Muitos autores definem o que é um Círculo Mágico, explanam
sobre seu significado místico e simbólico, demonstrando magnificamente a sua
funcionalidade dentro da ritualística de inúmeros Sistemas Mágicos. Porém
poucos são aqueles que investigam seu prospecto histórico. Tal contexto
decorre, justamente, pelo fato de que a Magia faz parte da Religiosidade do gênero
humano, e esta é inerente à sua própria natureza. Nos primórdios da
racionalidade humana o recém-chegado da forma hominídea, o primordial Homo
Sapiens, já possuía a cognição da existência de um ser superior, que comandava
as forças da natureza, na qual ele próprio estava inserido. Até onde seu campo
de visão alcançava definia seus espaços, sob os quatro pontos cardeais. Esse
era o seu universo. Um universo que o circundava por onde quer que fosse, e
isso fez com que concebesse a noção do “Circulo”. O mesmo círculo que os
predispunham em torno das fogueiras, de onde provinha luz, calor e proteção.
Dessa maneira os primeiros seres humanos
conceberam o Círculo como noção de divindade, e iniciaram sua primitiva religiosidade
derivada desta noção. O Círculo simbolizava a compactação, a força, a união. E,
unido a algo superior, o homem iniciou suas práticas religiosas, místicas e
mágicas na vicinalidade desta figura geométrica, a qual começou a elaborar nas
mais diferentes configurações.
Quase todas as pessoas conhecem a megalítica estrutura
pré-histórica chamada Stonehenge, no Condado de Whiltshire, mas nem todos sabem
que tal monumento é, na verdade, um Círculo Mágico, símbolo da essência mística
e religiosa da cultura céltica, por isso se presta às mais variadas
interpretações e perspectivas. Assim como Stonehenge, há também pelo mundo,
como Callanish Stones, Avebury, etc. Todos eles intimamente ligados aos
fenômenos astronômicos, onde o microcosmo se integra ao macrocosmo, em uma
disposição realística na qual a religiosidade se faz intimamente ligada à
magia.
Os círculos Mágicos, portanto, são muito mais antigos do que
se registram em muitas obras que os vinculam à idades mais recentes.
Possivelmente é o símbolo mais antigo que o ser humano tenha forjado para lhe
auferir uma ligação com o eterno, o infinito e o celestial. No nível físico o
círculo delimita os lindes do trabalho humano, no nível espiritual ele
complementa o espaço com o poder divino emprestado ao Homem.
Antes de adentrarmos diretamente no significado e papel do
círculo mágico se faz necessário saber primeiro quando este é utilizado, e em
qual tipo de situação. O círculo mágico
é utilizado em diversas práticas onde estão envolvidas diversas modalidades de
magia, as quais serão expostas nos parágrafos subsequentes, e, entre todas
estas diversificações destaca-se a Magia Cerimonial, a qual, devido à sua
complexidade, é de fundamental relevância detalhá-la preliminarmente.
A Magia Cerimonial é
a prática, através da qual se buscam os impulsos das potências invisíveis
através das forças da própria natureza. Tais forças espirituais agirão conforme
o desejo e o domínio que o operador apresenta sobre elas. Esta categoria
abrange inúmeros sistemas mágicos, como o sistema Enoquiano, o Greco-Egípcio, o
Salomônico, entre outros. A Magia Cerimonial se constitui através do rito e o
ritual. Ambas as designações podem parecer sinônimas uma da outra, contudo,
rito significa os elementos necessários para o cerimonial, isto é, cada objeto,
assim como o posicionamento e a movimentação dos participantes, assim como suas
gesticulações. Ritual é a parte onde ocorre toda a sonoridade, como os cânticos,
as preces, as evocações, as invocações, assim como toda a palavra proferida
durante a cerimônia.
Algo importante para dirimir alguns equívocos entre os
aprendizes de alta magia é a diferença entre invocações e evocações, como foram
citadas parágrafo acima. Evocar consiste no chamado, na presença de determinada
força apenas para dar suporte a determinado trabalho mágico, se prestando como
coadjuvante no processo em questão. Invocar significa recorrer ao auxílio,
cabendo às forças invocadas o papel principal ou fundamental no cerimonial de
magia.
Na Magia Cerimonial são utilizados os Pantáculos, e estes
são os símbolos que possuem conexão com o mundo espiritual, os quais encerram
dentro de si poderes fabulosos que sintetizam forças advindas da natureza, constituindo-se
nas “armas” que são utilizadas no domínio e equilíbrio das forças que
constituem nosso universo invisível.
