segunda-feira, 11 de março de 2019

A LIBERTAÇÃO DA MATRIX (O caminho das verdades eternas)


                                                         


                                                                         A LIBERTAÇÃO DA MATRIX
                                                                         (O caminho das verdades eternas)

        “Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo porque simplesmente está escrito em livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é a verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita analise e observação, se você vê algo que concorda com a razão, e que conduz ao bem e ao beneficio de todos, aceite-o e viva-o”. (Sidharta Gautama, o Buda).
        Na verdade estamos aqui não por uma escolha, mas por uma imprescindível necessidade do Eu superior para desvencilhar-se do ego. Essa necessidade não teve sua origem no “eu” individualizado, cuja imagem se reflete nos espelhos, apartando-se do Todo. Essa imagem nada mais é senão que a ilusória aparência da separatividade. A Matrix, ou o “poder controlador” presente neste mundo, sobrevive à custa desta separatividade. Regressamos a este plano de existência para nos confrontarmos com toda cadeia de ilusões, para rompermos com a Matrix, que nos aprisiona no ego letargo, para que retornemos à “unidade”, real, do Eu superior. Tal rompimento é alcançado através da elevação de nossa frequência vibracional. Estamos imersos na densidade ilusória do plano físico para que sejam afloradas todas as nossas imperfeições, pois aqui, todos os mais sombrios aspectos de nosso “eu” inferior, se manifestam, e, a própria razão da existência, é desenlearmos das impurezas que nos estão incrustadas. Impurezas estas que estabelecem a Matrix, fazendo-a perseverar sua existência sob a iníqua perspectiva das mazelas humanas.
       A Matrix promove uma entranhável simbiose entre nosso ego e os seus engenhosos mecanismos, estabelecendo uma identificação com os transitórios estados da materialidade; acondicionando nosso “eu” inferior às efêmeras situações deste mundo ilusório. Ela está sempre a oferecer ao ego todos os condicionamentos para que o espírito permaneça em seu forçoso adormecimento.
       Nosso Eu superior emite suas “palavras” quando o ego silencia. O poder estabelecido neste mundo convoca a evidenciação cada vez maior do ego, para que a verdade não seja manifestada através do Espírito. A verdade é a pior inimiga daqueles que vivem da mentira e das ilusões peculiares à sua própria essência.
       Os mantenedores da Matrix não são, de maneira alguma, despertos, simplesmente porque vivem adormecidos em seu próprio ego e mantêm seu sistema através daqueles que permanecem ainda adormecidos. Eles lograram o domínio dos egos alheios através das ilusões e das imposturas. Vivem também dessas ilusões como se fossem elas uma realidade, e depositam todo seu poderio para que estas sejam mantidas. Mas, a cada paradigma nocivo imposto sobre nosso ser, há também a oportunidade de trilharemos caminhos alternativos, pois aprendemos a enxergar através das próprias vicissitudes, e, a cada verdade que se descortina, é amplificada nossa consciência, em consonância com o nosso Eu divino que jamais adormece.
       Seguimos o “caminho do retorno” inserido na materialidade, em uma holográfica simulação que os hindus denominam “Maya”, uma palavra sânscrita que deriva da contração de “ma”, cujo significado é formar; e da palavra “Ya”, significando “aquilo”, conotando o sentido da ilusão. O “caminho do retorno”, ou a travessia pelo plano da densificação (a matéria é a energia densificada), visa a superação dessa ilusória materialidade, para que a espiritualidade possa ser vivenciada em sua essência. Contudo, suplantar o efeito das ilusões é mais que um árduo propósito do espírito; é a razão de toda a aventura humana. O mundo ilusório possui o aspecto dissimulado de uma “realidade”, levando a crer que tudo é matéria interagindo com a própria matéria, e isto gerou falsa concepção de posse, de domínio e de poder sobre toda essa transitória fantasia. Esse poder, investido de materialidade, acabou preponderando sobre a verdadeira consciência daquilo que realmente somos, cerrando os portais para o auto reconhecimento do “divino interior”. Com isso esquecemos a nossa verdadeira essência, deixando o “Poder” exercer seu domínio sob os auspícios desse esquecimento.
