A Cabala é a equação universal, a Ciência do Espírito, a Árvore da Vida, ou a Árvore das Sephiroth, "Otz Chiin" do hebraico é o grande esquema da existência, o espelho de tudo aquilo que é manifestado, de onde derivam todas as correspondências, se estabelecem todas as analogias, que se expandem nas infinitas ressonâncias das equivalências cósmicas.
A energia, no caminho da involução, ou no trajeto das densificações, desce a partir de Kether em direção a Malkuth, serpenteando sob a forma de zigue-zague, em um esquema, com duplo sentido, já que o sentido evolutivo, de Malkuth à Kether segue o mesmo padrão em direção oposta. Conhece-se esta disposição, na literatura esotérica, como “Caminho da Espada de Melzah”, que, analogicamente, lembra a Kundalini, que desperta no Muladhara e ascende até o Sahashara, como veremos a seguir.
A Árvore das Sephiroth é a grande expressão macrocósmica em sua correspondência com os Chakras, centros energéticos presentes no homem e demais seres vivos, em seu dimensionamento macrocósmica.
Lembremos que, o universo está contigo em cada coisa, assim como cada coisa está contida no universo. A energia primordial é o "nada" de onde deriva o todo, Kether está presente em cada uma das Sephiroth, tudo se integra sob uma mesma essência, una e indelével. O Homem é, portanto, o "universo em miniatura", nele estão presentes os Chakras e seus Nadis, assim como a Árvore da Vida, suas Sephiroth e seus caminhos. Aquele que desvenda seus mistérios torna-se senhor da Grande Circulação, os segredos do dinamismo universal.
Um breve retrospecto dos Chakras e da Árvore da Vida.
Vamos relembrar, resumidamente, dos textos anteriores, a disposição dos Chakras e também da Árvore da Vida.
Os Chakras seguem a linha mediana do corpo humano, e se localizam na sua contra parte astral e etérea. Inicia-se, de maneira ascendente, a partir do Muladhara, o chakra raiz, localizado na região coccígea, nele dormita o Kundalini, que, uma vez despertado, ascende aos demais Chakras, ativando-os, promovendo o perfeito alinhamento essencial à grande obra da regeneração; acima deste há o Swadhisthana, situado na região do púbis. Imediatamente acima, na região umbilical situa-se o Manipura; são estes, respectivamente, conhecidos como o Lotus das quatro pétalas, seis pétalas e dez pétalas.
Acima do Chakra, Manipura, se acha o Anahata, o chakra do coração, a Lótus das doze pétalas. Este se faz como uma demarcação entre os três chakras inferiores e os três chakras superiores acima. Ele é, portanto, a ponte entre os que se relacionam com a nossa vida na terra, no caso os três já citados, e os que estão relacionados com a nossa vida espiritual. Por esta razão o Anahata é chamado de Portal da Espiritualidade, o ponto de equilíbrio entre as energias cósmicas e as energias telúricas, à correspondência da Sephirah de Tiphereth, como veremos neste texto mais adiante.
Logo acima do Anahata, mais precisamente na garganta, associado à glândula tireoide, há o Vishuda, o Lotus das 16 pétalas que confere a audição astral; e, acima deste Ajnã, o Lotus das 96 pétalas, responsável pela visão espiritual, localizado entre as sobrancelhas, intimamente direcionado à hipófise, alojada na sela túrcica da asa maior do osso esfenoide, o ponto chave das angulações demonstrativas de todo o processo evolutivo.
Chegamos agora no topo da cabeça,onde se situa o Lotus das Mil Pétalas, o Shahashara, ou Brahmaranda, responsável pela consciência, que, uma vez desenvolvido, em sua disposição extrassensorial, desperta todos os sentidos espirituais, culminando na grande obra da realização.
Os ductos energéticos que alimentam os Chakras são os chamados Nadis, cujos principais são o Sushuma, o Píngala e Ida. O Sushuma é o Nadi que sobe verticalmente através da linha mediana, por onde o Kundalini faz seu trajeto ascensional na ativação de todos os demais. Píngala é o Nadi cuja extremidade é na narina direita (nas mulheres é na esquerda), e desce sinuosamente, serpenteando em cada um dos chakras abaixo do Shahashara, até chegar no Muladhara. Ida se dispõe da mesma forma, porém, no lado esquerdo, e ambos têm a função de levar o prana até o chakra raiz para despertar a energia do Kundalini.
A Serpente de Bronze de Moisés, Neustã, levantada no deserto representa o trajeto sinuoso esquematizado na descida (ou ascensão) na Árvore da Vida, correspondendo também à sinuosidade das energias que transcorrem os Nadis para a ativação dos sete chakras.
