No antigo oriente havia um príncipe que, devido a uma enfermidade repentina, perdera sua esposa grávida, nas últimas semanas de dar a luz ao primeiro filho. Muito abatido o príncipe passou seus dias em isolamento mergulhando em um profundo estado depressivo. Desejando abandonar este plano de existência passou a não mais se alimentar, agravando ainda mais seu estado deprimente.
Certo dia, repleto de maus pensamentos, debruçou-se no parapeito da janela de seu palácio com um forte desejo de se jogar muralha abaixo. Foi quando notou, subindo a estrada, um mendigo, todo maltrapilho cantarolando uma antiga canção, sorridente e vivaz.
"Como pode estar feliz um ser tão miserável e medonho ", Pensou ele, "E eu sem o mínimo gosto para tocar essa vida pela frente "?
. Então resolveu descer a escadaria do suntuoso castelo e mandou um de seus criados chamar no portão o paupérrimo andarilho.
Ao se defrontar com tão miserável figura o príncipe perguntou: "estou observando você caminhar todo feliz pela estrada. e, se for possível me dizer gostaria de saber qual a razão dessa sua felicidade."
Sem tirar o sorriso do rosto e sem esboçar qualquer sinal de espanto diante da pergunta o mendigo respondeu: "Caminho pelas estradas, minhas pernas me conduzem para onde meu pensamento deseja ir, ando quilômetros e quilômetros, sob o sol, sob as árvores, nas montanhas e nos vales, Talvez se eu fosse um paralítico não fosse tão feliz!"
"Essa é a razão de sua felicidade"? Indagou o príncipe.
"Não". Respondeu o mendigo."Tenho meus ouvidos que ouvem o balbuciar dos pássaros, o vento entre as árvores, o murmúrio doce das correntes de água que afluem das montanhas. Talvez se eu nada pudesse ouvir eu não seria tão feliz."
"Então essas são as razões que determinam a sua felicidade?" Indagou mais uma vez o príncipe.
"Não". Respondeu mais uma vez o mendigo." Gosto de cantarolar enquanto caminho. Converso com as pessoas, respondo perguntas, oriento os viajantes pelas estradas, chego até mesmo a tentar conversar com os animais da floresta. Pode ser que se eu não possuísse a bênção de emitir palavras e sons eu não fosse tão feliz".
"E isto basta para a sua felicidade"? Mais uma vez indagou o príncipe.
"Não, " Prosseguiu o mendigo. "Vejo o nascer do sol todas as manhãs, as cores da natureza, a sinuosidade dos caminhos e todas as estrelas do céu noturno. Talvez se não possuísse a visão eu não fosse tão feliz."
"E isso basta para sua felicidade"? indagou ainda mais uma vez o príncipe como se encerrasse o diálogo.
"Não." respondeu mais uma vez o mendigo sem apagar o sorriso de sua face escurecida pelo sol."Certamente que não. Tenho minha mente, minha alma, que me dá o discernimento, que me faz compartilhar a alegria de cada momento em que posso dizer EU SOU. É um pálido reflexo de uma mente superior que irmana todos os seres e que me dá a alegria de vivenciar a razão de ser e de existir. Ainda que fosse cego, eu seria feliz por poder ouvir, ainda que fosse coxo eu seria feliz de poder ver e não triste por não poder andar. Devemos ser felizes pelas muitas coisas que temos e nunca infeliz pelas coisas que não possuímos . "
"Posso agora entender a razão de sua felicidade"! Exclamou o príncipe. "Quero buscar minhas próprias razões". Acrescentou.
"Irá encontrá-las facilmente". Disse o mendigo. "Caminhe, ouça, solte sua voz, observe e pense. Não seja infeliz por aquilo que lhe falta, seja feliz por aquilo que você tem. A vida pode se tornar aquilo que os olhos de sua alma desejam que ela seja. A felicidade pode estar tão perto". Disse o mendigo que , voltando a sorrir, continuou a seguir o seu caminho, cantarolando uma melodia qualquer.