quinta-feira, 29 de julho de 2021

OS MISTÉRIOS DO TARÔ.

    

 

                                                   


        As cartas que formam o tarô são muito mais que um simples oráculo, elas vão muito mais além de um jogo que se propagou tão popularmente pelo mundo. Elas contêm os mais insondáveis mistérios que refletem uma sabedoria ancestral que, segundo alguns sábios, permitiriam a concepção de poderes extra-humanos àqueles que fossem capazes de desvendá-los.

        Segundo o sábio francês Jacques Bergier, em sua obra Os Livros Malditos, uma estranha lenda percorreu o mundo a partir dos primeiros anos do século XV, segundo a qual uma sociedade secreta, detentora do Livro de Toth, lançou à luz um resumo deste, que se constituía em um fichário, ou mais especificamente, um jogo de cartas, que seria nada mais nada menos que as famosas cartas do tarô.

       Ainda neste mesmo livro, no mesmo capítulo, Bergier faz a citação de um autor, Antoine Court de Gébelin que em sua obra Le Monde Primitif, lançada em 1773, na qual faz referência a um antigo livro, salvo da destruição da antiga Biblioteca de Alexandria. Este livro, segundo Gébelin, era um jogo de cartas do antigo Egito, as quais ele teria tido acesso, e tais cartas eram ou se assemelhavam, às cartas do Tarô.

        Seria o tarô o resumo do Livro de Toth?

        Bergier prossegue dizendo que este jogo de cartas que conhecemos surgiu por volta do início do século XII, e seu nome "tarô" ou "tarot" poderia ser um anagrama de "Orta" ou "ordem do templo". Cita o autor ainda a obra de Christian Pitois, História da Magia, de 1876, segundo o qual os grandes segredos da antiga civilização egípcia estariam gravados nessas cartas. O tarô seria a essência do próprio Livro de Toth.

        Bergier permanece todo o tempo no campo da suposição, mas dentro de suas conjecturas, poderemos observar alguns fatores que podem corroborar com tais hipóteses: "Tarô" ou "Tarot" pode também advir da palavra Toth. E os mistérios que emanam de suas disposições, apesar da nítida característica do misticismo medieval, trazem a perspectiva enigmática sempre presente na cultura egípcia, em todo seu misterioso legado que ainda carece de plena decifração.

        O Livro de Toth, ou simplesmente o tarô, traz a representação de toda circunstância que acompanha o homem em sua jornada evolutiva, assim como todos os padrões de ser, expressar e existir nos mundos das diferentes frequências de vibração por onde transita a alma humana. Por isso, tais cartas, ou fichas, resumo essencial do livro, não apenas traz em si o mistério arquetípico do ser e suas relações com o universo, mas também nos fala, através do oráculo em sua disposição sequencial, basta que se conheça a sua essência para que possa traduzir a sua linguagem, para a qual as determinações pretéritas se equacionam, configurando não apenas o agora, mas todas as consequências traçadas nas incontáveis sucessões dos momentos, entre os tempos e espaços.

        Os arcanos do tarô fazem correspondência com os caminhos da Árvore das Sephirot da Cabala, como veremos mais adiante. Sabemos que a Cabala tem sua origem verdadeira no Egito, onde Moisés teve acesso aos seus mistérios, sendo filho adotivo da filha do faraó, iniciado nos segredos desta civilização. Esta conexão com o Egito se faz sem sombra de dúvidas, por isso toda suposição de Bergier faz sentido, amplo sentido, diante das correspondências evidentes que nos advém através da investigação Esotérica.

        Se tomarmos a literatura comum, iremos ler que o tarô teve início no norte da Itália ou sudeste da França. Muitos autores sugerem que tais jogos tenham chegado à Europa por volta dos meados do século XIV através dos persas, a sua vulgarização, entretanto, assim como as características que perduram até o dia de hoje, possivelmente tenham surgido nas regiões da Europa acima mencionadas, e, conforme citado anteriormente, a nítida característica do misticismo medieval prontamente se faz sentir. Porém, esse misticismo tem sua origem em tempos muito mais remotos, exterior ao continente europeu. Seu estudo mais aprofundado faz perceptíveis as evidências que sugerem o antigo país que Heródoto denominou "a dádiva do Nilo".

 

 

 

 


                                              

                         Características Estruturais.

 

        O tarô geralmente é composto por setenta e oito cartas, onde se dispõem 4 conjuntos de naipes, normalmente espadas, paus, ouro e copas, com catorze cartas cada um deles, entre os quais há dez cartas numeradas e quatro figuras. Acrescidas a estas há os "trunfos" em número de 21 e um coringa. Trunfo significa "algo a mais", de onde surgiu a expressão "trunfo na manga", um fator surpresa feito uma arma ou circunstância secreta à disposição. As cartas de naipes são denominadas Arcanos Menores, já os trunfos e o coringa os Arcanos Maiores. Esses 22 Arcanos Maiores, na Cabala, assinados às 10 Sephirot da Árvore da Vida, se dispõem como os 32 caminhos que se intercomunicam na mesma. Nos desenhos que estampam os Arcanos Maiores poderemos pressentir a derivação da alquimia medieval assim como os princípios hermetistas. O misticismo presente nestas cartas está ligado à correspondência que existe entre a Cabala e o Hermetismo, pois todos derivam de uma mesma essência que, magicamente, provém do antigo Egito. Hermes é Toth com outra nomenclatura. Como podemos ver, tudo está intimamente relacionado nos princípios esotérico que permeia todas estas correlações. (Tomaremos neste texto como base essencial o tarô de Marselha).

       Tais cartas correspondentes aos Arcanos Maiores, por se tratarem de imagens arcaicas, são também relacionadas às figuras arquetípicas, das quais Carl Gustav Jung, renomado mestre da psicologia, se refere como uma reminiscência da memória coletiva da ancestralidade humana.

        Historicamente, muitos autores concordam que os Arcanos Maiores eram, na verdade o tarô original, que, posteriormente, foram juntados aos Arcanos Menores. As cartas de naipes, além do caráter lúdico, também foram, e são até hoje, utilizadas para fins divinatórios, da mesma maneira que as cartas de "trunfo".

        Inicialmente os baralhos antigos eram cuidadosamente pintados à mão, daí seu uso limitado a poucos, especialmente às classes mais altas da Europa. Pelo fato de serem produzidos artesanalmente, durante sua expansão pelo continente europeu, foram tomando formas diferentes de acordo com as regiões nas quais eram elaborados. No sul da França houve um que se evidenciou consideravelmente, o Tarô de Marselha, o qual tomaremos como base neste texto, feito nesta cidade do mesmo nome; e este vem ser até os dias de hoje profusamente conhecido e divulgado. O Tarô de Marselha, do nome original "Tarot de Marseille", se tornou um baralho clássico na maioria dos países da Europa Ocidental, do qual derivam quase todos os demais que podemos encontrar na atualidade. Conforme aludido anteriormente, consta de 22 Arcanos Maiores, ou Trunfos e 56 Arcanos Menores, divididos em quatro naipes: espadas, copas, paus e moedas. Esses naipes fazem correspondência com os quatro elementos. O naipe de Paus corresponde ao elemento fogo, o Espírito, sinalizando a etapa da iniciação nos mistérios; O naipe de Copas corresponde ao elemento água, que faz analogia à alma, cuja etapa consiste na religiosidade; Espadas faz correspondência ao elemento ar que faz analogia à mente, a etapa filosófica; e finalmente o Ouro ou Moedas que pressupõe a terra, de onde provém o corpo que se sintoniza à etapa da vida material. Cada um desses naipes se conta do "Ás", que seria convencionalmente o número 1, até o número 10, e mais quatro figuras: o Valete, o Cavaleiro, a Rainha e o Rei. (Nas tradicionais cartas de caráter lúdico, das quais sobressaem jogos como o "buraco", "pôquer", entre outros, temos a mesma numeração, do Ás ao 10, porém, a partir do 10 teremos o Valete, a Dama e o Rei).

        Uma característica do baralho original de Marselha, que atesta sua origem à partir do oriente médio, são a disposição do desenho do naipe de espadas, os quais se  configuram como espadas de lâminas tortas iguais àquelas usadas no armamento antigo dos povos do mundo árabe, as chamadas cimitarras.

 

 

 

 


 

                            Os Trunfos.

 

        Os Arcanos Maiores totalizam 21 cartas providas de numeração e uma sem numeração alguma, que seria a carta do "O Louco". Vamos observar cada uma das vinte e duas cartas do Arcano Maior do Tarô, adentrando na intimidade simbólica que se fazem presentes nestas figuras. Sempre lembrando que elas refletem as imagens arquetípicas presentes no inconsciente coletivo dos seres humanos, e talvez este detalhe, se estudado a fundo, possa explicitar toda a correspondência existente entre aquilo que é emocional com aquilo que é propriamente espiritual. Sem jamais esquecer que as emoções são sempre um "estado de espírito" e não um encadeamento de reações hormonais. Simplesmente porque tudo aquilo que é físico tem origem naquilo que é espiritual, até mesmo o destino no mundo da materialidade está condicionado às leis traçadas no sequenciamento espiritual. Cada ação possui uma reação, e em cada ação, que pode representar desde pensamentos a omissões, são plantadas as sementes das consequências futuras, são estas as sementes kármicas, as quais poderão ser visualizadas nestes Arcanos, desde que compreendidas suas linguagens silenciosas e suas interações encadeadas nos contextos presentes, passados e futuros.

 

 


 

                          O Louco.

 

        É a carta sem número, ou a "número zero", muitas vezes elencada com o número XXII para que seja rotulada com uma numeração, ainda que seja o coringa (assemelhando-se aos que estão presentes nos baralhos comuns) à adjacência dos demais Trunfos. É o vigésimo primeiro caminho da Árvore da Vida, que interliga a Sephirah de Hod à Sephirah de Malkuth. Esta carta seria um "não lugar", uma interrupção, uma carta que pode ser colocada em qualquer outro local e substituir qualquer outra. Assim como o louco, na sociedade medieval, representava quase uma não existência, sua representação se dá como um andarilho no qual um cão ou um gato o persegue e rasga-lhe os calções ou os calcanhares. Possui também uma vara na qual está pendurada uma trouxa, onde estão reunidos todos os seus pertences. Sempre barbudo displicentemente caminha olhando para o céu, deixando de notar o precipício que está à sua frente.

        Embora, algumas vezes venha numerada com o algarismo XXII, na árvore da vida O Louco representa o trigésimo primeiro caminho da Árvore da Vida, configurado pela letra hebraica "Shim", que interliga a Sephirah de Hod à Sephirah de Malkuth.

        Esta carta traz em si a leveza, o desprendimento da matéria, na qual despreocupadamente trafega, aceitando tudo aquilo que possa surgir em seu caminho. O Louco é, antes de qualquer outra coisa, um lembrete de que somos meros alunos na grande escola da existência, na qual é essencial estar aberto para o seu aprendizado. A vida para ser vivida, simplesmente.

 

 

 

 

 


 

                            O Mago.

