estado de diferenciação, assim somos todos, inseridos no Todo, assim como também formados pelo Todo. O universo visível é apenas a diferenciação do universo invisível. Tudo está sempre presente, nada se perde, nada morre ou perde sua existência — Deus é sua essência una assim como sua essência transformadora.

 

 


                                               Homem e Universo:

 

        Há sete planos universais assim como há sete corpos do homem. Porém, alguns corpos pertencem a um único plano, assim como há planos superiores a essência corpórea de       qualquer nível.

        Vejamos:

        No homem há o quaternario inferior e a tríade superior. No quaternario inferior há a subdivisão: física: que envolve:

        1. O corpo físico.

        2. O corpo etéreo.

 

        Acima deste há o "Kama-manas" — kama: astral; manas: mental.

 

        3. Corpo astral.

        4. Mental Inferior (Concreto) ou Manas Inferior.

 

        A tríade superior é chamada Corpo Causal — tem este nome por ser a causa das sementes kármicas, pois se trata daquilo que os místicos denominam "A Mônada Reencarnante":

 

        5. Mental Superior (abstrato) ou Manas Superior.

        6. Búdico.

        7. Átmico.

 

        A tríade superior se conecta com o quaternario inferior através da Ponte de Antakarana, já estudada anteriormente.

 

        No universo há sete planos:

 

        1. Físico.

        2. Astral.

        3. Mental.

        4. Búdico.

        5. Átmico ou Nirvânico.

        6. Anupadaka ou Para-Nirvânico.

        7. Ady ou Maha-para-nirvânico.

 

        No plano físico, como já vimos, há o corpo físico e o corpo etéreo (também chamados respectivamente de Stulo-sharira e Linga-sharira no budismo esotérico), veículos essenciais densos para a interação com este plano do universo.

 


        No Astral temos o Kama-sharira, ou simplesmente corpo astral, através do qual o Jivatman se integra ao mundo de Kama (Kama: astral).

 

        No plano mental ou Manas teremos o mental concreto — Manas Rupa — e o mental superior ou abstrato — Manas arrupa.

 

        No Búdico o corpo Búdico — Budhi.

        No Átmico o corpo Átmico ou Atman.

 

        No Plano Anupadaka, ou Para-Nirvânico, sua energia identifica-se com seres superiores ao grau evolutivo da humanidade comum.

        No Plano de Ady, ou Maha-para-nirvânico, a energia é a primordial, essencial, divina.

 

 


        Notas finais:

 

        O corpo causal, ou tríade superior, corresponde ao espírito no kardecismo, e dura enquanto evoluirmos como seres humanos até atingir a iluminação.

        O corpo mental inferior, juntamente com o corpo astral, corresponde ao chamado "Corpo Psíquico" por alguns autores.

 

        Paz e Luz

 


quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

MÔNADA — SEU SIGNIFICADO

                          



 

        Mônada é uma designação muito utilizada dentro do esoterismo. Inúmeros são os autores que discorrem sobre o aspecto das mônadas, todavia, são poucos aqueles que a definem, dentro na concepção verdadeira do próprio esoterismo qual seu verdadeiro significado.

 

 

        Mas, qual a concepção verdadeira do esoterismo?

        Diferente dos ensinamentos religiosos, o esoterismo afasta qualquer ideia de criacionismo, sempre afirmando, na grande maioria das escolas esotéricas, que todas as coisas seguem um caminho, ou uma senda evolutiva. Dentro dessa concepção, inseridos na temática da gradualidade evolutiva — a natureza não dá saltos — dissertaremos  sobre este tema tão complexo e apaixonante — pois quem entende realmente esta significação, está livre das crenças limitantes — das concepções religiosas ainda presentes nas ideias de muitos que se dizem esoteristas — e que na verdade, são religiosos engatinhando nas veredas da espiritualidade.

 


 

        Concepção antiga da mônada:

 

        Antes de ser utilizada esta designação, os povos antigos — especialmente os gregos — tinham a ideia de uma essência espiritual individualizada e indivisível — a presença da individualidade e sua manifestação.

