segunda-feira, 17 de outubro de 2022

AS "LEGIÕES" ASTRAIS — O DISCERNIMENTO DAS ENTIDADES ESPIRITUAIS.

 

 

 

         

 

 

                                                        

 


                                                       AS LEGIÕES ASTRAIS.

 

        Conhecer a fundo os seres astrais é de fundamental importância tanto para os magistas e místicos quanto para todos os demais espiritualistas em suas mais diversas vertentes. Porém, neste texto não ficaremos a diversidade dos seres que comungam suas existências no mundo de "Kama", pois já discorremos amplamente sobre o assunto em textos anteriores. Veremos aqui a natureza espiritual dos grupos de seres que atuam coletivamente nesse plano de existência, os quais muitas vezes são creditados como um único ser para a maioria das pessoas não aprofundadas nos arcanos esotéricos.

 

        Parafraseando a assertiva hermética da correspondência: "Aquilo que está em cima é como o que está em baixo e aquilo que está em baixo é como o que está em cima", veremos que, assim como no plano físico, onde um líder, ou um representante, responde por uma agremiação, um grupo, um partido ou toda uma nação, como no caso de um presidente ou primeiro ministro, no astral uma entidade responde por um enorme grupo de espíritos coligados, os quais tomam pata todo o conjunto nomes diversos, muitas vezes como um ser famoso, um mestre ascensionado, um deus ou um nome de alguma figura arquetípica de uma determinada crença, ou até mesmo de algum nome de demônio ou uma representação ligada à um determinado propósito no mundo astral.

 

        Este assunto é extremamente importante para todos aqueles que se propõem, não apenas à amplificação de seus conhecimentos místicos, mas obter o amplo domínio das práticas esotéricas, desembaraçando-se de todos os entraves e obstáculos astrais ocultos, fazendo com que seus propósitos e metas fluam de modo favorável dentro do mundo invisível.

 

        Os maiores embaraços no mundo espiritual são o medo, o desconhecimento e a insegurança além dos limites da existência física. As correntes astrais são análogas a um rio, que começa sua trajetória ante uma vertente lamacenta, que, ao prosseguir sua trajetória, insurge-se como um tênue grotão, aumentando gradualmente as suas águas, até que se tornam mais e mais profundas, até o momento em que se faz impossível caminhar sobre seu leito, devendo seguir seu percurso a nado. O estudo das entidades espirituais coletivas são as águas mais profundas, onde é necessário que se saiba nadar sobre elas, para que não venha a se afogar sob a veemente força de seus turbilhões.

 

        Essas "entidades" grupais congregam maior e mais potente força à medida que o número de seus componentes se eleva. Podemos até lançar como exemplo a passagem dos evangelhos de Marcos capítulo 5, versículos de 1 a 20, e de Lucas, capítulo 8, versículos 26 a 39, que discorre sobre o "endemoninhado gadareno", o qual sob o domínio de seres espirituais, possuía a inusitada força de romper cadeias e grilhões, e andava rondando os cemitérios e lugares inóspitos. No momento em que Jesus com ele se defrontou, iniciando seu banimento, perguntou-lhe o nome, o qual respondeu ser uma legião, um grande agrupamento de seres, e por esta razão, sua força prodigiosa e a incapacidade de que fossem expurgados do corpo daquele homem, o qual se restabeleceu plenamente após a libertação. Nestes versículos podemos ver claramente a potencialidade manifesta através de um grupo de espíritos atuando como se fosse uma unidade. E, geralmente, se potencializam as naturezas de seus indivíduos, no caso, se a natureza predominante individual é perversa — os grupos se alinham dentro dos mesmos níveis de consciência de seus asseclas — quando coletivo a perversidade será expandida a níveis cada vez maiores. É como uma torcida de algum time que parte para o confronto, no contexto grupal tenderá a ser muito mais violenta que um de seus indivíduos se agisse isoladamente.

 

        Assim como no plano físico, o embate frontal a esses seres sempre é desaconselhável, mesmo aos mais experientes magistas. As forças malignas do astral se engrandecem e se potencializam principalmente através do medo, pois o medo castra a própria fé. É essencial não dimensionar os atributos dessas entidades conjuntas. Todas essas forças nefastas se estruturam no próprio ego, e, nada pior para o ego que relegá-lo à inexistência. O poder das entidades coletivas, e mesmo dá a individuais, é anulado através da indiferença, como se não manifestassem a própria existência. Vamos citar aqui o exemplo do Vodu no Haiti, onde os feitiços, especialmente do envultamento só têm efeito após o alvo do feitiço tomar conhecimento que existe magia contra ele. Para isso colocam aviso na casa do indivíduo, que geralmente é um pé de frango amarrado com uma fita preta ou vermelha, assim como a cabeça de algum animal perfurada com agulhas. O detalhe curioso é que, aos ateus ou aos estrangeiros que não sabem do que se trata, não surte efeito algum, porque simplesmente desprezam ou até riem dessas práticas. A indiferença e o destemor enfraquecem a operância maligna dos seres trevosos do mundo espiritual, cujo detalhes daremos a seguir.

 

 

 

            


 

 

                                              Como são formadas as "Legiões"

 

        Assim como no plano físico, onde existem clãs, grupos, facções, confrarias e governos, no astral não é diferente, especialmente dentro das frequências mais baixas do "mundo de Kama".

 

        Um exemplo que podemos dar vem ser o dos nazistas mortos durante a derrota do Terceiro Reich. O fanatismo e o idealismo não são suprimidos com a morte física. No astral, grupos afins acabam se unindo através da sintonia de suas frequências. Enormes grupos fascistas, presentes na segunda guerra, permaneceram unidos no mundo espiritual, assim como suas vítimas e também seus adversários, tanto do Leste quanto do Ocidente do continente europeu, prosseguindo, embora de maneira muito diferente, seus embates e suas divergências presentes enquanto inseridos em seus veículos de manifestação física.

 

        Logicamente cada grupo se estratifica segundo pontos específicos de consonância e afinidades, nascendo grupos mais coesos agindo como se fossem um indivíduo isolado.

 

        Assim também se formam os grupos religiosos, os grupos raciais, os grupos submissos a alguma casta espiritual de líderes, reis ou mestres de irmandades místicas.

 

        É possível, em alguns tipos inusitados de rituais, estabelecer diálogos com certas entidades que atendem pelo nome de Lúcifer, Lilith, Asmodeu, etc…

 

        Mas será que existem realmente essas entidades individuais no astral?

 

        Primeiramente Lúcifer nunca foi o nome de qualquer entidade, mas sim um título, como discorreremos a seguir, assim como os inúmeros nomes de demônios e títulos dos quais as legiões se utilizam para denominar suas falanges astrais.