 

        A carta número 1 é a chamada "O Mago". Esta carta representa a letra Aleph do alfabeto hebraico, justamente a primeira letra deste alfabeto. É o décimo primeiro caminho da Árvore da Vida, que interliga Kether a Chokmah. (Os 10 primeiros caminhos são as próprias Sephirot, cujo início se dá com a Sephirah de Kether). Tem sua simbologia expressa no mistério, no intuitivo... É representado por um indivíduo trabalhando sobre uma mesa na qual se dispõem facas, taças, moedas e bastões, representando os naipes e suas correspondências nos 4 elementos. Na mão direita ele segura um bastão direcionado para cima, enquanto sua mão esquerda direciona para baixo, e esta é uma profunda simbologia, onde o mago faz a interseção entre o céu e a terra, o divino e o humano, sendo portanto a ligação entre aquilo que está acima com aquilo que está em baixo, nitidamente o pontual princípio hermético da correspondência. A interpretação que se dá é o dever de se utilizar da  completa potencialidade intrínseca do indivíduo, para que sejam possíveis as transformações necessárias para alcançar degraus mais elevados em diversos sentidos da vida, tanto física quanto espiritual. Este potencial deve ser desvelado a partir da disposição intuitiva. Esta carta é, portanto, o início da jornada espiritual, onde o punhal simboliza a batalha, a moeda o legado físico da força vital, como um patrimônio financeiro, o pergaminho o conhecimento, todo o intelecto para compreender as novas perspectivas, e a taça, a sensibilidade, o amor essência fundamental para vencer o próprio ego.

 

 

 


                  A Sacerdotisa ou A Papisa.

 

        Vem ser a carta número dois dos Arcanos Maiores, e possui a representação de uma mulher madura trajando vestes cerimoniais. É a carta que faz correspondência à segunda letra do alfabeto hebraico, Beth. Dirigida aos princípios femininos, possui sua correspondência com Binah, a Sephirah localizada no topo do pilar da severidade, a mãe da fé, a fonte de onde emana a fé, a "mãe superior" que enclausura a força de Chokmah para dar início à incubação do universo, assim como a mulher que, em seu útero, enclausura o sêmen, que é a força masculina, a qual necessita do útero para promover a geração. É o décimo segundo caminho da Árvore da Vida, que conecta Kether a Binah. Sua figura simboliza a sabedoria, o conhecimento, a visão intuitiva, que fala de coisas secretas, as quais deverão ser reveladas apenas no momento propício ao crescimento espiritual. Seus dois pilares fazem referência justamente ao seu próprio número, o número da dualidade, essencial à criação, à geração, a polaridade e a propagação. Tem em sua mão direita um livro referendando a sabedoria. Em algumas cartas traz um gato em seus pés simbolizando a magia.

        Esta carta expressa a necessidade da introspecção para o trabalho do reconhecimento interior, mantendo seus planos em segredo até que surja o momento propício de colocá-los à praticidade. A Senhora da carta mantém seu olhar para frente enquanto segura o livro da sabedoria, para colocar seus conhecimentos adquiridos ao longo da vida diante das circunstâncias recorrentes nos caminhos da existência.

 

 

 

 


                      A Imperatriz.

 

        É o Arcano número três do tarô de Marselha, correspondente à letra hebraica "Guimel". Relaciona-se com o décimo terceiro caminho da Árvore da Vida que liga a Sephirah de Kether à Tiphereth, passando por Daath. Traz a representação de uma mulher ainda jovem, a qual em alguns baralhos aparece grávida, cuja significação explicita que algo ainda está para se concluir. Traz um cetro em sua mão esquerda simbolizando o poder e o escudo na mão direita simbolizando seu preparo contra possíveis ataques externos. É portanto a guardiã das posses, sejam elas resultantes de trabalhos físicos, mentais ou espirituais. Há nela, dessa forma, um certo orgulho presente ensejado por tais fruições. Este arcano indica que, nos caminhos da vida, poderão surgir momentos nos quais o indivíduo terá que evidenciar a prática no âmbito material, para que, posteriormente, possa seguir seus caminhos no trajeto da espiritualidade. São os momentos nos quais se abrem às perspectivas de conquista, onde há um favorecimento do destino que propicia o êxito. É o poder de desfazer os embaraços, de criar soluções com maestria e direcionamento. Às mulheres esta carta pode indicar gravidez ou ser indicadora de positividade na concretização de anseios. Aos homens poderá sinalizar a presença de alguém que induza a grandes conquistas.

 

 

 


                         O Rei ou O Imperador.

 

 

        Apresenta-se como a carta número quatro nos Arcanos Maiores, representa o décimo quarto caminho na Árvore da Vida que liga as Sephirot de Chokmah e Binah, cuja letra do alfabeto hebraico é "Dalet", correspondendo à pedra cúbica, o caminho da inteligência iluminante, da forma e da determinação, autoridade e adaptação.

        A carta traz a configuração de um senhor de cabelos encanecidos, de barbas brancas, recostado em seu trono com o cetro na mão direita e um escudo com a efígie de uma águia estampada. Em sua cabeça tem a coroa, em seu peito um colar no qual pende uma pedra de cor esverdeada. Traz a frequência da paternidade, que externa a obediência às regras estabelecidas, dentro do universo masculino. Ele traz a conformação de um guerreiro, que determina as regras a serem seguidas. Por isso sua carta pode representar uma pessoa eivada de intransigência,  capaz de exercer o domínio em suas adjacências, trazendo os aspectos da organização baseados nesse regramento. 

        Em seu aspecto de poder e autoridade se faz como um dispensador de força vital, para desbravar novos caminhos onde possam ser concretizadas suas disposições.

        Diferentemente da figura da Imperatriz, a águia do Imperador olha para sua direita. (Esquerda na carta). Na cartomancia representa a saúde equilibrada, a conciliação de sentimentos, assim como uma tendência à supervalorização do ego, sendo esta carta uma advertência para que tal não ocorra evitando uma futura autodestruição.

 

 

 


 

                        O Hierofante ou o Papa.

 

        Vem ser a carta número cinco dos Arcanos Maiores, correspondente ao décimo quinto caminho da Árvore da Vida, que interliga as Sephirah de Chokmah e Tiphereth, cuja letra é o "Hê", uma das letras que constituem o tetragrama sagrado: "Yod" "He" "Vau" "He", no qual aparece duas vezes. Esta letra é a porta tridimensional da consciência, associada ao primeiro signo do zodíaco, Áries, signo do elemento fogo que denota a liderança, a autoridade e a hierarquia, que, associado à janela da consciência, explicita a vigilância, o controle e os princípios da garantia da ordem.

        Apresenta-se como um ancião que porta em sua mão esquerda um báculo cujo topo, em algumas representações, se encontra uma cruz de seis braços. Em sua mão direita explicita um sinal de benção. Há nesta carta mais dois personagens de costas, fazendo referência ao pontífice que, sobre sua cabeça está exposta uma tiara.

        Este arcano possui como significado simbólico a benção, a consciência, a iniciação e a santidade. Configura os níveis elevados de consciência canalizados ao ensino e mansidão. Esta carta sinaliza a resolução de questões de maneira concorde, inspirando sempre o caráter conciliador.

        Este arcano direciona ao propósito de estabelecer a vida em submissão às leis, inserido dentro de preceitos éticos e morais, seguindo as regras estabelecidas neste sentido. O Hierofante, portanto, chama a necessidade de organização, destacando a fé e a religiosidade como inspiração a este chamado de ordem.

 

 

 


                              Os Enamorados ou Os Amantes.

 

        Elenca-se como a carta número seis dos Arcanos Maiores do tarô. Normalmente é representado por um homem ladeado por duas mulheres, uma à sua direita, outra à sua esquerda. Corresponde ao caminho número dezesseis da Árvore da Vida, tipificado pela letra "Vau" do alfabeto hebraico. Esta letra também faz parte do tetragrama sagrado, que liga as Sephirot de Chokmah e Chesed, o caminho da iniciação e do livre arbítrio. Este caminho é um dos laços entre o Espírito e a individualidade.

        Esta carta significa as escolhas, os caminhos a ser decididos, a dúvida, a atração, assim como tudo aquilo que está alicerçado na dualidade. É interessante notar que uma das mulheres olha para o homem, e outra olha para frente, e isto traz um grande significado oculto: a mulher que olha para o homem representa as circunstâncias que têm como foco os valores físicos, as paixões, a materialidade. O cupido acima aponta sua flecha direcionada ao homem, mostrando que este é o foco, onde se trava a luta entre o desejo e a consciência, entre o amor mundano e o amor em sua sublimidade. A mulher que olha para frente representa as circunstâncias que têm como foco as paragens mais distantes, além do contexto corpóreo, dos hormônios, da intensificação do ego, trazendo o propósito do idealismo, do amor ágape, muito além do amor Eros que dá o verdadeiro significado à razão essencial da existência.

        Esta carta indica o momento em que deverão ser tomadas decisões, e essas escolhas deverão ser tomadas pela consciência, vencendo as barreiras que a materialidade e os desejos instintivos encravam nos caminhos da ascensão espiritual.

 

 


 

                            O Carro.

 

        É a carta número sete dos Arcanos Maiores do tarô. Corresponde ao décimo sétimo caminho da Árvore da Vida, que conecta a Sephirah de Binah à Sephirah de Tiphereth, cuja letra hebraica é "Zain". Vem se configurar como o arcano do repouso, e a figura se constitui em uma carruagem, que diversos místicos denominam "Carruagem de Hermes", traçada por dois cavalos, os quais em algumas figuras de apresentam em cores diferentes, um cavalo branco e um cavalo preto. A figura sugere ser um rei quem dirige a carruagem, pois porta uma coroa sobre sua cabeça, assim como duas figuras do sol, uma em cada um de seus ombros.

        A figura possui o nítido simbolismo do progresso, sob as mãos de alguém que possui o domínio, o controle, a capacidade. Em se tratando de um condutor régio, real, indica a realização de ideias com projetos em andamento sob uma regência segura. Os dois cavalos de diferentes tonalidades sugerem a polaridade, que deverá estar em equilíbrio sob o controle com eficácia para manter-se firme na jornada que se dinamiza. Notamos que ambos os cavalos ensaiam a tomada de direções diferentes, mas a carruagem mantém-se reta, direcionada com maestria pelo seu condutor habilidoso, conciso em suas determinações. Este é o claro sinal que o viajor encontrou o caminho determinado, seguindo seu rumo sob a iluminação dos "dois sóis" ostentados nos braços que mantêm toda a firmeza necessária às rédeas.

 

 


 

                        A Justiça.

 

        É a carta de número 8 nos Arcanos Maiores do tarô. Apresenta-se como uma mulher ainda na flor dos anos olhando à frente, livre de qualquer expressão de força, sensualidade, temor ou agressividade. Sentada de maneira alterosa sobre um trono, externa um semblante de equilíbrio, calma e passividade; portando em sua mão esquerda uma balança e em sua mão direita uma espada. Corresponde ao décimo oitavo caminho da Árvore da Vida, que liga a Sephirah de Binah à Sephirah de Geburah, elencado pela letra hebraica “Chet", e possui ligação com os signos de câncer e libra, justamente este último que possui como ícone uma mulher segurando uma balança em suas mãos.

        Como sua própria nomenclatura testifica, traz em sua simbologia o julgamento, uma análise do passado como uma semeadura, e sua consequente colheita. Em algumas gravuras traz em uma das bandejas da balança uma taça, e na outra uma moeda, respectivamente conotando o aspecto emocional e o físico em suas atribuições, as quais necessitam manter o equilíbrio para que não incorram em ações negativas geradoras de sementes kármicas, para as quais reserva a espada, a reação às atitudes que violam o equilíbrio cósmico.

        Esta carta é um lembrete ou até mesmo um alerta para a necessidade imprescindível do equilíbrio diante das possíveis circunstâncias adversas, para que as atitudes sejam equacionadas com sabedoria, consciência e equilíbrio, o caminho correto — "Dharma"; sem o qual a espada, mais que um símbolo de justiça (justiça é simbolizada na figura completa, a qual poderá resultar em recompensas ou punições), mas de consequências perpetradas em ações pretéritas. Esta carta diz: "A justiça deve permear todas as ideias, atitudes e decisões, sem a qual fatalmente ocasionarão  sofrimentos no presente ou no futuro.

 

 

 


                             O Eremita ou O Ermitão.

