sexta-feira, 28 de abril de 2023

SIDDHIS — OS PODERES EXTRA FÍSICOS DA AUTO REALIZAÇÃO

                         



 

        Vivemos em um universo de infinitas possibilidades — esta é uma frase na qual todas as considerações devem ser evitadas, pois tanto a eternidade, quanto a infinitude — suas características essenciais e insofismáveis — permitem também infinitas e eternas abrangências.

 

        Os Siddhis são os excepcionais poderes paranormais atribuídos aos mestres do Yoga. Mais que isso, se referem aos fantásticos poderes de realização daqueles que alcançaram a elevação do seu próprio ser. Literalmente, Siddhi é uma designação sânscrita que significa "realização", "consecução", em sentido abrangente, seu significado se traduz em habilidade e poder espiritual, sendo amplamente difundido na literatura hinduísta assim como no budismo tibetano. Os efeitos alcançados através dos Siddhis desenvolvem-se com a evolução no "Sadhana", que veremos a seguir.

 

        Sadhana é uma palavra na língua sânscrita cujo significado é "prática espiritual", ou seja, o treinamento da mente, o exercício espiritual que se faz através da prática constante do Yoga.

 


        A meta fundamental do Yoga é o estado de Moksha, que é a libertação do ciclo das encarnações — a Roda do Samsara. Muitas são as práticas do Yoga, mas único é o objetivo de todas elas, aqui especificaremos o Raja Yoga baseado no Yoga-Sutra do mestre Patânjali. Esta possui 7 passos definidos para alcançar o oitavo e elevado estágio que é o estado de Samadhi, Que vem ser a unidade com o Espírito, o estado maus elevado de alto realização que o indivíduo Pó de alcançar enquanto inserido na condição humana.

 

        É fundamental que relembramos cada um desses passos para a compreensão do caminho que conduz à meta da auto realização.

 

 


                                                  Os 8 passos do Raja Yoga:

 

        São estes os Yamas, os Nyamas  os Assanas, o Pranayama, o Pratyahara, o Dharana, o Dhiyana e o Samadhi.

 

        Vejamos especificamente cada um deles:

 

      1.Yama: são as proibições essenciais aos discípulos que se propõem a trilhar os caminhos do Raja Yoga, e estas perfazem o número de cinco.

 

     Ahimsa: não matar. Neste quesito os mestres incluem a abstinência da carne, por esta razão a grande maioria dos yoguins é vegetariana.

 

     Asteyam: não furtar e não se corromper.

 

     Satya-vodi: não proferir mentiras, não ludibriar o semelhante.

 

     Bramacharya: este quesito é muito mal compreendido, pois bramacharya não consiste na abstinência sexual, e sim contra a promiscuidade — significando que o sexo deve ser um ato consubstanciado no amor, muito mais uma sacramentação que a satisfação dos instintos mundanos.

 

    Aparigrâha: não desejar as coisas do mundo — ou seja cultivar o desapego à materialidade. Aqui não se deve interpretar como um austero ascetismo, mas sim em buscar o essencial, deixando relegando a intenção do acúmulo de bens, se assenhorando da espiritualidade, se libertando da escravidão do apego à materialidade.

 

          


 

        2. Niyama: os niyamas, ao contrário dos Yamas, são as obrigações, as recomendações fundamentais no caminho da auto realização. E se consistem em cinco prescrições.

 

    Sâdhana, a pureza espiritual do discípulo, liberto de toda malícia e intenções egóicas.

 

    Santhosa, a alegria. Consiste em conceber o prazer e a satisfação de vivenciar a dádiva da existência, descobrindo a divindade existente em seu interior e no íntimo de cada ser. É o regozijo de ver e sentir Deus todos os instantes.

 

    Saucham: a serenidade — a quietude pacífica e pacienciosa em estar inserido na harmonia universal.

 

    Svadhyâya: o estudo. Aqui está a necessidade de adquirir o conhecimento, o qual assomado ao amor e à compreensão, engendra a sabedoria, essencial para o caminho do discipulado. Lembrando que as três chaves da sabedoria são: a humildade, o respeito e o discernimento.

 

    Ishwara Pranidhâna: Esta é a prescrição mais complexa e abrangente. Ishwara é a causa do universo e também o efeito. Ishwara é todo o universo e as suas manifestações — é o criador e mantenedor todo o sequenciamento cósmico. Nidhâna é uma designação sânscrita que significa "entrega" e "pra", adiante. Seria, pois, a submissão e aceitação das leis universais — a entrega do próprio ser ao Todo, à "divindade".