 

        Lúcifer, como o próprio nome já denota, do latim significa "o portador da luz", tanto que é associado à "Estrela da Manhã", o Planeta Vênus — Fósforo para os gregos — que expõe sua luminosidade mesmo depois que a escuridão da noite se dissipa. Associado a este planeta, era, entre os romanos, associado às divindades celestes no período clássico desta civilização, considerado um deus, posteriormente na medida em que os astros tomavam corpo no encadeamento astrológico no Império.

 

        A partir de então poderemos ver a origem da grande maioria dos "demônios" nas civilizações que surgiram e desvaneceram na superfície da Terra. Quando uma civilização conquistava ou sobrepujava outra civilização, os deuses destas últimas já não eram mais deuses, e sim demônios, assim intitulados pelos seus conquistadores. Lúcifer, inicialmente um título de sabedoria, transformou-se em Deus com o passar do tempo, e, com o advento do cristianismo tomou a figura do príncipe dos infernos.

 

        No livro de Isaías, capítulo 14, versículo 12 assim diz, referindo-se ao rei da Babilônia: "Como caíste do céu, ó "estrela da manhã", filha da alva! como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações". E prossegue até no versículo 15 assim se referir: "E contudo levado serás ao 'Sheol', ao mais profundo dos abismos". (Sheol vem ser a morada dos mortos, a região do esquecimento segundo a literatura hebraica). Vemos que aqui se refere unicamente a um inimigo do povo hebreu, tomado como Vênus — viam em Vênus uma luz menor que se insinuava entre uma luz maior do dia, o Sol, simbolizando Deus, tendo a luz menor de Vênus, como um arremedo, alguém que pretendia tomar o lugar divino, que no entanto, desaparecia no decorrer do dia, mergulhando novamente na própria escuridão, visto novamente no cair da noite.

 

        O cristianismo considerou estes versículos muito além de uma profecia contra um rei humano, transformando-a na mítica queda de Satanás (nome que simplesmente significa "acusador") do reino dos céus, transformando a denominação "Lúcifer" — a estrela da manhã, o Planeta Vênus — no príncipe dos infernos.

 

        Assim veremos também Asmodeu, um príncipe das hostes invernais, que nada mais é que uma versão demoníaca da deusa cananéia e fenícia Astarte. Do mesmo modo o temido Belzebu, que é Baalzebuth, onde há a aglutinação de dois deuses do povo conquistado de Canaã, Baal, sua principal divindade, da fertilidade e do ar atmosférico, e Zebuth, das moscas e das enfermidades, transformando-se em um mítico ser criado essencialmente pela imaginação humana sobre deuses das antigas nações camito-semitas.

 

        Não podemos esquecer Lilith, personagem do folclore judaico, assim como o Saci Pererê para os brasileiros, onde não consta em nenhum livro religioso, nem em comentários talmúdicos, e que, ganhou "existência" também na imaginação humana, e que, assim como as incontáveis hipotéticas divindades, se comunicam com os homens em rituais e invocações.

 

        Mas, se são hipotéticas e lendárias como se comunicam com os seres humanos?

 

        Assim como grupos, partidos políticos ou associações, onde pessoas afins se agrupam, no mundo espiritual ocorre da mesma maneira. Sigamos uma analogia: imaginemos que um grupo de pessoas, que deseja o ensino religioso nas escolas, se organize em uma associação e instituam como nome de seu grupo seja a sigla "Enrelig" — Ensino Religioso, e também organizem um conselho para o qual seja escolhido um porta-voz que expresse a público todos os anseios e decisões deste conselho. Alguma decisão que por ventura seja tomada pela maioria ou pela unanimidade do grupo com repercussão na mídia, será anunciada da seguinte forma: A "Enrelig" propõe que sejam analisadas as seguintes propostas… Certamente o porta-voz falará pelo grupo, e, da mesma maneira que no plano físico, no astral, uma entidade responderá e falará por toda uma corrente espiritual unida sob um determinado aspecto. Vejamos algo que ocorre: Um grupo de Kama Rajas (em textos anteriores já dissertamos amplamente sobre estes seres do mundo astral, não humanos — do sânscrito, "Os Reis do Astral", normalmente muito mais poderosos que os humanos desencarnados) se associa sob a denominação de Adramelek, nome de um lendário demônio das legiões infernais, e, em seus rituais de invocação façam favores aos seus devotos em troca de sacrifício de sangue de animais. (Neste exemplo seria em relação aos Kama Rajas não evoluídos que necessitam da energia do sangue para manter a estrutura astral de seus veículos kamásicos). Em meio a uma civilização de cultura judaico-cristã Adramelek soa como um nome muito sugestivo para expressar a sua própria natureza maléfica, mas normalmente esses grupos não estão restritos em um único país ou a um único continente. Em um país africano, por exemplo, ele teria outro nome relacionado à divindade africana também relacionada às mesma a práticas sacrificiais, para a qual adotaria os trejeitos e características peculiares ao determinado povo em que a entidade é invocada, valendo-se da versatilidade própria dos Kama Rajas, que atuam sempre seguindo as particularidades do povo que os evoca.

 

       Mesmo nos grupos de Kama Rajas há inumeráveis entidades humanas desencarnadas, seguidores desses espíritos que já foram os deuses e demônios da antiguidade.

 

        Vejamos outro exemplo de Kama Rajas mais evoluídos que, em meio ao contexto judaico‐cristão, poderá se apresentar com o nome de um anjo, e prestar favores e curas em troca de orações e oferendas pacíficas, como flores, velas ou incensos. Possivelmente dentro de alguma vertente da magia grega responderá pelo nome de um de seus antigos deuses, da escandinava da mesma maneira, assim como nas matrizes africanas por seus espíritos ou divindades. Até mesmo nas civilizações centro ou sul americanas podem responder pelos nomes indígenas ou mesmo alguma denominação popular em língua portuguesa ou espanhola, muito comum no Brasil e diversos países latino americanos. São nomenclaturas das mais diversas, incluindo, até mesmo, nomes de personagens históricos, vultos ilustres ligados à espiritualidade, mártires e religiosos de vida terrena abnegada. No continente asiático da mesma forma, isso explica como entidades com o mesmo nome podem atuar ao mesmo tempo em inúmeras cidades, regiões e países diferentes, modificando suas denominações somente quando a cultura de um povo se diferencia da de outro povo.

 

        As correntes espirituais humanas também se formam amplamente no mundo astral. Um grupo espiritual pode assumir o nome de uma determinada pessoa, e atender simultaneamente inúmeras disposições em lugares diferentes. Por esta razão, determinada entidade que tenha, por exemplo, o nome de Doutor Fulano, pode estar, ao mesmo tempo, diligenciando em São Paulo, Recife ou Fortaleza, ou até mesmo incontáveis locais dentro ou fora de um país.