 

        Dispõe como a carta número nove dos Arcanos Maiores do tarô, correspondendo ao décimo nono caminho da Árvore da Vida, interligando as Sephirot de Geburah à Chesed, cuja letra hebraica de significação é o "Tet". A gravura se apresenta como um senhor idosos, com cabelos e barbas encanecidos, que traz em sua mão esquerda um cajado e na direita uma lanterna erguida na altura de seu rosto, trajando roupas das cores vermelha e azul escura.

        O cajado, no qual se apoia, simboliza o conhecimento e a sabedoria adquirida através dos anos. A lanterna representa a luz do discernimento, através do qual jamais incorre no erro, tão comum à humanidade, especialmente aqueles que têm a ilusão da sabedoria, muito pior do que a própria ignorância, de tomar o bem como o mal ou o mal como o bem. O azul escuro representa a suavidade, a tranquilidade e a integridade daquele que já conhece os próprios caminhos. A cor vermelha, no caso do Eremita, significa a força, o poder e a energia, que consagra o detentor do conhecimento dos grandes mistérios.

        Esta carta denota a restrição, o isolamento, a introspecção daquele que deseja obter o conhecimento, assim como também se auto conhecer, caracterizando a necessidade de se isolar do mundo e da sociedade da qual se encontra inserido, rompendo os laços com as paixões que o conectam a materialidade.

        Esta carta é a recomendação da paciência, da meditação, necessárias ao recomeço de uma caminhada, ou ao início de um novo caminho, nos quais cada passo deve ser estudado consagrando uma disposição prudente e lúcida.

 

 

 


                                               A Roda da Fortuna.

 

        É a carta de número dez dos Arcanos Maiores do tarô, correspondendo ao vigésimo caminho da Árvore da Vida que faz a ligação entre as Sephirot Chesed e Tiphereth, cuja chave é a letra hebraica "Yod", a primeira letra do tetragrama sagrado, a qual juntamente com as letras "Hê", "Vau" e "Hê" novamente, formam a palavra "Yahweh", a sagrada nomenclatura que é o princípio divino de todo o sequenciamento cósmico. É o este caminho da consciência Crística que se consagra em Tiphereth, a Sephirah do equilíbrio entre a força e a forma, o ponto de convergência da integralidade do ser em sua centelha divina.

        A figura se apresenta com uma roda gigante de seis raios, com uma manivela lateral, presa em um eixo no centro, suspenso entre dos apoios fixos no chão. Nesta roda, em sua parte mais elevada há um demônio, azul escuro em algumas gravuras, cuja aparência lembra à de uma esfinge com uma coroa sobre a cabeça e uma espada nas mãos sinalizando uma possível advertência. Nas laterais vemos dois outros seres, outros dois demônios em uma disposição corpórea de animais, um descendo no giro da roda e outro subindo.

        É, na verdade, a roda do destino, na qual, o ser que se encontra no topo, certamente descerá na movimentação da roda, e o que está em baixo subirá, indicando que a roda em si representa as mudanças e modificações que ocorrem na vida, em um mundo que gira constantemente saboreado pelo tempo. Ela representa toda a dinâmica que sintetiza os destinos, traçada de acordo com as inexoráveis leis das causas e efeitos. São os ciclos que regem a jornada do espírito pelo mundo, desde o nascimento, crescimento, maturidade, velhice e desencarne, até que surja um novo nascimento e a repetição de um novo ciclo. Através desta magnífica simbologia nas cartas do tarô, há um lembrete para todos os incautos, os materialistas, os altivos e arrogantes que vivemos em um mundo de impermanência, sujeitos a transitoriedade do dinamismo das existências.

        Este arcano pede a conscientização de que vivemos em constantes transformações, e seguirão mudanças na vida para que sejamos transformados, e sejamos solícitos quando estivermos elevados (esta é a advertência da espada nas mãos da criatura), e tenhamos resignação quando estivermos em baixo, colhendo os frutos da própria semeadura. Há frutos doces e amargos. Há momentos de ascensão e de queda, porém tudo é temporário, e nada possuímos a não serem os aprendizados gentilmente ministrados pelo destino em seus ciclos de plantios e colheitas.

 

 

 


 

                   A Força.

 

        É a décima primeira carta dos Arcanos Maiores do tarô. Corresponde ao vigésimo primeiro caminho da Árvore da Vida, cuja chave é a letra hebraica "Kaf", e interliga as Sephirot de Chesed e Netszach.

        A gravura corresponde a uma mulher jovem com um chapéu sobre sua cabeça, e que, com suas mãos, abre a boca de um leão.

        O interessante deste arcano é a força partindo daquele que é aparentemente inusitado. Onde vemos uma jovem mulher, que se presume desprovida de força física, dominando um leão, o símbolo da força física do reino animal. A partir daí se constata que não se trata absolutamente de força física brotando da maternidade, mas sim da força além da musculatura e da concretude. É a espiritualidade das forças superiores sobrepujando a materialidade da força bruta.

        Esta carta é o ensinamento, representando o momento no qual o homem deverá fazer-se canalizar as energias superiores para se desvencilhar e prevalecer sobre os obstáculos grosseiros que se entrepõem em seus caminhos, vencendo as vicissitudes da vida.

 

 

 

 

 

 


 

                             O Enforcado.

 

        É a décima segunda carta dos Arcanos Maiores do tarô de Marselha. Corresponde ao vigésimo segundo caminho da Árvore da Vida, ligando a Sephirah de Geburah à Sephirah de Tiphereth, cuja chave vem ser a letra hebraica "Lamed".

        A imagem contida neste arcano é a de um homem, aparentemente jovem, pendurado pelo pé esquerdo em uma corda, que se projeta de um galho suspenso entre duas árvores, mantido de cabeça para baixo. As duas árvores estão enraizadas na terra, assinalando sua prisão no submundo da materialidade. O jovem tem suas mãos seguras atrás das costas, e suas vestimentas traz as cores azuis e vermelhas. A cor vermelha remete às suas paixões físicas, a cor azul à calma e a passividade.

        É a carta que significa um justo castigo, um momento difícil que irá requerer paciência, resignação e arrependimento. O Enforcado vê o mundo de cabeça para baixo, e tem suas mãos às costas em sinal da impotência diante dos maus momentos que tem que atravessar. É pois, muito mais um momento de reflexão do que a procura de soluções. Conhecer os próprios erros e dirimi-los, isto é o fundamento essencial para atravessar as circunstâncias e redirecionar os caminhos nos propósitos mais nobres, fluir o momento sob as condições impostas pelo universo. Nada é por acaso, tudo tem sua razão de ser. Nada é permanente.

         A pedra bruta só ganha forma após a lapidação, as tribulações ocorrem não para que sejam superadas. Nunca se chega a nenhuma "terra prometida" sem que sejam atravessados os desertos.

 

 

 


                                  A Morte.

 

        Aqui têm início as chamadas Cartas Noturnas do Tarô (A Morte, O Diabo, A Torre e a Lua), as quais são os arquétipos mais densos que preconizam transformações mais abruptas. Estas sempre exigem posturas mais destemidas, indicando a busca por mudanças mais radicais para que possam ser superados os desafios que possam irromper ao longo da jornada.

        Esta carta vem, na maioria das vezes, disposta sem nome. Isso se deve ao caráter supersticioso que sempre aflorou na alma humana, suprimindo tudo aquilo que aparentemente causa temor. É a carta de número treze nos Arcanos Maiores do tarô, e corresponde ao décimo terceiro caminho da Árvore da Vida, que liga as Sephirot de Geburah a Hod, cuja chave vem ser a letra hebraica "Mem".

        Neste arcano temos a imagem de uma figura que se assemelha a um esqueleto portando uma foice, com a qual roça um campo de pessoas. É, sem dúvida, uma das cartas que mais assustam os consulentes, porém, diferentemente do sentido de uma morte física, esta carta sugere uma grande transformação, nem sempre negativa na vida das pessoas.

        A carta é associada ao signo de escorpião e aos planetas Marte e Saturno, planetas considerados maléficos na astrologia, porém, suas influências negativas dependerão de seu posicionamento no zodíaco assim como os aspectos que poderão fazer com outros planetas.

        É, na verdade, a carta das mudanças, do fim dos ciclos, algo que não deixa de ser impactante, haja vista que toda mudança causa apreensão e ansiedade. É a carta da aceitação de um passado que já não tem mais significância. Significa, muito mais que um desenlace físico, um renascimento, para o qual é necessário que haja o desprendimento para que seja iniciado um novo ciclo, com uma nova frequência.

        A carta anuncia mudanças repentinas, rompendo laços com pessoas, coisas e situações que não emanam positividades. É a despedida do velho para que o novo possa aflorar. É o aviso da hora da mudança, em cuja numerologia se traduz a energia de superação, absolutamente necessária para  descortinar uma nova realidade.

 

 


                         A Temperança.

 

        Apresenta-se como a carta de número catorze dos Arcanos Maiores do tarô, correspondendo ao caminho de número vinte e quatro da Árvore da Vida, cuja chave é a letra hebraica é "Num" e faz a conexão entre a Sephirah de Tiphereth e a Sephirah de Netszach.

        Neste arcano há a representação de um anjo, com características femininas, que passa a água de um receptáculo a outro receptáculo. Apresentando nítida relação no zodíaco com o signo de aquário, e consequentemente com a Nova Era que desponta no final da Era de Peixes, onde o líquido representa a essência universal, ou a energia primordial, e, em termos microcósmicos a moderação, a consciência Crística e a sobriedade que lhe é peculiar. O gesto que caracteriza essencialmente a figura, que é o derramamento de um vaso a outro, remete-nos à ideia da harmonia dos contrários, o pleno equilíbrio que molda o estado da própria temperança, a perfeita moderação equilibrada através da harmonia com o Todo.

        Esta carta nos trás a mensagem primacial, não apenas do equilíbrio entre a emoção e razão, mas da subordinação que deve existir da primeira para a segunda. É a consciência que vem do alto, no caso representado pelo recipiente na altura dos seios, fluindo sobre o recipiente à abaixo da cintura, consagrando aquilo que é de baixo através daquilo que vem de cima. É também o ato de temperar a natureza instintiva através da iluminação, canalizada pela ação executada pelo anjo. Não haverá sucesso onde não há equilíbrio; não há equilíbrio quando não há a concepção das coisas que vêm do alto.

 

 


                           O Diabo.

 

           É a carta de número quinze dos Arcanos Maiores do tarô, correspondendo ao caminho de número vinte e cinco da Árvore da Vida, cuja hebraica letra chave vem ser o "Samesh", e que liga as Sephirot de Tiphereth a Yesod.

        Esta temida figura se apresenta com um demônio de asas abertas no alto da carta, por sobre uma espécie de altar ou banqueta, tendo a mão direita elevada com a palma virada para frente e a esquerda portando uma lança. Este demônio apresenta outro rosto localizado no abdômen e um olho em cada joelho. Ao nível do chão, em cada lado do altar, se encontram dois outros demônios menores, um feminino, portando seios ao lado direito do demônio central, e outro masculino, desprovido de seios, ao lado esquerdo. Esses dois demônios menores se apresentam com as mãos presas às costas. Em seus pescoços há uma espécie de coleira, a cada qual é presa uma extremidade de uma corda, estas presas em um ponto no ponto mais baixo do altar.

        Estes dois demônios menores, masculino e feminino representam o princípio da dualidade em seu sentido de poder e desejo material, unidos em um ponto, o mais baixo possível que simboliza a ambição, escrava do ego que faz com que estejam com as mãos atadas sob os pés do demônio central.

        O demônio central significa os momentos em que cedemos aos nossos desejos mais baixos em detrimento ao respeito, à consideração, a dignidade e à felicidade alheia. É o endeusamento do ego, cuja mente está no "ventre", isto é, no mais baixo nível de consciência, e os olhos nos joelhos, onde o distanciamento de cada passo errado faz com que a realidade da vida torna-se desfocada.

