A LIBERTAÇÃO DA MATRIX
(O caminho das verdades eternas)
“Não acredite
em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque
todos falam a respeito. Não acredite em algo porque simplesmente está escrito
em livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres
dizem que é a verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de
geração em geração. Mas depois de muita analise e observação, se você vê algo
que concorda com a razão, e que conduz ao bem e ao beneficio de todos, aceite-o
e viva-o”. (Sidharta Gautama, o Buda).
Na verdade
estamos aqui não por uma escolha, mas por uma imprescindível necessidade do Eu
superior para desvencilhar-se do ego. Essa necessidade não teve sua origem no
“eu” individualizado, cuja imagem se reflete nos espelhos, apartando-se do
Todo. Essa imagem nada mais é senão que a ilusória aparência da separatividade.
A Matrix, ou o “poder controlador” presente neste mundo, sobrevive à custa
desta separatividade. Regressamos a este plano de existência para nos
confrontarmos com toda cadeia de ilusões, para rompermos com a Matrix, que nos
aprisiona no ego letargo, para que retornemos à “unidade”, real, do Eu
superior. Tal rompimento é alcançado através da elevação de nossa frequência
vibracional. Estamos imersos na densidade ilusória do plano físico para que
sejam afloradas todas as nossas imperfeições, pois aqui, todos os mais sombrios
aspectos de nosso “eu” inferior, se manifestam, e, a própria razão da
existência, é desenlearmos das impurezas que nos estão incrustadas. Impurezas estas
que estabelecem a Matrix, fazendo-a perseverar sua existência sob a iníqua
perspectiva das mazelas humanas.
A Matrix promove
uma entranhável simbiose entre nosso ego e os seus engenhosos mecanismos, estabelecendo
uma identificação com os transitórios estados da materialidade; acondicionando
nosso “eu” inferior às efêmeras situações deste mundo ilusório. Ela está sempre
a oferecer ao ego todos os condicionamentos para que o espírito permaneça em
seu forçoso adormecimento.
Nosso Eu superior
emite suas “palavras” quando o ego silencia. O poder estabelecido neste mundo
convoca a evidenciação cada vez maior do ego, para que a verdade não seja
manifestada através do Espírito. A verdade é a pior inimiga daqueles que vivem
da mentira e das ilusões peculiares à sua própria essência.
Os mantenedores
da Matrix não são, de maneira alguma, despertos, simplesmente porque vivem
adormecidos em seu próprio ego e mantêm seu sistema através daqueles que
permanecem ainda adormecidos. Eles lograram o domínio dos egos alheios através
das ilusões e das imposturas. Vivem também dessas ilusões como se fossem elas
uma realidade, e depositam todo seu poderio para que estas sejam mantidas. Mas,
a cada paradigma nocivo imposto sobre nosso ser, há também a oportunidade de
trilharemos caminhos alternativos, pois aprendemos a enxergar através das
próprias vicissitudes, e, a cada verdade que se descortina, é amplificada nossa
consciência, em consonância com o nosso Eu divino que jamais adormece.
Seguimos o
“caminho do retorno” inserido na materialidade, em uma holográfica simulação
que os hindus denominam “Maya”, uma palavra sânscrita que deriva da contração
de “ma”, cujo significado é formar; e da palavra “Ya”, significando “aquilo”,
conotando o sentido da ilusão. O “caminho do retorno”, ou a travessia pelo
plano da densificação (a matéria é a energia densificada), visa a superação
dessa ilusória materialidade, para que a espiritualidade possa ser vivenciada
em sua essência. Contudo, suplantar o efeito das ilusões é mais que um árduo
propósito do espírito; é a razão de toda a aventura humana. O mundo ilusório
possui o aspecto dissimulado de uma “realidade”, levando a crer que tudo é
matéria interagindo com a própria matéria, e isto gerou falsa concepção de
posse, de domínio e de poder sobre toda essa transitória fantasia. Esse poder,
investido de materialidade, acabou preponderando sobre a verdadeira consciência
daquilo que realmente somos, cerrando os portais para o auto reconhecimento do
“divino interior”. Com isso esquecemos a nossa verdadeira essência, deixando o
“Poder” exercer seu domínio sob os auspícios desse esquecimento.
