Certa vez um velho mestre convidou seus alunos a seguir com ele em um passeio até um antigo cemitério. Quando estavam todos em meio às incontáveis lápides e sepulturas o velho mestre perguntou a todos:
— “Meus filhos, poderão vocês me dizer a que conclusão chegam ao se defrontar com tantos restos de perecíveis corpos humanos?”
— “A brevidade da vida terrena” — respondeu um deles.
— “A ilusão no apego às coisas transitórias” — expressou-se outro.
— “Que cemitérios não diferem muito dos lixões” — respondeu ainda outro gracejando.
— “Creio que nenhum de vocês tenha errado em suas conclusões” — Disse o encanecido preceptor — “porém, quero que percebam o caminho das energias”.
— Observem simplesmente o óbvio — Prosseguiu o Mestre — aqui jazem as cascas, como roupagens velhas que não têm mais função nem atividade alguma. Algumas pessoas se assustam ao tocar a casca de um inseto, até notarem que aquilo não é mais um inseto vivo. Cadáveres muitas vezes causam repugnância às pessoas vivas, mas nada mais são que restos orgânicos em desintegração. Sempre que um ciclo se completa a essência se esvai restando apenas os velhos invólucros a caminho da degeneração. Aqui nada resta além de restos desprovidos de vida e consciência.
— Aquilo que está aqui é perecível — inferiu um dos jovens — o que se foi é eterno.
— Não é bem assim, meu caro — corrigiu o ancião — à medida que avançamos na senda cíclica extra física, tudo aquilo que é temporal fica para trás. Assim como há cadáveres físicos, há cadáveres astrais. Quando a mônada abandona o plano físico, devolve seu veículo físico ao mundo que ele pertence; quando deixa o plano astral e segue parao mental, deixa seu veículo astral no próprio mundo de Kama nos caminhos do plano mental até seu retorno ao plano físico. Os cadáveres astrais são como os físicos, que, embora demorem mais tempo para desintegrar, permanece sob as forças das correntes astrais.
— São os Cascões Astrais, invólucros desprovidos de vida sob a ação do mundo invisível, até que sejam dissipadas as densificações energéticas que lhe deram a forma — finalizou o Mestre.
Esta ação do mundo invisível é que veremos a seguir no estudo dos cadáveres astrais, também chamados de “Sombras”, ou simplesmente “Cascões Astrais”.
O Período de Existência no Plano Astral.
Conforme vimos em textos anteriores, o período em que o ser permanece no “mundo de Kama” é muito maior que o período de vida no Plano Físico, havendo uma certa proporcionalidade do tempo em que viveu na dimensão física e o período de permanência no Plano Astral — um indivíduo que viveu poucos anos no físico, permanecerá, via de regra, pouco tempo na dimensão kamásica. Quando a população total da terra era de poucos milhões de indivíduos, o período de permanência astral atingia vários séculos — na Doutrina Secreta fala-se em cerca de mil anos — Devido ao crescimento populacional, onde a população terrestre atingiu a cifra de bilhões — hoje por volta de 8 bilhões de habitantes — a permanência no astral perdura pouco mais de um século, devido ao grande número de nascimentos. Sendo que, a tendência futura, no entanto, será de aumento gradual da permanência, devido à queda do índice de natalidade — um fenômeno recente na maioria das nações do planeta.
Independentemente do tempo mais longo ou mais curto no Plano Astral, o indivíduo, antes de regressar à vida física, passa para o plano mental, deixando seu corpo astral, o qual permanecerá se degenerando no astral à semelhança da degeneração física. O tempo de desvanecimento do corpo astral é muito maior que o tempo de desintegração do corpo físico, ficando tal corpo sob os eflúvios das correntes astrais.
Características dos Cascões Astrais:
O que ocorre nas Sombras, ou Cascões Astrais é que, por se tratar de energias sutis que compõem a sua estrutura, permanece nele resquícios de vitalidade que o animou em tão longo período, que confere uma tênue animação deste — seria a memória vital ectoplásmica sem o elemento espiritual consciente.
É muito bom salientar aqui algo falado por alguns autores: a Sombra, ou Cascão Astral, não provém do “Corpo Etéreo” — já amplamente descrito em textos anteriores — mas do corpo astral. O corpo etéreo se desfaz muito rapidamente após o desenlace físico, tempo que, segundo alguns mestres, não ultrapassa algumas semanas — o qual é percebido, por alguns sensitivos, nos cemitérios junto ais túmulos dos recém falecidos; não se tratando, na grande maioria dos casos, da alma dos falecidos, a qual normalmente permanece muito além do ambiente vazio e sombrio das necrópoles.