Os Pantáculos podem ser evidenciados como o Pentagrama, o
Tetragrammaton, e, fundamentalmente, o Círculo Mágico. O qual possui papel
fundamental nas operações de magia cerimonial. Há inúmeras maneiras de
configurá-lo, e pode ser idealizado entre diversas ordens de magia, assim como
também para os mais diversos objetivos. Mesmo nos mais antigos Grimórios, há
uma diversidade enorme na sua elaboração, desde os mais simples traçados às
mais complexas disposições.
Fundamentalmente o Círculo Mágico representa um arranjo
simbólico do infinito e da eternidade. Pois como disse Santo Agostinho: “Deus é
o círculo cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não está em
lugar algum”. Conforme tal citação filosófica, poderemos concluir que o Círculo
Mágico é o esquema simbólico representativo da divindade em sua perfeição. E,
por conseguinte, obter contato com Ela. O magista inserido no círculo
representa, pois, o microcosmo em unidade ou comunhão com o macrocosmo.
Portanto, muito mais que uma proteção contra forças indesejáveis, é o Círculo
Mágico a representação da unidade do Homem com Deus, dentro da mais plena
perspectiva de elevação do estado de consciência.
Inserido no Círculo Mágico o magista, dentro desta
perspectiva de união com o Todo, assume, simbolicamente, o poder e o controle
sobre todas as demais forças da natureza, pois estas estão submissas à grande
Consciência Universal, através da qual todas as coisas recebem existência e
coesão. O magista está simbolizando Deus, e, tendo “Consciência” desta situação
em que a plenitude lhe é dispensada, ele terá influencia sobre seres, forças ou
entidades de qualquer espécie, porém não estará restrito a uma mera influencia
sobre essas forças, ele possuirá também autoridade sobre as tais. Ele terá
poder sobre quaisquer formas espirituais que tenha conjurado.
Desprovido desta Consciência que lhe outorga tal supremo
poder, o magista perderá o controle sobre tais forças, e isto poderá
desencadear uma série de eventos nefastos, não só para o mago operador, mas
para todos os demais praticantes da ritualística. Pois o Poder da Vontade,
efetivamente, determinará o sucesso de um ritual onde entram em contato com
forças, as quais, nem sempre podem ser benéficas. Tal poder se consiste na
consciência que o magista se apoia, conforme foi dita acima, assim como também
em sua elevação espiritual. Pois muitos magistas, cuja essência da moralidade
não se dignifica para assumir uma posição de harmonia com o divino, muitas
vezes, ao invés de se tornarem “Senhores” dessas forças invocadas, acabam se
tornando seus “Servos”. Situação na qual estão presos grande número de
magistas, os quais muitas vezes nem se dão conta dessa infeliz perspectiva.
Dentro do Círculo Mágico, no entanto, apesar de simbolizar o
nosso mundo, estaremos fora do mundo profano e dentro do mundo dos iniciados,
na qualidade de magista. Tudo o que é colocado no Círculo Mágico é
potencializado, pois recebe uma força muito além daquela efetuada fora do
círculo. Podendo ser tal força de peculiaridade cósmica, telúrica, etc...
Rituais para oferendas, para pedidos e tantos outros são colocados dentro do
círculo mágico porque em seu interior a própria ritualística estará
potencializada, onde se estabelece uma forte canalização de energia, concebendo
uma amplificação de forças necessárias ao pleno êxito do trabalho. Entidades
perigosas não terão alcance àqueles que se encontram no interior deste círculo,
não podendo desviar a ritualística de seu proposito. O Círculo Mágico não estabelece proteção
apenas ao seu derredor, ele estabelece um escudo de proteção como se formasse
uma esfera, sob e sobre os participantes. Dentro do circulo o magista pode
transformar as coisas fora deste círculo, assim como se determinou em seu
interior.
O desenho ou diagrama que o magista confere na elaboração de
seu Círculo Mágico, sempre é determinado pelos conceitos filosóficos ou pela
religiosidade do magista. Expressar a divindade através do circulo possui a
subjetividade da consciência daquele que a elabora, a perspectiva de um mago
indiano ou chinês é diferente daquela de um mago ocidental. Cada qual insere
desenhos, símbolos e objetos aos quais possui, não somente a familiaridade, mas
a fé que determina o Estado de Consciência essencial para assumir a condição de
um representante da divindade. Na
construção do Círculo Mágico estão envolvidas as crenças, assim como também as
ideias e concepções particulares do indivíduo que ele possui da divindade a ser
simbolizada nesta figura geométrica. Da mesma maneira todo o próprio ritual, deverá ser estabelecido dentro
das concepções do magista que o preside,
adequado completamente a um sistema onde estão envolvidas as bases filosóficas
e religiosas que sustentam a sua fé. Cada qual elabora seus procedimentos de
acordo com a concepção da harmonia, do amor e da verdade que dispõe, e isto
avultará a disposição inexorável para seu efetivo desempenho.
