sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A HIPNOSE

 


 

                                                  A Hipnose.

 

        A Hipnose não deixa de ser um magnetismo, conhecido desde remota antiguidade, onde uma pessoa, dotada de grande impulso volitivo, executa sua sugestão sobre outro indivíduo, ou grupo, cujo ânimo se caracteriza por uma disposição suscetível à sua influência. Este domínio se expressa em uma espécie de transe, onde o indivíduo é submetido às determinações do seu indutor.

        Quando se fala em hipnose muitas pessoas logo imaginam uma pessoa sentada de frente ao operador com um pêndulo, ou um relógio suspenso em uma corrente, oscilando-o diante de seus olhos. Existem , obviamente, incontáveis técnicas capazes de induzir o paciente ao transe, e, boa parte destas suprime a utilização de objetos e dispositivos.

       O paciente, sob o efeito da hipnose, tem seu estado normal alterado, e este estado não difere muito de alguns outros que nos deparamos costumeiramente. Pois, nas inúmeras vezes que nos concentramos em algo, isolamos a percepção das coisas ao nosso redor encetamos um estado de transe, ainda que tênue. O estado hipnótico seria a potencialização desta circunstância, sob a regência de um magnetizador. Quando, portanto, há um desligamento daquilo que está à adjacência, e é focalizado determinado objeto, é possível dizer que há um estado de transe. E esta condição possui vários graus de intensidade; um grau elevado possibilita o acesso às potencialidades intrínsecas do indivíduo e é neste ponto que atua o hipnoterapeuta, que, incentivando à concentração e ao relaxamento, busca imprimir seu comando ao subconsciente quebrando padrões indesejáveis, e, ao mesmo tempo, estabelecendo paradigmas positivos que redirecionam os aspectos cognitivos que facultam a melhoria comportamental e a fluência harmoniosa dos pensamentos (para que tais condutas, mencionadas acima, sejam efetivas, são necessários conhecimentos acadêmicos regulamentados para diversas áreas específicas).

 

 


        É impossível falar da hipnose moderna sem mencionar seu precursor, Franz Anton Mesmer, nascido no sul da Alemanha, região da Suábia, século XVIII. Este começou a aplicar técnicas semelhantes à moderna hipnose, pois, segundo sua teoria, do Magnetismo Animal, os corpos eram percorridos por fluxos magnéticos que, uma vez desequilibrados, se estabeleciam as enfermidades, as quais poderiam ser combatidas através da transmissão de energia de uma pessoa para outra. A diferença entre o mesmerismo e a hipnose está justamente nessa percepção, onde a transferência energética se dá através de fatores externos; sendo que na hipnose o caminho da cura está intrínseco à própria pessoa, sobre a qual a hipnose atua com efeito indutor.

        Mesmer sofreu inúmeras críticas e rejeições da classe médica de seu tempo, mas se constituiu como precursor da hipnose, pavimentando os caminhos para novas concepções, alheios à exaltação da racionalidade iluminista de sua época. No entanto, já no século XIX, no ano de 1843, James Braid deu continuidade aos estudos nessa área empreendendo inúmeras experiências, nas quais obteve fenômenos semelhantes, substituindo, porém, o magnetizador por objetos que possuíssem brilho. Diferentemente de Mesmer, Braid teve maior aceitação no meio científico, sendo ele que nomeou tais fenômenos por hipnose, termo este derivado do grego "hypnos", cujo significado é "sono". Este termo, por sua vez, produziu e provavelmente produz, até os dias de hoje, certa confusão entre aquilo que vem a se considerar como transe e o sono profundo, estados estes completamente diversos.

        Posteriormente, o neurofisiologista russo Ivan Pavlov fez amplo estudo sobre os efeitos produzidos pela hipnose no córtex cerebral, porém, erroneamente, acreditou que a hipnose fosse uma inibição cortical assim como o sono. Contudo, foi de fundamental importância para que este fenômeno fosse levado a sério na comunidade científica, pois a simples atenção de um vencedor do Prêmio Nobel doava relevância àquilo que, anteriormente, era classificado como crendice e sem evidência científica.

        Mais tarde a hipnose foi analisada e comprovada na prática pelo médico francês, Jean Charcot, professor do emérito psicanalista Sigmund Froid, que por sua vez também se utilizou da hipnose por determinado período. Mais recentemente podemos citar o psiquiatra norte americano Milton Erickson, o qual desenvolveu um novo tipo de hipnoterapia que ficou amplamente conhecido como "hipnose ericksoniana", que, substituindo a indução clássica, passou a estabelecer a indução indireta ou permissiva, a qual não impõe ao paciente uma sugestão hipnótica, mas estabelece ao paciente uma aceitação e consciência plena daquilo que lhe é proposto, de maneira efetivamente mais conversacional, onde o estado de concentração é aprazado de modo confortável segundo a tônica do próprio indivíduo, sem gerar resistência por parte deste. 

 


 

 


 

                                  Graus de Passividade e Resistência à Hipnose.

 

        Algumas pessoas têm maior facilidade de serem hipnotizadas, outras possuem maior resistência. Diante dessa diferença, inúmeros terapeutas adotaram os métodos de Erickson.

        A hipnose é na verdade uma auto hipnose, e, dessa forma, tudo depende do próprio indivíduo e sua disposição em interagir às sugestões do terapeuta. É notório o poder da fé nos inúmeros fenômenos de cura que chamamos "milagre". "A tua fé te salvou" — o próprio Jesus disse isso a inúmeras pessoas que firmemente acreditavam poderiam ser curadas. Alguém que esteja mal disposto, ou que simplesmente zombe deste método terapêutico, não terá o mesmo sucesso que de alguém direcionado ao propósito de cooperação e interação com os princípios que regem a terapia. Qualquer prática que seja exercida necessita de um prévio condicionamento e certamente existem pessoas alheias a qualquer tipo de condicionamento, assim como existem pessoas suscetíveis a interagir e buscar uma sintonia favorável à sequência do procedimento.

