O ANIMAL DO PODER
Há inúmeros
textos, artigos e obras que dissertam sobre como descobrir o "animal do
poder", porém sua essência vem envolta em um grande mistério, não apenas
da natureza humana, mas de sua relação com toda natureza primordial.
Primeiramente
vamos abordar o que é o Xamanismo, que é o fundamento para a concepção deste
poder que acompanha o homem em sua característica essencial.
O Xamanismo é o
autoconhecimento das relações entre os indivíduos com o “Todo”, a unidade do
ser com a natureza na qual ele faz parte, não somente na qual está inserido,
mas na natureza que dentro dele também se insere. Através deste conhecimento,
busca-se a leitura do "grande livro transcrito na natureza", através
do qual se obtém a cura, tanto dos males físicos, psíquicos e espirituais. Esta
"leitura" da natureza está ancorada nas ritualísticas xamânicas, as
quais elevam a consciência e alteram as percepções do indivíduo, fazendo com
que este seja integrado ao seu estado primordial, reconhecendo-se no Todo, compreendendo
a essência única através das diversidades, mergulhando na divindade imanente em
cada manifestação de existência.
Um xamã é,
portanto, um sacerdote que transita entre vários mundos, o físico, o espiritual
e o arquetípico. E é justamente neste último que está o segredo da regência dos
dois primeiros. O animal do poder, também chamado totem, é o grande utensílio
das práticas xamânicas, é a arma mágica do xamanismo, tanto na proteção quanto
no entendimento da própria razão da existência.
Como citado
anteriormente, o animal do poder se faz através de uma grandeza arquetípica, a
origem deste arquétipo, contudo, está na própria formação do ser humano,
através dos milhões de anos de evolução. O homem moderno saiu da selva há pouco
mais de 50 mil anos. Isto sem contar que até há pouco tempo, grande parte dos
seres humanos ainda eram integrados à natureza selvagem. A selva, a natureza e
todos os seus segredos, está latente dentro do nosso ser, e a cada instante
somos confrontados pela nossa natureza instintiva. Este animal é a imagem
instintiva de nossa trajetória evolutiva. É o guardião que carrega todo nosso
histórico selvagem presente no poder de nossa ancestralidade. Despertá-lo
significa restabelecer o elo entre nossa individualidade restritiva, com nossa
realidade abrangente, através da qual toda natureza fala através de nós.
Descobrir o
animal do poder é algo fundamentalmente positivo no caminho da espiritualidade,
pois ele aflora nossa ancestralidade, e redireciona o sentido de nosso
conhecimento intrínseco, permitindo que vençamos os inúmeros desafios que se interpõem
em nossos caminhos presentes. O animal do poder não é, de forma alguma, uma
conexão com o passado, pois ele vive em nós, em toda a formação daquilo que
somos. Ele não é uma entidade espiritual externa; é de fato nossa natureza
íntima que nos conecta à natureza da qual nunca realmente saímos.
Não temos um
único animal do poder, possuímos muitos através das aglutinações energéticas
que formaram nosso ser, sobre as quais explanarei mais adiante.
Há, no entanto,
o principal. O "animal" que configura nosso aspecto principal ligado
à natureza e que serviu de base nas aglutinações que estruturaram o
encadeamento do nosso ego atual.
Sob este
elemento principal, encontramos inúmeros animais que nos serão familiares em
meio à nossa estruturação. Encontrar essas configurações é perfeitamente
possível através da meditação profunda. Meditamos até mergulharmos no Todo, até
perdermos momentaneamente nossa identidade individual. Adentraremos no ponto de
origem, não apenas na essência de nosso próprio ser, mas na essência de todas
as coisas, na qual deixamos de pensar para simplesmente sentir; vivenciar a
grande realidade universal onde nos reconhecemos como o próprio Universo, no
qual estamos e que também está em nós.
Através deste
mergulho poderemos desfragmentar toda a formação que deu origem àquilo que
somos, e, neste caminho está o animal do poder no qual olharemos os olhos como
se estivéssemos diante de um velho espelho.
Como citado em textos anteriores, existe uma
ilusão de individualidade, e, consequentemente, de separatividade. A alma
humana não é, de maneira alguma, indivisível, e se forma, ou se formou da
aglutinação de energias. Uma analogia
que penso ser perfeita para este entendimento é o do "curso d'água",
na qual comparamos o homem a um pequeno rio, no constante fluxo de sua
transitoriedade, formado pela junção de pequenos córregos, que são a junção de
pequenas grotas, formadas por inúmeras fontes cujas águas se confluem desde as
mais ínfimas gotas. Este pequeno rio desemboca em rios maiores, que, por sua
vez deságuam no oceano. Por aí notamos que o grande oceano é composto pela
aglutinação que surgem desde as primeiras gotas, que se confluem gradativamente
durante todo o processo evolutivo a caminho da unidade.