A Árvore da Vida, como já vimos, em inúmeros textos anteriores, tem este nome justamente porque representa todo o dinamismo cósmico da existência.
A energia de Kether, a primeira Sephirah, é a energia essencial, de maior sutileza, grosseiramente conhecido no ocidente por Fluido Cósmico Universal, o qual se densifica am Chokmah, para dar o início das formas em Binah. Estas três Sephiroth iniciais têm a denominação de Aziluth, ou o mundo das emanações. Assim como os Nadis dos Chakras, as Sephiroth se dispõem em três pilares: a coluna do meio chamado do Equilíbrio, que se equivale a Sushuma; a coluna da direita, chamada da Misericórdia, que corresponde à coluna de Jakim no Templo de Salomão, fazendo correspondência à Píngala; e, a cima da esquerda, chamada a da Severidade, Boaz do Templo de Salomão, correspondente à Ida — aqui também está, no equilíbrio entre os pilares, a correspondência do Yin e Yang na disposição das forças universais. Chokmah, no mundo de Aziluth, situa-se na coluna do Equilíbrio, Chokmah na coluna da Misericórdia e Binah na Severidade. Segue-se a descida de Binah a Chesed, abaixo de Chokmah, e de Chesed a Geburah, abaixo de Binah, e de Geburah a Tiphereth, no Centro do Equilíbrio. Estas três formam o mundo de Briah, o mundo da criação.
A partir de Tiphereth, a sexta Sephirah, a energia atinge Netzach, abaixo de Chesed no Pilar da Misericórdia, indo em seguida a Hod, abaixo de Geburah, no Pilar da Severidade, após Hod atinge Yesod, na coluna do Equilíbrio. Estas três Sephiroth têm o nome de Yesirah, ou o mundo da formação.
Logo abaixo de Yesod, também na coluna central, encontramos Malkuth, no mundo da ação, ou Assiah, onde vivemos a experiência física, e, a partir do qual iniciamos a jornada do retorno, ou o caminho ascensional.
A Correspondência.
Seguindo o caminho evolutivo da Árvore da Vida, a partir do chakra raiz, teremos a primeira equivalência indicada pela letra hebraica:
1. Aleph, que significa touro, e que vem ser o Chakra Muladhara, que corresponde à Sephirah de Yesod.
Poderá surgir a pergunta: E Malkuth não tem correspondência com nenhum chakra? Certamente que não, pois os Chakras situam-se todos a partir do corpo etéreo. Não existe Chakras no corpo físico, e, como Malkuth representa o mundo da ação física, não possui correspondência. No Muladhara, conforme frisado anteriormente, estão as forças básicas, os instintos primários, onde repousa o Kundalini.
2. Beth. Tem o seu significado "casa". É o Chakra Swadhisthana, onde se depositam as energias mais refinadas advindas do Muladhara. Tem a sua correspondência com a linha horizontal que une as Sephiroth de Hod e Netzach. É considerado o chakra da cura, onde se realiza a contenção dos instintos. Onde são enfrentadas, no entanto, o medo excessivo de Hod e as fantasias mentais de Netzach. Simbolicamente, o caminho evolutivo que se faz ao longo dessas duas Sephiroth, é o dragão da mitologia, ou os aspectos inconscientes da nossa psique, os quais devem ser superados para dar prosseguimento ao caminho evolutivo do retorno.
3. Guimel. O camelo — associado ao armazenamento. Aqui temos o Chakra Manipura, análoga à Sephirah de Tiphereth. Suas energias são aquelas que conferem vitalidade ao organismo, as quais, brotando do núcleo instintivo, se estabelecem sob a essência equilibrante e centralizadora de Tiphereth.
A consciência, tanto em Manipura quanto em Swadhisthana, está focada em assuntos pessoais e resolução de karmas; em Tiphereth se alcança uma perspectiva espiritual, o centro do dinamismo e da energia vítima de crescimento, comparado ao Sol em sua luz, calor e magnitude — aqui está o plexo solar, o umbigo, centro do equilíbrio do corpo físico. A partir deste momento é possível o desenvolvimento dos Siddhis, ou poderes psíquicos, até então quase impossível nos patamares mais baixos.
4. Dalet. Em hebraico Dalet tem o significado de "porta", e este detalhe é importantíssimo. Corresponde ao Chakra Anahata, o chakra do coração, a porta do espírito, pois é o ponto médio entre os chakras superiores e os inferiores — a porta entre as dimensões física e espiritual, o altar divino no santuário físico. Corresponde à linha que interliga as Sephiroth de Geburah e Chesed, o limite superior de Briah, o mundo da criação, antes de se chegar à misteriosa Sephirah de Daath, anterior a Aziluth, o mundo das emanações.