       Todos aqueles que tiveram a oportunidade de assistir o filme “Matrix” (1999), puderam observar o “Poder” que controlava a mente dos indivíduos em estado de adormecimento. Muitos captaram o caráter simbólico embutido na mensagem desta magnifica obra cinematográfica, indicando que “a arte imita a vida”. Tal cenário acabou demonstrando, de maneira alegórica, que estamos adormecidos em meio a um contexto instituído por um “Poder Controlador”, para o qual o “adormecimento” se faz imprescindível à sua preservação. 




       Disse, certa vez, o “desperto” Carlos Drummond de Andrade: “eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças”. Preparam a mesma canção todos aqueles que almejam pelo despertar espiritual, na luz das novas cintilações, sob a imponderável força do Amor, que pluraliza os mundos, os aspectos e os anseios, amplificando todas as visões até então turvadas pelas dissimulações. Tal “Poder”, consolidador do sistema, de modo algum deseja que ocorra o despertar das consciências, e castra o venturoso dom do discernimento através da alienação presente em seu “modus operandi”.
       O controle sobre o pensamento, e, consequentemente, o cerceamento do livre arbítrio, teve seu inicio nos primórdios da civilização, onde as lideranças impunham suas regras para manter o controle sobre os demais membros, sempre cautelosos com o aparecimento de rivais à hegemonia de seu comando, passando então utilizarem-se dos essenciais dispositivos da limitação do ego: o medo e o interesse.
       Posteriormente se formaram as embrionárias nações, e com elas as crenças, primórdios das religiões, que ainda incipientes, começavam a exercer papel fundamental nas inflexíveis regras que consolidavam o poder sob as castas privilegiadas. Nada pode ser mais persuasivo e controlador que a “fé cega”. As nações formaram, com o passar do tempo, reinos, que, se expandindo, constituíram os antigos impérios, cada qual com sua zona de influencia e suas formas peculiares de controle. Nasciam, dessa forma, Matrix isoladas, o prelúdio de uma Matrix mundial que se estabeleceu com o progressivo robustecimento dos grandes grupos econômicos.
       O desejo de liberdade é inerente ao espírito humano, mesmo quando nem se tenha a noção de que está cativo dentro de um sistema de coisas. Tal desejo é crescente à medida que o espírito caminha na senda da evolução. Porém, para que a liberdade possa afluir, é necessário que sejam desvanecidas todas as concepções herdadas da própria Matrix. “Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino dos céus”, disse Jesus (João 3,3). Para “nascer novamente” é necessário que estejam mortas as preconcepções não consubstanciadas no amor. O reino dos céus significa um estado, que é alcançado através do nascimento do Eu superior. Portanto, é necessário “morrer” para os antigos preceitos, crenças, concepções e conceitos herdados pela sociedade, pela tradição familiar, ou até mesmo por ditames e ideias advindos subliminarmente na consciência.  A assimilação da verdade necessita de uma mente “aberta”. Mas o que é a verdade? (como perguntou certa vez um antigo governador). A verdade é a visão através da sabedoria. E a sabedoria é o conhecimento consubstanciado no amor, a verdadeira graça espiritual. Conhecimento sem amor é presunção; ideal sem amor é fanatismo; concepção sem amor é radicalismo. 


           "Questione tudo aquilo que você tem como 'verdade'; questione tudo aquilo que você tem como 'mentira'. Busque observar cada uma delas sob o prisma do Amor. Assim como o ouro, provado a fogo, elimina todas as impurezas, sua consciência irá eliminar tudo aquilo que não corresponde com a verdadeira essência da luz crística, iniciando-se pelos preconceitos, pelas prevenções e ideias pré concebidas cheias de discriminação". Disse uma vez  o Velho Mestre.