Somos, portanto,
a aglutinação de todos os pequenos seres formando novos seres sempre sob um
gradativo aumento de complexidade.
Desde os
organismos unicelulares há a perspectiva de aglutinação formando os
pluricelulares, se integrando em novos seres no caminho evolutivo: surgiram
posteriormente os anfíbios, e, na sequência os répteis, que, no eflúvio de
milhões ou, até mesmo, bilhões de anos, deram sequência aos mamíferos, nos
quais se encontra o homem, advindo, após uma escalada evolutiva desde o mais
simples representante desta ordem, até o atual grau do desenvolvimento humano,
tudo isto passando por todas as formas sequenciais de hominídeos, dos quais
somos hoje uma derivação.
Todo este
processo evolutivo está desenhado na própria embriologia humana, que se inicia
desde o espermatozoide que fecunda o óvulo, unicelular, passando por todos os
estágios correspondentes à evolução, tudo isso no "alojamento" intrauterino.
E, todos
aqueles que já tiveram aulas de anatomia humana, sabem que, há três divisões
fundamentais no cérebro humano: o cérebro basal, ou Reptiliano, formado
principalmente pela medula espinhal, vem ser o cérebro instinto, responsável
pelas sensações primárias de sobrevivência, como a fome, a sede, e instinto de
reprodução. O segundo nível funcional é o cérebro dos mamíferos inferiores,
onde se encontra o sistema límbico, o centro regulador das emoções, por esta
razão é chamado "cérebro emocional". O terceiro nível corresponde ao
cérebro racional, que diferencia o homem e os demais primatas dos outros
animais da escala zoológica inferior. No homem há neo-córtex, através do qual
consegue realizar o pensamento imbuído de abstrações, a forma mais evoluída de
compreender o mundo em seus aspectos físicos temporais.
Mas por que se alongar em assuntos tão
distantes do tema em questão?
Tal dissertação
é essencial ao entendimento daquilo que vem a se caracterizar como "animal
do poder", pois só assim compreendemos que o Homem é a junção de
incontáveis "eus", desde os animais no mais baixo escalão evolutivo,
até os animais que seguem a linha sequencial mais próxima ao ser humano.
Portanto, o
animal do poder é parte de nossa própria estrutura, que se baseia na junção de
todo o agrupamento de seres formadores daquilo que somos, ou pelo menos
pensamos ser.
É fundamental
saber que a evolução física caminha adjacente à evolução espiritual. Nada
existe no físico que não tenha formado sua contra parte astral (espiritual).
Toda matéria é a densificação das energias mais sutis. O mundo espiritual está
nessa própria sutileza.
Como vimos
anteriormente, o animal do poder vem ser a manifestação das forças interiores.
A força animal dentro de nós, a nossa parte intrínseca intimamente ligada à
natureza, esta ligação que perdemos após milhares de anos vivendo no
artificialismo de uma civilização cada vez mais distante da essência original.
Por
restabelecer esta ligação perdida, o animal do poder confere a força, o
desembaraço a percepção àqueles que o encontram. Ele é uma das muitas partes
que se aglutinaram para a formação daquilo que somos. São eles os animais que
um dia fomos e os trazemos como memória do "registro akáshico", a
grande memória universal que resguarda cada detalhe do grande equacionamento
cósmico.
A maneira de
utilizar toda a sutileza desse animal, presente dentro de nós, se realiza
através da mentalização, posteriormente a meditação, e, finalmente o
acompanhamento que se dá através de dois níveis de consciência.
A mentalização
compreende, desde o reconhecimento deste animal, até a amplificação de nosso
grau de intimidade com ele. Quando descobrimos o animal do poder principal, e,
à medida que o mentalizamos buscando a gradativa acessibilidade a este, iremos
descobrindo os animais do poder secundários, que aos poucos se formatarão no
interior de nossa mente, à medida que mentalizamos o principal. Como disse um
velho xamã: "Não é preciso ir buscá-los, eles vêm até você".