Todos aqueles
que tiveram a oportunidade de assistir o filme “Matrix” (1999), puderam
observar o “Poder” que controlava a mente dos indivíduos em estado de
adormecimento. Muitos captaram o caráter simbólico embutido na mensagem desta
magnifica obra cinematográfica, indicando que “a arte imita a vida”. Tal
cenário acabou demonstrando, de maneira alegórica, que estamos adormecidos em
meio a um contexto instituído por um “Poder Controlador”, para o qual o
“adormecimento” se faz imprescindível à sua preservação.
Disse, certa vez,
o “desperto” Carlos Drummond de Andrade: “eu preparo uma canção que faça acordar
os homens e adormecer as crianças”. Preparam a mesma canção todos aqueles que
almejam pelo despertar espiritual, na luz das novas cintilações, sob a
imponderável força do Amor, que pluraliza os mundos, os aspectos e os anseios,
amplificando todas as visões até então turvadas pelas dissimulações. Tal
“Poder”, consolidador do sistema, de modo algum deseja que ocorra o despertar
das consciências, e castra o venturoso dom do discernimento através da
alienação presente em seu “modus operandi”.
O controle sobre
o pensamento, e, consequentemente, o cerceamento do livre arbítrio, teve seu
inicio nos primórdios da civilização, onde as lideranças impunham suas regras
para manter o controle sobre os demais membros, sempre cautelosos com o
aparecimento de rivais à hegemonia de seu comando, passando então utilizarem-se
dos essenciais dispositivos da limitação do ego: o medo e o interesse.
Posteriormente
se formaram as embrionárias nações, e com elas as crenças, primórdios das
religiões, que ainda incipientes, começavam a exercer papel fundamental nas
inflexíveis regras que consolidavam o poder sob as castas privilegiadas. Nada
pode ser mais persuasivo e controlador que a “fé cega”. As nações formaram, com
o passar do tempo, reinos, que, se expandindo, constituíram os antigos
impérios, cada qual com sua zona de influencia e suas formas peculiares de
controle. Nasciam, dessa forma, Matrix isoladas, o prelúdio de uma Matrix
mundial que se estabeleceu com o progressivo robustecimento dos grandes grupos
econômicos.
O desejo de
liberdade é inerente ao espírito humano, mesmo quando nem se tenha a noção de que
está cativo dentro de um sistema de coisas. Tal desejo é crescente à medida que
o espírito caminha na senda da evolução. Porém, para que a liberdade possa
afluir, é necessário que sejam desvanecidas todas as concepções herdadas da
própria Matrix. “Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino dos céus”,
disse Jesus (João 3,3). Para “nascer novamente” é necessário que estejam mortas
as preconcepções não consubstanciadas no amor. O reino dos céus significa um
estado, que é alcançado através do nascimento do Eu superior. Portanto, é
necessário “morrer” para os antigos preceitos, crenças, concepções e conceitos
herdados pela sociedade, pela tradição familiar, ou até mesmo por ditames e
ideias advindos subliminarmente na consciência.
A assimilação da verdade necessita de uma mente “aberta”. Mas o que é a
verdade? (como perguntou certa vez um antigo governador). A verdade é a visão
através da sabedoria. E a sabedoria é o conhecimento consubstanciado no amor, a
verdadeira graça espiritual. Conhecimento sem amor é presunção; ideal sem amor
é fanatismo; concepção sem amor é radicalismo.
"Questione tudo aquilo que você tem como 'verdade'; questione tudo aquilo que você tem como 'mentira'. Busque observar cada uma delas sob o prisma do Amor. Assim como o ouro, provado a fogo, elimina todas as impurezas, sua consciência irá eliminar tudo aquilo que não corresponde com a verdadeira essência da luz crística, iniciando-se pelos preconceitos, pelas prevenções e ideias pré concebidas cheias de discriminação". Disse uma vez o Velho Mestre.
A “religião” sempre foi um poderoso instrumento da Matrix. Atualmente significativa parte da grande mídia exerce papel altamente persuasivo no domínio das mentes; não apenas na mente das pessoas menos instruídas, mas ainda mais poderosamente sobre aqueles que se julgam esclarecidos, que acreditam ser detentores da razão e do discernimento, formadores de opinião, sem saber que estão ainda mergulhados na mais profunda sonolência, muito pior do que aqueles que, presunçosamente, julgam néscios. A pior falta de esclarecimento está naqueles que se julgam esclarecidos, e não o são, pois suas concepções estão mais fortemente aderidas, enraizadas na “farisaica” jactância, na insciência dos “mestres espúrios”.
