quinta-feira, 23 de março de 2023

O JIVATMAN

 



 

 

Como já vimos nos inúmeros textos que precederam o tema que segue, a nossa essência não é, de modo algum, quaisquer dos corpos que possuímos, cada qual se faz um veículo de vivência nos planos de existência que atravessamos no decorrer de nossa senda evolutiva.

Em nosso interior, como também já dissemos, existe a "centelha divina", a verdadeira essência que constitui aquilo que poderemos denominar "o Eu Maior", e é está que estabelece manifestação em diferentes graus e aspectos conforme o veículo em que se aplica. Esta Centelha Divina, assim chamada,  é a sublime luz latente em nosso ser — mais que isso — é o nosso próprio ser revestido de imortalidade, já que todos os corpos são transitórios, alguns com uma duração maior ou menor que o outro no eflúvio dos aeons.

Nossos corpos — físico, etéreo, astral, mental concreto, mental abstrato, búdhico e átmico são os veículos por meio dos quais o Jivatman — assim se denomina a centelha divina — se manifesta. Cada um desses corpos são energias, de diferentes graus de densificação, advindas do sequenciamento cósmico — universo  é seus planos de existência — para que o Jivatman possa contatar com cada plano de manifestação.

Jivatman provém do idioma sânscrito, onde jiva significa "vida", mas vida em sua essência de ser e de existir em sua plenitude, enquanto que atman tem por significado o "alento vital". As duas palavras reunidas em Jivatman significam a "alma suprema", a essência mais elevada do ser em sua mônada existencial.

 


 

O mais elevado dos sete corpos que já descrevemos vem ser o átmico, cuja energia provém do plano nirvânico. É neste corpo, de elevadíssima sutileza, que o Jivatman ganha mais plena expressividade, e, por essa razão este corpo superior, onde a centelha divina se expressa mais absolutamente, se denomina "atman". Este vem ser o veículo em que o Jivatman deleita-se em si mesmo, como se ambos formassem uma unidade absoluta. Porém, embora o atman seja constituído de energia de elevado grau de sutileza, ainda não é constituído da "Energia Primordial", a essência divina, da qual se constitui o Jivatman, este último já não se constitui como um dos sete corpos do homem, simplesmente porque sua natureza excede a natureza humana, sendo sua essência divina, acima de qualquer manifestação humana, ainda que elevadíssima.

O Jivatman faz uso dos sete corpos, constituintes do gênero humano, para atuar e estabelecer vínculos conscientes com cada plano em que se manifestam cada um dos veículos (veículo em sânscrito possui a designação "Upadi", por isso em muitos livros, corpo físico tem sua referência como "stulo upadi, o astral, "sukshumo upadi" e a tríade superior "karano upadi").

 


Um exemplo muito profícuo sobre a aplicação do Jivatman sobre os veículos, ou corpos, em seus planos específicos de ação, é a antiga analogia da eletricidade em uma residência. Imaginemos que o Jivatman seja a corrente elétrica, advinda da central elétrica da usina, da qual está intrinsicamente conectado. Essa corrente elétrica, no interior da residência, quando aplicada em uma lâmpada, irá se manifestar exteriormente como luz. Aplicada em um ferro de passar, se manifestará na forma de calor. Em uma geladeira irá gerar o frio; em um ventilador como movimento, assim como em cada uma das disposições possíveis dos aparelhos elétricos e eletrônicos. E, assim como a corrente elétrica não é a lâmpada e sua luz, nem o ventilador e seu movimento, nem quaisquer outros aparelhos eletrodomésticos e suas exteriorizações, o Jivatman não é qualquer um dos sete corpos. Este simplesmente se aplica sobre cada um dos corpos imprimindo-lhes as características e disposições essenciais para que sejam desempenhadas as suas funções específicas em qualquer um dos planos de existência. No corpo físico atua incidindo sobre o metabolismo e toda fisiologia essencial à manutenção e expressão da vida humana dentro de seu contexto específico. Atua no astral imprimindo-lhe as sensações, no mental como pensamento, imaginação e memória cognitiva; nos superiores como intuição, discernimento, elevada cognição e sublimação dos mais sublimes ideais. Todos são, pois, veículos de manifestação do Jivatman, e, assim como qualquer um dos aparelhos elétricos da casa não são a eletricidade, os corpos não são o Jivatman, pois são temporais e dissipam ao final de cada ciclo de manifestação, da mesma maneira que, retirando o plugue da tomada, o aparelho se desconecta com o fluxo da corrente.