        Dos gregos era também a ideia do Átomo, a partícula essencial, e, segundo os mesmos, indivisível, formadora de toda a matéria em suas infinitas combinações.

        Muito posteriormente foi provado que o átomo possuía um núcleo, o Próton, em torno do qual gravitavam os elétrons. O Próton — assim como também os elétrons — era também constituído por outras partículas menores: as subpartículas atômicas, os Quark, Glúons, e inúmeras outras, que nada mais são que energias em seus infindáveis graus de sutilezas.

 


        Dentro do esoterismo — segundo alguns autores — mônada seria como que a Centelha Divina, indivisível, indestrutível e indissolúvel — a "Presença Eu Sou" — a primeira identidade individualizada.

        Lembremos que "Tudo é Análogo na Natureza" — o átomo, que se acreditava a partícula ultérrima essencial de toda formação material — é infinitamente divisível, passivo de dissociação (conhecemos desde o século passado a fissão nuclear) — o que somos também é divisível, mutável e aglutinante.

        Aquilo que chamamos centelha divina é a conformação daquilo que se entende como a "presença divina" — a essência impulsionadora do retorno à Unidade Plena.

 


        Na verdade são concebidas como átomos espirituais dotados de atividade, substâncias forças.

 

        "Deus criou números incontáveis de mônadas, as quais são eternas e individualizadas" — Disse um autor antigo — "As tais são substâncias simples, essenciais e indivisíveis".

 

        "Deus criou um número elevadíssimo de mônadas" — Explana outro autor — "Cada mônada cocriou outras doze mônadas, formando grupos espirituais no caminho da ascensão".

 


        Mônadas são, na verdade, essências espirituais existentes em um dado momento da senda evolutiva. Explicaremos tal afirmação a seguir.

 

        Sigamos os caminhos evolutivos dos seres presentes no Planeta Terra. Conforme explanações exaustivamente descritas em inúmeros textos anteriores, a vida na terra surgiu através das sínteses e combinações moleculares, formando os primeiros aminoácidos há vários bilhões de anos. Há aproximadamente 4 bilhões de anos, formaram-se os primeiros organismos unicelulares, seguindo a escala evolutiva até os multicelulares, originando, com o passar das eras seres mais complexos, até os primeiros hominídeos — Australopithecus Afarensis, recuando no tempo cerca de 3,5 milhões de anos. A evolução prosseguiu até o advento do Homo Sapiens, há cerca de 300 mil anos, passando pelos Australopitecos, Homo Erectus e todas as variações intermediárias na mesma ancestralidade.

 


        Nada surge como criação ou geração espontânea. Tudo segue um caminho evolutivo, desde os organismos mais simples até os seres de maior e mais plena complexidade como podemos ver, atualmente  no gênero humano. A evolução não cessa, é como uma corrente de água que enceta seu fluxo desde sua nascente até onde afluem suas águas.

 


        Sigamos a analogia das correntes de água. Gotas d'água formam um pequeno veio, o qual se engrossa formando grotas, regatos e riachos. Estes últimos afluem para rios maiores, que caminham para o oceano.

        Somos esses rios maiores em direção ao mar — formados desde os veios e pequenos riachos, até que possamos confluir no oceano — a unidade   da convergência universal.

 


        Mas, há sempre uma indagação quando se fala em confluir à unidade: Então, se somos como rios à caminho do oceano, quando ali chegarmos será uma aniquilação do ser, perderemos nossa individualidade?

 

        Se éramos como inúmeros rios menores, cuja confluência formou o rio que hoje somos, atravessando os tempos — deixamos de ter uma individualidade?

 

        Somos a aglutinação de seres (rios menores) das escalas evolutivas inferiores.

        O grande neurocientista Paul D. MacLean, em seu livro publicado em 1990, “The Triune Brain in Evolution: Role in Paleocerebral Functions” ( O Cérebro Trino na Evolução: Seu Papel na Função Paleocerebral) , argumenta que o cérebro humano é dividido em três partes, ou três diferentes unidades funcionais: 1. O cérebro reptiliano, ou tronco basal, representado pela medula espinhal e pelas porções basais do Prosencéfalo. 2. O cérebro límbico, também conhecido como cérebro emocional — que é o cérebro dos mamíferos inferiores — tálamo, hipotálamo, hipocampo (sede da memória) e parahipocampo. 3. E, por fim o cérebro racional (neocórtex) — que diferencia o homem/primata dos demais animais — se constituindo por seus lóbulos: frontal, temporal, parietal, occipital... 