        Uma vez tive a oportunidade de participar de um curso de hipnose ministrado por um velho magista. Em um seleto grupo de aproximadamente 50 pessoas ele se propôs a fazer uma demonstração de sua técnica. Primeiramente ele pediu para que todos fechassem os olhos e que todos imaginassem caminhar por uma estrada de chão meio ao ermo; e, logo adiante, mentalizassem uma pessoa vindo vagarosamente em sua direção, se aproximando mais e mais. Quando pediu para abrirem os olhos perguntou-lhes quais deles viram na pessoa que surgia a sua própria figura, ou de alguém que fizesse lembrar sua fisionomia. Aproximadamente metades das pessoas disseram tê-lo visto, ou alguém que a ele se assemelhasse no cenário imaginado. A estes ele pediu que sentassem na fileira da frente. Em seguida pediu-lhes que cruzassem os dedos de ambas as mãos, como se fossem fazer oração, e disse com firmeza, olhando firmemente para o grupo: "Vocês agora estão com as mãos presas uma à outra, por mais força que façam não conseguirão soltá-las". Após alguns instantes ele perguntou se alguém estava com as mãos presas. Apenas duas pessoas assim estavam. E, com o consentimento destas iniciou a demonstração da hipnose superficial, pois se tratava de pessoas fortemente passíveis de sugestão. (a hipnose superficial, assim como a hipnose profunda, será explanada mais adiante). Quanto às pessoas que não viram outras pessoas, conhecidas ou totalmente desconhecidas na estrada, afirmou o velho magista que era este grupo de pessoas dificilmente influenciáveis. Quanto àqueles que o viram, mas que não "colaram" as mãos eram moderadamente influenciáveis.

        Dessa forma podemos constatar que existem pessoas com maior facilidade de se submeterem à hipnose, outras essencialmente refratárias, ainda que se disponham para tal intervenção.

        Alguns autores chamam as pessoas mais suscetíveis à sugestão e à influência pessoal de "sensitivas". Denominação esta que, particularmente, prefiro evitar, pois considero existir uma diferença muito grande entre o que vem a ser sensível do que pode se estabelecer como susceptível. Contudo, é sempre positivo conhecer as classificações de alguns autores e, acima de tudo respeitá-las.

        Outros métodos simples de se detectar as pessoas susceptíveis ou impressionáveis é sugerindo alguma perspectiva a estas, por exemplo, mandá-la estender os braços para frente e perguntar porque ela está tremendo as extremidades. Se após isto ela começar a tremer é um sinal clássico de suscetibilidade. Assim como pedir que fique de pé e com os olhos cerrados, afirmando que ela está prestes a cair no chão. Caso a pessoa comece a oscilar o corpo está explícita a condição sugestionável.

        Existem casos em grupos religiosos fortemente sugestionáveis que se consegue derrubar várias pessoas ao mesmo tempo com um simples assopro, criando a ideia no subconsciente destas que assim ocorrerá. Poderá também afirmar que determinada pessoa está vermelha, se esta ideia lhe for sugestionável, esta prontamente irá corar.

 

 

 


           A Forma pela qual a Hipnose pode atuar no tratamento das enfermidades.

 

        Como vimos, a hipnose é uma espécie de transe onde a mente do indivíduo se acha centrada conectando-se diretamente com o subconsciente, e é justamente nesse estado que poderemos adentrar profundamente na raiz de determinados problemas, medos, complexos e traumas, e também, sem deixar de ser, as inúmeras doenças, pois estas advém sempre de desequilíbrios energéticos do corpo astral, também acionado através do subconsciente. (Logicamente determinados distúrbios exigem conhecimento acadêmico excetuando a atuação de leigos).

        Conhecendo a raiz, ou as causas de inúmeros problemas torna-se mais fácil determinar a conduta de seu tratamento, especialmente aquelas de ordem emocional. Alguns problemas emocionais podem ser resolvidos acessando a memória traumática do indivíduo durante as sessões de hipnose, e atuar diretamente na causa, processando as informações nela presentes, fazendo com que a mente assuma uma perspectiva mais consciente daquele trauma, diminuindo ou eliminando seus efeitos somatórios sobre os padrões comportamentais da pessoa afetada.

        É fato conhecido que, durante guerras e conflitos onde inexistiam sequer anestésicos que possibilitassem a execução de procedimentos cirúrgicos, profissionais da medicina, conhecedores da hipnoterapia, conseguiram bloquear ou inibir a sensibilidade dolorosa, assim como acionar a produção de substâncias, pelo próprio corpo, que realizaram o efeito da analgesia.

        Quando, através da hipnose, é diagnosticada a origem de determinados males e problemas, essa raiz pode ser trabalhada, realizando assim a sua transformação ou também a sua eliminação, atuando nas percepções sensoriais do indivíduo, desfazendo fobias, vícios, ansiedades e transtornos, bloqueios, distúrbios, e até mesmo depressões.

 

 

 


                                     Preparações essenciais para praticar a hipnose.

 

        Existem três fatores fundamentais para o desenvolvimento do capacidade de indução e domínio dos fenômenos hipnóticos, os quais são o olhar, o gesto e o comando de voz. É claro que, anteriormente a estes três fatores a concentração é o pré requisito básico para que possa se direcionar o próprio pensamento.

 

        A fixidez do olhar dá ao terapeuta uma grande força de penetração. Psicologicamente é a caracterização do domínio que este, necessariamente, deverá apresentar, enunciando a necessária competência para que seja obtido o respeito e confiabilidade.

        Na prática esta fixidez se expressa através do direcionamento direto e penetrante do olhar à pessoa alvo, assim como na diminuição maior possível do ato de pestanejar. Quanto menor o número de piscadas melhor a impressão de fixidez. Muitas pessoas confundem essas expressões com procedimentos que visam impressionar, como abrir demasiadamente os olhos e aspecto sombrio, os quais poderão exprimir aspectos de desequilíbrio, dissipando assim a confiança necessária. O olhar penetrante, e os olhos piscando o mínimo possível, não devem ter, de maneira nenhuma, aspecto de sisudez; a simpatia nunca foi sinônimo de desmerecimento.

        Inúmeros exercícios poderão ser feitos para que os olhos diminuam as piscadas satisfatoriamente, inclusive técnicas elaboradas pela própria pessoa disposta a fazê-los. Certamente que piscar os olhos é essencial para lubrificação da córnea, e isso ocorre, em média, vinte vezes por minuto. Reduzindo este número, sem que ocorra ardume ou lacrimejamento, é o preconizado. Tudo com moderação e equilíbrio, sem exageros. A sobriedade é a essência de todos aqueles que seguem os caminhos místicos.