        Esta carta mostra o lado sombrio de cada ser, enfeitiçado pelos desejos do ego e pelo adormecimento do Eu Superior. É o caminho que se desponta com as gratificações momentâneas, transitórias, como um tesouro sob o poder das traças e olhares dos ladrões.

        O surgimento desta carta, é talvez o mais importante dos avisos, indicando que há demônios a serem enfrentados, não demônios externos feito entidades reais, mas os demônios internos, nossos desejos mais baixos, nossos ideais errôneos, nossos preconceitos, nossos vícios e pensamentos equivocados tão distantes do amor, da pureza, da fraternidade e do sentimento sublime da igualdade. É justamente a carta do demônio a maior das sinalizações para que sejamos libertados do inferno, vencendo os demônios que habitam em nossa própria alma.

        É o chamado para a busca da verdade para que possamos ser libertos da nefasta condição humana que se prende às condições infernais da ilusão.

        "Não ouça o homem, pois traz a voz do mundo. Ouça a pureza verdadeira do Cristo interior que habita nos recônditos sagrados de cada coração. Nela não há engano e abre as portas para a definitiva liberdade".

 

 

 



                            A Torre.

 

        É a décima sexta carta dos Arcanos Maiores do tarô. E corresponde ao vigésimo sexto caminho da Árvore da Vida, sob a letra hebraica é "Ayin", que une a Sephirah de Tiphereth à Sephirah de Hod.

        A imagem impressa na carta é de uma torre atingida por um raio ocasionando um incêndio e um desabamento (no caso a parte mais alta, a cúpula no formato de uma coroa),  cujo efeito faz com que duas pessoas despenquem de suas alturas devido à intensidade de sua destruição.

        É muito interessante o relacionamento que a maioria das pessoas faz com este arcano e a história bíblica relatada no livro de Gênesis da Torre de Babel. Sabemos que Moisés escreveu este livro baseado no conhecimento das simbologias incrustradas nos antigos mistérios egípcios. Reforço aqui que no ocultismo não há coincidências. Tudo está intimamente relacionado.

        Este arcano é também conhecido em alguns baralhos como a Mansão de Deus. Este nome talvez possa sugerir a mansão que os homens fizeram para que a torre alcançasse os céus, uma conotação da prepotência humana em obter a sabedoria dentro da altivez, desconhecendo absolutamente que os caminhos da sabedoria passam pelas estações da Humildade.

        Esta carta evidencia que, todas as obras que não forem consubstanciadas no amor e na justa consciência, serão definitivamente decompostas pelo destino. E o que é a mão do destino senão os desígnios de Deus?

        A mudança que o destino impõe não é um lamentável estado de fracasso e frustrações, mas sim a oportunidade de um novo começo material alicerçado naquilo que é espiritual. É "a casa construída sobre a rocha", que não cai mesmo sob as tempestades e tormentas. É o momento da reconstrução com a solidez da virtude e da verdade e da luz. O que o destino consagra resiste às intempéries deflagradas pelas instabilidades do mundo.

 

 

 

 


 

                                      A Estrela.

 

        É a décima sétima dos Arcanos Maiores do tarô. Representa o vigésimo sétimo caminho da Árvore da Vida, que permite a conexão entre as Sephirot de Netszach e Hod, cuja chave é a letra hebraica "Pei".

        A figura traz uma jovem mulher, aparentemente nua, ajoelhada junto a um ribeiro, com um vaso em cada uma das mãos dos quais derrama a água, contida nestes dois recipientes, sobre o rio com o vaso da mão direita, e sobre a terra com aquele da mão esquerda. Do mesmo modo, apresenta seu pé direito tocando as águas do riacho e seu pé esquerdo sobre a terra.

        Acima da mulher há uma grande estrela em cuja adjacência há outras sete estrelas, três de cada lado e uma única sob a estrela maior.

        O vaso da mão direita representa a consciência e o da mão esquerda o subconsciente. O pé em contato com a água faz conotação à sua espiritualidade, sua força interior, seu pé sobre a terra representa seu intelecto, sua força física e sua praticidade. Sua nudez indica sua pureza, a essência fundamental do ser, alheia ao pudor eivado de  hipocrisia e sua liberdade de ser e dispor. A grande estrela representa a sua essência, a iluminação que a guia em seus caminhos e propósitos. As sete estrelas menores representam os sete chácaras em seu alinhamento com a consciência iluminada, sem deixar também de representar os sete planetas em suas regências, indicando as forças astrais na determinação dos destinos humanos.

        Esta é uma das cartas mais bem pressagiosas dos Arcanos Maiores, representando a inspiração, a proteção que as forças astrais testificam, a saúde, o auxílio invisível em um momento casual, a esperança motivada pelos eflúvios positivos que o universo dispensa em sua agraciação.

 

 

 


                                   A Lua.

 

        É o décimo oitavo arcano maior do tarô. Correspondendo ao vigésimo oitavo caminho da Árvore da Vida, que liga a Sephirah de Netszach à Yesod, cuja chave vem ser a letra hebraica "Tsadi".

        A imagem expressa neste arcano é da lua com o rosto humano, cuja fase se apresenta como uma fusão entre a crescente e o plenilúnio. Em baixo podemos ver um cachorro e um lobo, às margens de uma lagoa, saboreando as essências que emanam do corpo lunar e se desprendem em direção à terra. Dentro desta lagoa podemos ver uma lagosta nadando em direção à margem. Atrás podemos visualizar duas torres limitadas por aclives e colinas.

        Neste arcano podemos notar a analogia das forças contrárias, o inconsciente e o subconsciente, o submisso e o renegado.

        A Lua representa o Yesod, o plano astral, onde são plasmados os pensamentos, os sonhos, o caráter intuitivo. O cão e o lobo sobre a terra representam a natureza física em sua dualidade, o submisso e fiel, o dissidente e renegado, o ativo e o passivo, o conservador que preserva os costumes e o revolucionário que transforma o mundo.

        A lagosta saindo da água representa a marcha da consciência, emergindo do subconsciente em seu caminho no qual não há retrocessos. As torres representam o bem e o mal, que, com a inquebrantável semelhança, nos mostra o quão difícil é discernir entre estas duas polaridades, especialmente para os seres, como a lagosta, galgando os rudimentos da compreensão.

        A Lua é possivelmente o arcano de maior dificuldade de interpretação, a qual exige mais que um simples cabedal de conhecimento, mas também a sabedoria que se molda através do fluxo sagrado da conexão com o alto.

        Esta carta expressa a mensagem de reavaliação, de conciliar a rebeldia necessária à quebra de valores obsoletos, com a passividade, necessária para a promoção da concórdia. Indica que é urgente a elevação da consciência, para que sejam conhecidos os objetivos estruturados no amor, direcionando-se à "torre correta", para que não sejam formadas as sementes kármicas do sofrimento.

 

 

 


                                        O Sol.

 

        O Sol é a carta número dezenove dos Arcanos Maiores do tarô, correspondendo ao vigésimo nono caminho da Árvore da Vida, que tem como chave a letra hebraica "Kuf", e interliga as Sephirot de Netszach à Malkuth.

        A imagem traz um sol de grandes dimensões, nitidamente radiante; sob seus raios e eflúvios vemos duas crianças seminuas aparentemente brincando sobre um solo gramado, e atrás delas um muro ou uma parede.

        O Sol emite positividade, gerador de vida, confere calor, vida e otimismo. As crianças fazem-se representar a inocência, a felicidade e a pureza expressa em sua nudez.

        O Sol, doador de vida, indica positivamente a realização de um desejo, não importando caminhos ou decisões, todas as trilhas levarão à felicidade. Indica também o fechamento de um ciclo de momentos difíceis e atribulados para dar lugar a um período promissor. O muro significa a proteção que impede qualquer negatividade.

        As duas crianças indicam a chegada de novos relacionamentos, seja na forma de reencontros, amizades ou ligações amorosas promissoras.

        É uma das cartas mais positivas do baralho.

 

 

 


                             O Julgamento.

 

        É a vigésima carta dos Arcanos Maiores do tarô, correspondendo ao trigésimo caminho da Árvore da Vida, cuja chave é a letra hebraica "Reish", que liga a Sephirah de Hod à Sephirah de Yesod.

        Exibe esta carta a imagem de um anjo tocando uma trombeta com uma bandeira de uma cruz em sua ponta inferior, segura com sua mão direita. Abaixo dele estão um homem e uma mulher e uma figura humana de costas de coloração e conformação diferente, assemelhando-se possivelmente a uma criança, todos nus, fazendo oração com os rostos direcionados ao céu. As três pessoas, segundo o que aparenta à primeira vista, parecem sair de túmulos como na ressurreição final.

        No fundo poderemos ver enormes barreiras de terras e de águas, montanhas e marés, cujas cores verde e azuis sobressaem nessa estranha mistura.

        O anjo faz a ligação entre o humano e o divino, figurando a passagem bíblica do juízo final, o fim de um sistema de coisas para o surgimento de outro, perfeito e jubiloso. Nas pessoas podemos ver que estão prontas para o chamado, a nudez representa a pureza dos justos diante da promessa da redenção. A paisagem do fundo mostra que o julgamento se faz impreterível.

        Esta carta significa que haverá uma escolha e esta ocasionará uma radical mudança, de forma irreversível. É, portanto, a separação do passado para a vida em um novo presente, sem conexão com as circunstâncias pretéritas. É o momento da messe depois do período de plantio.

 

 

 


                                O Mundo.

 

        É a vigésima primeira e última carta dos Arcanos Maiores do tarô e corresponde ao trigésimo segundo caminho da Árvore da Vida, cuja chave é a letra hebraica "Tav", que faz ligação entre a Sephirah de Yesod e Malkuth, o astral e o físico.

        Aqui cabe uma ressalva: Os autores ingleses colocam no primeiro caminho a carta sem número, ou zero, que é O Louco, e o segundo caminho a carta número 1 que é O Mago. Já os estudiosos franceses colocam O Mago, que é a carta número 1 no primeiro caminho. Neste texto seguimos os autores franceses haja vista que estamos tomando como base o Tarô de Marselha, cidade da França.

        Nesta carta vemos uma mulher nua no centro de uma guirlanda oval, aparentemente executando um movimento de dança, com um bastão em sua mão esquerda e um ramo de árvore em sua mão direita a mesma está envolta com uma tira de pano, muitas vezes representado de cor vermelha, que acompanha o movimento da mulher com a sua porção inferior suspensa no ar. Externamente à coroa poderemos ver um anjo, superior à direita da guirlanda, uma águia, também superior à esquerda da guirlanda; um touro à direita inferior da guirlanda e um leão à esquerda inferior à guirlanda, simbolizam aparentemente as quatro faces dos querubins descritos na Bíblia, no livro de Ezequiel e no Apocalipse de João; porém relacionam-se essas figuras com todo o quaternário: os quatro elementos, os quatro naipes do tarô, os quatro quadrantes do zodíaco ou os quatro signos fixos presentes neste (aquário, escorpião, touro e leão), etc. ...

        Traz em seu movimento o dinamismo, a expansão, a felicidade e a harmonia presente no ritmo.

        O mundo termina a sequência iniciada com O Louco, que corresponde ao caminho vigésimo primeiro da Árvore da Vida ligando Hod a Malkuth.

        A moça no centro da figura simboliza o sagrado, a meta da realização alquímica, a centralização dos princípios herméticos envolta da estrutura quádrupla que equaciona o mundo de Malkuth. A moça na guirlanda representa a sublimidade do quinto elemento, enquanto os demais os quatro elementos essenciais do próprio mundo.