 

        Recentemente um místico, com qual mantemos laços de amizade há mais de três décadas, estabeleceu um diálogo com uma "entidade" que atende por um determinado nome muito conhecido nos meios espiritualistas. Inicialmente ele notou que uma individualidade espiritual falava por dezenas que com ela formava um imenso círculo, perguntou em seguida se era ele quem sempre falava pelo grupo. "Certamente que não" — Respondeu a entidade — "Nem mesmo teria condições para estabelecer tantos contatos. O círculo que você pode ver são todos os nossos interlocutores que estabelecem contato em inúmeros locais diferentes, muitas vezes em tempo concomitante". Em seguida ele perguntou se eles mesmos faziam a assistência espiritual às quais eram solicitados. A entidade então lhe respondeu: “Muitas vezes sim, porém, dispomos muito mais de 'obreiros' que interlocutores, os quais, dentro das possibilidades, auxiliam as pessoas em suas necessidades e tribulações". Fez ele então a terceira pergunta: "Existem apenas espíritos desencarnados entre vocês ou há também entidades não humanas?" "Entre nós existem apenas espíritos humanos desencarnados, mas não haveria problema algum se em nosso meio houvesse também os 'Díspares' (por esta denominação ele faz referência aos Kama Rajas, que também em outros círculos já foram citados pelo nome de 'encantados'), que atuam em conjunto com outras correntes espirituais juntamente com os humanos desencarnados". Fez então uma última pergunta, se havia diferença entre grupos mistos de humanos e Kama Rajas e grupos exclusivos de Kama Rajas. "Existem diferenças quanto ao poder de atuação" — Respondeu a entidade — "Os 'Díspares' têm este nome justamente atribuído ao seu próprio poder atuante, superior aos humanos. Para que um grupo, composto exclusivamente por humanos, tenha poder equivalente a um grupo de 'Díspares', necessita de um número muito maior de componentes, dez a vinte vezes maior. Os grupos mistos normalmente têm os 'Díspares' como obreiros, já que existe uma dificuldade maior na comunicação destes com os humanos encarnados, e seu poder de ação é inúmeras vezes maior. Já os grupos exclusivos de 'Díspares', são significantemente menores, e normalmente respondem pelo nome de Bodhsattwas na Ásia, deuses pagãos na Europa, ou de nomenclaturas regionais, em grupos de matrizes africanas e ameríndias, pois esses espíritos possuem a capacidade de se expressar sob os aspectos peculiares de cada cultura, porém, seus 'cavalos' ('cavalos' tem aqui o significado de médiuns) devem ser iniciados dentro do sistema mágico que estão inseridos, devido à dificuldade que esses seres têm em se aproximar do plano físico sem que determinados 'portais' sejam abertos".

 

        Conhecemos outro místico que estabeleceu contato com tipos diferentes de Kama Rajas em canalização teúrgica. Quando estabeleceu contato com um Kama Raja evoluído e perguntou o porquê das oferendas de incensos, velas, flores ou caridade em troca de seus serviços, estes lhe responderam que, as energias emanadas através de tais propiciações servem para manter o corpo energético no astral de tais seres, ao passo que, à mesma pergunta feita aos Kama Rajas trevosos que se apresentam co o demônios, quanto aos sacrifícios de sangue, assim como oferendas ligadas à dependências e vícios (álcool, fumo e outras substâncias nocivas), estes responderam que eram, também, para manter as energias estruturais de seus veículos astrais, pois uma vez o corpo astral desintegrado, perderiam seu vínculo peculiar a este plano, caindo diretamente nos submundos astrais, perdendo acesso ao plano físico.

 

 

 


A Relação das Legiões Astrais aos Seres Presentes no Plano Físico. Os Pactos e Alianças. O Domínio Sobre as Entidades Coletivas.

 

        Costuma-se a acreditar, nos meios espiritualistas, que o astral não tem interferência direta sobre o destino do plano físico, no entanto, é importante ressaltar que a diferença entre o astral e o físico se dá apenas em nível de frequências, a primeira mais sutil, a segunda mais densa. É sempre muito difícil a aceitação de que os planos espirituais não são locais, mas estados diferentes de vibração, permeando-se em um mesmo contexto de existência. "Aquilo que está em baixo é como o que está em cima" — reza o postulado hermético. Assim como nossos amigos, parentes, o ambiente de trabalho, e o conjunto de informações advindo dos meios comunicativos exercem algum tipo de influência sobre nós, as energias astrais sutilmente influenciam nossas ideias e informações. Insights, compulsões, estados de espírito, ímpetos e afloramentos de sensações podem ser advindos por intermédio das energias astrais nas quais estamos envolvidos. Carregamos o corpo, como nosso veículo e componente físico e nossos pensamentos como contraparte espiritual. Somos, pois, densidades e sutilezas entremeadas dentro da dicotomia espírito e matéria (apesar de que a diferença entre espírito e matéria se dá unicamente a nível de densidade e condensação energética). Existem pessoas extremamente influenciáveis às correntes astrais, outras parcialmente, e outras minimamente, porém, todas possuem níveis de conectividade com o mundo sutil que as envolve. Nestes níveis de conectividade é que são expressas as afinidades extrafísicas — a chamada mediunidade — diretamente proporcional aos graus de influência anteriormente citados. O astral mais elevado, através de suas legiões direcionadas à evolução, podem influenciar grupos e indivíduos para predispor interesses positivos à redenção da humanidade. O astral, representado pelos grupos contrários à regeneração humana, pode influenciar, da mesma forma, grupos e indivíduos para interesses contrários aos processos evolutivos, essenciais para manter o poderio de antigos grupos que compartilham o poder e o domínio das elevadas esferas de poder mundial. Este último aspecto merece uma atenção especial no estudo deste contexto sobre as Entidades Coletivas.

 

        As elevadas esferas do poder mundial: Desde a mais remota antiguidade, no tempo em que os humanos se reuniram em clãs, surgiram-se os líderes, e, à medida que se estruturava a sociedade e já se encetavam a formação de reinos e nações, as lideranças que prevaleciam davam início a uma nova casta espiritual ligada à ancestralidade — a casta dos líderes guerreiros, os futuros monarcas que se engrandeciam conforme o prolongamento de suas dinastias.

 

        Algumas nações, sob o resultado das mais variadas circunstâncias, cresciam mais que as outras, aumentando seu poder, tanto econômico quanto bélico, absorvendo as nações menores e mais frágeis ao seu contorno, surgindo o rudimento dos grandes impérios, que acabariam por se estabelecer ao longo da história da humanidade.