Lembro-me que sempre apareciam gatos nos telhados de um barracão atrás da casa
de meus pais. E os alimentávamos. Eles surgiram miando, como se captassem uma
afinidade natural. Colocávamos o alimento sobre as telhas, e eles, de início,
temerosamente, se aproximavam. Quando nos distanciávamos eles enfim comiam. Com
o passar do tempo eles adquiriam mais confiança, e comiam diante de nossos
olhos. Após algum tempo já desciam das telhas na certeza de nossa sincera afetividade.
Muitos se tornavam moradores de nossa casa.
Tudo é análogo
no universo. Assim como os gatos das telhas do barracão, o animal do poder
sente a afinidade natural a partir do momento que desejamos o seu encontro. São eles "pedaços"
fugidios da misteriosa essência que se transfundiu em nossa concepção humana.
Com o tempo eles deixam o temor, ou, na verdade, deixamos a nossa noção de
individualidade indivisível, e conectamos com estas divisões da mesma maneira
que os gatos desciam das velhas telhas. A mentalização seria o processo que se
inicia com a chegada do gato e se completaria com sua descida das telhas.
Após o pleno
reconhecimento do animal do poder, principal e secundários, devemos meditar em
cada um deles. Deixar a impressão instintiva substituir o pensamento racional.
Seguir seus passos na saborosa viagem da meditação, até o momento em que são
integradas as duas essências e nos tornamos Um no contato íntimo e integrado
com a natureza, na qual consequentemente também estabelecemos uma unidade indissolúvel.
A partir do
momento no qual estabelecemos a unidade com o animal este passa a nos
acompanhar, como uma sombra noturna sob a luz do plenilúnio. Este
acompanhamento se dá em dois níveis diferentes,
no nível físico e no nível astral.
No nível físico
quando necessitamos de força, desembaraço e percepção, invocamos sua presença
em pensamento, dentro de nós, e sentiremos toda sua potência fluir dentro de
nosso ser, assumindo o vigor escondido nos recônditos de nossa alma,
favorecendo nosso desempenho diante dos desafios do mundo.
No nível
espiritual o processo é muito mais longo e muito mais trabalhoso de ser
alcançado. Para alcançar este nível são necessárias o aprofundamento meditativo
e o ancoramento através da ritualística xamânica. Tanto o aprofundamento
meditativo quanto a ritualística são fundamentais para que haja o desligamento
do plano físico. E tal desligamento pode ser relativamente fácil em alguns e
especialmente difícil em outros. Tudo dependerá da "afinidade extra-física"
intrínseca na natureza individual de cada ser.
Este
acompanhamento ocorre durante o desdobramento astral, porém não um
desdobramento comum. Mas na viagem astral como próprio animal que transfere
para si toda individualidade presente no ser. É como se a pessoa se transformasse
no animal, e através de seus sentidos, vagasse pelo mundo espiritual, e,
instintivamente, perscrutasse cada detalhe de cada coisa dentro da
indescritível perspectiva da integração com o Todo.
Neste nível de
integração, o animal do poder reconhece todos os padrões dissonantes na
harmonia com o Todo. Cada ser, em desarmonia com sua natureza essencial, altera
seus padrões energéticos correspondentes à sua normalidade espiritual, e,
consequentemente, a normalidade emocional e física. Através do animal do poder
tais desarmonias são detectadas, possibilitando trabalhar esta reestruturação
energética. Este é o trabalho de cura, mais efetivo que "curar" uma
enfermidade a nível físico, pois qualquer distúrbio físico é o resultado de uma
disfunção energética, justamente no campo da energia que o animal do poder
atua.
O Animal Totem e o Animal do Poder.
É muito comum
alguns autores atribuírem, como sinônimo, ambas as designações. De fato há
muita semelhança, porém existe uma significativa diferença entre tais conceitos.
O animal
totêmico vem ser aquele com o qual a pessoa se identifica. Isso faz com que
haja um regionalismo para que exista tal preferência. E, geralmente o animal
totem pode ser o símbolo de uma determinada região ou de um povo. Ele seria uma
representação humana dentro da perspectiva animal. Um índio norte americano
dificilmente terá um tigre como o animal que se identifique, inversamente
proporcional ao lobo, peculiar à sua região, com o qual terá muito maior chance
de se identificar. O animal totêmico vem ser aquele com o qual a pessoa se
identifica. Pois Totem é um símbolo sagrado de um clã, de uma tribo, e até
mesmo de um povo.
O animal do
poder, como citamos anteriormente, é uma ferramenta de força, que emerge do
próprio interior, sem que simbolize o legado intrínseco de um povo. O animal
totêmico, desse modo, evidencia qualidades que a pessoa possui inspiradas neste
animal que admira, no animal do poder são desenvolvidas as qualidades
justamente que carece, a força naquele que é fraco, a desenvoltura naquele que
é tolhido.