 

 


      3. Ássanas: aqui estão as posturas do Yoga, as quais se estabelecem no domínio do corpo físico, como uma etapa preparatória para os demais passos futuros.

 

      4. Pranayama: É a etapa que, muitas vezes, sozinha, pode conduzir o discípulo à iluminação espiritual. Foi amplamente descrita em um dos textos anteriores: "A Ciência Mística da Respiração".

 

      5. Pratiahara: Vem ser a etapa da abstração, do desligamento da mente dos próprios sentidos — o esforço interior, ou a atitude mental, para possibilitar o afastamento dos sentidos e do mundo exterior.

 

      6. Dharâna: Vem ser a concentração. Dharana é uma designação sânscrita derivada de "dhri" cujo significado é "reter", ou seja, "segurar". É, pois a ação de reter a mente em um unico e determinado ponto. É a base essencial pata o passo seguinte, o "Dhiyana".

 


      7. Dhiyana: Vem ser a meditação. É o estado em que o discípulo vivencia sua essência interior alcançando o discernimento de sua realidade plena — o estado de supraconsciência — a revelação da verdadeira essência daquilo sobre o qual se medita. Dhiyana é considerada, na literatura iniciática, "a chave que abre os portais sagrados" — onde a natureza real de cada coisa é revelada — o fluxo ininterrupto da corrente mental que descortina os grandes mistérios.

 

       8. O Samadhi: é a identificação com o divino, a consciência cósmica — "Sat Chit Ananda" a Consciência de Felicidade Absoluta — a plenitude absoluta, a "plenitude de vida" dentro de si mesmo.

 

 

        Na mitologia hindu:

 

        São oito os Siddhis essenciais na mitologia hindu, segundo a qual Ganesha e Hanuman eram os detentores dos "Ashta" Siddhis — oito poderes fantásticos.

 


        O primeiro deles era o "Mahima", a elevação ilimitada do próprio tamanho. O segundo, chamado "Anima", seria a diminuição do tamanho do próprio corpo até níveis subatômicos. O terceiro, "Garima", o aumento do peso do corpo até níveis incomensuráveis. O quarto, inversamente ao terceiro, o "Laghima", seria a diminuição do peso corporal até quanto desejasse. O quinto, chamado "Ishtwa", seria o domínio sobre a natureza. O sexto, denominado "Prapti", era o poder de deslocar-se através do espaço; o oitavo seria o poder de realizar os desejos do indivíduo.

 

        Todas as lendas hindus possuem um contexto simbólico, muitas vezes profundo demais para a interpretação dos homens leigos, tendo seu verdadeiro significado conhecido exclusivamente pelos "Brâmanis", a casta sacerdotal do hinduísmo.

 

        No contexto do Yoga os Siddhis se diferenciam amplamente do contexto lendário. Segundo o Baghavata Purana, os Siddhis são em número de cinco.

 

        O primeiro é o conhecimento do presente e do passado, que, formando uma equação, poderiam ser visualizadas também as tendências futuras. O segundo a tolerância ao frio e ao calor extremo. O terceiro, de não ser dominado por qualquer indivíduo comum. O quarto, o poder da leitura dos pensamentos. E finalmente o quinto a insusceptibilidade ao fogo, a água e aos venenos.

 


        De volta a Patânjali, no Yoga-Sutra, este argumenta que os Siddhis — além do Samadhi — podem vir através do nascimento (prática de vidas anteriores), de determinadas poções (podemos citar aqui a bebida sagrada "Soma", descrita no Rig Veda e na vasta literatura Teosófica) e também através de determinadas vocalizações mântricas.

 

        E o mesmo autor especifica outra série de poderes, tais como, o conhecimento do passado e projeção futura; o conhecimento das vidas passadas, próprias e dá a outras pessoas; ler os pensamentos; amplificação da força como dos grandes animais; conhecimento dos astros e suas interpretações; invisibilidade (suspensão da perceptibilidade visual); conhecimento da estrutura corporal e funcional de cada ser; previsão do desenlace físico próprio e de outras pessoas; domínio dos elementos; levitação e deslocamento no espaço.