 

        Como citado anteriormente, “o que ocorre no físico também tem sua ocorrência no astral e vice-versa”. Da mesma forma que se formaram as famílias monárquicas imperiais no plano físico, formaram-se também a sua sequência no mundo espiritual, com todo seu poder, sua influência e sua dominância sobre vastas regiões de toda a nosso orbe. Tais "conglomerados espirituais", à medida que as sociedades humanas se transformavam, deixaram as orientações imperialistas de essência tribal do passado, para adquirir outro aspecto de domínio, controle e manutenção de seu, podemos dizer, "establishment", que é o poderio econômico, protegido pelo próprio sistema consolidado através do contexto humano estruturado na ganância e no individualismo. A grande batalha espiritual travada, tanto no mundo físico quanto no mundo espiritual, é pela manutenção do pode e desses grupos privilegiados, contra os grupos que buscam o fim da opressão e a libertação dos oprimidos. Lembremos que entre os mistérios da reencarnação está o DNA astral — seguindo o princípio da correspondência do DNA físico — os espíritos reencarnam, via de regra, em seus próprios clãs, famílias e nações.

 

 

 


                                                           Os pactos e alianças.

 

        Não são poucos aqueles que fazem pactos com as poderosas forças negativas do plano espiritual. Como citamos anteriormente, determinados grupos detêm o poder desde a formação dos grandes impérios, e as legiões espirituais ligadas a eles dispensam seus favores àqueles que se submetem aos seus propósitos. Na semelhança com o plano físico, é como que um apadrinhamento, a pessoa recebe regalias e proteção dando como moeda de troca a sua total submissão, sob a severa pena de ser lançada no "limbo espiritual", as prisões astrais onde o tempo rasteja sob os referenciais do isolamento.

 

        Temos uma demonstração deste poder nos próprios evangelhos:

 

        "E o diabo, levando-o (a Jesus Cristo) a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, é dou-o a quem quero; Portanto, se me adorares, tudo será teu". (Lucas, 4, 5 a 7).

 

        Trata-se, logicamente, de um texto simbólico, o qual, no entanto, não exige grandes noções de exegese para sua lógica interpretação. Vemos aqui o "poder" espiritual, dominante no mundo, sugerindo um pacto de adoração e subserviência em troca de riquezas, poder e notoriedade. Mesmo nos dias atuais, embora esse poder tenha sido mitigado ao sabor das sendas evolutivas, permanece ainda dominante sobre a essência da materialidade física, tanto no âmbito político econômico quanto em grande parte das instituições religiosas, onde a hipocrisia substitui os verdadeiros propósitos do amor e da fraternidade, pela intolerância e a exaltação do individualismo — diferente daquilo que muitos acreditam, a grande batalha espiritual do mundo não se dá entre o bem e o mal, uma vez que ambas são gradações de uma mesma grandeza, o que presenciamos é o grande embate entre a verdade e a mentira, as quais não é algo tão simples de se diferenciar, uma vez que a mais persuasiva das mentiras é justamente aquela que possui a forma de verdade.

 

        Quase todas as pessoas já ouviram falar de "pactos con o diabo", o que existe é justamente o pacto com as grandes legiões ligadas aos poderes presentes no mundo espiritual. O que nos perguntaram certa vez foi: "E por que os poderes supremos do amor, da Luz e da sabedoria não intervêm e destroem os poderes das trevas presentes no mundo?" A resposta é que a luz nunca se impõe sobre as trevas. A luz preserva o direito ao sagrado livre arbítrio de cada ser para caminhar segundo sua própria consciência. Não são através do condicionamento ou imposição de leis que irá desabrochar a consciência de um indivíduo. O libertador de cada ser não será jamais um agente externo. As coisas externas são apenas indutores nos caminhos da regeneração. O grande libertador é o poder intrínseco de compreensão existente em cada mônada, pois os níveis de consciência se elevam apenas através da própria consciência individual, e não através de sacrifícios alheios. O grande exemplo crístico, ao contrário do que se propaga, não se dá através de sua morte, mas através de seu exemplo de vida, pois seu próprio sacrifício é a "exteriorização" de seu propósito libertador.

 

        Todo e qualquer pacto se estrutura no individualismo daquele que anseia pela grandeza. Ainda que existam diversas formas de estabelecer um pacto, o mais comum ainda se estabelece através da "magia das trevas", nos rituais macabros onde sempre são exigidos os sacrifícios de sangue. O preço, no entanto, a pagar, costuma não compensar os ilusórios prazeres momentâneos.

 

        Existem alianças que se fazem com os seres espirituais mais evoluídos, as quais diferem dos pactos justamente porque o pacto pressupõe algo peremptório, inquebrantável sob penas severas. As alianças predispõem um caráter mais ameno, cujo rompimento não traz malefícios além da supressão das vantagens por ela postulados. Nestas não são necessariamente estabelecidos rituais, pois uma "promessa" feita fervorosamente constitui uma aliança com os seres espirituais assim conclamados. Muitas vezes as alianças são estabelecidas através de atitudes preliminares que referendam a boa disposição da fé do postulante. Um exemplo vívido é a promessa a Abraão, após ter submetido a vida de seu próprio filho ao sacrifício, interrompido pela intervenção dos elevados seres que permeavam seus caminhos. Normalmente estas associações com seres evoluídos têm seus propósitos direcionados a um ideal coletivo, e não a anseios individuais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

                                                 O Discernimento dos Espíritos.

 

        Antes de adentrarmos nestas considerações essenciais dentro do ocultismo, convém aqui salientar que distinguir o verdadeiro do ilusório é o maior desafio nas práticas esotéricas. Pois exige uma extensa amplitude de visão espiritual, ou seja, a vivência da própria espiritualidade, muito acima da hipocrisia comum àqueles que presumem de si mesmos como guardiães da fé, da moral e do conhecimento.

 

        As chaves da verdadeira espiritualidade são três: a humildade, o respeito e o discernimento. A espiritualidade é a própria senda da sabedoria, pois sem ela todo o conhecimento se torna vazio.

 

        O indivíduo que se propõe a adentrar nos insondáveis arcanos da sabedoria ancestral e não sabe discernir perfeitamente os espíritos, ao invés de senhor das energias se tornará escravo, ao invés de estabelecer o domínio das forças invisíveis será dominado, joguete das forças mais nefastas de controle mental.