        Esta também é uma das cartas mais positivas do tarô, representa um recomeço promissor, após a viagem arquetípica iniciada com a primeira das cartas, trazendo a felicidade, a completude e a realização.

 

 

 

     

 


 

                                  Os Arcanos Menores do Tarô.

 

 

        Perfazem um número de 56 cartas do baralho divididos em 14 cartas para cada um dia naipes, e estes se dividem em copas, espadas, paus e ouro. Estes estão sempre na dependência de outros Arcanos para com que se estabeleça uma interpretação. Grande parte dos consultores utilizam apenas os Arcanos Maiores, contudo, a existência dos Arcanos Menores tem uma razão de ser: estas cartas não estão ali apenas para ações lúdicas, mas sim complementares, e, sem as quais toda e qualquer informação provinda da leitura das cartas, se faz incompleta e também ineficaz na análise plena do conteúdo, pois estes arcanos, muitas vezes desprezados, apontam justamente os detalhes, que jamais serão prescindíveis à análise geram estabelecida através da leitura dos Arcanos Maiores, indicadores do destino. Eles nos dão uma visão mais pormenorizada a respeito das questões que são expressas. Por esta razão, enquanto os Maiores mostram o destino e seu caráter kármico, os Arcanos Menores identificam nossas escolhas, nosso livre arbítrio, tudo aquilo que pode e deve ser mudado.

        Os Arcanos Menores se assemelham a um baralho comum, e muitos são aqueles que fazem suas adivinhações e consultas baseadas apenas no baralho comum. (A Cartomancia, especialmente popularizada pelo povo cigano). Cada naipe de inicia com a carta do Ás, seguindo a numeração da carta número 2 até a carta número 10, e, após está temos a figura da corte, na sequência do Rei, Valete, Dama e Cavaleiro. (No baralho comum há após a carta número 10, o Valete, seguido pela Dama e o Rei finalizando).

        Os naipes mantêm relações com os seguintes planos de vibração: o ouro análogo ao plano material, ao mundo físico, o elemento terra; paus o plano etéreo ou vital, o elemento fogo; espada os aspectos mentais, ou o plano mental, o elemento ar; copas com o mundo emocional, ou astral, e seu elemento é a água.

        Através dos Arcanos Menores faremos o direcionamento, mudando a direção, dentro do possível, daquilo que sugere o Arcano Maior. Faz-se, portanto, um complemento essencial dos Arcanos Maiores, senso este o indivíduo em sua própria essência determinada pelos aspectos kármicos, e os menores o papel que temos para definir as situações de acordo com nossas escolhas e direcionamentos presentes sob nosso livre discernimento.

 

 

 

 

 

 


 

                              O Enquadramento Social Presente nos Naipes.

 

 

        A sociedade medieval dividia-se em quatro classes fundamentais e suas atribuições no contexto deste período. Havia a Nobreza da qual se aderia o exército, e este era o mantenedor de seu status e regalias (parece que este contexto permanece até os dias de hoje); havia o clero, no qual estavam inseridos os eruditos, detentores do conhecimento, e este conhecimento não permitiam que saísse de seus âmbitos; havia a burguesia, que, embora não pertencesse à nobreza, representavam os comerciantes, os negociantes que gradativamente se ascendiam na sociedade sempre almejando partilhar com a nobreza a honraria de títulos e exaltações. Por fim havia o povo, a esmagadora maioria da população, os serviçais e os camponeses que, delegados à desconsideração das demais classes, era, no entanto, o sustentáculo de todos, cultivando, ainda que em terras alheias, o sustento dos empresários, militares, religiosos e nobres, patrocinadores "invisíveis" de festas, repastos e banquetes, enquanto grande parte de seus constituintes pareciam de gravíssima subnutrição.

 

         O naipe de Copas correspondia ao clero, pois este naipe está ligado ao misticismo, ao inconsciente, à subjetividade e a própria cultura da qual está classe era a detentora quase que exclusiva. Assim como a igreja confortava e injetava o conformismo ao sofrimento do povo, este vem ser um naipe que vem ser um atenuante da negatividade proveniente de outras cartas. A carta de copas, em relação ao indivíduo, está ligada à área sentimental e tudo aquilo que se traduz na voz do coração, desde o regozijo afetivo à própria emotividade gerada através da exacerbação das emoções.

 

        Paus corresponde ao povo, aos camponeses em contato direto com os segredos da natureza e seu domínio, configurando em sua essência a ação, o dinamismo perseverante restado da energia gerada através do incessante trabalho. Este naipe expressa a necessidade da energia e da determinação para que sejam concretizadas as aspirações. É o chamado da ação efetiva para driblar obstáculos e prosseguir na incansável luta. A carta de paus está intimamente ligada ao labor, as ações que exigem praticidade, o trabalho necessário para que sejam efetuadas todas e quaisquer concretizações.

 

        O naipe de Espadas se relaciona com a nobreza e com os exércitos. Este naipe configura as lutas, as batalhas que travamos no interior de nosso próprio ser, necessárias para livrar-nos de nossos aprisionamentos, inclusive da Matrix forjada em nosso mundo pelos errôneos padrões que controlam as concepções humanas. Este naipe nos faz um convite à nobreza de caráter, essencial para dissipar todos os erros e conceitos errôneos impostos por uma sociedade que se baseia na ilusão e nas injustiças. Ele confirma a necessidade de vigiar os pensamentos, para que possamos dissipar, ou ao menos atenuar aquilo que o destino nós reservou, fruto justamente das ações iniciadas através dos pensamentos não vigiados. Espadas, pois, pronunciam os conflitos, as disputas, essencialmente no âmbito das ideias, projetos e conflagrações, onde se joga com a coragem e a astúcia para dirimir os aspectos indesejáveis que dificultam o avanço dos propósitos.

 

 

        O Ouro faz correlação à burguesia. Este naipe é como se fosse um relatório preciso de nossas ações, indicando um momento propício para que, através do livre arbítrio, possa ser possível vencer algumas condições desfavoráveis que o destino impôs e redirecionar as energias para uma nova disposição superando as adversidades e prosseguindo os caminhos do êxito. O ouro sempre vai refletor os aspectos monetários, as finanças, assim como todas as coisas que podem ser modificadas através daquilo que é propriamente material. Pode significar a mudança de uma determinada situação através da captação de recursos. Neste caso há a imperativa necessidade de manter o foco no essencial, pois tudo aquilo que passa da necessidade e adentra na avidez gera idolatria, e o preço kármico sempre se faz muito elevado a todos aqueles que endeusam o transitório em detrimento das coisas eternas.

 

 

 


                          Os Números das Cartas e seus Princípios Essenciais.

 

        O Ás representa o início de uma sequência cíclica, associado sempre ao êxito, à  conquista.

 

         O número dois externa o dualismo, a dualidade em sua promoção do dinamismo, a polaridade essencial à dinâmica presente na evolução.

 

        O número três representa a formação, aquilo que se conclui através do equilíbrio entre as polaridades, a tripla dimensionalidade que gera a forma.

 

        O número quatro representa a formação, e a estabilidade que confere sua disposição energética. Remete também a intervenção de fatores externos alterando a ordem natural das coisas.

 

        O número cinco representa um novo nível energético que se dispõe em caráter tanto de expansão quanto de bloqueio, impedimento, fazendo-se elemento dispersor que fera modificações.

 

        O número seis representa o avanço da expansão, um rompimento do equilíbrio das energias alcançadas nas etapas anteriores, cuja resultante poderá ser promissora ou desfavorável.

 

        O número sete exprime o caráter divino, na sequência entre o trino e o quaternário, trazendo em si a sabedoria que vem do alto, é um número mágico de mudanças que atinge todas as áreas presentes na perspectiva humana. É um número de força altamente positiva indicando bons aspectos de forma duradoura.

 

        O número oito relaciona-se com o infinito, o eterno presente no agora, o instante que dá vida a cada momento, nas mais simples coisas da vida, no próprio dia a dia, fragmento da existência. É duas vezes o quaternário. O número quatro é a influência que acessa o âmbito do indivíduo; o número oito é a emissão da influência a partir do próprio indivíduo.

 

        O nove é o número que contém todos os anteriores, a essência de cada um, trazendo a experiência que cada grandeza revela. Justamente por resguardar todas as experiências, o número nove é o indicador daquilo que é correto daquilo que é incorreto.

 

        O número dez é a concretização, o cenário provindo da somatória de todos os esforços, o auge do sequenciamento e seu flagrante reinício, traz em si o adormecimento após uma longa jornada, um momento de pausa, de descanso e relaxamento.

 

 

 



                     As Cartas da Corte, e seus Significados.

 

 

        Essas cartas, como as próprias figuras indicam, representam pessoas, que irão surgir na vida do consulente e que serão personagens nas circunstâncias que surgirão em sua vida. Estas pessoas poderão exercer seu papel à distância assim como também poderão estar presente na proximidade do indivíduo sem descartar a presença na sua própria intimidade.

 

        O Valete representa um jovem repleto de força vital, energético, eivado de dinamismo e determinação. Prenuncia o advento de algo novo, de uma presença repleta de motivações.

 

        O Cavaleiro representa um homem dotado de firmeza, experiência e astúcia. Pode significar a aproximação de alguém resoluto exercendo influência sobre algum propósito, seja na forma de opinião, sugestão, proposta ou auxílio para o sucesso da empreitada.

 

        A Dama se apresenta como uma mulher influente, realizada, empoderada. Pode surgir como uma pessoa que surge na vida do indivíduo exercendo grande influência, seja como ajuda, seja como obstáculo à realização de propósitos elaborados sem que se tenha total segurança. Como mãe traz em si alguns valores da infância. Assim como uma mãe vê seus filhos como eternas crianças, a Dama, mesmo suspensa em seu empoderamento, ainda não superou esta visão infantil do mundo no qual está inserida.

 

        O Rei se configura como um homem já maduro, experiente, dotado de influência e poder. Pode significar a presença de alguém altamente seguro de si, com bons relacionamentos que poderá tanto ajudar na concretização de um projeto como frustrar totalmente seus intentos.

 

 



                          Análise das Cartas Individualmente dos Arcanos Menores do Tarô.

 

        Ás refere-se à solução de alguma questão. É uma carta positiva que confere o êxito e sua  consequente satisfação.

 

        Ás de Paus: É uma carta resposta. Algo que se deseja saber se terá êxito, se será promissor, se terá conserto, ou se terá cura e restabelecimento. É a resposta positiva para todas estas indagações.

 

        Ás de Copas: É a agraciação de sonhos, propósitos ou metas. Indica a realização de algo que se almejava há muito tempo. A concretização de um caro desejo aflorado no próprio coração. É a realização de algo que descortina a felicidade, o alcance de um sonhado ideal.

 

 

        Ás de Espadas: Esta carta sinaliza a conclusão de um problema antigo, a finalização de algo essencialmente perturbador, o desfecho de algo que parecia ser insolucionável, a liberdade de uma condição que parecia sem fim.

 

        Ás de Ouro: Esta carta está relacionada com o desfecho positivo de um problema financeiro. É a libertação de uma dívida ou de uma condição deplorável de carência de valores. Pode ser também o superávit de um empreendimento onde havia um longo período deficitário.

 

          Dois é uma carta que se traduz na dinamização seguindo a polaridade, a essência par que promove o desempenho.

 

        Dois de Paus: É o indício de uma boa parceria nos trabalhos, nos negócios ou em qualquer transação. É uma coisa se complementando à outra para obter resultados satisfatórios. Pode também indicar a junção eficaz de terapias para a resolução de um problema de saúde.

 

        Dois de Copas: Pode ser o início de uma nova afetividade ou de um novo relacionamento, ou até mesmo uma reconciliação. Significa duas pessoas próximas que, dependendo da carta tirada em seguida, pode significar tanto uma união que perdure quanto uma separação que se aproxima.