       A “religião” sempre foi um poderoso instrumento da Matrix. Atualmente significativa parte da grande mídia exerce papel altamente persuasivo no domínio das mentes; não apenas na mente das pessoas menos instruídas, mas ainda mais poderosamente sobre aqueles que se julgam esclarecidos, que acreditam ser detentores da razão e do discernimento, formadores de opinião, sem saber que estão ainda mergulhados na mais profunda sonolência, muito pior do que aqueles que, presunçosamente, julgam néscios. A pior falta de esclarecimento está naqueles que se julgam esclarecidos, e não o são, pois suas concepções estão mais fortemente aderidas, enraizadas na  “farisaica” jactância, na insciência dos “mestres espúrios”.  
       Seria um grande erro asseverar que a religião atrasou o mundo, e se configura como um operativo tentáculo da Matrix, pois a etimologia popular atribui a origem da palavra "religião" ao vocábulo “religare”, cuja conotação vem ser religar aquilo que está desconectado, com nosso Eu maior, justamente o inverso do propósito da Matrix. “Religião”, entre aspas, a que faço referencia é parte significativa das instituições religiosas, cujo poder de persuasão é tão lancinante, como podemos observar em tantas atrocidades perpetradas através da “devoção”, como suicídios em massa e incontáveis crimes, “em nome de Deus”, efetuados ao longo da história da humanidade. Inicialmente o cristianismo, na sua revolucionária essência, era algo prejudicial ao Império Romano, porém, mais tarde, este Império, fez com que o cristianismo fosse adaptado aos seus próprios interesses. Não que se convertera ao Cristianismo, mas que o Cristianismo fosse convertido aos propósitos do Império, ampliando através da nova “religião”, o controle sobre a sociedade. Os Imperadores notaram que a nova crença possuía os dois fatores essenciais para que se propagasse um controle efetivamente expressivo, conforme citado anteriormente: o medo e o interesse. O medo de uma hipotética danação eterna, e o premio de um eterno paraíso àqueles que rigorosamente cumprissem com os mandamentos de uma igreja aliada à realeza, sob os auspícios de um deus “infinitamente amoroso”, segundo seus próprios dogmas.
       Questionamento é a etapa inicial para que se possa intuir a verdade por trás de todas as alegorias. Uma criança pequena certa vez me disse que não poderia acreditar em um inferno, em uma eternidade das penas, pois, segundo aprendeu com seus pais, Deus era bom, muito “mais bom” que seu próprio pai, que jamais faria isso com ele não importando o grau de travessura que fizesse. Temos aí o início de um questionamento, a consciência insurgindo contra aquilo que lhe parece ilógico, incorreto, desprovido do verdadeiro amor.
       Um adulto que “para pra pensar”, e concebe a espiritualidade como desprendimento, compaixão, abnegação, logo percebe que o sistema de coisas se alicerça na ganância, no individualismo e no desprezo a grande parte das populações que sobrevivem abaixo do limite de pobreza extrema, onde a união é desprezada e o controle é exercido através da ignorância justamente daqueles que não se julgam ignorantes. 



       Diz um velho ditado: “É mais difícil conscientizar um néscio do que ensinar um chimpanzé a jogar xadrez”. Não cabe incutir ideias que possam ser conflitantes com as concepções herdadas por anos ou gerações de doutrinação entabuladas pelo sistema. A espiritualidade nasce do próprio interior através das pequenas sementes regadas, muito mais pelas atitudes dos “despertos”, do que por suas próprias palavras. Mil palavras podem valer muito menos do que uma atitude abnegada onde o amor se expressa em sua magnitude. Portanto, nem todos estão preparados para receber a verdade abruptamente, pois o entorpecimento da materialidade se dispõe com expressiva relevância para demover antigos princípios onde o amor não se faz presente.