        No olhar sempre residiu o poder da fascinação, o qual exerce domínio sobre a própria vontade do interlocutor para que sejam vencidas inúmeras resistências. Sob esta influência, palavras, atitudes e gestos poderão ter potencializado seu caráter de persuasão, essencial para a sugestionabilidade.

 

        O tom de voz estabelece o comando, o poder da palavra por meio do qual é imprimida a ideia no cérebro do indivíduo, efetuando a sugestão. Esta é chamada sugestão verbal, onde a palavra é carregada de energia, a qual promove a sintonia essencial para o bom efeito do procedimento proposto.

        São fundamentais não apenas a maneira da emissão das palavras, mas também a escolha dessas palavras, as quais devem expressar de forma direta e nitidamente aquilo que o hipnoterapeuta pretende auferir do indivíduo a ser hipnotizado, e estas deverão ser entendíveis de acordo com a capacidade cognitiva deste.

        As palavras deverão ser proferidas com firmeza e determinação, e isso não significa falar vociferar alterando o tom de voz, gritar sempre é um sinal de perda de controle, e através do próprio controle que é estabelecida a capacidade.

        É preciso falar lentamente, com voz firme demonstrando convicção e segurança. Voz tímida e insegura denota vacilação, algo que põe tudo a perder na hipnoterapia. É preciso previamente elaborar o conjunto de palavras que irá ser utilizado, para que ocorra uma boa fluência imprescindível para o entendimento e o consequente comando.

        Durante uma sessão o terapeuta deverá imprimir o seu comando utilizando-se de frases imperativas, estando convicto da energia que emana de suas palavras, podendo ele dizer, por exemplo: "Você está agora sentindo uma forte sonolência!" — Expressando-se de maneira veemente e incisiva, sem alterar o tom de voz, mas emitindo uma ordem ainda que morosamente.

        Assim como o olhar e as palavras, os gestos devem ser pautados pela sobriedade, estruturado na postura, sempre correta buscando a elegância própria daquele que exprime o equilíbrio através do porte e do refinamento. Os movimentos estabelecem uma ancoragem psíquica enfatizando a verbalização, se dispondo como canalização das energias que incidem sobre o paciente, intensificando o vínculo necessário para o bom andamento da atividade.

        Os gestos devem ser expressivos e centrados, eivados de comedimento, sem jamais serem intempestivos ou agitados, pois, de maneira alguma, deverão ser espalhafatosos, o que seria ridículo e, até mesmo, cômico.

        Em algumas situações deverão ser lentos e em outras mais céleres, sendo, no primeiro caso, para promover o adormecimento, estendendo os braços, com a palma das mãos voltadas para o paciente, de cima para baixo. E, no segundo caso, mais rapidamente, de baixo para cima quando o desejo é de despertar.

        Certamente não existem regras específicas para que sejam determinadas as maneiras pelas quais devem ser programados os gestos. Estes devem seguir a forma pelo qual o terapeuta possa se sentir a vontade para equilibrá-los às expressões de suas palavras, da mesma forma o direcionamento do olhar, fazendo com que seus membros se disponham como dispositivos canalizadores de magnetismo, semelhantes aos passes no direcionamento energético.

        O olhar e a voz incidem na aplicabilidade da sugestão; o gesto promove sua potencialização. As sugestões não estão restritas às hipnose, mas em inúmeras aplicações dentro e fora da terapêutica. Um efeito sugestivo poderá promover a motivação, e esta alavancar o indivíduo na busca do êxito em qualquer empreitada, inaugurando novas disposições onde a segurança e a autoestima possam  engendrar todo o otimismo, essencial para a efetivar as realizações. "Você está transparecendo disposição e boa saúde hoje" — É algo que poderá ser proferido a uma pessoa em recuperação, e, mesmo que não corresponda plenamente à realidade, irá servir de alento à pessoa debilitada, a qual muito provavelmente irá se sentir recuperando a saúde, um passo extremamente importante para que tal situação venha a ocorrer. "Esse garoto está se tornando um bom aluno, e logo se tornará um dos melhores da classe" — Pode ser declarado a um estudante, ainda que medíocre, que, certamente, trará entusiasmo e motivação para que se qualifique como um destacado discente no bom caminho do sucesso acadêmico. O elogio, desde que feito de maneira pertinente, será uma sugestão motivadora, pois a motivação faz com que sejam desvanecidas muitas limitações, desânimos e inseguranças. Do mesmo modo existem as sugestões negativas, que poderão arrasar pessoas mais susceptíveis, como expressar que esta parece doente, ou mal apessoada, ridícula, mais gorda, mais velha, incapaz e inúmeros outros adjetivos deprimentes.

        As sugestões são poderosas tanto para elevar como para abater e a intensidade de seus efeitos será diretamente proporcional à vulnerabilidade. O sugestionador deve sempre ter em mente que a crítica muitas vezes é fortemente destrutiva, e, quando se servir desta, deverá fazê-la "elogiosa"; para que, da mesma forma que os defeitos sejam evidenciados, as potenciais virtudes sejam salientadas. "Seu desenho não ficou bom, embora você tenha formidável habilidade acentuada aptidão para fazer algo consideravelmente melhor". — Poderá assim dizer lançando uma sugestão positiva para que seja incentivada uma superação.

 

 

 


                                Treinamento Preliminar.

 

        Conheço inúmeras pessoas que praticaram exercícios preliminares, prescritos em cursos de hipnose, com parentes, amigos e mesmo com pacientes, com a devida permissão destes, nas áreas profissionais em que atuam.