O Cascão Astral, por se localizar nos locais mais densos do plano astral — devido à maior densidade energética de sua estruturação — é de maior acesso aos sensitivos e aos trabalhos de atração e plasmação espiritual. Muitas aparições, que os portadores de afinidades extra físicas observam, nada mais são que Cascões Astrais, desprovidos de vida e alheios à comunicação. Quando acessados em trabalhos espirituais podem até responder, devido à memória vital ectoplásmica que permanece em sua composição. Porém, suas respostas vêm compreendidas em um torpor, uma lentidão sem expressividade. Passarei aqui a existência por nós elaborada, durante um acesso a um Cascão Astral durante um ritual de banimento Teúrgico.
— A entidade que está presente tem um nome que possa se apresentar?
— Sim…
— Por favor, diga o seu nome!
— “José Carlos” (Utilizamos aqui um nome fictício diferente daquele mencionado durante a resposta).
— O que você quer, junto à pessoa X?
— Paz.
— Mas se ela é a pessoa que você amava você deveria ver que está prejudicando ela.
Houve um silêncio.
— Você sabe que já deixou o plano físico?
— Não.
— Você conheceu essa pessoa em vida. Diga o que ela representa para você.
— Caminho.
— Caminho de que?
— Da estrada de Agudos.
— Você conhece Agudos?
— Conheço.
— Já morou lá?
— Já.
— Se você for o José Carlos que ela conheceu, você nunca morou lá. Por que disse que morou?
— Não sei…
Após constatar ser um Cascão Astral, um verdadeiro “zumbi” do mundo espiritual, fez-se o procedimento do expurgo. O que é algo extremamente simples, pois é um resquício energético passivo e sem vontade própria — muitas vezes se aproximando da pessoa através da própria memória vital ectoplásmica.
Os Cascões Astrais vitalizados.
Há dois tipos de vitalização dos Cascões Astrais: aqueles que são ocupados por algum Elemental; e aqueles utilizados pelos Magos Negativos, ou Magos Trevosos em seus trabalhos de magia negra — os quais criam os Elementares (não confundir com os Elementais citados logo acima), para serviços de malignidade.
Em algumas ocasiões, um Elemental pode ser atraído justamente pela memória vital desses cadáveres astrais, para sugar esse resquício energético de magnetismo, ainda presentes nestes invólucros. Quando isso ocorre, o tempo de degeneração desses corpos se acelera, e, ao mesmo tempo ganha movimento e dinamismo proporcionado pelo Elemental que o utiliza como uma roupagem a perambular pelo astral.
Por essa razão, os rituais de invocação dos Espíritos Elementais requerem precisão absoluta — como o Ritual Completo dos Espíritos Elementais já descritos com todos os pormenores em nossos textos anteriores.
Esses rituais, que são a verdadeira iniciação de um magista, no domínio dos elementos, são assaz perigosos, devido à associação que esses seres podem, ocasionalmente, fazer com os Cascões Astrais. Pois um Elemental, provido de energia vital ectoplásmica, possui o poder de adentrar junto ao Duplo Etérico do indivíduo, juntamente com o cadáver astral em acelerado processo de desintegração, o que poderá levar o indivíduo a intensas perturbações, muito difíceis de serem sanadas — haja vista que os Elementais, especialmente os da Terra, quando carregados de energia, são como os Kama Rajas — também descritos em textos anteriores — que requerem extensos trabalhos de ritualística Teúrgica para o seu total banimento. Muitos indivíduos obsediados com tais seres padecerão intensos transtornos de ordem psíquica — alguns atingindo os lindes da demência.
Uma observação importante, que não poderia deixar de ser citada, é que, quando ocorre a presença de Elementais fortalecidos junto ao Duplo Etérico, poderão levar o indivíduo a transtornos obsessivos compulsivos.
No caso dos Magos Trevosos, estes trabalham junto aos Cascões Astrais, dando-lhes animação, através de uma revitalização e também da infusão de parte de sua própria consciência, tornando-os como se fossem seus servos teleguiados.
O trabalho desses magistas malignos se inicia no acesso a um Cascão Astral. Eles buscam nas correntes astrais esses corpos nas regiões mais densas do mundo astral. Como tais magos possuem enorme facilidade no desdobramento astral, não é difícil captar um cadáver astral nas regiões mais próximas do plano físico.