Portanto, cada magista possui a liberdade para acrescentar
dentro do Círculo Mágico diagramas das mais diversas formas, representativos
das forças nas quais reside a sua crença, assim como nomes divinos ou de
hierarquias das mais diversas categorias. Ele elabora seus prospectos para
consolidar a fé em seu ser, para que não ocorra falha alguma no esquema
estabelecido que substancia a plenitude da Força Viva em sua consciência. Dessa
maneira o círculo, desde o mais simples até o mais detalhado, será efetivo de
acordo com a consciência do magista. Consciência esta que deverá estar em
inteira concordância com a concepção de Consciência que ele considera Cósmica,
Divina e Suprema. Todo trabalho mágico deverá ter o seu suporte psicológico,
além do filosófico, pois nele reside a fé, a essência primordial para qualquer
tipo de crença, propósito ou religiosidade.
Existem magistas envolvidos com os mais diversificados
sistemas. Alguns, quanto mais letrados, acrescentarão em seus prospectos um
maior incremento de sinais e sigilos, assim como também maior aparato em sua
ritualística, sempre direcionado ao suporte espiritual que determina sua
consciência. Existem aqueles magistas que possuem um conhecimento e prática
ancestral, e dentro de sua simplicidade elaboram simbologias e rituais de menor
complexidade. Há, contudo, alguns que, embora profundamente intelectualizados,
possuem elevada espiritualidade, a qual é suficiente para dar concretude à sua
fé, e comungar sua própria consciência com a consciência universal. Este
estabelecerá tanto seu diagrama quanto sua ritualística dentro da mais plena
simplicidade, muitos dos quais traçam seu Círculo Mágico mentalmente,
prescindindo de grafias ou esquemas.
Apenas como ilustração, na Magia Salomônica, por exemplo, o
Círculo Mágico consiste em um círculo traçado feito juntamente com um triângulo
de invocação, o qual deve ser sempre apontado para o Leste, onde o Sol nasce.
Como se o Círculo mágico estivesse inserido dentro de um quadrado, sobre cada
um dos quatro ângulos do quadrado (quadrado o qual não se desenha) se faz um
pentagrama de Salomão, invertido. E é neste o local onde são colocadas as velas
acesas. No interior do Círculo Mágico se coloca desenhado o Hexagrama. Neste
Sistema Mágico é dada importância fundamental aos quatro pontos cardeais, cada
um dos quais faz correspondência a dezoito “anjos” ou Daemons, os quais
totalizam o número cabalístico setenta e dois. O Triângulo de Invocação é feito
para estabelecer uma fronteira entre as forças. O círculo representa o mundo no
qual pertencemos, o triângulo o mundo onde as forças invocadas são
provenientes, e este limite é feito para que essas fronteiras sejam
respeitadas, para que não ultrapassemos os limites de nosso mundo entrando no
mundo das forças, e para que as forças não internem em nosso mundo.
Fundamentalmente o Círculo Mágico representa um arranjo simbólico do infinito e
da eternidade. Pois como disse Santo Agostinho: “Deus é o círculo cujo centro
está em toda parte e cuja circunferência não está em lugar algum”. Conforme tal
citação filosófica, poderemos concluir que o Círculo Mágico é o esquema
simbólico representativo da divindade em sua perfeição. E, por conseguinte,
obter contato com Ela. O magista inserido no círculo representa, pois, o
microcosmo em unidade ou comunhão com o macrocosmo. Portanto, muito mais que
uma proteção contra forças indesejáveis, é o Círculo Mágico a representação da
unidade do Homem com Deus, dentro da mais plena perspectiva de elevação do
estado de consciência.
Como já havia citado anteriormente, o Círculo Mágico depende
da concepção que cada indivíduo possui da divindade, inerente àquilo que
procura, ou seja, em concordância com o tipo de magia com a qual está
familiarizado. Por esta razão citarei a prática na qual pessoalmente sinto
maior familiaridade. Inicialmente há um estado mental que deve ser
estabelecido, e este deve ser alcançado através da submissão a Deus, dentro de
uma pureza espiritual onde toda a materialidade deve ser subjugada pelo Espírito,
através da supressão de todo e qualquer desejo mundano. Isto requer um preparo
prévio, como a abstinência por alguns dias de todo tipo de alimentos de origem
animal, bebidas alcoólicas, etc. Enfim, uma preparação espiritual. Isto
facilitará a concentração essencial para que o círculo seja realmente Mágico,
pois como representa a Divindade, deverá estar despojado de toda a materialidade,
incompatível com a Essência Divina que se propõe que tal círculo se constitua.