       “Tenho muito ainda a dizer a vocês, mas não podem suportar agora; quando vier o Espírito da Verdade, ele guiará vocês a toda verdade”. (João 16; 12 e 13). Estar preparado para receber o Espírito da Verdade significa o rompimento para tudo aquilo que não se consubstancia no amor, e saber filtrar, através desse Amor, as novas concepções que sobrevierem. Mas como vivenciar esse Amor, que é a única força capaz de suplantar o “Poder”? O amor não dá lugar à ira, à ganancia, à cobiça, à intolerância, ao preconceito e ao juízo temerário. Imaginemos alguém, que, de fato conheci, e que disse detestar os muçulmanos. Primeiramente já está errado de tomar o todo pela parte, que talvez tenha tido algum tipo de contato. Seja ódio, preconceito ou simplesmente uma antipatia, é analisar qual a origem desta aversão. Seria preciso avaliar os preceitos do islamismo, observar o mundo com os olhos de um muçulmano, se sentir como um muçulmano para entender ao invés de julgar, ou, até mesmo condenar. O amor deve suplantar toda espécie de rotulagens. Os rótulos sempre separam, o propósito do verdadeiro amor é incluir, é integrar, é repugnar a intolerância.  
       “Ai daqueles que ao mal chamam bem e ao bem mal: que fazem da escuridão luz, e da luz escuridade; e fazem do amargo doce, e do doce o amargo!” (Isaías 5,20). O poder da Matrix se faz tão avassalador que, muitos guerreiros desejaram morrer em combate acreditando que seria este martírio uma forma de ascenderem-se a um presumível paraíso. Aquilo que é definitivamente mau é mascarado em algo que prefigura como bom. O versículo acima é uma verdadeira exortação contra os embuços dos mandatários da Matrix, detentores do poder financeiro e midiático. Pois, como citado anteriormente, expressiva parte da mídia representa os interesses desses poderosos governantes mundiais. Nada ou ninguém é 100% bom, nem 100% nefasto. Tomemos algo que possa ser 70% positivo e 30% negativo. Se forem evidenciados os 30% de seu aspecto negativo, tomaremos sua imagem como inteiramente negativa. Em um caso inverso, algo 70% negativo e 30% positivo, se focalizar apenas os 30% positivos, tal coisa se reputará como boa. A imagem real será distorcida pelo ocultamento de seus aspectos essenciais, quando tal artifício serve aos interesses do Poder. 
       Disse certa vez Mahatma Gandhi aos cristãos: “Eu não rejeito seu Cristo. Eu amo o seu Cristo. Apenas creio que muitos de vocês, cristãos, são bem diferentes de vosso Cristo”. Certamente que, este grande libertador hindu, conhecia a grande mensagem libertadora existente nas mensagens bíblicas, e são justamente esses ensejos de liberdade que priorizo em minhas citações. Pois Cristo insuflou um rompimento com aquilo que era preconizado pela Matrix da época. “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”, isto equivale a dizer que conjunto de regras são elaborados para que destes sejam os homens beneficiários e jamais seus escravos. Lavar as mãos antes de ingerir alimentos nada mais são do que regras higiênicas, e não “cláusulas pétreas” cuja descumprimento conduz à pena capital. No entanto ele violava o sábado, comia sem lavar as mãos e se aproximava dos leprosos e execrados de uma sociedade hipócrita e sistemática. “O qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica”. (2 Coríntios 3,6). Notemos o exemplo da “Mulher Adúltera”, João capítulo oito, onde ele passa por cima de toda a “Letra”. Esta que condenava tal mulher ao apedrejamento, e, no entanto, ele a perdoou. Neste mesmo capitulo há algo que passa quase despercebido: Enquanto os acusadores testam-no a respeito da “letra”, este, inclinando em direção ao solo começa a escrever sobre a terra. Único relato sobre algo escrito por ele propriamente. Nunca saberemos o que escreveu sobre a terra, justamente porque fez de sua atitude uma mensagem maior do que mil palavras: O Amor sobrepondo letras, regras e todas as disposições de uma Matrix que condiciona os seres humanos às forças cegas de suas imposições. Uma letra na areia desaparece sob uma simples rajada de vento. 



