sexta-feira, 29 de março de 2019

A PLASMAÇÃO DOS ELEMENTARES


                 

       Todos nós possuímos um poder criador inerente à nossa própria centelha divina. Esse poder chama-se em sânscrito Kriyashakti; Kriya significa esforço, ou poder volitivo, Shakti, o poder divino, aquele que temos e não conhecemos, que está conectado à sublime  percepção "Eu Sou", que nos confere toda a suprema consciência capaz de "mover as montanhas" e exercer o verdadeiro poder vulgarmente conhecido pela palavra "fé".
       No próprio plano Monádico, ou da Divindade, em todas as altas filosofias e grandes religiões, existe a associação do "esforço" ou "grande poder volitivo de manifestação" com a Shakti, que simboliza o eterno agente feminino cósmico, a contraparte fecundada pela energia primordial que dá origem ao próprio universo. Esta é a bipolaridade divina através da qual gera a resultante manifestada da criação. Podemos observar isto na profunda simbologia das contrapartes femininas das deidades hindus. Brahma tem a sua Shakti, que é Sarasvati; Shiva, Parvati e Vishnu, Lakshemi. Ao contrário daquilo que os ocidentais intitulam como idolatria hindu, tais forças não são "deuses", mais princípios de equacionamento celeste que sintetizam tudo aquilo que podemos considerar como "existência". Este é o princípio criador que é conferido a todos os seres, pois derivam estes da mesma essência de luz, vida e dinamismo advinda do macrocosmo.
       O microcosmo possui plena equivalência com o macro. É o "Princípio Hermético da Correspondência": "O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora”.


       “Os antigos afirmavam que qualquer ideia será manifestada exteriormente se nossa atenção estiver profundamente concentrada nela. Do mesmo modo uma vontade intensa será seguida do resultado desejado"; proferiu a grande yoguini Helena Petrovna Blavatsky, asseverando o poder subjacente à insensatez e à descrença humana.
       Toda obra deriva do pensamento, e todo pensamento associado à vontade e ao desejo de criar estabelece e concretiza a obra. Somos aquilo que acreditamos, criamos nosso destino, engendramos toda realidade que conhecemos; concebemos tudo aquilo que formulamos em nossas ideias, daquilo que pensamos sobre o mundo, daquilo que sentimos como vida, e daquilo que pensamos de nós mesmo. Se crermos plenamente em um propósito, abolindo toda e qualquer dúvida a partir da verdadeira fé, a perspectiva se tornará realidade. Este é o princípio da atração. Somos aquilo que pensamos, e criamos tudo aquilo que acreditamos. Existe a divindade dentro de nós, da qual podemos usufruir para transformar o nosso meio, estabelecer aquilo que somos, e criar um novo destino.
       A saúde física tem origem na saúde mental, assim como todos os desajustes e desequilíbrios originários de uma desarmonia interior. A ilusória estruturação da matéria possui todo um alicerce energético, ou espiritual. A designação depende de nossa subjetividade, seja ela científica ou filosófica, toda realidade reside no invisível que plasma tudo aquilo envolto de concretude e visibilidade.


       A formação de seres artificiais, criados através do próprio pensamento, é uma realidade muito mais comum do que supomos ser. O próprio pensamento eivado de negatividade, aprisionado no "ontem" que já não existe, e em um "amanhã", ainda desprovido de realidade, gera "espíritos" de depressão, pânico e ansiedade. Mas existem verdadeiros "seres" que tomam "realidade" e atormentam seus "criadores"  com a mesma intensidade ou até mesmo pior.
       Observemos a força do poder criador, nas palavras de Dion Fortune, em sua obra "A Cabala Mística": "Gerações de adoração e culto constroem uma imagem fortíssima na luz astral e, quando o sacrifício é acrescentado à adoração, a imagem desce um passo a mais nos planos da manifestação, e adquire uma forma nos éteres densos de Yesod" (plano astral), "tornando-se um objeto mágico mais potente, capaz de ação independente quando animado pelas ideias concretas geradas em Hod". (Oitava Sephirah da Árvore da Vida, superior à   Nona Sephirah, Yesod).
       Neste texto Fortune esboça a descrição da formação de um "deus" ou "entidade" criado a partir de cultos de adoração, principalmente nos antigos cultos onde se exigiam sacrifícios. E, como a grande escritora frisa, a plasmação se dá quando o "sacrifício" é adicionado à adoração. Aqui vemos o segredo da plasmação dos elementares, a adoração que canaliza o poder divino da criação, ou aquilo que mencionei anteriormente como "Shakti", e o esforço, traduzido em "sacrifício", que complementa a bipolaridade geradora de "vida".
       No mesmo livro, posteriormente, Fortune acrescenta: "... embora a forma sob a qual o deus é representado seja pura imaginação, a força que se lhe associa é real e ativa". Troquemos a palavra "imaginação" da sábia escritora, e coloquemos "mentalização". Firmamos agora aquilo que é essencial para a formação de um ser astral criado a partir do pensamento. Um ser forma-pensamento, muitas vezes criado de forma involuntária por aqueles que, não intencionalmente "criam seus próprios demônios".
       O sacrifício representa o sangue cujas emanações astrais são absorvidas pela figura mentalizada, o que confere uma "vida astral" desprovida de consciência, mas dotada dos aspectos psicológicos de seu criador. (O esperma e o menstruo são muito mais comuns na formação desintencional desses seres).
       A escritora francesa Alexandra David-Néel, em sua obra  "Tibete, Magia e Mistério", relata detalhadamente a formação de Kama-Rupa pelos monges tibetanos, assim como um criado diretamente por ela mesma, assim como também a destruição do tal ser.
       Estes seres, como citei em outros textos, além de Elementares, possuem o nome sânscrito de Kama-Rupa, que significa "forma-pensamento". E conforme mencionei acima, podem ser criados de maneira involuntária, ou voluntariamente.