A “religião” sempre foi um poderoso instrumento da Matrix. Atualmente significativa parte da grande mídia exerce papel altamente persuasivo no domínio das mentes; não apenas na mente das pessoas menos instruídas, mas ainda mais poderosamente sobre aqueles que se julgam esclarecidos, que acreditam ser detentores da razão e do discernimento, formadores de opinião, sem saber que estão ainda mergulhados na mais profunda sonolência, muito pior do que aqueles que, presunçosamente, julgam néscios. A pior falta de esclarecimento está naqueles que se julgam esclarecidos, e não o são, pois suas concepções estão mais fortemente aderidas, enraizadas na “farisaica” jactância, na insciência dos “mestres espúrios”.
Seria um grande
erro asseverar que a religião atrasou o mundo, e se configura como um operativo
tentáculo da Matrix, pois a etimologia popular atribui a origem da palavra
"religião" ao vocábulo “religare”, cuja conotação vem ser religar
aquilo que está desconectado, com nosso Eu maior, justamente o inverso do propósito da Matrix. “Religião”, entre aspas, a que faço referencia é parte
significativa das instituições religiosas, cujo poder de persuasão é tão
lancinante, como podemos observar em tantas atrocidades perpetradas através da
“devoção”, como suicídios em massa e incontáveis crimes, “em nome de Deus”,
efetuados ao longo da história da humanidade. Inicialmente o cristianismo, na
sua revolucionária essência, era algo prejudicial ao Império Romano, porém,
mais tarde, este Império, fez com que o cristianismo fosse adaptado aos seus
próprios interesses. Não que se convertera ao Cristianismo, mas que o
Cristianismo fosse convertido aos propósitos do Império, ampliando através da
nova “religião”, o controle sobre a sociedade. Os Imperadores notaram que a nova
crença possuía os dois fatores essenciais para que se propagasse um controle
efetivamente expressivo, conforme citado anteriormente: o medo e o interesse. O
medo de uma hipotética danação eterna, e o premio de um eterno paraíso àqueles
que rigorosamente cumprissem com os mandamentos de uma igreja aliada à realeza,
sob os auspícios de um deus “infinitamente amoroso”, segundo seus próprios
dogmas.
Questionamento é
a etapa inicial para que se possa intuir a verdade por trás de todas as
alegorias. Uma criança pequena certa vez me disse que não poderia acreditar em
um inferno, em uma eternidade das penas, pois, segundo aprendeu com seus pais,
Deus era bom, muito “mais bom” que seu próprio pai, que jamais faria isso com
ele não importando o grau de travessura que fizesse. Temos aí o início de um
questionamento, a consciência insurgindo contra aquilo que lhe parece ilógico,
incorreto, desprovido do verdadeiro amor.
Um adulto que “para pra pensar”, e
concebe a espiritualidade como desprendimento, compaixão, abnegação, logo
percebe que o sistema de coisas se alicerça na ganância, no individualismo e no
desprezo a grande parte das populações que sobrevivem abaixo do limite de
pobreza extrema, onde a união é desprezada e o controle é exercido através da
ignorância justamente daqueles que não se julgam ignorantes.
Diz um velho
ditado: “É mais difícil conscientizar um néscio do que ensinar um chimpanzé a
jogar xadrez”. Não cabe incutir ideias que possam ser conflitantes com as
concepções herdadas por anos ou gerações de doutrinação entabuladas pelo
sistema. A espiritualidade nasce do próprio interior através das pequenas
sementes regadas, muito mais pelas atitudes dos “despertos”, do que por suas
próprias palavras. Mil palavras podem valer muito menos do que uma atitude
abnegada onde o amor se expressa em sua magnitude. Portanto, nem todos estão
preparados para receber a verdade abruptamente, pois o entorpecimento da
materialidade se dispõe com expressiva relevância para demover antigos
princípios onde o amor não se faz presente.