       ...”deixa aos mortos sepultar os seus mortos”, (Mateus 8,22). Quem seriam esses “mortos”? Certamente os “adormecidos” sob o entorpecimento da materialidade, e, por esta razão, sob o total controle do “Poder”. Os “despertos” possuem a predominância do Eu superior sobre o ego essencialmente terral. E, para estes a morte física nada mais é que um desenlace, uma mudança para outro plano de existência. Muitos destes perderam suas vidas na difícil tarefa de promover a “grande libertação”, no destemido enfrentamento contra os dominadores. Longe de teorias conspiratórias, observemos o próprio Jesus, Gandhi, Martin Luther King, e tantos outros... Eles ousaram! Seus caminhos não poderão ser esquecidos. ...Os caminhos dos mártires, dos execrados, dos estigmatizados... Para que possamos visualizar as “chaves da liberdade”, para que sejam abertos os portais de uma nova consciência, rompendo com as velhas concepções. Vinhos novos devem ser deitados em odres novos. Os fortes, os “grandes”, os empreendedores, os doutos, não foram agraciados sem um propósito divino. Possuem a missão “crística” de auxiliar os fracos, remir os pequenos, conduzir os humildes e ensinar os néscios, e não desmerecer e preterir os desfavorecidos, como preconiza a Matrix, em sua total carência de amor e humanidade.
       Sem uma transformação interior jamais conseguiremos desincrustar tudo aquilo de maléfico que nos foi imposto durante nosso estado de dormência. “Seja a mudança que você quer ver no mundo”, proferiu Gandhi. Durante alguns anos acreditamos em “Papai Noel”, “coelhos da páscoa”, mas esses devaneios, ainda que belos, se desvaneceram no transcorrer do amadurecimento das ideias. Isso já significa um rompimento, ainda que fugaz. Mas já é um paradigma, um modelo a seguir para rompimentos mais sólidos; não mais através de uma fase de crescimento físico, mas de um crescimento espiritual. “O sábio pode mudar de opinião, o ignorante nunca”, disse Emmanuel Kant. Ser sábio não é apenas conceber, mas também desvencilhar, seguir o ciclo transformador que rege o próprio universo. “Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, disse sabiamente Raul. Sem nunca esquecer que a liberdade tem sempre um preço, principalmente se a liberdade estiver agregada ao desejo de libertação daqueles que permanecem cativos. “Quem come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso”, disse a psicanalista austríaca Melaine Klein.  
        A espiritualidade é um meio e não um fim. Acreditar que está liberto simplesmente porque adentrou nas “águas mais profundas” da espiritualidade, muitas vezes pode significar que ainda não acordou de seu sono, mas apenas mudou de sonho. Não se restaura um dente cariado sem que seja retirada totalmente a lesão cariosa. Novos conceitos muitas vezes podem ser incompatíveis com “verdades” pressupostas. A libertação se faz através da sabedoria, e, simples conhecimentos jamais torna sábio um coração sem amor. Só o amor pode transformar o coração para este conceber a verdade. “A mentira pode ser doce ou amarga, mas ela nunca será boa. A verdade pode der doce ou amarga, mas ela nunca será má”, diz um velho ditado. O amor sempre estará compromissado com a verdade.
       Um dos sete passos do Raja Yoga para atingir o estado de iluminação, o “Samadhi”, é o “Pratiahara”, que consiste no controle sobre todas as influencias externas. “Prati”, em sânscrito, significa “fora”; “Ahara”, significa alimento. É, pois, o jejum da mente, o controle das impressões sensoriais, o recolhimento interior. Só através do bloqueio das influências de todas as nossas vidas, poderemos realmente viver o nascimento de uma nova consciência expandida nos horizontes das potencialidades cósmicas, livre da insipiência dos antigos preceitos. “Garoa, sai de meus olhos”; disse certa vez um poeta, comparando a garoa, que encurtava sua visão, à Matrix que a grande cidade lhe impunha.