       Muitas vezes, como no caso da escritora francesa, Alexandra David-Néel, não foi necessária a aspersão de sangue ou qualquer outro fluido advindo do corpo humano ou de animais, contudo dão casos de exceção. Os fluidos que dão concretude astral a tais seres inoculam os caracteres relativos aos doadores. Parte da personalidade de quem foi utilizado o fluido, é passada ao Kama-Rupa recém-formado.
        Nem todas as Formas-Pensamento são maléficas. Muitos magos brancos podem plasmar seres para determinados propósitos benéficos. Contudo os magos negros ou pessoas comuns, que, inadvertidamente, criam tais seres, podem criar desde espectros inócuos até seres atormentadores, instrumentos de seus propósitos nefastos.
       A plasmação intencional se inicia geralmente dentro de um processo ritualístico, que envolve a mentalização, estruturação, plasmação e direcionamento. Não que seja imprescindível um ritual, mas funciona eficientemente como uma ancoragem psíquica e espiritual, semelhante à magia talismânica. Um iniciante, por exemplo, irá  desenhar algum tipo de ser, mentalizar fortemente sua figura, como criando ficções em sua mente simulando atitudes, ações e projeções deste ser em variadas circunstâncias, como o transcorrer de um filme. Passado algum tempo, que dependerá da experiência do magista, o ser terá uma forma configurada e estabelecida na sua mente, e, consequentemente no plano astral. Esta é a fase da mentalização.
       A segunda fase da estruturação consiste no sacrifício. O magista se for adepto da boa intencionalidade, ou seja, a "magia branca", utilizará de seu próprio sangue, derramado através de um  corte, um auto sacrifício na intensão de promover algo positivo. Poderá dispor de um círculo mágico, pentagrama na posição correta, incensos, entre os quais irá vocalizar a "Invocação de Salomão", e outras orações consagrando a sua divina intencionalidade.
       Após esta etapa obterá a plasmação do ser, com o qual e exercerá sua vontade e domínio, fazendo-se senhor da forma-pensamento, a qual cumprirá tudo aquilo que lhe for determinado, haja vista que é um prolongamento de sua psique.
       O direcionamento consiste na mentalização para onde se deseja enviar tal forma, seja para atitudes nefastas, conforme o desejo do mago negro; ou para atitudes de ajuda e encorajamento promovendo bons sonhos e boas perspectivas, no caso de um magista estruturado no amor e na benevolência.


       Na verdade criamos rotineiramente esboços de Kama-Rupa, na grande maioria das vezes, se desvanecem na correnteza e na diversidade de nossas emoções.
       Para desfazer uma forma-pensamento, seja ela de qual tipo for, tomamos posse de nosso intrínseco poder intrínseco, o mesmo poder que pode criar, transformar e desvanecer. Essas criaturas são desprovidas de realidade, e, conhecendo sua própria natureza irreal e transitória, afirmamos a sua existência ilusória e negamos qualquer realidade que possa estruturar sua plasmação. É muito mais simples desintegrar tais seres do que criá-los. Esta é a certeza que temos diante daquilo que se baseia em ilusões individuais ou coletivas. Lembremos que o sistema mágico do Vodu nunca teve poder algum sobre qualquer agnóstico, ou religiosos plenamente confiantes em sua fé.
       O que pensamos, criamos. O que desfazemos em nossa mente, destruímos, transformando nossa própria realidade.
       A própria existência é um pensamento divino. Participemos desta existência revestindo-nos da luz presente em nossa centelha divina. A grande lei da atração rege o sequenciamento do universo, e ele é sempre um eco daquilo que acreditamos que ele seja.

Namastê
Om Tat Sat


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