        Um destes exercícios é por demais simples e muito significativo, embora sejam necessários alguns cuidados para que nenhum incidente venha a ocorrer. Com uma venda cobre-se totalmente os olhos da pessoa certificando-se que lhe seja impossível enxergar coisa alguma, para que seja possível praticar o exercício de maneira eficiente. É necessário que haja dois cômodos disponíveis; um onde se prepara o indivíduo, outro em que possua uma meseta (esta não pode ser, de maneira alguma, alta) e uma pequena escada, ou, no lugar desta, uma simples cadeira. É necessário ter um ou dois auxiliares neste exercício, o qual não deve ser recomendável para idosos ou para quem possua qualquer tipo de comorbidade que comprometa seu equilíbrio ou locomoção. O paciente, com os olhos vedados, é introduzido no segundo cômodo. A este é passada a seguinte instrução: "Você subirá em uma plataforma ajustável, a qual será inclinada para frente e para trás, para o lado direito e esquerdo, a fim de que seja testado seu equilíbrio". Servindo-se de uma escada, ou de uma cadeira, sempre bem amparado pelos auxiliares, a pessoa é colocada em pé sobre meseta. Exercitando o comando de voz, diz á pessoa que fará uma inclinação lateral à esquerda, ou a qualquer um dos lados que preferir, trepidando levemente a mesa na simulação de um movimento. Provavelmente o indivíduo tenderá a executar um movimento abrupto tentando recuperar o equilíbrio, deslocando a perna esquerda para o lado esquerdo, caso a sugestão seja feita para a inclinação deste lado, ou para a frente, caso seja-lhe induzida uma inclinação para frente, e assim para todos os lados aos quais seja dirigida a sugestão. Temendo cair a pessoa tentará manter-se em pé, sempre amparado, ainda que secretamente, pelos auxiliares, para que o sustentem caso perca definitivamente o equilíbrio. Este exercício, além de testar o efeito da voz sobre a mente, é uma ótima técnica para que seja testada a suscetibilidade ou a sensibilidade do indivíduo às sugestões.

        Muitas pessoas costumam a sentir coceira na cabeça só de ouvir falar que chegou perto de uma pessoa cheia de piolhos. E isso já é um sinal de sugestionabilidade. Toma nas mãos um pequeno boné ou boina, previamente especificando que se trata de um exercício, e pede que este seja colocado sobre sua cabeça. Após alguns segundos retira-lhe o boné, e fixando os olhos entre as sobrancelhas da pessoa, utilizando da voz como especificado anteriormente, diz a esta que o boné fora utilizado por uma pessoa cheia de piolhos e lêndeas. Pode ser que nada ocorra no primeiro instante, porém, na grande maioria das vezes, o paciente levará as mãos à cabeça devido ao prurido que, psicologicamente, estará sentindo. (O olhar direcionado entre as sobrancelhas possui uma razão fundamental. Aí está localizado o Chakra Ajnã, o "Olho de Shiva", por onde são captadas todas as percepções astrais. A força energética volitiva aplicada diretamente a este local se faz muito mais eficiente que aplicada sobre outros locais).

        Outro exercício, que deve ser praticado após um maior treino nos anteriores por ser o mais avançado, é o do "controle das pálpebras". Após verificar o alto grau de suscetibilidade do indivíduo, fixa o olhar entre as sobrancelhas, e diz firmemente que suas pálpebras estão pesadas, cada vez mais, até que estas se fechem como em uma forte sonolência. Em seguida determina que ele não mais consiga abrir os olhos, e que, quanto mais intentar abrir mais pesadas elas ficarão. Posteriormente diz ao paciente que poderá abrir os olhos, e suas pálpebras estão leves. O que ocorrerá sem demora.

        Alguns autores preconizam o estalar dos dedos sinalizando o fim do transe. Conforme explanado anteriormente, cabe a cada um adaptar um método que seja mais propício à sua própria tônica individual. É através desta tônica intrínseca que é produzida a ação magnética, o método é justamente seu ancoramento. A ação sugestiva não deixa de ser uma atividade magnética, tudo aquilo que atrai possui a ação do magnetismo, estes exercícios visam estabelecer a atração, seja ela através de palavras, olhares ou gestos.

 

 

 


                                                        A hipnose superficial.

 

        É o tipo de hipnose em que, aparentemente, o paciente está em estado pleno de consciência, em nada digerindo de sua "normalidade", embora mantenha seus olhos fechados. É o estado de obediência, no qual o indivíduo, no primeiro grau do sono hipnótico (por isso a denominação de hipnose superficial), aceita todas as sugestões, inclusive as sugestões pós-hipnóticas. Este estado requer o máximo de silêncio possível, pois pode ser rompido por um súbito ruído ou conversações nas proximidades.

        É na hipnose superficial que se põe inteiramente em prática o olhar, para que se chegue a este estado, e a voz para imprimir as sugestões; os gestos servem para ancoramento das energias do próprio operador.

        Certamente existem variações de acordo com as técnicas utilizadas pelo operador. Em alguns casos o paciente permanece com os olhos abertos, ou abrem os olhos respondendo os ditames do hipnotizador. Houve na idade média um magista que se aproveitava de seu grande poder hipnótico para que, com suas sugestões pós-hipnóticas, fazer com que pessoas sugestionáveis executassem suas determinações, e também, em inúmeros casos relatados, fazia com que lhe fossem revelados íntimos segredos assim como fossem seduzidas mulheres que desejava. Aqui é importante reiterar que, assim como explorar a boa fé em proveito próprio, o mau uso dos conhecimentos esotéricos implica em um karma avassalador: "Àqueles que muito foram dado, muito será pedido". A intensidade implícita neste advérbio é mais rigorosa que se possa pensar.

        A hipnose superficial é muito diferente da técnica ericksoniana, embora à primeira vista possam muito se assemelhar. No segundo método há um profundo relaxamento no qual o subconsciente é aflorado, enquanto que na hipnose superficial, o transe é estabelecido eclipsando a consciência, embora não transpareça esta ocorrência. Outra diferença que existe entre as tais é que, de acordo com o nível de sugestionabilidade das pessoas, a hipnose superficial é possível, na grande maioria dos casos, em pacientes altamente susceptíveis, o que não se implica na ericksoniana.

        Esse estado de obediência permitirá que sejam obedecidas as determinações do operador desde que estes comandos não encontrem oposição severa, da parte do paciente, em seu pleno estado de consciência. É claro que há exceções, como referido anteriormente, desde que sejam diretamente proporcionais o grau de suscetibilidade do indivíduo e a experiência empírica do hipnotizador.

        Na hipnose superficial, seguindo as insinuações que lhes são impostas, as tendências do paciente tendem a ser exacerbadas, podendo ser mais emotivo que normalmente é, mais detalhista e mais intenso em inúmeras outras características presentes em sua própria personalidade.