 

        Dois de espadas: faz referência a contatos, influências que poderão ser úteis para a superação de dificuldades e um redirecionamento em várias questões da vida.

 

        Dois de ouro: Representa o auxílio ou a ajuda que a pessoa poderá receber de outra, seja em sociedades promissoras ou apoio financeiro de alguém que confia no sucesso do negócio ou da empreitada.

 

         O três é o número da estabilidade assim como também do equilíbrio, pois tudo aquilo que é estável assim chegou a ser devido à harmonia, à qual se chega equilibrando todo um conjunto circunstancial.

 

        Três de Paus: Esta carta é o indicador de que não está correndo riscos, seja de saúde, seja no trabalho e em qualquer âmbito. Quando a pessoa atravessa tribulações, um turbilhão de sucessões problemáticas, esta carta é a sinalização de calmaria, tudo volta ao equilíbrio, inclusive os pensamentos e ideias.

 

        Três de Copas: É a calmaria que surge após uma crise conjugal, após uma inquietação amorosa, após uma intranquilidade em relação à não correspondência de uma atração, de uma paixão.

 

        Três de Espadas: É a carta que configura a superação de medos, a superação de conflitos, a conciliação de desavenças, a paz após ataques e atritos diversos. É a carta da trégua, da transposição das contendas e dos desajustes.

 

       Três de Ouro: É a entrada de capital suprindo uma série de dificuldades financeiras. É o equilíbrio resultante de uma estabilização do mercado. São os rendimentos que chegam mantendo uma estabilidade dissipando as preocupações e inseguranças.

 

 

        O número quatro sugere um intrometimento de pessoas ou situações.

 

        O quatro de paus pode sugerir uma interferência no trabalho, envolvendo pessoas que podem, muitas vezes, causar danos à pessoa nesta área. Pode também surgir uma interferência no tratamento ou diagnóstico de alguma enfermidade. É o indicativo que, nessas duas áreas, é fundamental evitar opiniões alheias e, até mesmo, intromissões em algo que está funcionando de maneira adequada.

 

        O quatro de copas pode indicar alguma influência na vida amorosa e também na vida conjugal, podendo ser alguém adventício ou propriamente familiar. Tal influência poderá ser positiva ou negativa. Tudo dependerá da sintonia com a qual estabelecerá entre todos os envolvidos.

 

        O quatro de espadas é o indicativo do advento de alguém pernóstico, que poderá surgir de maneira dissimulada ou um inimigo oculto através do qual poderão ocorrer conflitos e contendas. É a carta que sugere atenção até mesmo com aqueles que aparentam inquebrantável confiança.

 

        O quatro de ouro pode significar a chegada de alguém que pode se assomar positivamente dentro da perspectiva de um negócio lucrativo. Pode, no entanto, sugerir a presença de alguém que poderá interferir no bom andamento de uma empreitadas, ocasionando despesa e cessação de lucros.

 

 

        O número cinco fala de uma mudança, uma transformação que se faz de maneira inequívoca e permanente. É o número da dispersão, da mudança de rumos em um propósito, em um projeto, em uma meta. É a saída do foco, a desorientação que gera perspectivas imprevisíveis.

 

        Cinco de paus: Identifica o advento de uma circunstância que ocasionará uma mudança de área, uma mudança radical cujos reflexos podem ser difíceis de previsão em um curto espaço de tempo, a qual poderá ser de efeitos positivos ou negativos, de acordo com o nível da capacidade de adaptação ou compatibilidade com os aspectos despontados nesta nova situação.

 

        Cinco de Copas: Indica o surgimento de alguém de maneira insólita. Uma pessoa que surge na vida despertando interesse, atração, afetividade. Pode apresentar-se tanto como uma perspectiva amorosa quanto o início de uma parceria, cujo desenredo será uma incógnita reservada ao futuro.

 

        Cinco de Espadas: significa a saída de uma situação conflitante, o final feliz de uma peleja desalentadora. É o sinal positivo da luz que se faz enxergar em meio à escuridão.

 

        Cinco de Ouro: É a utilização de recursos financeiros em um propósito diferente daquilo que se havia planejado inicialmente. Pode se configurar como um investimento em algo que não houve programação prévia, como uma opção pela qual não se esperava, mas que surge feito um auspicioso cenário promissor.

 

 

        O número seis sugere instabilidade, um desequilíbrio de energias cuja resultante irá engendrar uma nova conformação, podendo ser positiva ou funesta.

 

        Seis de paus: pode significar um desequilíbrio no organismo, o qual deverá seguir mudanças terapêuticas assim como estilo de vida. Poderá indicar também inquietude no âmbito profissional, que pode derivar em mudanças imperativas, sejam elas mudança da própria área de ocupação, ou readaptação motivada por uma transformação interior.

 

        Seis de Espadas: Significa um descomedimento em uma situação. O indivíduo surpreendido por alguma estratégia alheia ao seu prévio conhecimento forçando-o a uma "retirada estratégica" para uma futura reorganização. É o momento de derrota em que os rumos deixam de ser patentes. É a derrota de uma batalha que pode ser uma lição para futuras vitórias sucessivas nas inúmeras outras batalhas que surgem na grande luta da vida humana.

 

        Seis de Ouro: Indica um período nebuloso, um momento de incertezas tanto para o início de uma nova empreitada financeira quanto para um investimento arriscado. É o prenúncio de um momento onde a quietude deverá suplantar o arrojo.

 

 

        O número sete tem em si a força das mudanças, exalando vibrações benéficas nessas transformações que acometem todos os aspectos da vida do indivíduo. Além de ser um número mágico, exprime toda a energia que engendra novos padrões de correspondências entre o indivíduo e o meio no qual se encontra inserido.

 

        Sete de Paus: Aponta uma mudança na área profissional, mas que não se restringe apenas a esta área específica. Traz nesta mudança todo um encadeamento de transformações. É uma mudança positiva que transforma o ambiente, o interior, a maneira de interagir com o mundo e com as pessoas; um novo horizonte que se descortina.

 

        Sete de Copas: indica um novo relacionamento advindo de outras mudanças nos aspectos da vida. Uma pessoa que pode ser a inspiração para uma cadeia de transformações, direcionando positivamente a um novo panorama de relação com o meio.

 

        Sete de Espadas: É a vitória formidável em uma batalha da vida, pela qual muitas portas se abrem e novos caminhos se descortinam, recriando ângulos de visão até então ocultos e que promovem um feliz direcionamento às novidades que afloram.

 

        Sete de Ouro: É a chegada de um momento no qual os valores monetários fluem na direção do indivíduo, que lhe permite toda uma mudança de níveis, afetivos, culturais e sociais. Podendo modificar positivamente a vida de outras pessoas, redirecionando destinos e inaugurando projetos, metas e boas expectações.

 

 

        O número oito é o próprio indivíduo como agente de interferência. É a disposição da própria pessoa em exercer algum tipo de intervenção, seja ela favorável, seja ela malevolente.

 

        Oito de Paus: É a opinião que se plasma como a chave para o êxito. O palpite precioso que desencadeia um desfecho promissor a um determinado projeto ou a uma determinada ideia a ser colocada em prática.

 

        Oito de Copas: É como um catalizador de uma reação química, especificamente a química do amor e da atração. O indivíduo promove a união entre duas pessoas, configurando o apadrinhamento de uma relação onde se conjugam os afetos.

 

        Oito de Espadas: É o tipo da influência secreta, oculta e ardilosa. A artimanha que se intenta em meio às sombras para atarantar uma iniciativa, um plano, um projeto em curso.

 

        Oito de Ouro: Influência que se dá sobre alguém ou alguma instituição para direcionar verbas para determinada pessoa ou projeto. Reside na arte de convencer, de buscar um suporte financeiro para que outra parte venha a se beneficiar de sua intercessão.

 

 

        O número nove surge como uma testagem, através da qual pode ser possível atestar a natureza de uma ação, de um propósito, de um projeto ou de qualquer trabalho elaborado através das perspectivas humanas. É a luz jorrada sobre os caminhos para a verificação tanto de sua aplicabilidade, quanto de sua excelência.

 

        Nove de Paus: É o advento de um novo comportamento que revelará sua eficácia em relação à melhoria das condições promotoras de saúde e bem estar. É o resultado de um programa que revelará tudo aquilo que possa ter sido profícuo e favorável para alcançar o resultado previsto.

 

        Nove de Copas: É a atitude do parceiro revelando a verdadeira natureza de seu caráter; o segredo revelado que expõe aquilo que a pessoa realmente é, muitas vezes completamente diverso daquilo que simulava ser ou do que parecia representar.

 

        Nove de Espadas: É o fragoroso desencanto  frente à constatação de uma verdade escondida entre as dissimulações. É o fato aparentemente negativo que faz enxergar aquilo que parecia invisível, mas se faz revelado e apregoa a busca de novos sentidos, ângulos e prismas.

 

        Nove de Ouro: É a carta que testa a persistência, indicando que a constância é o caminho a seguir. Em um negócio ou empreitada, quando surge a dúvida sobre seu êxito, este é o sinal que confirma o teste de perseverança, mostrando o dever de prosseguir, diante de um iminente sucesso.

 

 

        O número dez traz em si o acomodamento, o período de repouso, de apatia e desaplicação.

 

        Dez de Paus: Indivíduo acomodado em seus afazeres, desmotivado no trabalho, imerso na indolência que se faz peculiar em sua própria natureza de ser.

 

        Dez de Copas: Reflete a insatisfação com o parceiro. A perda de atração, o desencanto e seu consequente desleixo. É a acomodação que faz com que um parceiro perca todo o entusiasmo em relação ao outro. Um casal unido apenas através das aparências.

 

        Dez de Espadas: A pessoa simplesmente sonha, aspira, almeja, mas não possui a animosidade ou o afinco de colocar seus desejos em prática. É o bloqueio forjado tanto através da insegurança quanto pela indolência.

 

        Dez de Ouro: Reflete o indivíduo que estaciona no tempo, conformando-se com o panorama que se encontra inserido, sem o desejo de galgar melhores níveis de possibilidades, que não aspira por algo maior.

 

 

        O Valete é o arauto das positividades. É aquele que surge sob as vibrações da leveza. É o fôlego vital que infunde a motivação presente nas novidades da existência.

 

 

        Valete de Paus: Pode sugerir um novo trabalho, um novo momento que surge e convida para um hábito salutar que se principia. É o descortinar de um horizonte promissor que surge inspirado pela fé.

 

        Valete de Copas: Pode surgir como um novo par em um relacionamento que se inicia. Mas pode também ser o mesmo par sob uma nova visão, um ângulo diferente daquele que conhecíamos cuja beleza se escancara sob o encantamento de uma perspectiva até então desconhecida.

 

        Valete de Espadas: Representa uma superação, uma batalha árdua que é vencida. Um mundo renovado que se expande após o triunfo sobre os obstáculos.

 

        Valete de Ouro: Surge como valores que repentinamente são alcançados, uma herança ou pagamento inesperado; um reconhecimento que se reverterá no ganho de valores, uma promoção ou a percepção de capital inesperado.

 

 

        O Cavaleiro é uma carta inexistente no baralho comum, que consiste no Valete, Dama e Rei. Alguns autores classificam-na como a de um jovem inconsequente, outros o classificam como um homem dotado de experiência, firmeza e astúcia. Esta segunda linha é a mais plausível, pois da outra forma o cavaleiro teria as características próximas às de um Valete ou Pajem. É aquele que percorre o mundo, e, por sua experiência se faz auto suficiente, sem se prender às coisas que surgem pelo caminho.

