LÚCIFER, SATANÁS E DEMÔNIOS.
A Idade Média não está tão distante como
imaginamos, não somente em uma questão cronológica de pouco mais que cinco
séculos, mas dentro de nosso próprio ser. Possuímos muitas concepções medievais
em nosso âmago, mesmo quando nos sentimos, presunçosamente, esclarecidos. A
maioria de nós, ocidentais, aprisionados dentro uma “matrix” imposta sempre
pelos mandatários do poder, interessados em perpetuar o controle das
consciências, principalmente daqueles que, despertos, ameaçam seus domínios. A
“Santa” Inquisição não foi senão uma forma visível deste controle. Mas longe de
“teorias conspiratórias”, é muito relevante expor uma das crenças que ainda se
configura como controladora das consciências, tendo como arma principal aquilo
que há de mais persuasivo na alma humana: o medo.
Muitas instituições, se aproveitando do
imaginário intrínseco aos seres humanos, elaboraram um modelo de controle
baseado em castigos e premiações. Aqueles que permanecessem fiéis aos seus
estatutos, dogmas, doutrinas e preceitos, herdariam uma bem-aventurança eterna,
na presença de anjos e santos. Inversamente, aqueles que, dissidentes das
regras pré-estabelecidas, receberiam uma danação eterna, e, suas miseráveis
vidas seriam atormentadas por demônios e infortúnios, desgraças e misérias, castigadas
pela inconstância na fé que lhes era imposta. Até o dia de hoje, a grande
maioria das populações que vivem em países subdesenvolvidos estão presas a
todas as crendices limitantes à expansão de suas consciências.
Sabemos que o universo se estrutura no
dinamismo, nos ciclos que transformam seres, energias e mundos, reconfigurando
a cada momento aspectos, formas e dimensões. Tudo se movimenta, a vida é o
contínuo movimento, estabelecido desde as mais ínfimas ondas subatômicas até as
galáxias, na constante expansão do universo conhecido. Nada é estático. A
natureza aborrece não somente o vazio, mas toda e qualquer perspectiva de
inércia. Tudo é vida, e a vida é o conjunto de afinidades; desde as afinidades
eletrônicas que configuram as moléculas, até os desejos mais elevados dos seres
que conseguem contemplar a grandeza e a beleza dos astros em sua “ciranda” de
encadeamentos.
Tudo se transforma, nada se perde nem
tão pouco se cria, já diziam os sábios. Mudamos a cada segundo, mesmo de
maneiras imperceptíveis, mas mudamos, tanto física quanto espiritualmente. Não
existe entidade espiritual alguma condenada a ser sempre aquilo que sempre foi,
condenada a permanecer na estagnação dentro de um universo cíclico e dinâmico.
Aceitar tal coisa seria negar todas as leis, todo o dinamismo, e todo principio
racional demonstrado pela filosofia e pela ciência. Demônios, segundo o
conceito religioso da cristandade, seriam serres eternamente pecaminosos, sem
sombra de mudança e alheios às transformações. Até mesmo os “Buracos Negros”
perdem, ao longo das incontáveis eras, todo seu poder de atração e se acabam.
Até mesmo o universo possui seu período de repouso, denominado “Pralaya” em
teosofia, em oposição ao “Manvântara”, que é sua manifestação. Tudo dentro do
eterno movimento da “Respiração Divina”. (Pretendo futuramente elaborar um
texto dissertando sobre esses magníficos termos teosóficos de grande relevância
no ocultismo) .
Pois bem, se seres eternamente
condenados à estagnação, à maldade e a danação não são passiveis de existência,
o que seriam os demônios? O que seria Lúcifer? O que seria Satanás? ...tão
copiosamente cantados em textos, tratados e dogmas.
Lúcifer provém do latim, “lucem”
“ferre”, o portador de luz. Na língua hebraica “Helel” significa brilho e
luminosidade. Está associado à estrela da manhã, o planeta Vênus, astro este
que vem ser o “Arauto do Sol”, anunciando, nas manhãs, a chegada do “Astro
Rei”. E nas tardes, a sua partida rumo à escuridão, como um portal cuja chave é
o sua assídua presença no pavilhão celeste.
Vejamos alguns versículos do Livro do
profeta Isaías: “Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste
cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu
subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da
congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das
nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”. (Capítulo 14, versículos 12 a 14).
Segundo Helena P. Blavatsky, em sua revista cujo nome era, coincidentemente,
Lúcifer, Gregório Magno aplicou o texto, acima citado, a Satã, contrariando o
Profeta, que se referia simplesmente a um rei assírio, inimigo de Israel.
Posteriormente Orígenes, filósofo neoplatônico patrístico da igreja do segundo
século, interpretou no texto uma referencia a Satanás, cujo nome era Lúcifer
antes de sua queda.
