sábado, 29 de agosto de 2020

ESTADOS MEDITATIVOS AVANÇADOS



        ESTADOS MEDITATIVOS AVANÇADOS.

        Vamos iniciar deliberando sobre a meditação partindo das técnicas clássicas mais antigas do Raja Yoga, cujas oito etapas vem a ser o Yama, que são as interdições, ou seja, aquilo que o yoguin deve se abster de praticar; o Niyama, que são as prescrições,  ou as metas e perspectivas que o discípulo deve perscrutar; o Ássana, que é o domínio do corpo físico, que se dá através de posturas e práticas específicas, como base preparatório para as etapas procedentes; o Pranayama, que é o domínio do Prana, o controle do alento (Já vimos o que é o Prana em textos anteriores); o Pratyahara; o Dharana; o Dhyana e o Samadhi; nestes últimos iremos nos deter um pouco mais.






                         O PRANAYAMA.

        É essencial o conhecimento desta prática, pois confere a absorção da energia prânica, que nos advém através da respiração, e promove o alinhamento e a ativação dos Chakras, através de condutos etéreos, chamados Nadis, que circundam os Chakras conferindo-lhes toda energia ativadora.
        Observemos, primeiramente, algo que ocorre em nossa fisiologia corpórea e que, no entanto, nunca foi notado pela ciência oficial. A cada duas horas uma de nossas narinas se acha menos obstruída que a outra, ou seja, em uma narina o ar flui mais livremente que a outra, e assim vai se alternando sempre neste período aproximado de duas horas. (Isso tem a ver com os doze períodos de duas horas existentes nas 24 horas do dia; são as horas zodiacais sobre as quais abdicaremos a dissertação devido ao aditamento que acarretaria ao texto, fugindo sobremaneira do tema central do texto).
       Esta alternância de duas horas, na qual uma das narinas se torna mais livre que a outra, é o meio, pelo qual, a natureza se dispõe a manter a ativação de nossos Chakras. Contudo, os errôneos hábitos adquiridos por nós, humanos, alguns dos quais inerentes à vida moderna, fez com que, especialmente os ocidentais, adotassem uma respiração superficial, utilizando apenas 1/3 da capacidade dos pulmões, fazendo com que limitadíssima quantidade de Prana atingisse nossos Chakras, afastando-nos efetivamente do "mundo energético", perceptível através da ativação dos Chakras.
        O Pranayama é a "respiração alternada", chamado entre os Yogues "Vama-krama"; e faz com que, em uma rápida alternância na força das narinas, acelerarmos, em alguns segundos, aquilo que na natureza demoraria duas horas, e em uma intensidade e eficiência três vezes maior.

        Observemos este antigo verso do oriente, nele está contida toda a técnica do Vama-krama:
        (É muito positivo passar as escrituras "veladas", para que nos familiarizemos com o modo secreto, no esoterismo, de serem transmitidos antigos mistérios).

        143 é o número da mística consagração.
        Nele está o adicionamento do mistério setenário.
        Em sua efetividade o Prana penetra através da Lua no período florescente de Buda.    Dormita quatro vezes no tabernáculo sagrado.
        E esvai-se, através do Sol, à sombra das duas flores douradas.
        Reinicia a jornada no inverso sentido penetrando o sol, em sucessivas alternâncias.

        Aqui está toda descrição da técnica do Pranayama. Vejamos a proporção 1-4-2, e veremos, posteriormente, que perfaz a sequência 8-32-16, é só multiplicar por 8.
        No versículo em que o Prana penetra a Lua: o ar penetra através da narina esquerda, lunar, o Nadi Ida; no período florescente de Buda, que é o Chakra Vibhuti, de oito pétalas. Esta inspiração, cujo nome no yoga é Puraka, deve ser feita tampando a narina direita, para que o ar penetra pela esquerda, lunar, pelo tempo de oito batidas do coração.
        Dormita quatro vezes no tabernáculo sagrado: retém, prende o ar, por um período quatro vezes maior, ou seja, 32 batidas do coração. Esta retenção chama-se Kumbaka entre os Yogues.
        Esvai através do Sol à sombra das duas flores douradas. A narina solar é à direita, o Nadi Píngala; e as duas flores douradas são duas vezes o 8, o número de pétalas douradas do Vibhuti, que dá o número 16. Portanto, obstrui a narina esquerda e solta o ar pela direita no tempo de 16 batimentos cardíacos. A expiração no Yoga chama-se Rechaka.
        Reinicia a jornada em sentido inverso: faz o caminho contrário — obstrui a narina esquerda, inspira por oito batimentos cardíacos, prende o ar por 32 batimentos, obstrui a narina direita e solta o ar pela esquerda pelo tempo de 16 batimentos. E assim vai alternando.
        Resumidamente, o Pranayama consiste na respiração que se faz alternando-se as inspirações e expirações com as narinas direita e esquerda, seguindo seus tempos predeterminados segundo os batimentos do coração.
        Inicialmente 3 ou 4 minutos são excelentes. Pode ir aumentando gradativamente com o tempo. A hora que o sol está nascendo é momento o ideal.