        Neste tipo de hipnose é possível extrair diversos detalhes de seu caráter, de sua personalidade e todo e qualquer "ferida aberta" em seu subconsciente, razão de inúmeros vícios, depressões, bloqueios e transtornos comportamentais. O objetivo deste texto, no entanto, não é, de forma alguma adentrar na área destinada à psicologia, e sim expor ao conhecimento a hipnose como ela é em se tratando de uma área da "medicina oculta", uma vez que a hipnose há um tempo relativamente curto entrou no reconhecimento da ciência oficial, não existindo ainda, no Brasil, uma legislação que a regulamente. No conselho federal da profissão a qual fui graduado há mais de 30 anos, há o amparo legal para seu uso, contudo, muito pouco se fala nos períodos de graduação, cabendo ao profissional, por conta própria, buscar um curso específico nessa área. Hoje qualquer pessoa poderá fazer uso da hipnose, até o presente momento, por isso que os cursos de hipnose não exigem como pré-requisito nenhuma formação em qualquer área da saúde.

        Existem os mais diversificados métodos e técnicas para conduzir o paciente à hipnose superficial. Passarei aqui a técnica que conheço e da qual já foi possível comprovar a eficácia em inúmeras ocasiões.

        Devemos executar a operação em pacientes que sejam suscetíveis, pois, do contrário, será desperdício de tempo, paciência e energia. O objetivo é levar o paciente do estado de vigília ao estado de transe, e para isso é necessário, pacientemente, demonstrar segurança, domínio e confiança àquele que se deseja exercer sugestão. Colocar o paciente em uma posição confortável é imprescindível. Ninguém consegue dormir facilmente em uma posição incômoda. O operador deve observar este detalhe e testar nele mesmo a confortabilidade do local onde deseja iniciar sua prática, que poderá ser uma cama, uma poltrona, uma cadeira reclinável ou qualquer outra adaptação que culmine com seus objetivos imediatos. Feito isto deverá tomar as mãos do paciente sobre as suas, as palmas das mãos do indivíduo deverão se posicionar sobre as palmas das mãos do operador, mão direita do primeiro sobre a esquerda do último, mão esquerda sobre sua direita. O operador, com suavidade, deverá segurar as mãos do paciente dando-lhe evidente sensação de amparo e proteção. Fixa em seguida o olhar entre as sobrancelhas da pessoa e, com firmeza de voz expressando toda sua segurança, diz a ela pra olhar diretamente em seus olhos, afirmando com convicção que suas pálpebras se tornarão mais e mais pesadas, e estará sentindo forte sonolência, desejo de dormir profundamente pois sabe que estará plenamente segura. Faz-se silêncio por alguns segundos e repete enfatizando a chegada do sono incontrolável, sendo-lhe impossível manter as pálpebras suspensas. Faz a pequena pausa e afirma com a voz mais baixa possível, quase em tom de murmúrio, que seus braços estão soltos, moles, sem força alguma que possam manter seus músculos tensos. Pode-se fazer mais uma vez as sugestões do sono, pesando-lhe pálpebras, braços, corpo todo, entrando em estado de dormência, em voz quase inaudível, e repetir as pausas e afirmações quantas vezes sentir necessário.

        Após perceber que o paciente se encontra em profundo estado de relaxamento, com seus braços, faz um suave movimento de embalo com os braços do paciente, como uma rede que descreve uma oscilação quase imperceptível. Faz então a afirmação para que o paciente durma profundamente, sob um sono extremamente pesado. Solta então vagarosamente os braços do paciente acomodando-os da mais confortável maneira possível.

        Após isso, através de perguntas pré-elaboradas, vasculha-se tudo aquilo que possa trazer informações de relevância sobre a pessoa; não detalhes de sua intimidade, mas iniciando pelas coisas que a afligem, o porquê desta aflição e o histórico de vida que gerou esta inquietude em seu ser, buscando a raiz de tudo aquilo que se configura anormal na sua relação com o mundo, ou consigo mesmo.

        Experiências recreativas de ilusões contínuas em um indivíduo hipnotizado, segundo a ética esotérica, são algo que pode expô-lo ao ridículo, especialmente se não tiver prévio consentimento. Particularmente acredito que a hipnose deve se primar pela seriedade.

        Certa vez observei um indivíduo hipnotizado que, de acordo com as sugestões do operador, comeu uma fatia de cebola como se fosse esta um pedaço de maçã. Penso que os propósitos da hipnose são por demais elevados para que se deixem levar pela espetacularizações. Vencer traumas, medos e bloqueios devem ser a meta essencial.

        O transe hipnótico deverá terminar sob o comando do operador, o qual dará a ordem para que este desperte e retorne à normalidade.

 

 

 

 


                                                     A Hipnose Profunda.

 

        A hipnose superficial se caracteriza como um sono leve no qual o paciente se interage normalmente com o operador, e isto se dá de maneira que não é perceptível distinguir do estado de vigília.

        O estado de hipnose profundo seria uma fase posterior à superficial. (Pedimos, na preparação para a hipnose superficial, que o paciente durma profundamente com o intuito de simplesmente adormecer, ainda que não entre em estado de sono profundo, senão o leve). Certamente que as pessoas refratárias à hipnose leve, mesmo que se consiga adentrá-las nesse estado, tentar a hipnose profunda nem é recomendável, pois seria, na maioria dos casos, perda de tempo. Os magistas se utilizam da hipnose profunda para imprimir sugestões de maneira mais resoluta, quando se deseja que o indivíduo abandone um hábito nocivo ou um vício que lhe possa ser altamente prejudicial. Uma determinação incutida inconscientemente no indivíduo poderá, ainda que aos poucos, resolver em muitos casos problemas com a dependência; criando obstáculos e até mesmo repulsa e aversão a esta. Certamente que para isto o operador deverá possuir conhecimento acadêmico a fim de evitar consequências indesejáveis às suas determinações.

        A partir da hipnose superficial, após certificar-se que o indivíduo adentrou neste estado (para constatar esta circunstância, descartando possíveis dissimulações, pode-se, por exemplo, tomar creolina em um frasco e imprimir a sugestão que se trata de um perfume agradável — após a aproximação do nariz do indivíduo verifica se este expressa sensação ditosa ao sentir o cheiro), toma a mão operativa do paciente, segurando fortemente seu dedo polegar. Em seguida o operador coloca sua outra mão suavemente sobre a cabeça da pessoa, com a palma das mãos diretamente sobreposta na direção do Chakra Sahashara; e, com a voz bem lenta e muito baixa imprimir as seguintes sugestões: "Desligue do mundo. Esqueça-se de tudo totalmente ao seu redor. Ouça apenas minha voz; todos eu ser mergulha na mais profunda dormência. O universo embala seu sono como um colo materno. Agora você se encontra envolvido em um sono celestial, só minha voz pode ouvir, e ela despertará você no devido momento. Está seguro e amparado." Esses comandos poderão ser modificados como o operador assim o quiser. Isto nada mais é que um modelo elaborado segundo o que costuma ser eficiente. Retirando a palma das mãos do topo da cabeça do paciente, sem encostar-se a seu corpo, desliza frontalmente passando pelo Chakra Ajnã, onde se detém em movimentos circulares, em sentido horário sempre, passa pelo Chakra Vishuda fazendo os mesmos movimentos, desliza até o Chakra Anahata, também fazendo neste os movimentos circulares, subindo novamente com as mesmas sequências. Sempre fazendo as mesmas ou semelhantes sugestões até que o paciente esteja desligado completamente do mundo.