Seguindo a mesma analogia dos aparelhos eletrodomésticos, ainda que estes fossem avariados, a corrente elétrica continuaria existindo, deixando somente de se manifestar através dos tais.

Alguns espiritualistas acreditam, de maneira errônea, que o corpo astral, a que muitos simplesmente chamam de espírito, é imortal. Tudo é transitório e sujeito a transformações no universo, com exceção da energia primordial, ou divina, chamada por alguns de fluido cósmico universal. O corpo astral, não muito diferentemente do físico, também se dissipa, se desvanece. Assim como todos os demais corpos, sujeitos às transformações terão seu momento de desagregação. O Jivatman, nossa verdadeira essência, continuará existindo, até nos descobrirmos em sua essência, quando nos livrarmos das ilusões que constituem a própria impermanência.

O Jivatman é o nosso eu maior que se conecta com o Todo.

 

Nossa evolução se dá a passos longos ao longo dos aeons, pois o nosso Eu Maior está suprimido pelos "eus menores". Ainda estamos presos na força advinda dos corpos inferiores.

É como se estivéssemos envoltos em uma casca que necessita ser quebrada. Essa "casca"  representa a ilusória força daquilo que imaginamos ser o nosso "eu", que na verdade é o EGO — o falso deus que a humanidade adora há milênios.

Aos poucos a essência de nosso ser vai sutilizando ao sabor dos ciclos das encarnações.

Seguindo a analogia já descrita em textos anteriores: somos pequenos riachos, *contido pelas margens*, formado por rios ainda menores, a caminho das águas mais profundas a caminho do oceano.

As margens que limitam a expansão e o fluxo das nossas águas são os nossos corpos mais densos. O Jivatman é o fluxo que nos conecta à unidade — a divindade representada pelo Todo onde todas as águas se confluem.

 


O ser humano comum, no atual estágio evolutivo da humanidade, está iniciando sua aplicação no corpo mental abstrato, isto é, o Jivatman inicia sua manifestação no corpo mental superior. Contudo, não são todos os exemplares do gênero humano que consegue atingir a concepção de conceitos abstratos. Considerável parcela da humanidade atual ainda está limitada ao pensamento concreto, isto é, possuem seus pensamentos ainda direcionados às circunstâncias essenciais do mundo material, como uma maneira de obter capital, um meio de atrair a atenção de uma pessoa com a qual possui algum interesse, ou simplesmente elaborar algum trabalho onde as técnicas se consubstanciam unicamente nas leis cartesianas. O pensamento abstrato já adentra nos lindes das concepções metafísicas, nos questionamentos que envolvem a espiritualidade, os ideais e conceitos que buscam transformações no espírito humano e na sociedade na qual estão inseridos, na filosofia que engendra os mais amplos conceitos de observar o mundo, a vida e o próprio universo.

É importante saber que o indivíduo que tem uma religião não adentrou, necessariamente, dentro dos padrões da concepção abstrata. Muitas vezes a concepção de alma, era criação e da divindade, são meros reflexos da vida material de onde não consegue ir além. Muitas vezes a concepção religiosa está estruturada em conceitos de ressurreição da carne, isto é, do corpo físico, do qual não se consegue ir além.

Os hominídeos, a psrtir dos australoptecos, possuíam apenas rudimentos do pensamento concreto, sendo muito mais guiados por sensações e sentidos que lhes imprimiam as coordenadas de um mundo compreendido apenas pela mente instintiva.

O corpo búdhico é percebido por uma ínfima parcela do atual estágio evolutivo da humanidade, através do qual o Jivatman se aplica, possibilitando o estado devocional elevado — não de adoração vazia, mas de uma concepção de unidade universal — assim como um estado artístico puro, onde se consegue visualizar a essência energética que estrutura toda a realidade visível da concretude material — enquanto o corpo astral se estabece como o veículo essencial da paixão, o búdhico se consagra como o veículo substancial do amor.

O veículo átmico vem ser a verdadeira morada do Jivatman, é o sacrário régio da central divina latente em nosso ser. O Jivatman aplicado neste maus elevado veículo, traz em si a consciência cósmica, onde o "Eu humano" é suplantado pelo "Eu divino", onde o ser se consagra não mais como algo inserido no universo, mas como o próprio universo canalizado através da sua mônada essencial. Além do átmico, que é "o rio que integrando-se no Todo", está o próprio Jivatman que é "o próprio oceano onde se integram as águas de todos os rios".