“Tenho muito
ainda a dizer a vocês, mas não podem suportar agora; quando vier o Espírito da
Verdade, ele guiará vocês a toda verdade”. (João 16; 12 e 13). Estar preparado
para receber o Espírito da Verdade significa o rompimento para tudo aquilo que
não se consubstancia no amor, e saber filtrar, através desse Amor, as novas
concepções que sobrevierem. Mas como vivenciar esse Amor, que é a única força
capaz de suplantar o “Poder”? O amor não dá lugar à ira, à ganancia, à cobiça,
à intolerância, ao preconceito e ao juízo temerário. Imaginemos alguém, que, de
fato conheci, e que disse detestar os muçulmanos. Primeiramente já está errado
de tomar o todo pela parte, que talvez tenha tido algum tipo de contato. Seja
ódio, preconceito ou simplesmente uma antipatia, é analisar qual a origem desta
aversão. Seria preciso avaliar os preceitos do islamismo, observar o mundo com
os olhos de um muçulmano, se sentir como um muçulmano para entender ao invés de
julgar, ou, até mesmo condenar. O amor deve suplantar toda espécie de
rotulagens. Os rótulos sempre separam, o propósito do verdadeiro amor é
incluir, é integrar, é repugnar a intolerância.
“Ai daqueles que
ao mal chamam bem e ao bem mal: que fazem da escuridão luz, e da luz
escuridade; e fazem do amargo doce, e do doce o amargo!” (Isaías 5,20). O poder
da Matrix se faz tão avassalador que, muitos guerreiros desejaram morrer em
combate acreditando que seria este martírio uma forma de ascenderem-se a um
presumível paraíso. Aquilo que é definitivamente mau é mascarado em algo que
prefigura como bom. O versículo acima é uma verdadeira exortação contra os
embuços dos mandatários da Matrix, detentores do poder financeiro e midiático.
Pois, como citado anteriormente, expressiva parte da mídia representa os
interesses desses poderosos governantes mundiais. Nada ou ninguém é 100% bom,
nem 100% nefasto. Tomemos algo que possa ser 70% positivo e 30% negativo. Se
forem evidenciados os 30% de seu aspecto negativo, tomaremos sua imagem como
inteiramente negativa. Em um caso inverso, algo 70% negativo e 30% positivo, se
focalizar apenas os 30% positivos, tal coisa se reputará como boa. A imagem
real será distorcida pelo ocultamento de seus aspectos essenciais, quando tal
artifício serve aos interesses do Poder.
Disse certa vez
Mahatma Gandhi aos cristãos: “Eu não rejeito seu Cristo. Eu amo o seu Cristo.
Apenas creio que muitos de vocês, cristãos, são bem diferentes de vosso
Cristo”. Certamente que, este grande libertador hindu, conhecia a grande
mensagem libertadora existente nas mensagens bíblicas, e são justamente esses
ensejos de liberdade que priorizo em minhas citações. Pois Cristo insuflou um
rompimento com aquilo que era preconizado pela Matrix da época. “O sábado foi
feito para o homem e não o homem para o sábado”, isto equivale a dizer que
conjunto de regras são elaborados para que destes sejam os homens beneficiários
e jamais seus escravos. Lavar as mãos antes de ingerir alimentos nada mais são
do que regras higiênicas, e não “cláusulas pétreas” cuja descumprimento conduz
à pena capital. No entanto ele violava o sábado, comia sem lavar as mãos e se
aproximava dos leprosos e execrados de uma sociedade hipócrita e sistemática.
“O qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da
letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica”. (2
Coríntios 3,6). Notemos o exemplo da “Mulher Adúltera”, João capítulo oito, onde
ele passa por cima de toda a “Letra”. Esta que condenava tal mulher ao
apedrejamento, e, no entanto, ele a perdoou. Neste mesmo capitulo há algo que
passa quase despercebido: Enquanto os acusadores testam-no a respeito da
“letra”, este, inclinando em direção ao solo começa a escrever sobre a terra.
Único relato sobre algo escrito por ele propriamente. Nunca saberemos o que
escreveu sobre a terra, justamente porque fez de sua atitude uma mensagem maior
do que mil palavras: O Amor sobrepondo letras, regras e todas as disposições de
uma Matrix que condiciona os seres humanos às forças cegas de suas imposições.