        Neste estado hipnótico o paciente responderá como se estivesse em estado de torpor, muitas vezes com dificuldade em responder. Alguns falam como se estivessem sob efeito do álcool. Para fazer o paciente voltar, pode-se acrescentar na sugestão para que retorne ao estalar dos seus dedos. Estas técnicas são modelos. Assim como não existe uma técnica específica de convencimento ou persuasão, tudo é adaptável, devendo ser seguida a técnica que permita alcançar o objetivo que se deseja, podendo ser aprimorada de acordo com a experiência adquirida com o tempo.

        Alguns autores consideram como hipnose profunda a letargia, a catalepsia e o sonambulismo, porém, na minha modesta opinião, não devem ser enquadradas na mesma classificação que a hipnose profunda.

        Quanto à letargia, considero como um estado de prostração, que é ocasionada por inúmeros fatores. A catalepsia é um estado com origens multifatoriais, advindo de certas patologias e condições, na qual o indivíduo aparenta estar morto, inúmeras vezes assim identificado. Já o sonambulismo é um distúrbio que ocorre na fase mais profunda do sono, configurando-se como um transtorno, a parassonia, na qual o sonâmbulo pode executar inúmeras tarefas, dotado de habilidades patentes, permanecendo todo tempo inconsciente.

        Outros autores, no entanto, utilizam as nomenclaturas dessas três condições apenas para definir as fases peculiares do sono hipnótico, sendo a letargia o estágio no qual o uso dos sentidos do paciente é suprimido; a catalepsia quando ocorre o enrijecimento muscular e o sonambulismo quando o indivíduo realiza tarefas as quais o indivíduo não será capaz de recordar assim que seja despertado.

 

 

 


                                               A impressão das sugestões.

 

        Através das sugestões é possível produzir ilusões, determinar propósitos e ações, curar inúmeras doenças, vícios e maus hábitos assim como direcionar perspectivas positivas ao indivíduo. É claro que existem sugestões malignas que visam a induzir pessoas ao erro e atitudes prejudiciais. Em todas as partes há pessoas do bem e pessoas que visam seu próprio interesse contrariando o princípio da virtude e do amor que regem as ciências esotéricas. Mas é importante ter em mente a existência de sugestões criminosas. Muito embora tais condições são impressas nas mentes extremamente susceptíveis, pois, via de regra, as condições que contrariam absolutamente a vontade do paciente não são acatadas.

        Um paciente alcoólatra, o qual tive a oportunidade de conhecer, em hipnose profunda, foi-lhe incutida a sugestão de que o álcool lhe queimava fortemente a garganta e esôfago, causando-lhe fortes ânsias de vômito. Algum tempo depois este abandonou o vício, após longas crises de abstinência. O operador, na época ainda com pouca experiência em sugestões, deveria ter imposto outras sugestões que dissipassem tais crises, proporcionando assim uma cura sem tanto sofrimento.

        Os grandes magistas ou adeptos conseguem, através da simples observação, detectar os graus de suscetibilidade nos indivíduos às sugestões.

        Um fator preponderante do sucesso é isolar o indivíduo, ao qual serão aplicadas as sugestões, das impressões externas, principalmente aquelas que podem em algum momento desviar a sua atenção, sejam visuais, auditivas, táteis ou olfativas. Caso ocorra tal atuação em algum curso ou qualquer outra eventualidade onde exista a presença de assistentes, o indivíduo deverá ser posicionado de modo que permaneça de costas às demais presenças, e no maior distanciamento possível, onde o silêncio deve ser essencial.

        O treinamento sugestivo deverá ser iniciado de maneira simples. Durante o estado hipnótico impõe a ideia, por exemplo, de que o paciente está sentindo muito frio. Com isso observa as reações deste, próprias à baixa sensação térmica. E, posteriormente, pode se dizer: "Estarei contando até três. Assim que terminar a contagem cessará o frio".

        Pode-se também dizer ao paciente: "A partir de agora você está privado de seus movimentos. Não consegue se movimentar". Posteriormente se aplica o mesmo comando que o exemplo anterior, fixando um determinado número, que, após a contagem, quebra  o efeito sugestivo.

        Após um período de treinamento com as sugestões simples, poderá adentrar em outro tipo de sugestão, a chamada "Terapêutica Sugestiva", esta, no entanto, exige que seja estabelecido um contato mais próximo com o paciente. Vejamos um paciente acometido por algum mal estar qualquer. Durante alguns instantes toma as mãos do paciente, previamente acomodado em um local que lhe seja altamente confortável, fixa o olhar entre suas sobrancelhas, pede a ele que feche os olhos imprimindo-lhe a mais plena sensação de calma sob o necessário relaxamento. Coloca os braços do paciente em confortável posição, posicionando suas mãos sobre a cabeça do indivíduo suavemente sem exercer qualquer tipo de pressão. Imprime a partir deste momento as sugestões neste sentido: "Estou vendo o bem estar estampado em seu rosto. Você a partir de agora está bem, está disposto e plenamente saudável. Respire fundo para que a leveza do ar purifique todo seu ser". Em seguida afasta suas mãos do contato com a cabeça do paciente e, próxima à sua frente executa lentos movimentos circulares impondo-lhe magnetismo, repetindo as mesmas sugestões ou palavras semelhantes a estas quantas vezes necessárias, sempre afirmando positivamente, fazendo-se convicto daquilo que diz, passando dessa forma a certeza de cura ao paciente, sem deixar transparecer qualquer palavra que exprima dúvidas.

        Existe além das sugestões que se utilizam da voz, as sugestões mentais, aquelas que transmitem mensagens, as chamadas telepáticas, que também expressam comando.