 

        Cabe aqui ressaltar que este conhecimento não está restrito aos seres desencarnados. É fundamental que se conheça espíritos, no plano em que possam estar. Pois os perigos de não reconhecer as forças negativas astrais é o mesmo de não distinguir as forças destruidoras existentes no plano físico — o princípio hermético da correspondência indica-nos a necessidade de distinguir, cada ser, em qual veículo esteja em manifestação, seja astral ou seja físico. Lembremos que as piores atrocidades perpetradas pelos homens se deram através da ignorância, tomando como luz as trevas e como trevas a luz, incidindo nos mais horrendos crimes pensando estar servindo a Deus. Quem conhece a história da "Inquisição" sabe muito bem do perigo da falta de discernimento.

 

        Existem algumas instruções espiritualistas que colocam a linguagem como fator de diferenciação entre seres espirituais evoluídos e seres espirituais atrasados. Isto poderia apenas servir para descartar algumas entidades mais grotescas, mas não classificar os seres de luz em comunicação com o plano físico.

 

        As entidades mais perigosas do astral são justamente aquelas que possuem elevado nível de conhecimento e cultura. Diferenciar as entidades segundo este critério é, simplesmente, desconsiderar a astúcia das mais poderosas forças de negatividade. Devemos ter em mente que o pior dos criminosos é justamente aquele que não traz traço algum de sua iniquidade. Um inimigo camuflado sempre será muito mais perigoso que um inimigo explícito.

 

        Há pessoas que não precisam de técnica alguma para discernir espíritos — considerado nos evangelhos como um dos nove dons do Espírito Santo.

 

        Observemos o que diz o apóstolo João sobre o discernimento dos espíritos: "Amados, não creiais a todo o espírito, mas provei se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo". (1 João 4, 1 a 3).

 

        Para entender este método bíblico de distinção é necessário que se entenda o que significa "vir em carne". Ora, ao pé da letra não faria sentido algum: imaginemos qualquer entidade perversa se questionada se Cristo veio ou não em carne… ela, conhecendo a natureza do teste diria simplesmente: "Sim, veio em carne". E seria simplesmente qualificada como uma entidade de luz. Por esta razão, ao pé da letra esta consideração não faria sentido, como qualquer leigo poderia constatar. "Vir em carne" significa a redenção espiritual do gênero humano — a unção do espírito vivificante sobre a alma vivente" — lembremos que "Cristo significa Ungido". "Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante". (1 Coríntios 15, 45). Testificar que "Cristo veio em carne" não é o simples pronunciamento de uma frase feita, e sim a vivência de um paradigma espiritual de luz. "Mas não é o primeiro o espiritual, senão o animal: depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor é do céu. Qual o terreno, tais são também terrenos; e, qual o celestial, tais também os celestiais" (1 Coríntios, 46 a 48). Aqui o escritor bíblico assevera a transformação, o mortal revestido do espiritual — a auto realização advinda do novo nascimento na espiritualidade. A entidade não é reconhecida pela emissão de palavras, mas pela sua essência abnegada advinda atravessa supressão de seu próprio ego. Falar com um ser de luz é como se entabulasse uma conversação com o Todo, pois o interlocutor não é mais uma pessoa aprisionada no ser individual, mas um ser que respira, vive e sente as dores do mundo, na mais plena empatia com o sequenciamento universal. "O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde ele vem, nem para onde vai, assim é todo aquele que é nascido do Espírito". (João 3, 8).

 

        Ele não tem mais passado nem um futuro, vive na eternidade, no "Agora", permeando o infinito, muito além do que seria a restrição individual.

 

        Voltemos agora às três chaves da espiritualidade: a humildade, o respeito e o discernimento. Estes três pontos são essenciais para analisar o grau evolutivo dos seres, tanto encarnados quanto desencarnados.

 


        Humildade é uma palavra advinda do antigo latim "humus", cujo significado vem ser "terreno fértil". É, pois a terra arada, promissora para o plantio da semente, a seara espiritual na esperança da futura messe. Explicita a virtude sublime de reconhecer as suas limitações e suas insuficiências e agir em concordância com esse nível compreensão.

 

        Mesmo os mais elevados seres de luz são cônscios de sua insignificância em relação ao Todo, e sabe que quanto mais avança em sua plenitude espiritual, mais integrado se faz ao próprio Todo, como um rio que lentamente conflui suas águas no oceano. Se faz também consciente que toda a sua sabedoria, não passa de uma pequena gota d'água dentro desse imenso oceano das águas purificadoras.

 

        Certa vez um velho mestre e um de seus discípulos foram convidados a assistir o pronunciamento de um ilustre magistrado. Assim que se acomodaram na assistência o discípulo perquiriu o velho mestre: "Mestre, há algum modo de conhecermos o nível espiritual de uma pessoa através de suas próprias palavras". "Claro que sim" — Respondeu o vetusto sábio — "Conte quantas vezes ele profere as palavras 'eu', 'meu' e 'minha', aí conhecerá a natureza intrínseca de sua alma".

 

        "E qual o número de vezes seria o ideal para que o considere como um ser iluminado?" — Inquiriu mais uma vez o aluno. "Para considerá-lo como uma alma de luz, seria ideal que não dissesse sequer uma única vez" — Explanou o velho mestre.

 

        O ego, pois, necessita se afirmar, evidenciar, ser visto, reverenciado, desejar, possuir. Buda, certa vez, quando perguntado o que era o Nirvana espiritual respondeu: "É a ausência de desejos".

 

        Certamente o grande iluminado referia à ausência de seus próprios desejos, excetuando o ideal coletivo de amor e fraternidade.

  

        É muito importante saber que a verdadeira adoração a Deus só é possível através da humildade. Simplesmente porque aquele que não é humilde adora-se a si mesmo, e quem é idólatra incorre na mais ignominiosa das faltas, a "egolatria", a razão essencial de todos os crimes, conflitos e vicissitudes que marcharam toda a história da humanidade. É muito simples identificar um ser "ególatra", seja como entidade astral ou inserida no invólucro físico; basta observar sua peculiar reação exacerbada a qualquer ofensa que é dirigida ao seu "deus supremo" — o seu próprio ego.

 

        Na análise do comportamento de cada ser em relação ao contraditório, em relação às diferenças, em relação aos adversários, poderemos constatar o grau evolutivo de seu espírito — tendo em mente a segunda chave da espiritualidade que é o "Respeito". Sem ele caem por terra todas as considerações essenciais que determinam o bom aspecto das relações humanas.

 

        Aquele que se faz implacável e premente contra seus adversários, expõe toda as trevas reinantes em sua própria alma. Pois a luz clareia a compreensão, e faz com que se veja em cada ser um pouco de si mesmo. "Não existe um santo sem passado, nem um pecador sem futuro" — Disse um grande mestre. O santo de hoje foi o pecador de ontem, o pecador de hoje será o santo do amanhã. Aquele que compreende e vivencia estas palavras já cruzou o "portal da compreensão", o recinto sagrado do Templo da Virtude.