O circulo poderá ser feito ao ar livre ou no interior de um
espaço coberto. No ar livre poderá ser feito com uma vara, uma espada ou um
athame. No interior de um recinto poderá ser traçado com giz, alguns tipos de
grãos, pó de calcário etc... Caso seja possível poderão ser acrescentados
cristais espaçados por todo o contorno, isso potencializa ainda mais o fluxo de
energia. Na Wicca costumam-se traçar o Círculo Mágico com pétalas de flores,
“pedras mágicas” ou pedras comuns, pois apreciam muito o contato e a
harmonização com a natureza. Inicia-se
pelo sentido anti-horário, deve ser contínuo e feito pelo magista em seu
centro. O tamanho deve ser amplo o suficiente para dar ao magista plena
mobilidade em seu interior. Quando o magista estiver traçando o contorno do
círculo deverá mentalizar o Espírito Divino como o verdadeiro artífice na sua
construção, devendo estar sempre em perfeita consonância com este Espírito.
Existem círculos que são de tecidos bordados, assaz utilizados por muitos
magistas. Porém, creio que perderá muito em relação àqueles que são
confeccionados de momento, pois estes são feitos dentro de clima de respeito e
concentração. Pode-se desenhar um
pentagrama no interior, com o vértice sempre voltado para o norte, este é o
sinal contrário à goécia. Pode-se também
desenhar vários círculos concêntricos no interior do Círculo Mágico, caso esta
prática possa derivar maior segurança ao magista, segundo a sua consciência.
Outro ponto essencial a ser frisado é que, assim como se inicia o círculo no
traçado sentido anti-horário, deve ser desfeito no sentido horário. Tal
procedimento possui como base o princípio da similaridade, ou da analogia, onde
realizações efetuadas no mundo físico possuem correspondência com o mundo
espiritual. “Um portal que se abre, impreterivelmente deverá ser fechado”, ou
vice-versa. Nenhum trabalho deverá permanecer inacabado. Esta prática é
respeitada em todo o mundo espiritual, e através dela que se promove o
banimento.
O Círculo Mágico pode ser utilizado para inúmeras
finalidades. Pode ser usado em invocações, evocações, como já foi mencionado,
mas também pode ser utilizado para visualizações, concentrações, meditações ,
orações, consagrações e feitiços das
mais variadas formas, inclusive em trabalhos onde se envolve incorporações
mediúnicas comumente usadas no espiritismo e na umbanda. Outra utilização do Círculo Mágico está na
potencialização dos exercícios de Yoga. Em seu interior o Yoguim poderá
praticar, desde exercícios respiratórios em seus asanas (posturas de assentos) desejáveis, até outros exercícios próprios do
Hata Yoga.
É essencial dizer que
o magista, durante as invocações, jamais deverá deixar o interior do círculo,
nem mesmo pisar fora dele. Deverá permanecer em seu interior até que tenham
sido dispensadas as forças invocadas. Para a invocação ou evocação de seres
sempre é necessário fazer o pentagrama em seu interior, pois representa o Homem
no interior do círculo, que representa Deus. Com o vértice sempre para cima
(norte), e cada membro representando os quatro elementos submissos a Deus. Quando
se necessita trabalhos menores, como consagração, orações, entre outros,
pode-se utilizar o circulo com o pentagrama em seu interior desenhado em um
painel ou mesmo uma folha grande de cartolina. O próprio pentagrama, com o
vértice na posição correta, estará ocupando o lugar do magista.
Não precisa ser um mago experiente para traçar o Círculo
Mágico, nem mesmo um sacerdote, pois para as finalidades nas quais não sejam
executadas invocações e evocações, o circulo funcionará como potencializador, e
não como uma barreira protetora contra entidades. Dentro dele serão aumentadas
a visão e audição astral, toda concentração será de muito maior efetividade,
assim como meditação e orações. Mais uma vez lembro que o Círculo Mágico
representa a divindade, e o magista em seu interior representa o Homem em
perfeita harmonia com Deus, tanto em virtude quanto em poder. A consciência
desta representatividade divina é o que determina a ação de todos os mais
benéficos propósitos. Sem querer criticar os inúmeros Sistemas Mágicos que
também se utilizam do círculo, acredito que representar Deus para que se entre
em contato com entidades maléficas constitui, por si só um despropósito e uma
incoerência sem tamanho, pois o bem só atua junto ao mal quando tem por
finalidade transformar as trevas em luz.
Namastê.