        O fenômeno da transmissão de pensamento é algo que está além do conjunto de reações químicas presentes no corpo físico. Estas transmissões podem ocorrer de maneira inusitada e espontânea. Há pessoas que possuem este do inato, alguns de captar, outros de transmitir e, até mesmo, de ambas as capacidades. Há, porém, formas de indução destas transmissões, resultado de muita concentração de pensamento, à semelhança do Dharana no Raja Yoga. Alguns indivíduos, quando em estado hipnótico, aumentam seu grau de captação dos comandos sugestivos emitidos pelas ondas mentais, e nestes o operador poderá emitir a sugestão mental dispensando palavras. E isto se dá através da concentração em determinada ordem, direcionando-a diretamente ao Chakra Vishuda, que se situa na garganta, também chamado Chakra Tireóideo, o Chakra da audição astral. A frase que o emissor deseja enviar deve sempre estar ancorada a uma imagem que caracteriza o propósito do comando.

        Este tipo de transmissão, contudo, é um privilégio de poucos, alguns que possuem este dom de outras existências, que lhes são auferidos pela hereditariedade (que acompanha a transmigração do espírito nas encarnações), ou através de treinamento místico efetuado ao longo da vida. Na literatura há inúmeros exercícios para alcançar a transmissão e a captação de pensamentos, porém, os resultados são pífios, e, na maioria dos casos, nulos. Recomendo aqui exercícios de concentração e meditação (Dharana e Dhyiana do Yoga).

        Existe também a transmissão à distância, que poderá ser efetuado entre duas pessoas, onde previamente combinado, uma delas, ou as duas entram no estado de sono e, por aí se estabelece o comando sugestivo. Neste caso também necessita de profusa experiência do operador, especialmente quando se trata de um adepto.

        É comum, tanto na literatura quanto no cinema, o aparecimento de personagens dotados de poderes extraordinários, que, com um simples olhar ou um gesto imperceptível, hipnotizar qualquer pessoa fazendo com que estas ajam segundo seus próprios desejos, aniquilando-lhes a vontade própria ou o livre árbitro. A ficção muitas vezes pode não estar restrita à mera fantasia. Valho-me da repetitiva afirmação de que vivemos no universo das infinitas possibilidades. Grandes Magos podem, muitas vezes, alcançar estados de consciência indescritivelmente superior à média normal dos demais seres humanos. Existem adeptos que vivem em "Estado de Jinas" (condição já descrita em textos anteriores), e se conseguem sublimar a própria materialidade, é perfeitamente possível que consigam operar o controle das mentes. Existem, no entanto, magos espiritualmente comprometidos com a humanidade e magos comprometidos com seu próprio ego. Algo que todo estudante sério de esoterismo precisa saber é que "poder não é sinônimo de luz".

 

 

 


                                                            O magnetismo pessoal

 

        Existem pessoas, ou até mesmo coisas, que possuem um magnetismo intrínseco. Aqui não falo, absolutamente, de beleza exterior, mas da atração, e até mesmo do encantamento que se manifesta à maioria das pessoas.

        O magnetismo envolve o porte, o aspecto e a projeção que se enuncia através da perspectiva do olhar, da fala, dos gestos e do fascínio que deflagra a sintonia.

        O operador pode possuir inato o poder da atração assim como desenvolvê-lo através de inúmeras técnicas acessíveis ao desenvolvimento pessoal. Muitos oradores e também políticos recorrem a este recurso com a finalidade de "seduzir" o público ao qual se dirigem, se utilizando daquilo que é chamado "Psicologia das Massas", na qual o comportamento de um determinado grupo de pessoas assume a condição de entidade única esvanecendo a individual.

        Este magnetismo pode assumir papel controlador sobre as consciências em níveis ainda exíguos, acarretando o fanatismo, o desacerto e inúmeros equívocos dos quais testemunha a história da humanidade. Um dos seres mais nefandos da história recente, Adolf Hitler, utilizando-se do elevado atributo do magnetismo e da incisiva habilidade discursiva, visceralmente cativante, levou multidões a apoiar as mais equivocadas decisões que perpetraram os mais terríveis crimes registrados na história contemporânea.

Todo estudante do esoterismo deve se pautar no domínio próprio, se alicerçando no discernimento, essencial para que seja refratária a toda influência propensa à negatividade.

 

 

 


                                                                   A auto hipnose.

 

        Se procurarmos na literatura esotérica, veremos que muitos autores definem a auto hipnose como um tipo de sugestão que o indivíduo faz sobre si mesmo reproduzindo os inúmeros fenômenos realizados quando o operador executa sua influência sobre o paciente alvo. Contudo este estado é muito mais abrangente do que alguns autores o consideram.

        Conforme vimos no início do texto, a hipnose se consiste em fazer com que o indivíduo entre em um estado de transe, e este estado é o mesmo, embora em grau diferente, daquele quando o indivíduo alcança uma concentração profunda. O transe é um estado de semiconsciência, e este estado possui vários graus desde o superficial até o profundo. A etimologia da palavra provém do latim, "transire" que significa "cruzar". Vou entrar aqui no profundo conhecimento do ocultismo para descrever a essência deste estado, necessário para que haja o amplo entendimento dos detalhes do que vem a ser o transe. Os lindes do plano físico com o plano espiritual, embora gradativos, se fazem como uma enorme barreira àqueles que estão encarnados no mundo material. Tanto que a maioria das pessoas não acredita ou simplesmente desconhece a existência dos planos de existência sutis. Poucos são aqueles que conseguem, conscientemente, entrar em contato com o plano astral, terem sonhos lúcidos, que nada mais são que desdobramentos onde o espírito abandona o corpo físico e se desloca pelos planos extra físicos. O sonho da maioria das pessoas é confuso, sem nitidez, embaçado, pois não conseguimos alcançar a consciência no acesso a esses planos devido à nossa condição de encarnados, aprisionados na concretude material. O transe é justamente esse estado onde o indivíduo atinge os lindes entre esses planos (físico e espiritual) sem que deixe totalmente o físico. Isso não quer dizer que seja um estado estático, pois muitas vezes é necessário passar pelo transe para que ocorra o desdobramento consciente.

        Fazendo a concentração, o operador entra em contato com seu próprio subconsciente, o que possibilitará imprimir sugestões sobre si mesmo para que sua mente aceite alguma ideia, elimine algo que assim o deseje, como hábitos, manias ou transtornos.