       O ateísmo é produzido justamente pelas próprias instituições religiosas. Simplesmente porque um individuo que começa a despertar, celeremente descortina o verdadeiro fundamento da maioria dessas instituições, com todos seus deméritos, deixando de entrever as relevantes diferenças existentes entre religiões e instituições religiosas. O verdadeiro sentido de religião está concatenado à espiritualidade, adversa à prevalente materialidade inerente ao espírito de grande parte das instituições.
       Hitler foi um braço descontrolado da Matrix, que, embora mantendo sua nefasta missão, preservava sua imagem de líder e herói para grande parte do povo alemão, incapazes de pressentir sua explícita alienação. Revelar seu verdadeiro aspecto era uma ofensa mortal aos seus seguidores, pois suas mentes estavam profundamente alienadas e doutrinadas segundo o interesse do “Poder”.  A análise da história se faz através do óbvio, os grandes interesses são sempre visíveis pelas mentes esclarecidas. Pensemos: Criar um monstro tal qual Adolf Hitler, não se importando com mais de cinquenta milhões de vidas humanas, apenas nos descortina a verdadeira face da Matrix, que aliena, distorce, corrompe, entorpece e controla a mente dos “adormecidos”, para os quais todo crime, atrocidade e genocídio possui sempre uma justificativa.
       Os “despertos” foram vitimas dessas monstruosidades criadas para a manutenção do “Poder”. Até o dia de hoje, os de maior projeção, são eliminados através das mais engenhosas maneiras e das mais dissimuladas situações. O sonho de liberdade será sempre muito maior que o sono das ilusões, mesmo que possa se estabelecer como uma sentença de morte.
       Apenas para ilustrar e salientar o desprezo que a Matrix tem pela vida humana, assim como também pelo próprio meio ambiente do planeta em que vivemos, recomendo que sejam vistos e analisados a “Operação Drop Shot”, que se tivesse logrado êxito teríamos um planeta devastado e a perda imediata de mais de 70 milhões de vitimas; e o documentário “Rádio Biquini”, cujo real desfecho dispensa qualquer comentário. ...”O mundo todo está sob o poder do Maligno”, assevera João em sua primeira epístola capítulo cinco, versículo dezenove. Sendo que este Maligno não representa nenhuma entidade espiritual, mas sim o Poder corrompedor regente em todo o planeta.
        A Bíblia Cristã pode ser um instrumento de alienação sob a destra de alguém que não aspire algo além do controle das mentes, principalmente através do medo. Porém nela também estão presentes as grandes verdades que conduzem à libertação, principalmente para os espíritos que conseguem diferenciar o joio do trigo.
       “A Grande Babilônia” e a sua “queda”, descrita simbolicamente no Livro do Apocalipse, descortina perfeitamente o domínio da Matrix sobre o mundo. ...”Sai dela, povo meu”... Conclama o autor inspirado (18,16). Porém a Matrix não está fora, externamente. Ela está inserida em nossas mentes, nossas concepções, nossa cegueira, a “garoa diante de nossos olhos”, conforme dizia o poeta, que não deixa visualizar o sol, aquele que dissipa os sombrios recônditos de nossa própria insensatez.
       A Matrix também é simbolicamente representada através da figura de “Satanás”, que longe de configurar uma entidade, idealiza o domínio sobre o mundo material que cerceia as ideias e as noções. “Tudo isso te darei se prostrado me adorares”, disse ele a Jesus no Evangelho de Mateus (4,9). Prostrar é “adormecer”, deixar se dominar por aquilo que entorpece a própria alma. Muitos são aqueles que “vendem sua alma” envolvida pela sedução que o Poder exerce. O verdadeiro iluminado, porém, persevera no tesouro que descobriu dentro de si mesmo, pois o valor da sabedoria é aquilatado através da grandeza das ações que desprendem de sua própria essência. “Seja humilde se queres obter a sabedoria. Porém, seja ainda mais humilde quando a tiveres adquirido”, disse Helena Petrovna Blavatsky.