 

        Quando a pessoa atinge níveis elevados de espiritualidade — o estado de Samadhi — os poderes sobre a natureza começam a serem alcançados, não de maneira abrupta — sabemos que a natureza não dá saltos, assim como todas as suas particularidades, que vão se desenvolvendo gradualmente. Tais poderes se desenvolvem de acordo com as potencialidades presentes em cada indivíduo. No homem habita a centelha divina, e nela reside a plenitude do amor, da luz e do poder. O Prana — que já vimos em textos anteriores — é carregado através dos Nadis, "Píngala" e "Ida", na alternância do Pranayama, fazendo com que o Kundalini seja despertado no Chakra Raiz ou Muladhara. Através do Nadi "Sushuma" esta energia ascende, passando pelo Seadhistana, o Manipura, até o Anahata, o Chakra Cardíaco, desenvolvendo as propriedades de cada um deles, e a partir deste último, ascende aos Chakras Superiores, cada um deles conferindo percepções astrais. No Vishuda, Chakra da Tiróide, confere a audição astral. Acima deste, no Ajnã a visão astral, e, no superior, Sahashara a plena percepção e a consciência cósmica. A partir daí surgem-se os poderes, fluindo cada vez mais nos corpos energéticos do yoguim.

 


        Sabemos que o estado de Samadhi é uma identificação com o Todo, com a própria divindade. Sendo dessa forma, aquele que atinge tal grau de auto realização, ou melhor, dizendo, de iluminação, já suprimiu o ego, e, por esta razão não tem necessidade alguma de demonstrar os poderes alcançados, sejam eles de pequena ou grande dimensão. Por isso tais atributos são poucos, ou quase nada conhecidos pela humanidade em geral. No entanto, são inúmeras as pessoas, que se autodenominam magos, que demonstram seus poderes e habilidades pelo mundo, especialmente no subcontinente indiano — muitos destes chamados "faquires".

 

        A pergunta que pode surgir é como tais pessoas, que fazem dos poderes espetáculos, com exaltação do ego, atingiram o estado de Samadhi?

 

        A realidade é que não atingiram o estado de Samadhi, simplesmente alcançaram determinados poderes através do "tantra" e ou do uso do "Pranayama". Se os poderes extra físicos fossem todos dependentes do estado de Samadhi só existiriam os magos da luz, e não existiriam os magos das trevas.

 

        Os oito passos do Raja Yoga são essenciais para que se atinja o grau máximo de iluminação. Muitos são aqueles que, sem um preparo espiritual,  desenvolvem seus poderes despertando o Kundalini. Este é despertado tanto pelo "Nadi Shodana Pranayama", quanto pelo "tantra", e cada um deles necessita de uma forte base de espiritualidade para que tais poderes sejam direcionados para o bem, para a luz.

 

        É importante dizer que, muitos daqueles que não atingiram o estado de Samadhi, mas adquiriram poderes extra físicos, pensam estar fazendo o bem — e este é o grande problema dos Magos das trevas — e não sabem que são das trevas e praticam o mal — tomam o mal por bem e o bem por mal.

 


        No livro "A Índia Secreta" de Paul Brunton, o autor revela experiências fantásticas observadas entre os magos indianos. Também no livro "Adonai", de Jorge Adoum, o "Mago Jefa", há a indignação de um mago da luz contra outro mago, quando este brincava com seus poderes fazendo demonstrações fantásticas elevando e diminuindo o seu peso corporal.

 


        São inúmeros os casos, acompanhados por cientistas de universidades de renome internacional, onde magos hindus, inexplicavelmente, são mantidos sem ar pelo tempo incompatível à manutenção da vida humana, e voltam ao seu estado natural em perfeitas condições físicas e mentais.

 

        Na obra "Auto Biografia de um Yogue", de Paramahansa Yogananda, além de inúmeros outros casos fantásticos, ele visita uma indiana que simplesmente vivia do Prâna, sem se alimentar por anos.

 


        Inúmeros são os casos, absolutamente comprovados, da existência de poderes extra físicos alcançado pelos homens. Estes, porém, demonstrados a público, certamente são efetuados pelos "menores", simplesmente porque os "maiores" guardam seus poderes para que, silenciosamente, possam atuar pelo bem da humanidade.

 

        Como vimos, em inúmeros textos anteriores, os seres humanos possuem sete corpos, a saber: o físico, o etéreo, o astral, o manas inferior, o manas superior, o búdhico e o átmico. Se possuirmos os corpos superiores, é porque estão latentes em nosso ser toda sua essência assim como seu poder, uma vez que o átmico — corpo correspondente à centelha ou essência divina, princípio fundamental e transcendente no gênero humano — possui seu aspecto divino projetado ao Jivatman (visto no texto anterior). Os poderes estão em nós. Como disse um de nossos sábios: "não somos uma gota d'água no oceano, mas um oceano em uma gota d'água". Assim como estamos inseridos no universo, o universo está em nós. Mesmo Jesus Cristo, em seus ensinamentos, enfatizou assistência tais poderes presentes no homem: "Tudo é possível a quem tem fé" — Marcos 9,23.

 

        Paz e Luz