        São poucos os operadores que dominam a auto hipnose, porém são muitos aqueles que o fazem sem o devido preparo. Inúmeras alucinações são advindas da auto hipnose, na maior parte aquelas que surgem de maneira involuntária. Há o estado de "êxtase" no qual o indivíduo está auto hipnotizado, acreditando ter visões de todos os gêneros, podendo também proferir palavras desconexas e muitas vezes inexistentes. Isso não quer dizer que seja impossível a alguém extático ver realmente mundos espirituais superiores ou inferiores, contudo, segundo o conhecimento dos antigos mestres, menos de 1% dos casos assim ocorre. Da mesma maneira fenômenos mediúnicos. A mente humana é infinitamente imaginativa; ela pode criar inúmeros personagens ou simplesmente resgatá-los do inconsciente coletivo (sobre o qual dissertarei mais adiante), tais personagens afloram neste estado, fazendo com que, aparentemente, um espírito desencarnado, incorporou no indivíduo. Isto é o produto da auto hipnose, e sob este aspecto vou relatar uma experiência de um pesquisador que conheço.

        Estava ele participando de uma sessão mediúnica, na qual, em um determinado momento, o médium pareceu receber uma incorporação. A pretensa entidade afirmou ser um tio muito querido deste pesquisador, iniciando um diálogo com este. Foi quando o amigo resolveu assumir seu caráter investigativo, dizendo: "Você é meu Tio X?" "Sim"— Foi a resposta. “Então, por favor me confirme alguns dados apenas para que seja justificada a veracidade de sua presença. — Prosseguiu o amigo — "Eu ia muito em sua casa na cidade Y quando eu era jovem. Por favor me diga o nome da rua que você morava. “Pode ser tanto da primeira casa onde morou, ou da segunda na qual você viveu até seu desenlace físico”. Simplesmente não houve qualquer resposta razoável.

         Este caso, embora não fosse uma farsa previamente combinada, não passava de uma ilusão advinda das próprias criações mentais.

        Seguramente existem médiuns que realmente trazem à comunicação entidades do mundo espiritual, as quais se testadas revelam impressionante conhecimento que ninguém mais poderia saber senão as mesmas em sua passagem pelo plano físico.

        Existe também alguns fenômenos de histeria coletiva, advindo também da auto hipnose em grupos que deixam de se comportar propriamente como indivíduo agindo como um grupo.

        No caso acima poderemos até falar de algo semelhante ao inconsciente coletivo, onde, segundo Jung, é a camada mais profunda da psique, onde estão armazenados traços funcionais herdados desde a mais remota antiguidade comuns a todo o gênero humano, onde residem os arquétipos, as antigas impressões adquiridas ao longo da evolução, modelando as concepções.

        É possível acessar o inconsciente coletivo e a partir daí penetrar na imensa rede de consciências existente no Plano Mental. Foi desta maneira que o paranormal Edgar Cayce ganhou notoriedade. O texto estaria incompleto se não falássemos deste insigne norte americano, conhecido como "O Profeta Adormecido", pois canalizava respostas para inúmeras questões, enigmas, problemas, assim como predições em estado de transe sobre seu divã. Cayce era filho de trabalhadores rurais, e, ainda quando criança, esteve às portas da morte, até que, subitamente, em estado de transe, relatou que seu estado se devia a uma bolada de baseball em determinado segmento da coluna, prescrevendo um cataplasma de inúmeras ervas maceradas. A família assim o fez e Cayce milagrosamente se recuperou. Posteriormente se tornou fotógrafo, e, nas horas vagas, atendia as pessoas que o procuravam devido a todo tipo de enfermidade, às quais, em estado de transe ministrava-lhes medicações proporcionando-lhes a cura. Edgar Cayce recusava-se terminantemente a aceitar qualquer donativo para seus serviços, vivendo exclusivamente de sua profissão de fotógrafo (Um exemplo a ser seguido por todos aqueles que utilizam da espiritualidade para se enriquecer). E quando despertava do transe não se recordava absolutamente de nada que havia falado ou prescrito.

        Em certa ocasião um magnata recorreu aos seus extraordinários dons, e Cayce prescreveu uma determinada medicação. Contudo, não foi possível encontrá-la em lugar algum. Utilizando-se de seu poderio econômico, o magnata publicou em inúmeros jornais o nome de tal fármaco — Codiron era o nome respectivo — houve então a resposta de um laboratório, o qual afirmou ainda nem ter colocado tal medicamento no mercado, pois acabara de ser elaborado, destarte, desconhecido do público até então. Certa vez, em estado de transe, Cayce foi indagado sobre seu misterioso dom, ao que respondeu ser capaz de adentrar em qualquer cérebro humano em busca de respostas.

        Segundo o que poderemos supor, Edgar Cayce entrava em um estado de auto hipnose, no qual através do inconsciente coletivo, era capaz de acessar as mentes que disponham do conhecimento que buscava. Ou simplesmente acessar uma "consciência coletiva" onde toda consciência estabelece contínua interação e correspondência, algo que se assemelha em partes com a "Teoria dos Campos Mórficos" assim como os próprios Registros Akáshicos, do qual fazem acesso os psicômetras. Além de qualquer conjectura possível, poderemos afirmar que Cayce fazia suas consultas em estado de transe, através da auto hipnose.

 

 


        A mente humana é um território que tem ainda muito a ser desvendado. Os caminhos da espiritualidade passam por este ponto ao qual chamamos mente, o portal da dimensionalidade sutil, a saída para o físico e a entrada para o espiritual.

        Nessa tríade, corpo, mente e espírito, o equilíbrio se faz essencial, a mente é a conexão entre o corpo físico e a espiritualidade interligando-os sob a sutileza dos eflúvios energéticos. O corpo em desarmonia com a mente tende ao desequilíbrio e a consequente degeneração; a mente em desarmonia com o espírito cria ilusões e veleidades. O espírito deve conformar a mente para esta estruturar o corpo. A vida é a grande jornada do espírito, e este se assemelha ao vento que sopra sobre as velas pondo o barco em movimento. O barco que interliga os mundos e segue sua jornada nos mares de tempos e espaços. A mente é a vela desta embarcação, a qual, corretamente posicionada, direciona perfeitamente os caminhos na rota dos portos seguros.

 

 

Paz e Luz.

 

23/09/2021.