Uma letra na areia desaparece sob uma simples rajada de vento.
...”deixa aos
mortos sepultar os seus mortos”, (Mateus 8,22). Quem seriam esses “mortos”?
Certamente os “adormecidos” sob o entorpecimento da materialidade, e, por esta
razão, sob o total controle do “Poder”. Os “despertos” possuem a predominância
do Eu superior sobre o ego essencialmente terral. E, para estes a morte física
nada mais é que um desenlace, uma mudança para outro plano de existência.
Muitos destes perderam suas vidas na difícil tarefa de promover a “grande
libertação”, no destemido enfrentamento contra os dominadores. Longe de teorias
conspiratórias, observemos o próprio Jesus, Gandhi, Martin Luther King, e
tantos outros... Eles ousaram! Seus caminhos não poderão ser esquecidos. ...Os
caminhos dos mártires, dos execrados, dos estigmatizados... Para que possamos
visualizar as “chaves da liberdade”, para que sejam abertos os portais de uma
nova consciência, rompendo com as velhas concepções. Vinhos novos devem ser
deitados em odres novos. Os fortes, os “grandes”, os empreendedores, os doutos,
não foram agraciados sem um propósito divino. Possuem a missão “crística” de
auxiliar os fracos, remir os pequenos, conduzir os humildes e ensinar os
néscios, e não desmerecer e preterir os desfavorecidos, como preconiza a
Matrix, em sua total carência de amor e humanidade.
Sem uma
transformação interior jamais conseguiremos desincrustar tudo aquilo de
maléfico que nos foi imposto durante nosso estado de dormência. “Seja a mudança
que você quer ver no mundo”, proferiu Gandhi. Durante alguns anos acreditamos
em “Papai Noel”, “coelhos da páscoa”, mas esses devaneios, ainda que belos, se
desvaneceram no transcorrer do amadurecimento das ideias. Isso já significa um
rompimento, ainda que fugaz. Mas já é um paradigma, um modelo a seguir para
rompimentos mais sólidos; não mais através de uma fase de crescimento físico,
mas de um crescimento espiritual. “O sábio pode mudar de opinião, o ignorante
nunca”, disse Emmanuel Kant. Ser sábio não é apenas conceber, mas também
desvencilhar, seguir o ciclo transformador que rege o próprio universo. “Eu
prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada
sobre tudo”, disse sabiamente Raul. Sem nunca esquecer que a liberdade tem
sempre um preço, principalmente se a liberdade estiver agregada ao desejo de
libertação daqueles que permanecem cativos. “Quem come do fruto do conhecimento
é sempre expulso de algum paraíso”, disse a psicanalista austríaca Melaine
Klein.
A espiritualidade é um meio e não um fim.
Acreditar que está liberto simplesmente porque adentrou nas “águas mais
profundas” da espiritualidade, muitas vezes pode significar que ainda não
acordou de seu sono, mas apenas mudou de sonho. Não se restaura um dente
cariado sem que seja retirada totalmente a lesão cariosa. Novos conceitos
muitas vezes podem ser incompatíveis com “verdades” pressupostas. A libertação
se faz através da sabedoria, e, simples conhecimentos jamais torna sábio um
coração sem amor. Só o amor pode transformar o coração para este conceber a
verdade. “A mentira pode ser doce ou amarga, mas ela nunca será boa. A verdade
pode der doce ou amarga, mas ela nunca será má”, diz um velho ditado. O amor
sempre estará compromissado com a verdade.
Um dos sete passos
do Raja Yoga para atingir o estado de iluminação, o “Samadhi”, é o
“Pratiahara”, que consiste no controle sobre todas as influencias externas.
“Prati”, em sânscrito, significa “fora”; “Ahara”, significa alimento. É, pois,
o jejum da mente, o controle das impressões sensoriais, o recolhimento
interior. Só através do bloqueio das influências de todas as nossas vidas,
poderemos realmente viver o nascimento de uma nova consciência expandida nos
horizontes das potencialidades cósmicas, livre da insipiência dos antigos
preceitos. “Garoa, sai de meus olhos”; disse certa vez um poeta, comparando a
garoa, que encurtava sua visão, à Matrix que a grande cidade lhe impunha.