        Mas o que tem a ver este exercício para a meditação?

        Quanto mais ativados estiverem nossos Chakras, mais energia flui dentro de nosso ser.     Estaremos carregados das energias que interpenetram os planos, ficaremos muito mais ligados ao mundo espiritual e, consequentemente, à própria espiritualidade, que nos distancia da concretude material, algo essencial para quem deseja abstrair-se da vida corriqueira do mundo físico.




                       O PRATYAHARA.

        É, nas etapas do Raja Yoga, o início da penetração no íntimo do próprio ser. É como se invertesse toda a atividade mental que utilizamos no dia a dia, desligando-nos dos sentidos físicos para aplicar nosso foco sobre os sentidos interiores. Sucede ao Pranayama, na sequência das etapas, justamente quando começamos a ter uma percepção muito maior daquilo que está além daquilo que chamamos, erroneamente, de "realidade" física, pois desligamos nossa mente dos sentidos. É uma etapa de subjetividade, em contraste com a objetividade das etapas anteriores. Dessa forma, a mente inicia um processo de purificação. (É muito comum no Pratyahara, logo de início, a percepção do mundo espiritual). O Pratyahara vem ser o rompimento de tudo aquilo que é externo; o bloqueio das vibrações que nos chegam do mundo exterior, captadas através daquilo que os mestres denominam Jnana-Indryas, os correspondentes energéticos dos nossos órgãos físicos de sentido em conexão com os receptores da mente. E são justamente estes receptores da mente que serão desligados, através do Pratyahara, cessando o pensamento, para que a mente atue livremente, livre de imaginações, de expectativas, preocupações ou cuidados, atenuando gradativamente toda efervescência mental, e, com a contínua prática, desligar-se de toda percepção objetiva, adentrando na verdadeira realidade da conexão com o infinito.




                        O DHARANA.

        Dharana vem ser a concentração.
        É muito comum existir uma dúvida, entre os iniciantes que adentram no estudo do ocultismo, a qual vem ser a diferença entre concentração e meditação. Por isso penso ser essencial fazer uma breve revisão sobre estes termos.
        Concentração significa centrar o pensamento, focar determinada área e lançar toda sua atenção a este centro, ater neste alvo determinado, sem se desviar do mesmo.
        Meditação já é o estado de fluir a mente, relaxar e flexibilizar o pensamento;  é o descanso da mente deixando com que ela percorra seus caminhos em uma jornada interior, refletindo na quietude mental, retornando à essência do próprio ser, além da consciência presente na vida cotidiana. É a arte de responder sem reação, alcançar respostas sem reações às questões pelas quais se buscou o esclarecimento.
        Voltando ao Dharana, esta vem ser o trabalho acima da noção de individualidade   (Ahamkara–noção de individualidade na linguagem sânscrita). Este "trabalho" adentra à supra consciência — estado superior de consciência após o vazio mental do Pratyahara. No Dharana fiscalizamos um objeto, especialmente as suas vibrações não captadas pelos sentidos físicos, observamos e fazemos a conexão com o objeto e todas suas relações com o universo.
        É interessante notar o relato de um Yogue quando ensinava o Dharana aos seus discípulos.        Ele começou sua concentração em uma determinada figueira junto ao pátio do mosteiro, primeiro concentrou sobre seu caule, suas folhas, seus frutos, raízes e galhos. Depois sua concentração se tornou tão poderosa que ele se identificou com a figueira. Ele passou a ser a figueira, sentir o vento, o sol, a chuva, o sereno incidindo sobre ela, sem pensar, sem analisar, apenas sentir, identificar, focar tão completamente que se adentrou na essência de ser, de existir e de compartilhar o mesmo sequenciamento universal de existência.
        As etapas do Pratyahara, Dharana e Dhyana se sucedem, de maneira imperceptível, naturalmente, sem o auxílio de quaisquer esforços.