 

        "Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer: se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem". (Romanos, 12, 19 e 20).

 

        O desrespeito, ainda que seja com o pior dos seres humanos, é o decaimento da espiritualidade. Um ser que desrespeita outro ser demonstra, por si só, que seu nível de consciência rasteja no substrato limboso de suas errôneas considerações.

 

        Os povos orientais juntam a palma de suas mãos acima de seus peitos e fazem reverência às pessoas que encontram. Esta saudação simboliza o respeito ao Deus interior existente dentro de cada um. A palavra sânscrita "Namastê", proferida nas saudações hindus, tem como significado "curvo-me diante de você", que, em um sentido mais amplo, significa: "O Deus que habita dentro de mim saúda o Deus que habita dentro de você".

 

        "Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós" — Disse Paulo. (1 Coríntios 3, 16). Um ser que desrespeita outro ser expõe toda a perversão de sua alma. Qualquer indivíduo que se faz desrespeitoso externa seu largo distanciamento da luz.

 

        Disse Buda: "Você, o seu ser, tanto quanto qualquer pessoa em todo o universo, merece o seu amor e sua afeição". Desrespeito é, portanto, a escassez do próprio amor, e o amor é  a meta suprema da própria espiritualidade.

 

        "Vê a verdade aquele que percebe o Senhor excelso presente da mesma forma em todas as criaturas, Imperecível no seio do perecível". (Bhagavad Gita, canto 13, vers. 27). A verdade, portanto, só é constatada quando enxergamos Deus em todos os seres. Os seres de luz veem a divindade inerente a cada criatura, o imperecível amor latente mesmo nas mais densas formas da natureza egóica.

 

        Um ser que se apresenta como um mensageiro celeste, que, no entanto, exala ódio ou desrespeito para aqueles que lhe são contrários, expõe a falácia intrínseca em sua própria essência.

 

        O respeito não deve, no entanto, estar restrito aos seres humanos. O respeito  dilação e a deferência, deverão ser amplificado a todos os seres — no amor aos animais, no respeito à natureza e na preservação do meio ambiente — inúmeros problemas, que engendram o desequilíbrio climático e ambiental da atualidade, são advindos da desconsideração humana com o seu próprio meio.

 

         A terceira chave da espiritualidade vem ser o discernimento. Esta é a chave essencial para adentrar nos domínios invisíveis aos olhos físicos — na verdade é a visão necessária para que não se venha a cair nos escabrosos precipícios da ausência de entendimento.

 

        Discernir é julgar a árvore através de seus frutos. Imaginemos: uma entidade astral defensora de um determinado ponto de vista. Não devemos analisá-la apenas por aquilo que seu ponto de vista demonstra ser, isso seria óbvio demais e facilmente passível de dissimulações. Deveremos observar como esta entidade se refere àqueles que se posicionam contrariamente ao seu ponto de vista. Um ser consubstanciado na luz irá, acima de tudo, compreender as razões dos seus contrários, sem a demonstração de ódio, desprezo, desplantes ou afrontas. As trevas se impelem ao confronto, as luzes procuram conciliações.

 

        Se estudarmos a história e atentarmos na "Inquisição", o Tribunal do Santo Ofício, instituído dentro da cristandade, tinha como base o combate à heresia, às feitiçarias, aos costumes contrários às normas e regras estabelecidas pela igreja, enfim, a todas as obras cuja inspiração era procedente do "demônio e suas hostes infernais".

 

        Isso poderia parecer "lindo" aos olhos de um cristão da época, controlado através de sua própria natureza humana (segundo os sábios, a grande maioria dos seres humanos, no atual estágio evolutivo, age segundo o medo e os próprios interesses — o controle das massas, dentro dos antigos impérios, se fazia através do medo do inferno e o interesse na eterna bem aventurança celestial), que apoiavam, abominavam e denunciavam qualquer tipo de supostas "heresias". Acreditando que faziam um serviço a Deus, acabavam por suscitar os maiores e mais perversos crimes que a história da humanidade já presenciou. Inúmeros seres humanos foram entregues à tortura, ao confisco de seus bens, e à terrível pena de morte na fogueira — queimados vivos para que a "alma fosse salva pelas chamas" (Interessante é que tal crime baseou-se em uma interpretação errônea das escrituras — "Eu na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente que o que tal ato praticou, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para a destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus"; 1 Coríntios 5, 3 a 5.). A falta de discernimento faz com que sejam feitas as opções e as obras mais perversas acreditando estar à serviço do amor e da luz.

 

        Observemos que as trevas sempre incitam o ódio a determinado alvo. No caso da inquisição, o ódio era dirigido aos hereges, pois viam nessas pessoas, algumas das quais eram praticantes das antigas religiões e práticas tribais do povo celta antes do advento do cristianismo (muito a eram cientistas adeptos do Heliocentrismo), signatários de pactos com "Satanás". Da mesma maneira que na Alemanha de Hitler, onde este idolatrado como um "salvador da dignidade ariana", escolheu como alvo o povo judeu e também os ciganos, para os quais dirigiram todo seu ódio, exterminando mais de seis milhões de seres humanos, em câmaras de gás e outras mais horrendas formas de assassínios. Considerável segmento da população alemã acreditava estar fazendo o bem diante desses mais perversos crimes da história recente.

 

        A escassez de discernimento não é um aspecto restrito às pessoas que viviam na Idade Média. A Idade Média está muito mais presente na alma dos seres humanos atuais que estes podem imaginar. Falsos profetas, líderes hipócritas, referências mundiais esdrúxulas poderão surgir a cada momento, formando um secto de seguidores incautos. No mundo espiritual da mesma forma, pois as ideias, que vemos presentes no mundo físico, são as mesmas que se propagam em meio às correntes astrais. Os seres astrais, ligados às extensas e poderosas legiões espirituais, exercem forte influência nas mentes daqueles que possuem frequências vibratórias semelhantes.

 

        Toda uma "Matrix" aprisiona a humanidade há milênios, onde a grande maioria desconhece suas próprias imperfeições, e, neste desconhecimento, colocam sua confiança em seres não apenas imperfeitos, mas nefastos, na manutenção das hierarquias espirituais que retardam a evolução espiritual do gênero humano.

 

        O primeiro passo da libertação está em reconhecer os próprios erros e limitações — aqui está a humildade, primeira chave da espiritualidade.

 

        O segundo passo está em reconhecer as mesmas limitações e erros nos seres adjacentes, compreendendo tais condições dentro das circunstâncias estabelecidas nos caminhos evolutivos — esta compreensão se configura no respeito devido a todos os seres, mergulhados nas tribulações do mundo.