O ateísmo é
produzido justamente pelas próprias instituições religiosas. Simplesmente
porque um individuo que começa a despertar, celeremente descortina o verdadeiro
fundamento da maioria dessas instituições, com todos seus deméritos, deixando
de entrever as relevantes diferenças existentes entre religiões e instituições
religiosas. O verdadeiro sentido de religião está concatenado à
espiritualidade, adversa à prevalente materialidade inerente ao espírito de
grande parte das instituições.
Hitler foi um
braço descontrolado da Matrix, que, embora mantendo sua nefasta missão, preservava
sua imagem de líder e herói para grande parte do povo alemão, incapazes de
pressentir sua explícita alienação. Revelar seu verdadeiro aspecto era uma
ofensa mortal aos seus seguidores, pois suas mentes estavam profundamente
alienadas e doutrinadas segundo o interesse do “Poder”. A análise da história se faz através do óbvio,
os grandes interesses são sempre visíveis pelas mentes esclarecidas. Pensemos:
Criar um monstro tal qual Adolf Hitler, não se importando com mais de cinquenta
milhões de vidas humanas, apenas nos descortina a verdadeira face da Matrix,
que aliena, distorce, corrompe, entorpece e controla a mente dos “adormecidos”,
para os quais todo crime, atrocidade e genocídio possui sempre uma
justificativa.
Os “despertos”
foram vitimas dessas monstruosidades criadas para a manutenção do “Poder”. Até
o dia de hoje, os de maior projeção, são eliminados através das mais engenhosas
maneiras e das mais dissimuladas situações. O sonho de liberdade será sempre
muito maior que o sono das ilusões, mesmo que possa se estabelecer como uma
sentença de morte.
Apenas para
ilustrar e salientar o desprezo que a Matrix tem pela vida humana, assim como
também pelo próprio meio ambiente do planeta em que vivemos, recomendo que
sejam vistos e analisados a “Operação Drop Shot”, que se tivesse logrado êxito
teríamos um planeta devastado e a perda imediata de mais de 70 milhões de
vitimas; e o documentário “Rádio Biquini”, cujo real desfecho dispensa qualquer
comentário. ...”O mundo todo está sob o poder do Maligno”, assevera João em sua
primeira epístola capítulo cinco, versículo dezenove. Sendo que este Maligno
não representa nenhuma entidade espiritual, mas sim o Poder corrompedor regente
em todo o planeta.
A Bíblia Cristã
pode ser um instrumento de alienação sob a destra de alguém que não aspire algo
além do controle das mentes, principalmente através do medo. Porém nela também
estão presentes as grandes verdades que conduzem à libertação, principalmente
para os espíritos que conseguem diferenciar o joio do trigo.
“A Grande
Babilônia” e a sua “queda”, descrita simbolicamente no Livro do Apocalipse,
descortina perfeitamente o domínio da Matrix sobre o mundo. ...”Sai dela, povo
meu”... Conclama o autor inspirado (18,16). Porém a Matrix não está fora,
externamente. Ela está inserida em nossas mentes, nossas concepções, nossa
cegueira, a “garoa diante de nossos olhos”, conforme dizia o poeta, que não
deixa visualizar o sol, aquele que dissipa os sombrios recônditos de nossa
própria insensatez.
A Matrix também
é simbolicamente representada através da figura de “Satanás”, que longe de
configurar uma entidade, idealiza o domínio sobre o mundo material que cerceia
as ideias e as noções. “Tudo isso te darei se prostrado me adorares”, disse ele
a Jesus no Evangelho de Mateus (4,9). Prostrar é “adormecer”, deixar se dominar
por aquilo que entorpece a própria alma. Muitos são aqueles que “vendem sua
alma” envolvida pela sedução que o Poder exerce. O verdadeiro iluminado, porém,
persevera no tesouro que descobriu dentro de si mesmo, pois o valor da
sabedoria é aquilatado através da grandeza das ações que desprendem de sua própria
essência. “Seja humilde se queres obter a sabedoria. Porém, seja ainda mais
humilde quando a tiveres adquirido”, disse Helena Petrovna Blavatsky.