                            O DHYANA.

        É o Dhyana a própria meditação que não se alcança através de raciocínios. É o estado de supra consciência que revela todas as coisas, apenas sentindo, sem que haja qualquer perspectiva analítica, qualquer raciocínio, qualquer esforço do intelecto. A partir do objeto focalizado através da concentração e sua conexão mental, nos deixamos fluir através desta conexão, deixando seguir o fluxo do sequenciamento universal. É o caminho através do qual o ser percorre as trilhas insondáveis da existência, do eterno e do infinito, onde a natureza de todas as coisas se desnuda diante de nossos olhos, revelando a beleza de cada manifestação inserida na imanência de todas as manifestações.
        Disse um mestre a seus alunos sobre o Dhyana: "Há um rio sagrado que nasce no Nirvana, e ele percorre todas as mais belas regiões se você soltar um barco na sua correnteza; ele passa pela casa de todos os mestres e pelas mais a aprazíveis cidades. Porém se você tentar remá-lo o barco não vai a lugar algum, é preciso que encontre este rio e deixe o barco te levar”.
        "Onde encontro este rio e depois como faço para parar o barco?" — Indagou um aluno.
        "Este rio corre dentro de você, e o barco o seu Eu real, sua consciência. Este rio tem um nome: Dhyana o chamamos".

        Deste estado de meditação se chega espontaneamente ao Samadhi, que é o estado de maior expansão de consciência. É a consciência cósmica, a energia fundamental alcançada e vibrante em tudo, o Sat-Chit-Ananda, a plena existência, a plena sabedoria e a plena alegria do Espírito.
        Nosso foco essencial, porém, sobre o qual denota este texto, é a meditação, cuja essência é o próprio Dhyana, e neste tema iremos penetrar mais minuciosamente, seguindo os diferentes aspectos que cada pessoa vislumbra a partir desta etapa.
        Cada pessoa difere da outra em incontáveis características, que vão desde a evolução espiritual até seus dons extra físicos, os quais seguem uma linhagem do DNA espiritual.
        Uma pessoa com elevado grau de afinidade extra física, ou, em outras palavras, mediunidade, a partir do desprendimento que se dá no Dhyana, terão seus dons exacerbados.   Sabemos que meditação é algo muito diferente de desdobramento, de projeção astral e de contatos extra físicos, mas uma coisa leva a outra.
       No próprio Pranayama são ativados todos os Chakras que condicionam a pessoa à percepção dos mundos espirituais. A partir do Muladhara, ou Chakra Raiz, o Prana faz com que a telúrica energia latente do Kundalini seja despertada, e esta, gradativamente ascensiona aos demais Chakras que lhe sucedem na linha ascendente do Sushuma, o Nadi central, ao lado de  Ida e Píngala, já mencionados anteriormente. E, uma vez alinhados e ativados os sete Chakras do Corpo Etéreo, são potencializadas todas as percepções do mundo astral e, não somente o astral, uma vez que o Chakra Coronário, ou Sahashara, possui conexão com os planos superiores de sutilíssima frequência vibratória. Dessa forma, quem segue as etapas nas quais o Pranayama precede ao Dharana e o Dhyana, já adentra na etapa da meditação em um elevado grau de adiantamento nas afinidades extra físicas. E este detalhe deve ser considerado inequivocamente dentro do estudo ocultista. A meditação não pode ser vista apenas em sua superficialidade, pois está condicionada às características intrínsecas de cada indivíduo que trilha seus caminhos.
        Seguindo a própria fluidez da meditação, poderá ocorrer o desdobramento astral assim como inúmeros fenômenos de natureza espiritual, uma vez que, o simples isolamento das sensações físicas, favorece a expansão da consciência dentro dos domínios dos planos sutis de evolução.
A meditação seria, como disse o mestre Yogue, o pequeno barco deslizando sobre as águas do rio sagrado, onde o verdadeiro guia é o mestre interior de cada um.  Jiddu Krishnamurti, em sua obra, “Viagem por um Mar Desconhecido”, diz que todo aquele que realmente queira investigar a questão da meditação, deve livrar-se completamente do método, simplesmente porque não há nenhum método ou sistema de meditação. E, o mesmo krishnamurti sempre frisou que somos o nosso próprio mestre. Não que reprovamos as modernas "meditações guiadas", mas, humildemente, tenho por parecer que a partir de guia, método ou controle, não estaremos entrando perfeitamente no estado de fluidez, e, na meditação, o essencial é "fluir", para que se conflua, espontaneamente, nas novas perspectivas que surgem a partir dos horizontes naturalmente expandidos.
        Durante o sono, a consciência projeta-se naturalmente fora do corpo físico, porém, na grande maioria das pessoas, fica inoperante no mundo astral. A meditação, a etapa do Dhyana, alcançada através dos anteriores passos do Raja Yoga, liberta o ser do restringimento físico.   Um estado profundo de meditação, diferente da seguinte etapa da bem aventurança do Samadhi, está em vivenciar a "realidade mística" dentro da própria meditação, ou seja, no Dhyana. E esta "realidade" consiste na certeza de que não somos o corpo físico, nem mesmo corpo astral, mas somos o Âtman, a essência divina que se conecta com o Todo Universal. Este é o veículo do estado meditativo profundo, que avança muito além das percepções extra físicas.
        Esta realidade é o grande "tesouro escondido em vasos de barro", pois está em nós, e não fora de nós. A filosofia oriental diz que devemos simplesmente sentir o Eu Superior, pois nem ao menos precisamos procurar aquilo que já somos. Adentrando neste estado avançado de meditação, simplesmente descobriremos nossa essência, além das roupagens em corpos, mentes e egos. É o "Eu" adentrando no domínio do "Não Eu".
        Quando, através da meditação, percebemos que o "Eu" é uma mera ilusão da temporalidade, poderemos entrar na meditação avançada, mergulhando no Todo e nos identificando com Ele. É o domínio da "eterna presença", na ausência total dos obstáculos, assim como também livres, do espaço e do tempo.
        Disse Krishnamurti, também em sua obra Viagem por um Mar Desconhecido: "Em qualquer coisa que existe continuamente no tempo, não há nada de novo. Só quando há um fim, surge uma coisa nova". Este fim é a consciência da ilusória noção do "eu", esta consciência Krishnamurti chama de "espaço sem o centro", isto é, a ausência do observador, o eu inferior.
        "A liberação," — Diz novamente Krishnamurti na mesma obra — "por conseguinte, requer que cada um descubra por si próprio o que é "espaço sem centro".  Descobrir este espaço, sem que haja qualquer esforço, é o grande objetivo da meditação. Adentrar neste espaço é a Meditação Avançada, para a qual nossas palavras humanas são incapazes de traduzir-lhe a essência.