O Cascão Astral é muito mais denso quando os espíritos que os animaram também possuíam a energia mais densa. Um espírito mais evoluído, ou de nível mais elevado de consciência, possui seu corpo astral estruturado em energias mais sutis, e, logicamente, o cadáver astral, após o seu desenlace, terá sua composição também estruturada em energias mais sutis, o que não interessa aos Magos Trevosos — estes preferem os Cascões Astrais mais densos, especialmente os de maior concretude energética, como nos indivíduos altamente materialistas, nos criminosos, egocêntricos, naqueles em que os níveis de consciência não ultrapassam os interesses mesquinhos, muitas vezes eivados de hipocrisia e insensatez.
Após atrair tais cadáveres, os Magos Trevosos iniciam seus trabalhos de revitalização — têm preferência por aqueles recém desencarnados, por observarem ainda maior memória vital ectoplásmica — muitas histórias de rituais macabros, onde os cadáveres erguem-se das suas sepulturas, têm sua origem nesses rituais, que são reais e não tão incomuns como se pensa — muitos Magos Trevosos, na vida real, se dissimulam de religiosos, ocultando sua verdadeira essência maligna sob um manto de devoção e dedicação a doutrinas, dogmas e preceitos.
O ritual para energização desses cadáveres astrais se dá através de rituais onde são extraídas as energias, através de vapores de sangue sacrificial — normalmente são de animais, mas a maior força é diretamente proporcional a malignidade, não descartando, em muitos casos a utilização de sangue humano.
O Cascão Astral, após a ritualística macabra, recebe um rudimento de consciência, advinda do próprio mago, e se torna como “novos olhos” de seu mestre, executando as mais nefastas tarefas do interesse de seu dominador.
O Magista das Trevas utiliza seu “zumbi” astral para inúmeras tarefas, sempre dando suporte aos seus intentos perversos, sendo que a principal delas é atormentar seus inimigos, arruinando a vida deles através de uma forte obsessão, a qual poderá ocasionar acidentes, embaraços, loucura ou enfermidades. Outra tarefa dispensada a esses seres é o acesso à distância, tomando conhecimento de eventos, situações e circunstâncias através de “seus olhos” espirituais enviados para onde seus interesses possam estar em jogo.
Com esses seres o banimento ou o expurgo não são eficazes, pois uma vez banidos eles retornam através da vontade e dos desejos de seu “senhor”. Os trabalhos contra esses instrumentos das forças malignas, diferentemente do expurgo de entidades, é a sua desintegração, a qual se dá através de extensos trabalhos de ritualística Teúrgica, o que nunca é uma tarefa fácil, especialmente quando não se conhece o Mestre “encantador” de tais seres, pois cada mago tem sua particularidade.
É correto afirmar que nenhum desses seres, nem mesmo as piores intenções dos magos das trevas têm acesso e domínio sobre aqueles cuja essência está consubstanciada na Luz, no amor e na elevada espiritualidade — a água límpida de algum recipiente só se torna turva se houver sedimentos agitados por alguma força externa. Um recipiente de águas límpidas, sem sedimentos, jamais deixará sua limpidez.
Os Cascões Astrais diferem das “Formas Pensamento” — também descritas em textos anteriores — pelo fato dessas últimas serem criadas através da plasmação volitiva elaborada através da luz astral. Os Cascões Astrais são estruturas energéticas que existem no Plano Astral, por isso, quando vitalizados, possuem força muito maior que as Formas Pensamento, ou Kama Rupa, de maior habilidade e estruturação muito mais tênue, portanto, sem maiô e estabilidade. As Formas Pensamento, em inúmeras vezes, podem ser criadas através da própria sugestão do indivíduo, muito diferente do Cascão Astral vitalizado, seja através de um Elemental (quase sempre gnomos — elemento terra), ou através da magia negra.
É sempre importante lembrar que existem veículos que o Espírito utiliza para seguir seus caminhos nos diferentes planos de existência. Tais veículos são as energias dispostas nas densidades próprias de cada mundo. O Espírito atravessa os mundos em sua jornada rumo a auto realização, e suas “vestimentas” retornam aos recantos do Universo que nada mais são que as estradas rumo aos tabernáculos eternos.
É importante também dizer que são muitos escassos os materiais sérios que tratam da verdadeira espiritualidade. O conhecimento destas particularidades do astral e dos trabalhos energéticos é algo imprescindível aos seres humanos que desejam conhecer mistérios e redescobrir sua própria essência. Vamos, através de nossos textos, desbravando os lindes dos mundos imponderáveis, sempre na certeza de que o conhecimento do mundo espiritual é o verdadeiro caminho para a nossa casa paterna.
Paz e Luz