 

        O terceiro passo consiste em seguir as veredas do amor, a única força capaz de descortinar o Dharma, o Caminho Correto da Regeneração — aqui está o discernimento consubstanciado no amor, a luz essencial para diferenciar aquilo que é real daquilo que é ilusório.

 

        "Se você é incapaz de detectar um infame encarnado, como irá detectar um farsante desencarnado?" — Disse certa vez um velho mestre a um pretenso "doutrinador" espiritual. Trabalhar o mundo espiritual, como já frisamos, é como adentrar em águas profundas, aquele que ainda não aprendeu a "nadar" certamente será afogado em seus abismos. A maioria dos "Magos das Trevas" nem mesmo sabem de suas próprias condições. Consideram-se a si mesmos como trabalhadores da luz, sem saber que efetuam, apoiam e realizam obras prejudiciais à regeneração humana. O maior triunfo das trevas é, justamente, ter como obreiros aqueles que acreditam estar praticando o bem. Volto a aludir a auspiciosa frase proferida por um grande sábio: "Muito pior que a ignorância é a ilusão do conhecimento". Um néscio que nada ensine, é muito menos nefasto que outro néscio que acredita ser um mestre.

 

        Aqueles que decidem adentrar nos arcanos profundos da alta magia, deverão estar munidos do discernimento, pois, além das canalizações e direcionamentos, uma das práticas essenciais dos sistemas mágicos é a busca de conhecimento. E, como sabemos, o conhecimento deve advir de uma fonte extremamente confiável, pois os lindes entre a verdade e a mentira podem ser muito tênues e difíceis de detecção. O mais persuasivo dos enganos é aquele que possui justamente a aparência de verdade.

 

        Observemos um exemplo hipotético: se uma entidade astral diz que a terra é plana, tal inverdade é de facílima comprovação: basta observar os dois tipos de voos possíveis de qualquer aeroporto internacional do Brasil ou Argentina para Sidney na Austrália — chegará ao destino tanto se seguir rota para o Pacífico Sul, quanto se for pelo Atlântico, sobrevoando a África do Sul. Se, contudo, tal entidade apontar algo cuja análise não seja tão óbvia como a redondeza da terra, como por exemplo, a demonização de uma determinada ideologia, poderíamos ter de volta, mesmo que em menor grau, algo semelhante à tão famigerada e "santa" inquisição, incitando atitudes perversas em nome de um pretenso livramento.

 

        As entidades de luz, acima de tudo, respeitam o livre arbítrio de cada ser, sob o lento e contínuo ritmo próprio da evolução espiritual — a "revolução das consciências” deve preceder quaisquer revoluções ou transformações sociais, pois novas concepções, que não estejam alicerçadas da conscientização, irão fatalmente se desvanecer ao sabor das conflagrações do tempo — não interferindo diretamente na dinâmica política e social; ao contrário dos seres atrasados, que diretamente tentam impor conceitos, práticas e influências. Recentemente, em uma mensagem atribuída a um ser ascensionado, chegou-se ao cúmulo de atribuir um determinado ex-presidente norte americano uma missão quase messiânica — muitos chegaram a acreditar em tais falácias: a primeira que era realmente um determinado mestre espiritual, a segunda que tal figura era de fato um missionário da nova era.

 

        Para concluir o discernimento das entidades astrais, é essencial apontar a mais evidente característica das dissimulações no mundo de kama, que é a denominação. Para explicitarmos esta flagrante evidenciação diferencial é importante lembrar que, um ser ascensionado, está liberto de sua identidade egóica, ele já é um com o Todo, aglutinado à unidade suprema — não possui mais um nome ao qual possa identificar sua essência, simplesmente porque dia essência faz parte da essência primordial do próprio sequenciamento cósmico.

 

        Em Gênesis, capítulo 32, versículo 29, Jacó, após segurar um anjo lhe inquiriu acerca de seu nome. "E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali". Em Juízes capítulo 13, versículos 17 a 20, Manoah perguntou ao anjo qual era o nome dele, e este, da mesma maneira, não lhe respondeu. "E disse Manoah ao anjo do Senhor: Qual o teu nome? Para que, quando cumprir a tua palavra, te honremos. E o anjo do Senhor lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso?"

 

        Quando Moisés, na visão da sarça ardente, pergunta a Deus qual o seu nome (Êxodo, 3, 14), este lhe responde: "E disse Deus a Moisés: Eu sou o que sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu sou me enviou a vós" — do hebraico Ehyeh Asher Ehyeh, ou simplesmente Yahweh, o sagrado tetragrama: "Eu Sou".

 

        Mas poderia surgir a dúvida: Existem, porém, na literatura hebraica, inúmeros nomes de anjos, inclusive na lista dos 72 anos de Deus, sem contar Gabriel, que, no evangelho de Lucas, 1, 16, o evangelista dá seu nome na descrição. Os "anjos", como princípio ativo de Deus, não possuem nomes designativos, absolutamente, mas sim as atribuições. Gabriel, por exemplo, provém de duas palavras hebraicas justapostas: "Geburah" — o mesmo nome da 5° Sephirah — significando "poder", e "el", cujo significado muitos erroneamente traduzem como "Deus", provém da tradição "eloítica", "Elohim" plural de "Eloah", cujo significado é "mensageiro divino", ou simplesmente "anjo" — onde, na tradução diretamente do hebraico, Sepher Bereshit, o Livro do Gênesis, capítulo 1, versículo 1, temos "No princípio os Eloim criaram os céus e a terra". Da mesma forma, as demais atribuições que, popularmente, se tornaram como "nomes" de anjos — "Miguel", que deriva de "Mikhael", tem origem no hebraico "mikhayáh", "quem é como El", em uma indagação, contando o sentido de que ninguém é como "El".

 

        Jamais qualquer ser iluminado expressou seu nome como um homem, ou um nome de alguma encarnação anterior, muito se apresentam como "Espírito da Verdade", "Servo da Consciência", entre tantos epítetos. Portanto, alguma entidade astral que se apresente como, por exemplo, um determinado santo, um determinado mestre, um determinado líder, por si só, já se desqualifica como um ser vinculado à grande obra da regeneração.

 

        Podemos concluir que a comunicação com o plano astral é por demais perigosa, no estágio evolutivo atual da humanidade, tanto que não poucas escolas esotéricas desencorajam, ou até mesmo, reprimem as práticas de incorporação entre seus sectários. A mesma preocupação havia entre os precursores dos ritos mosaicos, como podemos ver no livro do Deuteronômio, quando o legislador define a proibição das práticas comuns às antigas nações cananéias.

