terça-feira, 23 de julho de 2019

O VERDADEIRO SIGNIFICADO DE ANCORAGEM NO OCULTISMO




       É muito comum ouvirmos a palavra "ancoragem" em trabalhos espirituais, orações, e ritualísticas associadas a inúmeros sistemas mágicos. O verdadeiro significado em esoterismo muitas vezes, porém, tem sido desfigurado através dos anos e do advento de muitas ideias fantasiosas surgidas a partir da má interpretação de profundos conceitos teosóficos.
      Sem deixar de lado a grandeza da Teosofia, o entendimento da ancoragem psíquica e espiritual deve seguir os simples caminhos de sua própria etimologia.
       Ancorar é a ação de se lançar uma ou várias âncoras, artefato pontiagudo de considerável peso que, unido a cordas ou correntes, eram lançadas ao mar para que as naus se estabilizassem em determinado ponto, afim de que não defletissem ao sabor das correntes marítimas.
       O navio ancorado estava posicionado em uma localização desejável. Estabilizado dentro dos padrões necessários para que fossem cumpridas as tarefas específicas à sua função mercantil, ou mesmo bélicas.

       Baseado na correspondência do efeito da ancoragem em sua aplicação náutica poderia perguntar: Qual a maior "ancoragem" para o espírito humano?
       Um sensato estudante de qualquer escola esotérica certamente iria me responder: "a Fé".
       E sua resposta estaria correta. Mais correta impossível.
       "Porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível”. —Disse Jesus.
       Quantas pessoas conhecemos que conseguem movimentar uma montanha, ou mesmo um simples pedregulho com o poder de "sua fé"?
       Contudo está frase, transcrita do Evangelho Canônico de Matheus, está longe de ser uma quimera, uma metáfora ou mesmo uma alegoria bíblica.
       Se acreditamos que existe Deus, e este se faz  onipresente, e está dentro de nós representado pela centelha divina, existe este poder latente intrínseco ao nosso ser.
       Esta frase está longe de ser uma mentira, e talvez a maior verdade do grande mistério do universo.


       Há, dentro de nós, o poder divino, ou seja, a própria divindade. "Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?"—Disse Paulo em sua primeira carta aos coríntios.
       Existe, portanto, todo o poder inerente ao nosso ser, e este poder é acionado pela fé. A fé que não temos e que não alcançamos pela própria condição humana, atrelada ao ego, e toda sua ignorância em relação à verdadeira realidade, suplantada pelo mundo das ilusões.
       Não possuímos, portanto, a mais perfeita ancoragem para fazermos uso do poder divino dentro de nós.
       Desprovido da fé o ser humano buscou o poder espiritual através de diversas ancoragens que fortalecessem seu rudimento de fé. São essas ancoragens que conhecemos, e que usamos como um recurso, ainda que precário, para alcançarmos o domínio da Espiritualidade. Não falo domínio das forças espirituais, mas o nosso domínio interior capaz de canalizar e direcionar as energias que sempre estiveram à nossa disposição.

       ...Mas quais são essas ancoragens que fortalecessem nossos rudimentos de fé?
       Vamos começar falando da magia, dos rituais, de todas as estruturações que estabelecem um sistema mágico, com seus sigilos, símbolos e indumentárias.
       Toda simbologia e ritualística potencializa a fé para que sejam alcançadas as canalizações que conferem o poder aos inúmeros e variados sistemas.
       São necessárias todas as prescrições para a eficácia da canalização?
       Para o homem comum, sim. Para o homem que possui um grau mais elevado no conhecimento de seu próprio poder inerente, não. Esse poder se chama fé, e é mais forte que qualquer ritual de qualquer sistema ou de qualquer civilização.
       Mas e as magias poderosas existem?
       Certamente. Pois representam o próprio rudimento de fé potencializado em diferentes níveis em conformidade com o amadurecimento espiritual de cada ser.
       Ritualísticas, símbolos, orações e todos os caminhos que o ser humano desembaraça na concepção de Deus, são as ancoragens. Não podemos esquecer o detalhe que Deus está dentro de nós, imanente e não transcende como muitos acreditam ser.
       A ancoragem é tão psíquica quanto espiritual, pois a fé é a essência da espiritualidade, e, para que seja potencializada, é necessário que utilizemos as ferramentas psíquicas, as únicas capazes de descortinar a virtude de "crer". Essas ferramentas são os graus de consciência, cuja elevação suplanta a dúvida, a grande pedra de tropeço para a auto-realização.

       Existem relíquias milagrosas em quase todas as religiões do mundo. Muitas delas extremamente poderosas com histórico de milagres inexplicáveis à ciência oficial.
       Mas vejamos: uma relíquia cristã não tem valor algum para um budista, e, consequentemente não terá também poder algum. Do mesmo modo, poderosos símbolos da alta magia Cabalística não terá poder algum para um cristão, especialmente se, para este é um símbolo negativo em seu conjunto de crenças.
       Cada símbolo, relíquia, imagem, possui poder dentro de seu próprio aspecto de crença. Dessa maneira é simples concluir que são "potencializadores" da fé de cada um. O poder está na fé e não na relíquia em si. São todos,  pois, ancoragens, instrumentos para a realização do poder divino dentro de cada ser.
       Essa é a fé que remove montanhas e que, infelizmente, necessita de "pontes" para suprir nossa condição humana impregnada de dúvidas e incertezas.
       A oração talvez seja a mais acessível das ancoragens, e muitas vezes mais forte que ritualísticas de inúmeros sistemas mágicos. Tudo dependerá da maturidade espiritual, da capacidade de crer no grande poder intrínseco da centelha divina.


       Lembremos: Pedro andou sobre as águas. Fez isso pelo poder de Jesus? Claro que não. Pois quando teve medo caiu sobre o mar agitado. E caiu justamente porque temeu, esvaindo seu próprio poder cuja ancoragem era a imagem de seu Mestre.
       Os "decretos", tão beneficamente utilizados, sempre citam na doxologia a própria ancoragem. Mas os decretos são por si só, fortes ancoragens, assim como as orações quânticas.
       Todos dependem da fé que, embora fraca, pode se tornar forte, potencializada com a ancoragem compatível com a crença.
       “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado”—Disse o centurião de Cafarnaum.
       Sim. Uma só palavra, ancorada na verdadeira fé, transforma mundos e recria universos, pois dispensa dogmas, doutrinas, preceitos ou ritualísticas. É a ancoragem na certeza. Certeza de nossa  natureza divina, a espera de um novo nascimento.
Namastê
OM TAT SAT




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