       Certa vez um indivíduo, que pertencia a uma determinada seita cristã, motivado pela sua admiração ao judaísmo, veio a conhecer a Cabala. A partir de então travou conhecimentos com inúmeras pessoas aprofundadas nesta tradição mística. Aos poucos foi adentrando cada vez mais nos estudos esotéricos, e viu diante de si descortinado um novo panorama muito além de suas antigas limitações. Acabou por se tornar um grande sábio motivado pelo desejo de compartilhar seus profusos conhecimentos. Poderão surgir alguns questionamentos: Ele se libertou da Matrix? A Cabala se traduz por uma verdade inquestionável? Só o Eu desperto em cada ser, consubstanciado no Amor poderá exprimir uma resposta. A libertação da Matrix não se alcança através de respostas, mas através das perguntas, questionando toda “verdade” que nos tem sido imposta através das infindáveis gerações e das enganosas opiniões protagonizadas pelos mandatários do iníquo poder que submete o mundo. Mesmo aquilo que penso ser correto deverá ser um objeto de meditação, seguindo as sábias orientações de Sidharta, descritas no inicio do texto, concordando com a razão, conduzindo o bem e o benefício de todos, e não de alguns privilegiados. “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João, 8,32). A Matrix impõe, de maneira dissimulada, conceitos errôneos altamente persuasivos. Sabemos que a pior das mentiras é justamente aquela que tenha a forma de “verdade”. A verdade é trilhada através do amor, no interior de cada ser, na presença do Deus imanente, e jamais de um deus criado à imagem e semelhança do homem, que dita preceitos e estabelece regras e critérios, que frustram a verdadeira liberdade suprimindo a nascente espiritualidade.
       Muitas verdades concebidas são intraduzíveis por palavras, e precisam ser descobertas através da nascente luz interior. A própria razão da existência está na libertação de cada um através de seus próprios caminhos. A verdade poderá até ser exteriorizada através de outras pessoas, mas sua concepção deverá ser referendada através de sua própria consciência. “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser o dia perfeito” (Provérbios 4,18). Aquele que descobre a verdade vence o próprio medo, pois toda verdade é luz, e a luz dissipa as trevas. O que é o medo senão a fraqueza? E o que é a luz senão a verdadeira força divina. “Em Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa fazer o homem” (Salmo 56,11). O verdadeiro temor deve estar naquilo que mata a alma, e não o corpo transitório eivado de labilidade. Nossa alma, uma vez desperta do sono da morte, explode em vida no sabor de eternidade.
       Poderiam solicitar que sugerisse a religião que penso ser mais correta, a filosofia, os ideais ou sistemas. Ausentei-me de qualquer ideia que me fosse própria, livre de qualquer preconceito, tanto que, propositalmente, citei a Bíblia Cristã. Qualquer coisa que dissesse seria uma imposição. Os caminhos devem ser tomados a partir do coração, com os olhos da alma, tal como expôs Sidharta há milhares de anos. Estimulo apenas a questionar, a pensar, a deitar a água feito vinho em odres novos e vazios. Esta é a chave do grande portal, abri-lo dependerá da destreza espiritual de cada ser. O Deus interior dará a resposta correta. “Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!” (Jeremias 17,5).
       Independentemente da tônica do mundo o homem pode ditar a cadencia de sua evolução e influenciar muito mais por exemplos do que por palavras, sabendo que existe o livre arbítrio que promove a definição de cada caminho, que pode acelerar ou retardar os passos rumo ao grande despertar. Suprimidas as ilusões extinguem-se os sofrimentos. Nossa vida presente é uma continuidade de todas as anteriores. É o curso de um extenso “rio” que cruza várias planícies, mesmo que cada planície seja diferente uma da outra, será o mesmo “rio” que percorre seus recantos. Um dia todos os nossos rios confluirão nas águas sagradas do “grande mar”, e nos tornaremos um mesmo oceano. O Amor é o caminho absoluto da definitiva morada, o Grande Templo da Unidade, pelo qual as “portas da Matrix” não prevalecerão contra ele, pois nele estão entrelaçados o Eterno e o Infinito, no indelével estado de Ser onde todos os tempos se encontram.
Namastê
Hari Om Tat Sat                      


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