 

        Cavaleiro de Paus: É aquele que percorre o mundo, sem ficar-se em algo, nem criar raízes. Não tem um trabalho fixo e nem se prende ao convencionalismo do mundo.

 

        Cavaleiro de Copas: É o cidadão do mundo, isento de compromissos e descomprometidos com formalidades, portanto, abstraído de relacionamentos fixos.

 

        Cavaleiro de Espadas: Não estar sujeito à defesa de determinados grupos. É um guerreiro isolado que luta por suas próprias causas ou por motivos alheios que se acha no dever de intervir em prol da justiça. Descompromissado com embates aos quais não se faz propósito.

 

        Cavaleiro de Ouro: Pouco interesse no âmbito financeiro. Vive o presente, por isso desconsidera acúmulos ou empreendimentos. Enxerga as finanças apenas em seu uso imediato, não se atendo na busca aflitiva daquilo que não pode levar considero em suas andanças pelo mundo.

 

 

        A Dama nunca deixa de representar seu papel de mãe, mesmo diante de seu empoderamento e de sua experiência. Como mãe, observa os adultos como crianças apenas crescidas; demonstrando que não estamos totalmente libertos das coisas pretéritas incrustradas em nosso ser desde os primórdios de nossa existência.

 

        Dama de Paus: Traz a necessidade de sentir-se acolhido, revelando uma insegurança de alguém que necessita de amparo emocional. Possui a carência de reconhecimento, o "colo" que o ampare das inclemências da vida.

 

        Dama de Copas: Envolto em uma carência infantil, necessita ver o "rosto materno" nas pessoas em seu ambiente íntimo, às quais se abre à semelhança de uma criança carente.

 

        Dama de Espadas: Age como uma criança mimada, cheia de vontades e caprichos, que tenta impor aquilo que pretende feito um bebê desejoso de ter em mãos algo que não lhe compete. É o adulto manhoso que chega a adentrar nos lindes do ridículo e do hilariante.

 

        Dama de Ouro: Sem responsabilidade devida com o capital, entregue ao desperdício, aos maus negócios e as desordens financeiras. Totalmente desprovido da maturidade essencial à gestão de negócios e valores.

 

 

                      O Rei é a força, o poder e a imposição.

 

        Rei de Paus: pode colocar os negócios em perigo, em virtude de um potencial equívoco sustentado pela pertinácia e pelos caprichos de uma pretensa sabedoria.

 

        Rei de Copas: obstinação por estar à adjacência de alguém que lhe é nocivo, prejudicial e enganoso.

 

        Rei de Espadas: esta carta revela a tirania, alguém que impõe a sua vontade em detrimento dos direitos alheios. É o egoísmo, o egocentrismo. A figura autoritária que comete as piores atrocidades para que sejam alcançados seus intentos nefastos.

 

        Rei de Ouro: Utiliza os valores diferentemente daquilo que pode ter sido previamente acordado. É aquele que se envolve em fraudes, corrupção, falcatruas, de maneira insensata desviando recurso em benefícios próprios. É a carta da desonestidade.

 

        Observação: Existe uma correspondência dos quatro elementos tanto dos Naipes do baralho, conforme citado acima, quanto dos números de 1 a 10. (Sem esquecer que a redução cabalística de 10 traz o número 1).

        Quando o elemento correspondente do número é o mesmo do elemento correspondente ao naipe, ocorre uma potencialização na mensagem trazida pela carta, e este detalhe se faz considerável na leitura das cartas do Tarô.

 

         O Ar corresponde aos números 3 e 7.

        O Fogo corresponde aos números 1e 5.

        A Água corresponde aos números 2 e 6.

        A Terra corresponde aos números 4 e 8.

        Paus corresponde ao elemento fogo.

        Espadas corresponde ao elemento ar.

        Copas corresponde ao elemento água.

        Ouro corresponde ao elemento terra.

 

        Algumas obras podem relevar o aprofundamento místico em relação às correspondências, entre muitas cabe ressaltar o "Tarô dos Boêmios" do Mestre Papus, assim como também "A Chave dos Grandes Mistérios" e Dogma e Ritual da Alta Magia”, ambas de Eliphas Levi.

 

 

 

                            Métodos de se utilizar do Tarô.

 

        Existem inúmeros métodos pelos quais se "joga" o tarô em seus aspectos divinatórios. Como aqui se trata de um texto e não de um livro, tenho por boa exposição citar alguns métodos de relevância, um dos quais é o mais usual, outro de maior simplicidade, outro de implicação mística e por fim um método de maior profundidade dentro do esoterismo.

 

 


                          A Cruz Celta.

 

        Este método se baseia na cruz inserida em um círculo. A cruz possui quadrantes representativos dos quatro elementos e o círculo o caminho do Sol que percorre o zodíaco, símbolo da eternidade cíclica no dinamismo cósmico. Esta disposição se faz como um oráculo de orientação nas diferentes situações e circunstâncias da vida humana, possibilitando a análise sob diversos prismas, focando o presente, o passado e o futuro, as causas determinantes daquilo que se faz vigente, as influências incidentes e seus aspectos, assim como os melhores caminhos a serem tomados para que seja realizado o melhor desfecho dentro das possibilidades que se descortinam.

 

        Antes de prosseguir no método da Cruz Celta é imprescindível o conhecimento da técnica essencial do embaralhamento das cartas. O objetivo do embaralhamento é formar o maço de cartas deixando-o em uma ordem aleatória para que se forme o sequenciamento de acordo com as energias presentes no local onde se executa a leitura das cartas.

        O "Deck" do tarô deve ser compatível com o tamanho das mãos do operador, pois poderá ocorrer dificuldade no manuseio especialmente quando as dimensões das cartas superam o tamanho das mãos que irão manuseá-las.

        É claro que existem inúmeras formas de se embaralhar as cartas, sendo que cada pessoa pode possuir uma maneira própria de fazê-lo, com a qual terá melhor domínio no manuseio. Aqui, porém, se apresenta a citação de um método que possui alguns fundamentos essenciais dentro do esoterismo.

        O operador coloca todo o baralho sobre a palma de sua mão esquerda, entrega-o ao consulente para que corte o maço em duas metades, que, devolvidas ao operador faz com que as cartas se interpenetrem, umas sobre as outras. Repete-de este procedimento três vezes e novamente entregue ao consulente para cortá-las uma segunda vezes, interpenetra novamente as cartas umas sobre as outras mais quatro vezes, totalizando o número de sete, e, pela terceira vez pede para que o consulente corte o maço mais uma vez, sempre sobrepondo o maço inferior por cima do maço que estava por cima. O toque do consulente é essencial para que sua energia esteja presente sobre as cartas, seguindo o número de três e embaralhado pela quantia de sete vezes.

        Feito isso se inicia a distribuição das cartas segundo a disposição da Cruz Celta.

        A primeira carta a ser virada, ou a carta número 1 é a "significadora", a qual deve ser colocada no centro da figura que pretendemos compor. Em seguida vira-se a carta número 2, a "carta cruzada", que é colocada horizontalmente sobre a número 1, formando uma pequena cruz com ambas as cartas. A carta número 3, a "carta da cabeça" é colocada na posição inferior à número 1 e a número 4, a "base da questão" colocada à direita da número 1 (à nossa esquerda). A carta número 5 é colocada acima da carta número 1, é a "carta das influências do passado". A carta número 6, o "futuro", é posicionada ao lado esquerdo da carta número 1 (à nossa mão direita).

Está então formada a cruz, agora formaremos a coluna à esquerda da cruz (à direita para o observador). Posiciona a carta na posição inferior da coluna, a carta de número 7, a carta da "posição atual". Acima desta dispomos a carta número 8, a carta dos "fatores ambientais", e, acima desta a carta de número 9, das "esperanças e receios". Acima de todas, no alto da coluna, posiciona-se a número 10 o "resultado da finalização".

        A carta número 1, chamada Significadora, indica a situação atual do indivíduo, sua vida na circunstância atual.

        A número 2, a carta Cruzada, revela o bloqueio existente na vida desta pessoa, seus embaraços, os obstáculos que configuram como empecilhos para a livre expressão e desembaraço dos caminhos em sua jornada.

        A número 3, Carta da Cabeça revela o motivo aparente ou superficial deste bloqueio.

        A carta número 4, Base da Questão, descortina a origem ou o motivo real por trás da superfície do obstáculo apresentado na carta de número 3, identificando a problemática em sua raiz.

        A carta número 5 das Influências do Passado mostra situações marcantes do passado do indivíduo cujas consequências ainda o aprisionam, castrando sua liberdade e dificultando a acessibilidade a novos caminhos.

        A carta de número 6 do Futuro aponta possíveis situações a se manifestarem na vida da pessoa, equacionadas tanto em sua situação presente quanto em seus momentos pretéritos.

        A carta de número 7, da Posição Atual, é o reflexo da carta de número 1, porém apontando as potencialidades que deverão ser desenvolvidas ou expressadas.

        A carta de número 8, dos Fatores Ambientais, indica as relações do indivíduo com o meio no qual está inserido, suas relações pessoais, como o meio o enxerga e a reação que este meio incide sobre o mesmo.

        A carta número 9, Esperanças e Receios, como o próprio nome indica, demonstra os anseios, as expectativas e receios presentes no âmago deste indivíduo.

        A carta de número 10, como Resultado Final, demonstra os possíveis desfechos, os prováveis desmembramentos da situação da pessoa diante dos caminhos pelos quais tenderá a fazer sua opção. É o indicativo de uma possível resolução para a condição que é enfrentada.

        As cartas, na Cruz Celta, podem ser desviradas e colocadas em suas respectivas posições assim como também colocadas nas posições para desvirá-las posteriormente, conforme vai se seguindo a leitura.

        Todos os tipos de leitura apresentados poderão ter um remodelamento pessoal assim como um aprimoramento, de acordo com a natureza pessoal daquele que faz a leitura e a interpretação. No esoterismo a subjetividade sempre deverá ser preponderante sobre quaisquer regras pré-estabelecidas.

 

 

 


                                  O Pentagrama.

 

        Consiste no posicionamento das cartas seguindo os cinco vértices presentes na figura do pentagrama. Para os iniciantes é conveniente desenhar sobre a mesa a figura do pentagrama com um giz ou lápis de cera, sempre o vértice da cabeça voltado para cima.

        Poderão ser colocadas as cartas desviradas conforme forem sendo retiradas do maço, ou posicionadas todas viradas e ir desvirando cada uma delas conforme segue a leitura. A maneira de seguir estas sequências depende da preferência de quem faz a leitura das cartas.

        É, dessa forma, um total de cinco cartas, a primeira seguindo o vértice superior, a segunda à direita deste vértice (à esquerda de quem observa); a terceira carta à esquerda do vértice superior (à nossa direita), a quarta logo abaixo da segunda, seguindo o vértice correspondente, e a quinta logo abaixo da terceira carta, seguindo também o vértice correspondente do pentagrama.

        A leitura das cartas no pentagrama deverá seguir um fim específico para cada carteada. Se o indivíduo quer saber sobre relacionamentos afetivos será uma tirada específica para este âmbito; caso queira consultar sobre a vida profissional será uma nova tirada relacionada a este segmento da vida do consulente.

        A carta número 1 indica o estágio atual da pessoa; como ela se encontra, o momento presente e sua situação que a envolve.

        A carta número 2 vemos as pessoas que se relacionam com o indivíduo em questão, na área na qual o indivíduo focalizou sua consulta.

        Na carta número 3 vemos a relação, a interação e o envolvimento do indivíduo com as pessoas indicadas pela carta número 2.

        A carta número 4 vemos as pessoas fora do ambiente focado pelo indivíduo, o tipo de influência que podem exercer sobre a vida do mesmo, os fatores positivos e negativos provenientes dessas Influências.