Contrariamente às suas raízes
etimológicas, a partir de então, o Portador da Luz acabou se tornando o Senhor
das Trevas. Mais um dos muitos paradoxos construídos pela exegese dos primeiros
séculos. A épica rebelião nos céus, liderada pelo “orgulhoso” Querubim Ungido, é,
na verdade, um equívoco moldado para impor conceitos errôneos às mentes
temerosas, que persiste até os dias atuais. Lúcifer, portanto, não é uma
entidade, e sim um “estado”, de quem porta a luz. Não aparece, em momento
algum, no Novo Testamento fazendo referencia a um nome de demônio. Para
comprovar tal contexto faço uma citação do capitulo 22, versículo 16 do Livro
do Apocalipse: “Eu (no caso Jesus ou Yeshua) sou a radiosa estrela da manhã”.
Um estado de quem ilumina, ensina, orienta e define caminhos àqueles que jazem
na penumbra da insensatez humana.
Satanás provém da raiz hebraica “satãn”
e do árabe “shaitan”, ambos derivam do termo semítico “stin”, cujo significado
é hostil, adversário. O Tanak hebraico utiliza para definir os inimigos em
geral, tanto físicos quanto espirituais, também um estado de oposição e jamais
sendo definido como uma entidade, muito menos a personificação de um demônio.
No livro de Jó, um poema alegórico cuja mensagem é, acima de tudo a esperança e
a fé, personifica um ser como acusador, prefigurando como alguém que
desafia a existência do verdadeiro amor
e da verdadeira espiritualidade. O qual está muito mais presente no interior de
cada ser do que um ser exterior a todos os demais seres. É tudo aquilo que
rivaliza contra o “Deus Interior” e se contrapõe a Ele. Uma perfeita
personificação de nosso próprio Ego.
Poderá existir então uma pergunta: Mas
se não existem tais seres, chefes das hostes infernais, quem então produz os
fenômenos horrendos das possessões? Quem são esses seres que inúmeras pessoas
promovem cultos e sacrifícios? Na primeira questão devemos analisar o Plano
Astral, ou o Mundo de Kama. Neste plano, em seus sub-níveis existem inumeráveis
castas de seres, muitos deles humanos desencarnados que podem obsedar seres
humanos encarnados ligando-se ao “duplo etérico” da pessoa sugando suas
energias vitais. Há também outra categoria de espíritos, os Kama Rajas, reis do
astral em sânscrito; não humanos, originários de antigas raças lemurianas e
atlantes, que por incompatibilidade com os corpos físicos dos seres humanos atuais,
dificilmente conseguem reencarnar. Tais seres, assim como nós humanos atuais,
participam do dinamismo cósmico, e se evoluem assim como todos os demais seres,
tendo, dessa forma entidades evoluídas, muitas vezes chamadas de Anjos ou
Devas, na terminologia hindu, quando evoluídos, ou “demônios” quando não
evoluídos. Muitos dos quais possuem grande poder, pois possuem a sabedoria dos
antigos povos que dominaram o planeta há centenas de milhares de anos. São
estes que os antigos povos renderam cultos, reverenciando-os como deuses,
alguns dos quais malignos e perversos exigindo sacrifícios de sangue, pois,
como não reencarnam renovam continuamente seus corpos astrais, necessitando
dessa forma, os não evoluídos, de sacrifícios de sangue para manterem suas
formas e aspectos astrais. Os cultos a estas entidades ainda estão presentes,
comumente denominadas “satanismo”, tornando seus seguidores servos destas
entidades nefastas. Existem também os luciferianos, que longe de prestar culto
a uma entidade inexistente, servem a um “deus” sumério, que vem ser uma
corrente de kama Rajas, os quais citei anteriormente, tais seres desse nível
possuem grau evolutivo superior aos espíritos reverenciados pelos satanistas.
Todos os seres humanos vivem em
contínuas viagens entre astral e físico, permeando dimensões através de seus
próprios pensamentos. Muito embora não existam seres destinados à eterna
permanência na maldade, a maldade está presente em cada ser. Em nossos corações
há permanente batalha entre Deus e o demônio. Sentimentos nefastos que habitam
em nossas ideias e pensamentos, por esta razão urgem-se as insofismáveis buscas
de nosso Eu superior, para que seja desvanecido o “demônio” que obscurece a
nossa realidade em Deus, que é o nosso próprio ego. Deus está em todas as
coisas, é o Todo que preside e permeia o universo e todos os seus seres.
Necessário é que busquemos cada vez mais o amor que é a sua essência plena,
para exorcizarmos todas as vicissitudes que nos aprisionam na mais densa
materialidade. O vento sopra onde quer, ouvimos a sua voz e não sabemos para
onde ele vai, nem de onde ele vem. Sigamos o vento tempestuoso do Espírito, sua
voz não cessa, para que aprendamos os seus caminhos, incorporemos sua essência
e renasçamos na verdadeira luz invisível aos olhos humanos.
Namastê