 

        MacLean atesta, através da anatomia e fisiologia, a assinatura evolutiva presente no corpo humano.

        Poderemos ver também as fases evolutivas do gênero humano através das etapas da embriologia, onde os estágios iniciais do embrião se assemelham aos animais inferiores da escala zoológica — iniciando logicamente como um organismo unicelular provido de um flagelo para sua locomoção. Cada etapa da embriogênese humana corresponde, portanto, às fases evolutivas da escala zoológica.

 

        Somos, dessa maneira, dentro da escala evolutiva, uma aglutinação de seres, mantendo nossa individualidade, a qual irá se expandir, na junção de muitas outras, formando um "Eu Maior", uma Mônada Expandida, na marcha evolutiva através dos eflúvios do tempo.

 


        Mônadas, portanto, são os estágios da individualidade em um determinado tempo.

        Não são "criadas", mas transformadas. Lembremos: "Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, segundo o sábio francês Antoine-Laurent de Lavoisier.

        Os primeiros seres vivos, à partir da aglutinação dos aminoácidos, já se estabeleciam como uma mônada ínfima — um ser que seguia, e por sinal soube seguir seu direcionamento evolutivo, formando, por sua vez, seres maiores e mais complexos, formando novas mônadas na configuração de uma nova realidade.

        O ser humano individual é uma mônada, mas não uma mônada criada, nem mesmo uma mônada indissolúvel e eterna em sua plasmação no atual momento da senda evolutiva — mas uma mônada formada ao longo trabalho dos aeons — nãoum trabalho findado que atingiu seu clímax na condição humana do momento atual — mas uma mônada que segue se transformando, aglutinando e confluindo em busca da mônada suprema, o oceano divino onde todos os caminhos se encontram e onde “Todos Somos Um”, na plenitude do Ser.

 


        Deus é o dinamismo cósmico — o universo em seu caminho de convergência, a equação que movimenta desde as mais ínfimas partículas subatômicas até as Super Novas, no entrelaçamento energético onde não existe a separatividade — é a energia essencial, que permeia o infinito, de onde todas as formas são plasmadas à partir das condensações derivadas da essência primordial — "a natureza aborrece o vazio".

 

        Cabe aqui uma dúvida muito comum nos arcanos de inúmeras escolas iniciáticas do ocultismo: "E o que vem a ser o chamado Plano Monádico"?

 

        Vamos, primeiramente, recordar alguns tópicos mencionados em textos anteriores:

 

        Segundo a orientação teosófica existem sete planos de existência:

 

        1. O plano Físico.

        2. O Plano Astral.

        3. O Plano Manásico (de Manas — Mental).

        4. Plano Búdico ou Intuicional.

        5. Plano Átmico ou Espiritual (Das essências espirituais).

        6. Anupadaka ou Plano Monádico.

        7. Adi ou Plano Divino.

 


        Anupadaka em sânscrito significa "sem pais" por extensão, "sem formas", onde se manifestam as mônadas, redutos últimos das individualidades espirituais.

       É, portanto, o último reduto das mônadas em sua auto realização a caminho da divindade — Adi, em sânscrito "primeiro" — vemos aqui o último estágio das mônadas à caminho do primeiro estágio da divindade essencial — o oceano onde se desaguam os rios e se tornam Um, no Eu Maior, a casa paterna, onde os "sem pais" retornam à morada de onde surgiram — completando a respiração divina entre os Manvântaras e os Pralayas.

        E o que é a Centelha Divina? É esse chamado a prosseguir na senda evolutiva, como uma chama sagrada indicando nossa essência divina que busca a sua unificação com a divindade única — o selo sagrado que autentica a natureza infinita e eterna da Mônada Divina, muito diferente da separatividade das mônadas transitórias da condição humana.

 

        Paz e Luz