       Qual é a característica da pessoa quando entra nesse estado de meditação profunda ou avançada?

        A pessoa se encontra em um estado suspenso de animação. Como se estivesse desligada. É comum nos estados de meditação a posição do Ássana do Lótus, ou outra posição qualquer com a coluna ereta, contudo, na meditação profunda não há necessariamente uma regra de posicionamento. Há, na verdade uma ausência de regras.
        Como disse anteriormente, cada pessoa possui uma tônica particular, uma natureza intrínseca, um padrão próprio inerente a ela mesma, assim como também há diferentes graus a serem alcançados para que seja avançada ou aprofundada a meditação. Nem todos possuem um mesmo estágio espiritual e também de experiência para tal estado meditativo. A vivência de um Yogue na Índia que, desde a infância, faz uso da meditação, será muito diferente de uma jovem americana que frequenta uma academia de yoga. Cada um com sua natureza, cada um com seu aspecto, cada um com seu grau. Na medida em que adentram plenamente no domínio do "Não Eu" todos se tornam iguais na unificação com o Todo. Existe a palavra "adentrar", assim como também existem as palavras "parcialmente" e "plenamente", como citada há pouco.

        E qual é a característica dessa pessoa, após retornar desta meditação, em sua vida diária, em sua vida normal?

        Tais pessoas tiveram o privilégio inusitado de ver o infinito e contemplar o eterno, e, obviamente, jamais enxergarão o mundo físico com os mesmos olhos antes de ter uma experiência desta magnitude. Serão desprendidos, desapegados, com anseios muito diferentes da maioria dos seres humanos, especialmente da ultra materialista civilização ocidental. Através deste desprendimento inúmeras pessoas são imunes à dor, isentos das preocupações, e alguns com controle mental indescritível, muito comum entre os Yogues da Índia, dos quais falaremos mais adiante.