O despertar deste chakra vem ser a chave do livre arbítrio; nele há o despertar da emoção refinada no cérebro, um sentimento universal de amor por todos os seres.
Para avançar, é preciso consagrar as qualidades de Chesed, a grandeza espiritual que vê em cada ser a essência da própria divindade. Sobrepujando o ego em Geburah. É o grande benéfico, Júpiter, se evidenciando sobre o pequeno maléfico, Marte, e todas as suas características impulsivas e belicistas.
5. Hê (Alento). O quinto chakra é o Vishuda, e se localiza na garganta, mais precisamente na glândula tireoide. Sua localização explicita o ânimo, o vigor, a palavra vinda através da respiração cujo alento se propaga através da laringe. Tem a sua correspondência com Daath, e seu vazio, o abismo que precede o mundo de Aziluth e suas Sephiroth superiores, assim como os chakras situados na cabeça, a porção superior dos seres humanos, onde abriga a consciência, os sentidos elevados e o controle sobre todas as demais partes do corpo.
Daath situa-se na no Pilar do Equilíbrio entre Kether e Tiphereth, é a pseudo Sephirah onde estão Unidas todas as outras dez. Em Daath todas as dez Sephiroth existem no seu estado prefeito em seu sequenciamento infinito. (Ver o texto "As Árvore da Vida da Cabala").
Através de Vishuda é possível diferenciar a compreensão advinda à consciência oriunda dos níveis superiores do conhecimento, das palavras vazias provenientes do inconsciente e suas ilusões.
Em Vishuda, segundo os mais sábios místicos, está a energia simbolicamente chamada o "Orvalho Celestial", o fluido da emancipação espiritual, que, desce para ser consumido pelo fogo de Manipura, quando o Vishuda não está ativado, e transformado no "néctar da imortalidade" quando este é ativado. Aqui está o segredo da regeneração, e do poder de se alcançar o estado de "Jinas" (Do qual já falamos em textos anteriores), dos grandes mestres Yogues. É o caminho ascensional da autorealização.
Interconectado com o Vishuda está o chakra Bindu, também conhecido como Chakra Bindu Visarga, o desconhecido chakra da felicidade. (Também comentado em textos precedentes).
6. Vau. Seu significado é "gancho" na língua hebraica, com o qual se fixavam as tendas durante seu período de nomadismo. Aqui temos o Chakra Ajnã, onde os poderes superiores são fixados no homem físico. Localiza-se na testa, entre as duas sobrancelhas. É o sinal das 144 mil primícias, os escolhidos da humanidade; o mesmo sinal de proteção de Caim contra os vingadores de sangue; é a porta da paranormalidade, correspondente à linha que une Binah a Chokmah, o Olho de Shiva que visualiza os mundos.
Ajnã é o chakra do intelecto superior, e é por seu intermédio que se visualiza as essências. Até Ajnã poderemos estar ainda sob a influência das desilusões. Somente após a sua ativação que é possivem enxergar, compreender, verdadeiramente, as leis de causa e efeito.
O despertar de Ajnã segue o sequenciamento do raio luminoso das energias essenciais, ativando o aspecto do entendimento em Binah e da sabedoria em Chokmah, descortinando o horizonte da Shahashara, o ponto de iluminação.
7. Zain. "Arma" em hebraico. O Raio — Poder, iluminação. Aqui está Shahashara, ou Brahmaranda, que se abre como o Lotus das Mil Pétalas, após o alinhamento e ativação dos outros seis inferiores. Corresponde a Kether, a "Coroa"; e se dispõe como a "coroa, no alto da cabeça, intimamente ligado à glândula pineal e sua concomitante ativação, que se dá na percepção cósmica e sua identificação com o Todo.
O Shahashara, assim como Kether, de onde emana toda a energia primordial, é a fonte de todos os Chakras. Pois o poder dos demais chakras, na verdade, não reside neles propriamente, mas no próprio Shahashara. Os demais chakras são interruptores da energia infundada em Shahashara.
O mestre Patanjali, autor do Yoga Sutra, se refere a este chakra como o Samadhi, o estado de iluminação, sob três etapas diferentes na escala ascensional. O qual correspondente à Kether, o portal celeste da Escada de Jacó e sua interpenetração nas Sephiroth que se unificam no dinamismo cósmico.
Assim como se ascende na Árvore da Vida sutilizando as energias, a ativação do Shahashara se faz através da supressão da materialidade através da própria essência da espiritualidade. Para se chegar ao retorno a Kether, deve-se transformar na sutileza de Kether. Despertar o Brahmaranda se faz com o desvanecimento do ego, este que é o centro de toda idolatria terrena. Adorar ao Deus Todo em Kether só é possível quebrando os ídolos de barro de Malkuth.
Paz e Luz.