Muitos já ouviram falar do grande mago
Apolônio de Tiana, que viveu em uma época próxima a de Jesus. Tanto que alguns
autores místicos costumam dizer que, os
milagres dos evangelhos, foram de fato, feitos por Apolônio, e, inseridos no
cânon, após os primeiros concílios, haja visto que este é um personagem
realmente histórico. Deixando, porém, tais teorias com os eruditos, vamos para
alguns detalhes da vida deste insigne mago. Detalhes reservados às mais veladas
escolas de mistérios.
Apolônio, como todos os mestres, tinha
vários seguidores, e um de seus alunos se chamava Jabir. E este era o que mais
se destacava na assimilação dos conhecimentos e nas práticas do domínio dos
elementos.
Certa vez se dirigiu a Apolônio e
perguntou-lhe por que ele se dispunha apenas com alguns enfermos e os curava, se
poderia curar a imensa população sofredora, aprisionadas às mais terríveis e
debilitantes formas de moléstias. Apolônio respondeu a ele que havia doentes
para a cura, outros não.
Diante desta resposta curta e pouco
esclarecedora Jabir, em sua alma, começou a questionar a "bondade" e
o "amor" de seu mestre, apesar de seu poder e sabedoria.
Certa ocasião, Jabir acompanhou seu
mestre em uma viagem a uma distante localidade onde hoje é, aproximadamente, a
fronteira entre a Turquia e a Síria. No meio do caminho pernoitaram em uma
estalagem onde havia um adolescente paralítico, com o qual Apolônio muito
conversou, sem, contudo efetuar qualquer intenção de cura. No dia seguinte, nas
primeiras luzes da alvorada prosseguiram a viagem. Jabir, não conseguia entender a indiferença de
Apolônio ao sofrimento do adolescente entrevado em seu leito, mas manteve seu
respeitoso silêncio.
Ao entardecer, já exaustos, pararam em
uma pousada onde se encontravam inúmeros viajantes de uma caravana recém
chegada das arábias. O dono da pousada mal conseguiu atendê-los, estampando
impressionante palidez diante de sua pusilânime condição.
Apolônio
muito conversou com ele, com sua esposa e até os ajudou a servir os
caravaneiros. Porém nada fez ao homem além de ajudá-lo a sentar após sofrer uma
tontura.
Jabir, a partir de então começou a se
sentir indignado com a apatia de seu mestre. Mas guardou ainda um aborrecido
silêncio.
Quando chegaram a seu destino, ligo que
chegaram ao Templo, havia no pórtico um soldado ferido na ilharga, que, segundo
as pessoas na proximidade, fora vítima de uma emboscada. Apolônio então levou o
soldado nós alojamentos adjacentes ao templo, e, rapidamente o curou,
deixando-o no local até sua completa recuperação.
Jabir, apesar da satisfação de ver um
milagre executado por seu mestre, não deixou de pensar no adolescente e no dono
da pousada, desprezados diante do sábio.
Após pouquíssimos dias regressaram à sua
cidade, e, um mês depois surgiu a
necessidade de retornarem ao templo para que trouxessem ali um jovem que seria
iniciado. Como Apolônio não poderia ir encarregou Jabir, seu principal
assistente, para que levasse o jovem até ao local, já por ele conhecido.
Encargo que Jabir fez com presteza,
intentando corrigir alguns lapsos que seu mestre, inexplicavelmente, havia
cometido.
Como Jabir também se configurava
como um iniciado, não foi difícil para ele restabelecer a saúde tanto do
adolescente quanto do dono da pousada, e após cumprida toda sua missão, fez sua
jornada de retorno junto ao seu mestre.
Algum tempo depois, durante uma
caminhada, Apolônio aproveitando o momento a sós com seu mais próximo discípulo
disse-lhe: "Nada é por acaso no universo, desde as mais simples
manifestações de vida. Até o mal tem seu propósito de existir. Há doenças e
angústias que são para a cura, outras são o cumprimento de leis cósmicas,
externando o mal do mal que já está intrínseco. Nosso dever é ensinar para que
a alma seja curada. Um corpo são ocupado por uma alma doente voltará a ser
doente assim que as circunstâncias derivem para seu reinício. O homem que segue
os caminhos humanos dificilmente compreende as sendas da divindade".
O discípulo não entendeu perfeitamente
as frases de seu mestre e prosseguiu a caminhada em silêncio.
Muito tempo mais tarde, o discípulo, já
eivado de maturidade, refez o caminho ao mesmo templo, levando consigo dois
jovens para a iniciação.
Passando pela estalagem viu que aquela
não mais existia. Alojando-se em outra, próxima ao local, perguntou ao
proprietário o que houve com a antiga estalagem. Ouviu com perplexidade que, o
jovem a quem curara, havia se tornado um perigoso ladrão e assassino,
destruindo a si mesmo e toda sua família.
Ao chegar à pousada encontrou esta no
mesmo local, mas com outros donos. Perguntando-lhes dos antigos donos soube,
através deles, que o antigo proprietário retornou ao alcoolismo, sua esposa
faleceu devido aos maus tratos e este morreu pouco depois devido ao próprio
vício.
Chegando ao templo ficou ali alguns dias
e admirou-se do caloroso acolhimento que se fazia aos peregrinos que se
alinhavam aos alojamentos. Verificando a dedicação e a hospitalidade dos
serviçais notou algo em um deles: uma exuberante cicatriz nas ilhargas.
Imediatamente reconheceu o antigo soldado, o qual havia sido curado por seu
mestre.
Entendeu então que o amor verdadeiro
está consubstanciado às leis divinas. O verdadeiro amor anseia pela verdadeira
cura. O verdadeiro mestre anseia pela verdadeira luz. A verdadeira luz
desvanece todas as trevas, iniciando
pela iluminação interior.
Namastê
Om Tat Sat
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