O corpo mental abstrato, o búdhico e o átmico, perfazem o Corpo Causal, a mônada reencarnante — a tríade superior, ou o Espírito.

O corpo físico denso e o etérico fazem parte da densificação energética, que se desfaz com a morte física; o corpo astral e o mental concreto, forma aquilo que chamamos alma, que se desfaz assim que termina a sua vida astral.

 

 


 

Os Corpos do Homem Segundo Diversas Escolas Esotéricas:

 

 

Há muita confusão quando se fala nos corpos dos homens, e essa confusão, muitas vezes, faz com que sejam arrefecidas as disposições dos estudantes do esoterismo.

Para que não haja conflitos de conceitos e, ao mesmo tempo, mostrar que existem plena e correspondências entre os ensinamentos de diversas escolas sérias do esoterismo, resolvemos sanar algumas dúvidas e eliminar falsas divergências.

 

1.Vejamos, primeiramente, o conceito da escola Teosófica:

— Nela podemos notar o quaternário inferior e a tríade superior.

O quaternário inferior se divide em Corpo Físico e no Kamamanas. O corpo físico vem ser o físico, propriamente dito e o etéreo. No Kamamanas temos o corpo astral e o mental  concreto ou Manas Inferior.

Na tríade superior teremos o corpo causal, do qual já falamos anteriormente, constituído pelo mental abstrato, ou Manas superior, o Corpo Búdhico e o Átmico.

Assim na divisão Teosófica teremos:

— Átmico.

— Búdhico.

— Mental Abstrato.

— Mental Concreto.

— Etéreo.

— Físico.

 

2. Vamos agora para a Escola Budista Esotérica, na qual temos o quaternário inferior: Manas Rupa, correspondendo ao mental concreto, o Kama Sharira, correspondendo ao corpo astral; o Linga Sharira correspondente  ao etéreo, e o Stulo Sharira, correspondente ao corpo físico.

Na tríade superior teremos o Atman correspondente ao Átmico; o Buddhi, correspondente ao Búdhico, e o Manas Arupa, correspondente ao mental abstrato.

Assim, na escola budista esotérica teremos na sequência:

— Atman.

— Buddhi.

— Manas Arupa.

— Manas Rupa.

— Kama Sharira.

— Linga Sharira.

— Stulo Sharira.

 

*Apenas a título de leitura de grandes obras esotéricas, a palavra sânscrita "Kama" significa "Plano Astral".

 

3. Na Escola Hebraica Cabalística, teremos, no quaternário inferior, Guf, corpo físico; Kush ha Guf, correspondente ao etéreo; Nefesh, correspondendo ao astral (é muito comum iniciantes no estudo da cabala confundirem Nefesh com o corpo físico, pois faz referência ao "espírito dos ossos" — lembrando que, se os sábios autores especificam "Espírito" dos ossos, não pode se tratar do corpo físico e sim espiritual); e Ruach correspondendo ao mental concreto.

Na tríade superior teremos Yechida como átmico; Shayah, como Bhúdico, e Neshmah como mental abstrato.

Seguindo:

— Yechida.

— Shayah.

— Neshmah.

— Ruach.

— Nefesh.

— Kush ha Guf.

— Guf.

 

4. Na Escola Risacruciana temos Corpo Denso, como o físico; Corpo Vital como o etéreo; Corpo dos Desejos, como astral; Mente, como mental concreto; Espírito Humano como mental abstrato; Espírito de Vida, como o Bhúdico E Espírito Divino, como o átmico. (Lembrando aqui que há algumas variações dependendo da escola).

Assim teremos:

— Espírito Divino.

— Espírito de Vida.

— Espírito Humano.

— Mente.

— Corpo dos Desejos.

— Corpo Vital.

— Corpo Denso.

 

5. Na Escola Vedanta teremos Atman, Ananda Maya Kosha, Vijnana Maya Kosha, Manas Maya Kosha, Kama Maya Kosha, Prana Maya Kosha e Ana Maya Kosha. Correspondendo, respectivamente ao Átmico, Bhúdico, Mental Abstrato, Mental Concreto, Astral,  Etéreo e Físico.

Assim:

— Atman.

— Ananda Maya Kosha.

— Vijnana Maya Kosha.