Certa vez um
indivíduo, que pertencia a uma determinada seita cristã, motivado pela sua
admiração ao judaísmo, veio a conhecer a Cabala. A partir de então travou
conhecimentos com inúmeras pessoas aprofundadas nesta tradição mística. Aos
poucos foi adentrando cada vez mais nos estudos esotéricos, e viu diante de si
descortinado um novo panorama muito além de suas antigas limitações. Acabou por
se tornar um grande sábio motivado pelo desejo de compartilhar seus profusos
conhecimentos. Poderão surgir alguns questionamentos: Ele se libertou da
Matrix? A Cabala se traduz por uma verdade inquestionável? Só o Eu desperto em
cada ser, consubstanciado no Amor poderá exprimir uma resposta. A libertação da
Matrix não se alcança através de respostas, mas através das perguntas,
questionando toda “verdade” que nos tem sido imposta através das infindáveis
gerações e das enganosas opiniões protagonizadas pelos mandatários do iníquo
poder que submete o mundo. Mesmo aquilo que penso ser correto deverá ser um
objeto de meditação, seguindo as sábias orientações de Sidharta, descritas no
inicio do texto, concordando com a razão, conduzindo o bem e o benefício de
todos, e não de alguns privilegiados. “E conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará” (João, 8,32). A Matrix impõe, de maneira dissimulada, conceitos
errôneos altamente persuasivos. Sabemos que a pior das mentiras é justamente
aquela que tenha a forma de “verdade”. A verdade é trilhada através do amor, no
interior de cada ser, na presença do Deus imanente, e jamais de um deus criado
à imagem e semelhança do homem, que dita preceitos e estabelece regras e
critérios, que frustram a verdadeira liberdade suprimindo a nascente
espiritualidade.
Muitas verdades concebidas são
intraduzíveis por palavras, e precisam ser descobertas através da nascente luz
interior. A própria razão da existência está na libertação de cada um através
de seus próprios caminhos. A verdade poderá até ser exteriorizada através de
outras pessoas, mas sua concepção deverá ser referendada através de sua própria
consciência. “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando
mais e mais até ser o dia perfeito” (Provérbios 4,18). Aquele que descobre a verdade
vence o próprio medo, pois toda verdade é luz, e a luz dissipa as trevas. O que
é o medo senão a fraqueza? E o que é a luz senão a verdadeira força divina. “Em
Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa fazer o homem”
(Salmo 56,11). O verdadeiro temor deve estar naquilo que mata a alma, e não o
corpo transitório eivado de labilidade. Nossa alma, uma vez desperta do sono da
morte, explode em vida no sabor de eternidade.
Poderiam
solicitar que sugerisse a religião que penso ser mais correta, a filosofia, os
ideais ou sistemas. Ausentei-me de qualquer ideia que me fosse própria, livre
de qualquer preconceito, tanto que, propositalmente, citei a Bíblia Cristã.
Qualquer coisa que dissesse seria uma imposição. Os caminhos devem ser tomados
a partir do coração, com os olhos da alma, tal como expôs Sidharta há milhares
de anos. Estimulo apenas a questionar, a pensar, a deitar a água feito vinho em
odres novos e vazios. Esta é a chave do grande portal, abri-lo dependerá da
destreza espiritual de cada ser. O Deus interior dará a resposta correta.
“Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o
seu coração do Senhor!” (Jeremias 17,5).
Independentemente da tônica do mundo o homem pode ditar a cadencia de sua
evolução e influenciar muito mais por exemplos do que por palavras, sabendo que
existe o livre arbítrio que promove a definição de cada caminho, que pode
acelerar ou retardar os passos rumo ao grande despertar. Suprimidas as ilusões
extinguem-se os sofrimentos. Nossa vida presente é uma continuidade de todas as
anteriores. É o curso de um extenso “rio” que cruza várias planícies, mesmo que
cada planície seja diferente uma da outra, será o mesmo “rio” que percorre seus
recantos. Um dia todos os nossos rios confluirão nas águas sagradas do “grande
mar”, e nos tornaremos um mesmo oceano. O Amor é o caminho absoluto da
definitiva morada, o Grande Templo da Unidade, pelo qual as “portas da Matrix”
não prevalecerão contra ele, pois nele estão entrelaçados o Eterno e o
Infinito, no indelével estado de Ser onde todos os tempos se encontram.
Namastê
Hari Om Tat Sat
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