       O autor Paul Brunton, em sua obra “A Índia Secreta”, nos relata inúmeros encontros com prodigiosas pessoas que desafiam simplesmente a lógica. Neste livro ele relata a história de um faquir, da cidade de Lahore, chamado Haridas, que foi enterrado vivo na presença do Rei Ronjie Singh e inúmeras autoridades britânicas, incluindo um médico inglês. O local onde colocaram Haridas foi guardado zelosamente por vários soldados Sikhs, por um período de 48 dias, no fim dos quais Haridas se retirou em perfeito estado de saúde física. Naturalmente era ele um yogue com experiência em meditação profunda.
        Notemos que na própria natureza existem fenômenos semelhantes aos aspectos dos estados meditativos avançados. Alguns animais entram em estado de hibernação, no qual o metabolismo se reduz a níveis baixíssimos, muitas vezes próximos de uma letargia total, como os ursos, o peixe pulmão e diversos outros animais.
        A meditação profunda influencia os processos neurovegetativos, ocorrendo um hipometabomismo consciente.



                  O Faquir de Uadipur.

        Existe uma doença chamada catalepsia, na qual se reduz altamente o metabolismo do indivíduo, levando-o a um óbito aparente, através do qual muitas pessoas foram enterradas vivas, constatadas em inúmeros casos.
        Geralmente os praticantes da meditação avançada entram em um estado de catalepsia voluntária, o que se explica casos como o do faquir de Uadipur.
        Devidamente documentada, a experiência de Uadipur foi feita na década de 70, com um Yogue chamado Satyamurti. Este ficou oito dias privado de alimentação e sem a ingestão de água. Sua frequência de batimentos cardíacos chegou à zero. Após os oito dias o Yogue retornou ao seu estado normal e voltou calmamente às ruas de sua cidade.


                 Na Antiga Literatura.

        Segundo os Vedas, que são a base do sistema das sagradas escrituras hindus, o Purusha — a consciência pura universal, o Eu Superior que transcende os egos — é obstruído pelo Prakriti, — raiz da materialidade — tornando-se cativo do mundo material.
        A meditação, em seu estado avançado, faz com que ocorra o isolamento de Purusha sobre Prakriti, levando o indivíduo ao renascimento ou Moksha. Sobre este renascimento falaremos mais adiante.
        No Yoga Sutra de Patanjali lemos:
        "O poder da pura consciência se instala em sua própria natureza pura".
        "Só as mentes nascidas da meditação estão livres das impressões kármicas".
        Como podemos ver, a meditação avançada é a chave não apenas do controle pleno do espírito sobre a matéria, mas também a libertação da “Roda do Samsara”, a roda das encarnações, através da queima das sementes kármicas.


        Adendo:



A IMPORTÂNCIA DOS ESTADOS AVANÇADOS DE MEDITAÇÃO NAS INICIAÇÕES DAS ORDENS SECRETAS.

        A experiência em meditação sempre foi essencial nos mais secretos rituais de iniciação, simbolizando sempre a morte e seu renascimento, o túmulo do velho homem e o berço do novo homem renascido na eternidade.
        A meditação era muitas vezes utilizada no treinamento do neófito a fim que enfrentasse a mais difícil iniciação nas ordens ocultas, e é primeiramente sobre esta iniciação que iremos dissertar, pois ela é ainda utilizada em alguns grupos religiosos do Oriente Médio e no Norte da Índia.
        O importante a dizer é que há várias iniciações em uma mesma sociedade secreta, como se fossem determinadas etapas a serem superadas pelo candidato, o qual atinge determinado grau após cada uma das iniciações específicas. Há, porém, a iniciação final, a iniciação que faz do candidato um mestre iniciado, e esta, certamente é a mais difícil, algumas vezes impossíveis a determinados neófitos que ainda não se encontram em devida preparação para superar os rigores com os quais será submetido.
        Na obra Clothed with the Sun, Vestida com o Sol, Anna B. Kingsford afirma que as pirâmides serviam para as iniciações nos mistérios egípcios, sendo que, na Grande Pirâmide, a Câmara do Rei eram realizados os mistérios maiores e a Câmara da Rainha os mistérios menores. O sarcófago, na Câmara do Rei, era colocado o postulante em sua prova final.
        Observamos que tais provas não exigiam apenas a coragem do iniciante, mas também o autocontrole, pois, como veremos a seguir, sem uma experiência de desligamento do corpo físico, seria algo impossível ao postulante. Era necessário um longo preparo prévio em meditação.
        Voltemos ao grande escritor místico Paul Brunton, que, além da “A Índia Secreta”, escreveu “O Egito Secreto”, e é neste livro que ele relata sua particular experiência de iniciação. Segundo o autor, ele estava determinado a passar uma noite dentro da Grande Pirâmide, ou Pirâmide de Kuphu (Quéops). Após adentrar na Câmara do Rei, entrou em meditação, e, através de seu desligamento físico, inaugurou contato com dois sacerdotes egípcios, um deles, então, indicou que ele deveria penetrar no interior do sarcófago vazio. Assim que o fez, novamente em estado de meditação profunda, teve inúmeras experiências extracorpóreas no interior da arca. Quando regressou ao corpo físico, ainda atônito, compreendeu que passara por um ritual iniciático.
        Um detalhe muito importante a dizer é que jamais foram encontradas quaisquer múmias na Grande Pirâmide, apenas na Câmara do Rei se encontra um sarcófago de pedra vazio, sem nenhum resquício de que ali houvesse algum corpo embalsamado no decorrer dos milênios.
        Helena Petrovna Blavatsky diz que o interior da Grande Pirâmide é um Templo de Iniciação, onde o homem ascende em direção aos deuses e os deuses descem em direção ao homem.
        É bem possível que a Câmara de Reflexões, das ordens maçônicas, possua íntima relação com as iniciações efetuadas na Grande Pirâmide, pois representa um túmulo onde deve morrer o homem em seus vícios, para que possa renascer na virtude. É o ventre da mãe terra da qual nascem os homens. — Visita o interior da terra, e nele retificado encontrará a pedra oculta.



