sábado, 1 de junho de 2019

O APRENDIZ DO VELHO MAGO


                                     

       Muitos já ouviram falar do grande mago Apolônio de Tiana, que viveu em uma época próxima a de Jesus. Tanto que alguns autores  místicos costumam dizer que, os milagres dos evangelhos, foram de fato, feitos por Apolônio, e, inseridos no cânon, após os primeiros concílios, haja visto que este é um personagem realmente histórico. Deixando, porém, tais teorias com os eruditos, vamos para alguns detalhes da vida deste insigne mago. Detalhes reservados às mais veladas escolas de mistérios.
       Apolônio, como todos os mestres, tinha vários seguidores, e um de seus alunos se chamava Jabir. E este era o que mais se destacava na assimilação dos conhecimentos e nas práticas do domínio dos elementos.
       Certa vez se dirigiu a Apolônio e perguntou-lhe por que ele se dispunha  apenas com alguns enfermos e os curava, se poderia curar a imensa população sofredora, aprisionadas às mais terríveis e debilitantes formas de moléstias. Apolônio respondeu a ele que havia doentes para a cura, outros não.
       Diante desta resposta curta e pouco esclarecedora Jabir, em sua alma, começou a questionar a "bondade" e o "amor" de seu mestre, apesar de seu poder e sabedoria.
        Certa ocasião, Jabir acompanhou seu mestre em uma viagem a uma distante localidade onde hoje é, aproximadamente, a fronteira entre a Turquia e a Síria. No meio do caminho pernoitaram em uma estalagem onde havia um adolescente paralítico, com o qual Apolônio muito conversou, sem, contudo efetuar qualquer intenção de cura. No dia seguinte, nas primeiras luzes da alvorada prosseguiram a viagem.  Jabir, não conseguia entender a indiferença de Apolônio ao sofrimento do adolescente entrevado em seu leito, mas manteve seu respeitoso silêncio.
       Ao entardecer, já exaustos, pararam em uma pousada onde se encontravam inúmeros viajantes de uma caravana recém chegada das arábias. O dono da pousada mal conseguiu atendê-los, estampando impressionante palidez diante de sua pusilânime condição.
       Apolônio  muito conversou com ele, com sua esposa e até os ajudou a servir os caravaneiros. Porém nada fez ao homem além de ajudá-lo a sentar após sofrer uma tontura.
       Jabir, a partir de então começou a se sentir indignado com a apatia de seu mestre. Mas guardou ainda um aborrecido silêncio.
       Quando chegaram a seu destino, ligo que chegaram ao Templo, havia no pórtico um soldado ferido na ilharga, que, segundo as pessoas na proximidade, fora vítima de uma emboscada. Apolônio então levou o soldado nós alojamentos adjacentes ao templo, e, rapidamente o curou, deixando-o no local até sua completa recuperação.
       Jabir, apesar da satisfação de ver um milagre executado por seu mestre, não deixou de pensar no adolescente e no dono da pousada, desprezados diante do sábio.
       Após pouquíssimos dias regressaram à sua cidade, e, um mês depois  surgiu a necessidade de retornarem ao templo para que trouxessem ali um jovem que seria iniciado. Como Apolônio não poderia ir encarregou Jabir, seu principal assistente, para que levasse o jovem até ao local, já por ele conhecido.
     Encargo que Jabir fez com presteza, intentando corrigir alguns lapsos que seu mestre, inexplicavelmente, havia cometido.
Como Jabir também se configurava como um iniciado, não foi difícil para ele restabelecer a saúde tanto do adolescente quanto do dono da pousada, e após cumprida toda sua missão, fez sua jornada de retorno junto ao seu mestre.


       Algum tempo depois, durante uma caminhada, Apolônio aproveitando o momento a sós com seu mais próximo discípulo disse-lhe: "Nada é por acaso no universo, desde as mais simples manifestações de vida. Até o mal tem seu propósito de existir. Há doenças e angústias que são para a cura, outras são o cumprimento de leis cósmicas, externando o mal do mal que já está intrínseco. Nosso dever é ensinar para que a alma seja curada. Um corpo são ocupado por uma alma doente voltará a ser doente assim que as circunstâncias derivem para seu reinício. O homem que segue os caminhos humanos dificilmente compreende as sendas da divindade".
       O discípulo não entendeu perfeitamente as frases de seu mestre e prosseguiu a caminhada em silêncio.
       Muito tempo mais tarde, o discípulo, já eivado de maturidade, refez o caminho ao mesmo templo, levando consigo dois jovens para a iniciação.
       Passando pela estalagem viu que aquela não mais existia. Alojando-se em outra, próxima ao local, perguntou ao proprietário o que houve com a antiga estalagem. Ouviu com perplexidade que, o jovem a quem curara, havia se tornado um perigoso ladrão e assassino, destruindo a si mesmo e toda sua família.


       Ao chegar à pousada encontrou esta no mesmo local, mas com outros donos. Perguntando-lhes dos antigos donos soube, através deles, que o antigo proprietário retornou ao alcoolismo, sua esposa faleceu devido aos maus tratos e este morreu pouco depois devido ao próprio vício.
       Chegando ao templo ficou ali alguns dias e admirou-se do caloroso acolhimento que se fazia aos peregrinos que se alinhavam aos alojamentos. Verificando a dedicação e a hospitalidade dos serviçais notou algo em um deles: uma exuberante cicatriz nas ilhargas. Imediatamente reconheceu o antigo soldado, o qual havia sido curado por seu mestre.
       Entendeu então que o amor verdadeiro está consubstanciado às leis divinas. O verdadeiro amor anseia pela verdadeira cura. O verdadeiro mestre anseia pela verdadeira luz. A verdadeira luz desvanece todas as trevas, iniciando  pela iluminação interior.

Namastê
Om Tat Sat


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