        Na carta número 5 temos o futuro, não como uma fatalidade, mas como resultado do possível desencadeando das circunstâncias presentes levando em consideração as instruções apontadas pelas cartas.

 

 

                                 Método das Três Cartas.

 

        Na verdade aqui as cartas são em número de seis. Pois neste sistema simples de leitura, porém não menos eficiente, temos a separação do baralho em duas partes, uma contendo os Arcanos Maiores e na outra os Arcanos Menores. Serão viradas três cartas cada uma das quais com uma possibilidade. Primeiramente tratamos das três cartas dos Arcanos Maiores, a primeira irá dispor sobre aquilo que se deve fazer. A segunda, aquilo que deve ser evitado, e a terceira com o resultado final. Os Arcanos Maiores terão uma questão de relevância maior, ou uma questão iniciática fundamental. Os Arcanos Menores serão desvirados em seguida, o primeiro correspondendo à primeira carta dos Arcanos Maiores e assim por diante. Os Arcanos Menores aqui representam questões mais triviais, complementares àquelas previstas nos         Arcanos Superiores, ou seja, os Maiores denotam a origem e a essência da questão, cuja interpretação caberá à profundidade do conhecimento de quem lê as cartas, dentro da subjetividade essencial que caracteriza um místico; os Arcanos Menores indicarão os resultados e as manifestações práticas.

        Na leitura pelo método das três cartas poderão também ser equacionadas como presente, passado e futuro. As cartas respondem às formulações, o bom êxito sempre dependerá da capacidade de interpretação intimamente relacionada com a afinidade extra física de quem se capacita à leitura.

 

 

 



                                         A Árvore da Vida.

 

        Não existe um método melhor ou um método de menor eficácia. Uma pessoa familiarizada com determinado método terá uma eficácia excelente na forma de leitura que escolheu, ou que inventou. Tudo é uma questão de desenvoltura e domínio na área que desempenha sua capacidade ou habilidade. Um mestre de Kung Fu pode ser melhor que um mestre de karatê ou vice versa, e isso significa dizer que nenhuma arte marcial se sobrepõe a outra, cabe a cada um o domínio mais próximo à perfeição daquilo que se faz. Até mesmo um lutador de rua poderá derrotar tais mestres, desde que tenha alcançado um elevadíssimo aprimoramento em sua técnica, mesmo que ele próprio tenha sido o criador de seu método de luta. Assim são os oráculos. A maioria dos autênticos xamãs tribais é iletrada, e, no entanto, muitos deles são exímios intérpretes dos oráculos naturais. Muitos leem a formação das nuvens ou o halo lunar e esbanjam uma sabedoria sem regras, sem códigos e sem qualquer tratado reescrito.

        Considero o método da Árvore da Vida como um dos mais profundos, e de entranhável abrangência, isto sem jamais situá-lo como melhor ou pior que qualquer outro método, sejam eles mais simples possíveis ou mais sofisticados os abstrusos.

        Este método consiste em uma sequência de 11 cartas, as quais irão conter tanto os Arcanos Maiores quanto os menores, dispostos no arranjo da árvore das Sephirot. Cada Sephirah conterá duas cartas, totalizando um total de 22 cartas. Para a interpretação de cada Sephirah será levado em conta o significado de cada carta visto anteriormente.

        São necessários alguns prévios conhecimentos da Cabala para a utilização deste método. A primeira Sephirah, de Kether, a coroa da árvore da vida apresentará o nível Espiritual do indivíduo. A segunda Sephirah, de Chokmah irá descortinar a personalidade deste indivíduo. A terceira Sephirah, Binah, apontará o lado inconsciente desta pessoa, do qual se aflora seu caráter e dá sustentação ao seu modo de ser e se apresentar como aquilo que ele próprio deseja transparecer. A quarta, Chesed, traz à luz os aspectos materiais desta pessoa, seus meios de sustento e sobrevivência. A quinta, Geburah nos aponta todos os seus obstáculos, seus bloqueios, inimigos e adversidades. Justamente por ser a Sephirah correspondente a Marte, trata daqui que se lhe opõe formando os entraves de seus caminhos com os quais deve baralhar. A sexta, Tiphereth, representa todos os seus aspectos mais brilhantes, tudo aquilo que o evidencia e enobrece. A sétima, Netszach, expõe suas relações amorosas, seus apegos sentimentais. Hod, a oitava Sephirah, revela o nível mental deste indivíduo, seu nível de inteligência e assimilação. Yesod, a nona Sephirah, revela sua saúde, tanto a física quanto a psíquica. A décima Sephirah, Malkuth, é o resultado da caminhada deste indivíduo, a casa onde ele se encontra, tudo aquilo que ele conseguiu.

        A Sephirah oculta de Daath nos demonstra a imagem subjetiva do indivíduo enquanto ser, na confluência entre passado, presente e futuro, algo que é impossível ser traduzido em palavras. Poucos são aqueles que visualizam esta essência.

 

        Há inúmeros outros métodos, cada qual com suas infindáveis variantes. Quem deseja se aprofundar na arte divinatória do tarô deve saber que, os métodos de leitura não devem ser restritos àqueles que os livros expõem, pois são modelos a serem seguidos passíveis de modificações a critério do estudante. O importante é delimitar uma área da vida e deixar surgir o arcano que falará sobre esta área. Dizem que os melhores cardápios são aqueles que surgem através de pequenas modificações em um cardápio original. E os melhores cozinheiros sai aqueles que mantêm seu cardápio particular, que quase ninguém o conhece em seus pequenos detalhes. E isso não quer dizer que os cardápios originais de receitas impressas não sejam bons. Há muitos que dão a estes sua preferência.

 

 

 


                          O Tarô de Toth

 

        Apesar do objetivo do texto é essencialmente ater no Tarô de Marselha, mais utilizado e tradicionalmente o mais conhecido através da história, o Tarô de Toth possui uma relevância especial, pois remete à essência da própria origem do tarô, que, conforme já referido no início do texto, teve sua origem na própria civilização egípcia.

        O Tarô de Toth foi concebido por Alister Crowley objetivando ser o Tarô da Nova Era de Aquário, desvinculado das molduras tradicionais.

        Foi desenhado pela artista Frieda Harris, inglesa nascida no final do século IXX que também tinha grande afinidade com o ocultismo.

        Neste baralho, até então inusitado, algumas cartas não possuem o mesmo nome correspondente às do Tarô de Marselha, no qual "O Julgamento" tem o nome de "O Aeon", "A Força" configura-se como "A Luxúria"; "A Justiça" como "Ajustamento"; "A Temperança" como "Arte". Essas modificações, segundo Crowley, não significavam uma mudança, mas o retorno ao sentido original das configurações.

        A diferença na nomenclatura dos arcanos, acima citados, contudo, não é a diferença fundamental existente entre o Tarô de Toth e o Tarô Tradicional; a grande diferença se dá na arte com a qual Frieda Harris estampou as cartas do baralho de Crowley, expondo neste todo um estilo completamente diverso da iconografia medieval. O estilo futurista intimamente conectado à antiga arte do desenho egípcio realça o insólito, de certa forma impactante àqueles habituados como estilo, de certa forma, costumeiro da delineação clássica.

        Em suas figuras distinguem-se prontamente indicadores cabalísticos, astrológicos e míticos, o que abstrai o observador desacostumado com uma insinuante quebra de regras.

        Possui, assim como o Tarô de Marselha, vinte e dois Arcanos Maiores e cinquenta e seis menores divididos em quatro Naipes diferentes: Paus, Copas, Espadas e Ouro. Sendo Paus correspondente a Aziluth, o mundo espiritual; Copas a Briah, o mundo emocional; Espadas a Yetzirah, o mundo intelectual e Ouro a Assiah, (Malkuth), o mundo material.

        Como podemos ver o Tarô de Toth possui explícita relação com a Cabala, não que o Tarô de Marselha não o tenha, mas se acha inserido de maneira implícita, velado em suas simbologias.

 

 

 

 



                             A Profundidade no Tarô.

 

        Eliphas Levi, a partir de sua obra "Dogma e Ritual da Alta Magia", expôs todo o conhecimento hermético inserido nas cartas do Tarô. Todos aqueles que se aprofundam neste conhecimento mágico sabem que o místico e o mágico se fundem nesta sequência de cartas que simplesmente "falam", trazendo a energia de uma sabedoria milenar, a qual remonta a estrutura de tudo aquilo que reconhecemos em nosso mundo, pois tudo se entrelaça em um misterioso encadeamento energético, e o Livro de Toth vem ser a codificação dessas energias, indicando todas as possíveis combinações, essenciais em um mundo cujas possibilidades são infinitas.

        O próprio vocábulo “Arcano” significa mistério. E todo mistério deixa de assim ser à medida que avançamos na compreensão de seus domínios.

        Vejamos um aspecto da numerologia presente nessas cartas: os Arcanos Menores são estruturados nos aspectos dos números 4 e 10. Pois são quatro Naipes, onde podemos situar o quaternário, e dez cartas numeradas (considerando o Ás como número 1). Temos ainda quatro figuras dispostas também em quatro Naipes, formando o número 16, cuja redução cabalística é sete. Nos Arcanos Maiores temos as 22 cartas, que são numeradas até o vinte e um, já que uma delas corresponde ao zero. Vinte e um na redução cabalística é o número três. Somenos a redução dos Arcanos Maiores com a redução dos Arcanos Maiores e chegaremos a 10,o número das Sephirot da Árvore da Vida.

        Um detalhe de significativa relevância nas cartas do Tarô, em suas representações clássicas, são as expressões no rosto das figuras. Há em todas elas algo muito difícil de ser desenhado, que é a total apatia, a falta de expressão, como se fossem o retrato daquilo que é estático, de algo alheio ao próprio tempo e ao próprio espaço. Este é precisamente o mesmo trabalho presente nos desenhos que configuram os trabalhos dos autores medievais sobre a alquimia. A alquimia é justamente a ciência oculta em que tanto o tempo quanto o espaço se fundem para que seja possível o processo do "Magnum Opus". A alquimia está presente no tarô, pois ambos representam a projeção de um drama cósmico. As pranchas alquímicas possuem uma analogia simbólica com as configurações presentes nas lâminas do tarô.

        Estudando a base da alquimia poderemos observar que existem três estágios em seus processos: o "nigredo", o "rubedo" e o "albedo", os quais se dividem em sete operações essenciais, as quais são o "calcinatio", o "solutio", o "coagulatio", o "sublimatio", o "mortificatio", o "separatio" e o "coniunctio". (Para maior aprofundamento nesta área sugiro a leitura das seguintes obras: "O Mistério das Catedrais" e "As Mansões Filosofais" do Mestre Fulcanelli; "O Livro das Figuras Hieroglíficas" de Nicolas Flamel).

        O tarô, à semelhança dos processos alquímicos, é formado por três grupos de sete arcanos, excetuando O Louco cujo índice é zero. Aqui vemos os estágios que, em sua sequência, representa os estados da matéria em seu processo de transmutação, a "grande circulação", para a obtenção do "ouro alquímico", no encadeamento da "Pedra Filosofal".

        "E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas"— Já disse Hermes Trimegistus em sua Tábua de Esmeralda.

        Todas as coisas se relacionam na pluralidade que se reflete a partir da unidade.

        Conhecer o tarô é mais que uma atividade lúdica de um mero carteado, é entrar em contato, ainda que resvalando, com os mais abscônditos mistérios legados de civilizações pretéritas. Aqui não cabe apenas a arte divinatória e suas interpretações, mas seu estudo cada vez mais auspicioso, pois os mistérios pedem a revelação, e todo compartilhamento que deriva de cada lampejo. Pois saímos da era da crença e adentramos na era do conhecimento.

 

        Paz e Luz.

 

 




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