                         O Número Três.

        É o número da perfeição, resultado da vivificação das substâncias. O Fohat que fecunda Koylon para a formação do Prakriti, o Mulaprakriti, a raiz da matéria. Representa a primeira figura geométrica perfeita, a letra Ghimel, o terceiro caminho da sabedoria no Sepher Yesirah.
        O número três sempre foi utilizado na sabedoria oculta das ordens iniciáticas, observemos a trindade presente na Índia: Brahma, Vishnu e Shiva; no Egito, Osíris, Isis e Hórus, até no cristianismo, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sem contar a trindade cabalística e as inúmeras religiões e filosofias antigas, incluindo toda a base dos conceitos pitagóricos. O três representava também o número essencial do renascimento. Observemos os três filhos de Noé que repovoaram a terra: Sem, Cam e Jafé, o renascimento da humanidade a partir do número três. Tanto os deuses, assim como a alegoria do dilúvio, representam a profunda simbologia metafísica presente neste número.
        Observamos o renascimento do profeta Jonas, que permaneceu por três dias e três noites no ventre do peixe, o qual chamou de Sheol, a morada dos mortos. E também Jesus, os três dias sepultado (contagem inclusiva), antes da ressurreição.
        É o número do renascimento, da novidade de vida, do Espírito imortal. Portanto era o período em que o postulante deveria passar no seio da terra, até seu renascimento como novo homem. Nas antigas ordens, segundo os mestres, estes três dias eram também passados em contagem inclusiva, isto é, parte do primeiro dia, o segundo dia todo e parte do terceiro dia. Iniciava-se no final da sexta-feira, passava o sábado, dia do repouso total, até as primeiras horas do domingo, o dia do Sol, o astro doador da vida.


        Vejamos agora não apenas um grande iniciado, mas um grande iniciador, IMHOTEP. No antigo Egito os iniciados traziam em suas estátuas e desenhos o símbolo da própria Iniciação, que era a serpente naja sobre seu Chakra frontal, ou Ajnã. Imhotep sempre era assim representado. Já iniciado, construiu a Pirâmide de Saqqara, a pirâmide escalonada. Conhecido também pelo nome de Toth, o escriba de Osíris, Imhotep possuía o elevado conhecimento dos atlantes. Seu conhecimento era tão vasto que era chamado pelos gregos de Hermes, o Trimegistus, ou seja, três vezes grande, pois consistia em três encarnações em uma mesma consciência evolutiva: Hermes, Toth e Imhotep. Aqui vemos novamente o número três, os três dias da morte individual para o renascimento cosmológico. Vemos, portanto, o número três na sequência do grande pai das ordens iniciáticas, e, consequentemente os três dias do indivíduo morto aguardando seu renascimento em verdade e espírito.
        Este período, em que o indivíduo era mergulhado no útero da mãe terra, só era vencido se este tivesse o prévio preparo meditativo, a consciência elevada à magnitude de luz para se desgarrar da irrealidade física, vencendo a matéria, superando a morte, e renascendo no Todo, na glória imortal da virtude celeste.

       Paz e Luz.