— Manas Maya Kosha.

— Kama Maya Kosha.

— Prana Maya Kosha.

— Ana Maya Kosha.

 

6. Raja-Yoga:

Tríade superior = Karano Upadi.

Kamamanas = Suckshumo Upadi.

Corpo Físico = Stulo Upadi.

 

Os Sete Princípios no Universo e no Homem:

 

Como vimos anteriormente, há sete corpos, em suas várias correspondência nominais. Há também os sete planos e suas correspondências, as quais veremos a seguir.

1. O plano físico onde se estabelecem os veículos físico e etéreo.

2. O plano astral, cujo veículo é o corpo astral.

3. O plano mental, cujos veículos são o mental superior ou abstrato e o mental inferior ou concreto (manas superior e manas inferior).

4. O plano Búdhico, cujo veículo leva também o mesmo nome.

5. O Plano Nirvânico (Átmico), cujo veículo é o átmico.

6. Para-Nirvânico ou Anupadaka, a seres acima do gênero humano, no qual a humanidade um dia chegará — morada do Jivatman.

7. Maha-Para-Nirvânico ou Ady, onde habitam seres ainda mais elevados — a sublime elevação.

 

Paz e Luz.

 


quinta-feira, 9 de março de 2023

BIJAM

 


 

 

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                  *BIJAM*


Muitos já ouviram esta palavra expressa como uma saudação — "salve" — ou mesmo no final de algumas orações e mantras, à semelhança do "amém" das religiões cristãs.


Alguns sabem que se trata de uma palavra na antiga língua sânscrita — do tronco hindo ariano, utilizada na Índia no período védico — cujo significado literal é "semente".


No entanto, seu significado vai muito além da tradução de uma simples palavra ou designação. Ela tem seu valor quase que de uma promessa. Lembrando que as sementes são sempre uma promessa de vida. A promessa de viscejar um futuro, a esperança da messe, o brotamento da vida, a perspectiva da benesse.


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"A esperança está na semente" — reza o belíssimo lema da Eubiose: _"Spes messis in semine"._ A semente, pois, é o símbolo da esperança, "A esperança da messe futura".


Vamos até o Evangelho de Mateus, onde Jesus propõe a parábola de uma semente — a semente de mostarda — e sua mais profunda significação.


_"Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando dele, semeou no seu campo; a qual é a mais pequena de todas as sementes; mas crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se alinham nos seus ramos"._ (Mateus,13; 31 e 32).


Temos a mesma parábola no evangelho sinótico de Lucas (13; 18 e 19), e mais significativamente no evangelho sinótico de Marcos; 4; 30 a 32):


_"E dizia: A que assemelharemos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos? É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a mais pequena de todas as sementes que há na terra; Mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo de sua sombra"._


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É através de uma pequena semente, e sua transformação em uma grande árvore que se dá a semelhança com o reino dos céus — para onfe se convergem os seres acolhidos à sua sombra.


As aves do céu são as mesmas que comem as "sementes jogadas ao longo do caminho", na Parábola do Semeador (Mateus, 13; 1 a 23. Marcos, 4; 1 a 20. Lucas 8; 4 a 15), onde uma parte das sementes caiu ao longo do caminho, onde vieram as "aves" e as comeram. O próprio Jesus explica que as sementes são "as palavras do reino", e as aves, que as arrebatam, se refere como o maligno.

Sabemos que o campo fértil onde desenvolve a semente é o coração humano. O maligno é o deus falso que tanto o homem comum idolatra — seu próprio ego — pelo qual luta, trabalha e mata, destruindo todas as sementes que ecoam os propósitos da união, da inserção e da convergência.


As mesmas sementes, deixadas germinar no terreno fértil, se transformam na árvore do acolhimento, a árvore da fraternidade universal, onde se aninham os espíritos consagrados na nova concepção crística.


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Bijam, pois é a palavra que se traduz, verdadeira, na esperança. Na consagração da messe futura da unidade, da convergência entre todos os seres que buscam seu refúgio na sombra das elevadas consciências. "O paraíso está à sombra das mãos unidas" — e o que vem ser o céu senão comungar o infinito e o eterno na unidade divina?


Bijam é um chamado. Um convite para que você venha a ser eu, para que eu venha ser você, no infinito abraço das sublimes potencialidades. Para que sejamos Um no Todo, na unidade do amor, na messe do regozijo da imortalidade em Deus.


S.F.


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