 

…” Nem encantador de encantamentos, nem quem consulte um espírito adivinhante, nem mágico, nem quem consulte os mortos". (Deuteronômio, 18, 11).

 

        Se nos tempos atuais, onde existe mais amplo conhecimento e incontáveis acessos às novas informações, o discernimento ainda se faz extremamente precário, mesmo em meios espiritualistas, podemos imaginar a dificuldade no rústico panorama de uma nação recém liberta em suas peregrinações pelos desertos da Iduméia.

 

        O verdadeiro ocultista, no entanto, jamais proíbe ou impõe alguma ideia que considera como pétrea, ele simplesmente expõe, analisa e direciona dentro das perspectivas que equacionam todas as possibilidades. As elevadas escolas esotéricas não proíbem o contato com o astral,  mas advertem aqueles que buscam os caminhos invisíveis quanto à necessidade do preparo. Como diz a literatura mística: "Muitos são aqueles que invocaram demônios acreditando estes serem anjos"; ou em outro fragmento: "A pior das entidades é aquela que consegue se passar pelo melhor dos espíritos"; ou "Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas" (Lucas 11,35).

 

        Blavatsky escreveu suas obras Ísis Sem Véu e A Doutrina Secreta auxiliada por mestres invisíveis em projeção astral. Era ela uma pessoa portadora das "três chaves da espiritualidade", a humildade, o respeito e o discernimento. Tanto que, qualquer místico que atentamente ler suas obras, atestará a elevação e a grandeza advindas de suas considerações. Muitos são os místicos, inspirados pelo plano invisível, que revolucionaram os pensamentos da humanidade até então atolada em dogmas e preceitos extremamente limitantes.

 

        Passamos aqui o "mapa da espiritualidade", essencial a todos aqueles dispostos a "lançar suas redes em águas mais profundas" — às quais são necessárias a devida iluminação para que não tome por luz aquilo que se configura como trevas.

 

        "Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal: que fazem da escuridão luz, e da luz escuridade; e fazem do amargo doce, e do doce o amargo" (Isaías 5, 20).

 

Muitos são os iníquos que se escondem atrás das religiões e das filosofias para angariar a confiança dos incautos. Os hipócritas são muito piores que os inimigos explícitos. Tanto que Jesus direcionou suas maus veementes censuras, não aos ladrões, às prostitutas e aos demais pecadores — a estes acolheu em sua misericórdia — mas sim aos hipócritas, religiosos zeladores da lei é do mandamento das "letras".

 

        O místico, portanto, só estará pronto para adentrar às "águas profundas" quando tiver superado a "letra morta" e revestido do "espírito vivificante".

 


        Certa vez um velho mestre nos contou uma outra versão da história de Milarepa e a Boca do Demônio, um tanto diferente da história original, mas de uma profundidade inigualável que é de essencial ilustração a este texto.

 

        Milarepa, como muitos sabem, foi um grande mestre do budismo tibetano do século XXI e inúmeras histórias derivam de suas experiências de vida.

 

        Certa vez, ele preparava-se para sair de sua caverna quando iniciou uma tempestade. Adiando sua partida recolheu-se em seu lar até que a tempestade passasse. Logo que entrou ouviu do lado de fora um pedido de ajuda, atendendo ao chamado deparou-se com um pequeno grupo de leprosos que parecia sob a inclemente intempérie. Chamando-os para dentro, acolheu-os servindo-lhes daquilo que era necessário para que se mantivessem seguros e confortados.

 

        Assim que a tempestade passou o líder do grupo, em meio à despedida, tocou-lhe as mãos dizendo: " Através de sua luz interior, você nos acolheu e nos supriu sem receio algum da enfermidade que carregamos. Por esta razão lhe darei uma sagrada instrução: 'Sejam as palavras brandas mais determinantes que quaisquer imposições'".

 

        Após essas palavras o grupo se transformou em um ajuntamento de luzes que fluiu para o azul do firmamento.

 

        Milarepa, então, considerou aquele encontro como um presságio divino para sua viagem, e partiu rumo ao velho mosteiro.

 

        Após alguns dias de estadia, regressou às paragens onde situava sua caverna. Assim que lá chegou, viu inúmeros seres radiantes de luz assentados por todos os cantos.

 

        — Viemos abrilhantar as suas as trevas — Disse o principal dos seres — Sirva-nos e lhe daremos poder, força e conhecimento.

 

No mesmo instante o eremita se lembrou do grupo de leprosos, que se apresentaram como andarilhos, pediram permissão para entrar, e gratuitamente deram-lhe uma palavra de instrução para depois revelar sua luz.

 

        — Reconheço vocês — Disse o monge — diferentes do grupo de andarilhos, vocês entraram sem pedir, observaram minhas trevas, e travestiram-se de luz, e me pedem para servi-los. Vocês são na verdade demônios e não seres celestes.

 

        Reconhecidos, os seres tomaram a sua forma original exibindo suas formas grotescas e horrendas.

 

        O monge, em um acesso de desespero, iniciou uma série de rituais de expurgo contra aquelas tétricas figuras. Estas, ao invés de serem impelidas, passaram a zombar das atitudes do eremita. Quanto mais ele esconjurava, mais eles gracejavam.

 

        Foi então que, reconhecendo seu erro em tentar impor-se através de banimentos, se lembrou das palavras dos andarilhos: "Sejam as palavras brandas mais determinantes que quaisquer imposições".

 

        Aquietando-se, sentou calmamente sobre o chão e começou a explanar sobre o amor, a luz, a entrega e a abnegação. Os demônios incomodados pelas palavras sábias, começaram a sair, um a um, até que restou apenas o demônio principal, um monstro grotesco, de garras e dentes afiados, que parecia não se incomodar com as palavras de luz.

 

        Aproximando-se do monge, abocanhou-lhe a cabeça para devorá-lo.

 

        — Não tenho medo algum da morte física — Disse Milarepa a sorrir na mais plena serenidade  — Devore-me se assim quiser. Seguirei a luz sob quaisquer circunstâncias que o destino impor sobre meus caminhos.

 

        Vendo que não o amedrontava e que o monge lhe era completamente indiferente, o ser macabro acabou por se desvanecer sob os primeiros raios de sol que se insinuavam no interior da gruta.

 

        Milarepa, então, saiu tranquilamente recolher lenha para a próxima fogueira.

 

        Nesta história poderemos ver, perfeitamente, o respeito — dedicado aos andarilhos enfermos; o discernimento — em reconhecer os demônios travestidos de luz; e a humildade — em reconhecer os próprios erros, acatar ensinamentos e aceitar o seu destino diante das próprias tribulações.

 

Paz e Luz