É como se um urso conferisse mais força ao
forte, e água conferisse a intrepidez ao tímido.
O animal
totêmico potencializa um padrão inerente.
O animal do
poder expande o leque de potencialidades.
Como vimos, o
animal totem pode ser um animal do poder, mas um animal do poder vai além do
perfil intrínseco da pessoa, e, isso não significa necessariamente ser seu
totem.
Significado dos Animais do Poder.
Seria
impossível listar todos os animais do poder existentes na conformação
energética humana. Por esta razão, apresento aqui alguns padrões específicos,
que dispõem de peculiar significação. Muitos dos animais que não estão expostos
terão profunda similitude com alguns que lhes são próximos na escala zoológica.
Outra questão
que poderá suscitar alguma dúvida serão os animais imaginários que não
apresentarei na sequência.
Poderá surgir a
seguinte questão:
— O dragão é um
animal imaginário. E por que está elencado na sequência, visto que o animal do
poder é parte energética da própria formação do homem, como foi citado
anteriormente?
Devemos lembrar
que realmente são energias intrínsecas formadoras de nosso próprio ser,
contudo, tais energias assumem símbolos arquetípicos que exprimem
características próprias essenciais, e são justamente de tais características
que derivam seus significados.
A
Águia:
Simboliza a
elevação. A elevação às grandes altitudes. Plana muito acima dos aspectos
terrenos e observa o mundo de um modo que este se faz pequeno, diante de sua
vasta amplitude de visualização. Singra o ar nos vôos que atestam a sua liberdade.
O ar é o seu elemento onde as correspondências se expandem além de toda
concretude, permeando o mais elevado plano mental, nos níveis das abstrações.
Focaliza na
distância seus objetivos, e os persegue seguindo a clareza de sua visão. É a
força que direciona suas perspectivas nos altos caminhos segredados ao plano
terreno.
A Aranha:
Simboliza a
essência criadora do Grande Espírito. Estabelece padrões, geometriza linhas,
tece os modelos que refletem sua potencialidade fundamental. Sua habitação provém
de sua natureza intrínseca, criando seu próprio mundo a partir de seus instintos.
Vive dentro de seu próprio universo a trilhar seus caminhos resolutivos.
O Bisão:
Reverenciado
amplamente pelos povos ameríndios da América do Norte, o bisão, erroneamente
chamado de búfalo, representa a passividade da força. Sem jamais impor seu
veemente potencial de poder e tenacidade, vaga livremente pelos campos junto à
própria manda, que, unida, congrega seus membros no grande espetáculo da lenta
caminhada pelos imensos espaços que fazem de morada. Representa a humildade na
grandeza, a união que adere as forças, e o contato íntimo com a terra, que é o
seu elemento, na qual se estabelece simbolizando a ancestral sabedoria.
A Borboleta:
A borboleta é,
sem sombra de dúvida, o símbolo da transformação, pois possui diferentes formas
anatômicas e funcionais em sua vida. Rasteja enquanto que larva, dormita o sono
do silêncio dentro do casulos, e se liberta alada em sua forma adulta, alçando
vôos, esbanjando beleza e celebrando a liberdade.
Traz em sua
essência o sagrado ciclo das transformações, inaugurando a cada momento sua
eterna novidade de vida.
O Boto:
O boto ou
golfinho são os retentores do Prana, pois sutilmente dominam os segredos da
respiração. Eles sorriem graciosamente para aqueles que correspondem à sua
afetividade, espalhando a pureza e a alegria na doce sincronicidade dos afetos.
Simbolizam a aproximação, o diálogo e a interação, essencial a todos que
possuem seus propósitos consubstanciados no amor.
O Cachorro:
É não apenas
uma figura arquetípica, mas talvez o insofismável protótipo da fidelidade. É
profundamente leal àquele por quem nutre estima, ao qual vive por ele e também
morre se for necessário. Simboliza a mais perfeita dispensação, a eterna
amizade incondicional. Mais que um símbolo da lealdade, se faz um impoluto
paradigma ao qual os humanos necessitam se espelhar.
O
Cavalo:
Traz intrínseca
toda a versatilidade daqueles que velozmente traçam seus próprios destinos.
Simboliza o vigor incansável que supera os obstáculos.
É a beleza que
se esforça, seguindo os caminhos que o destino mapeia durante de suas
perspectivas.
Seu elemento
também é a terra, na qual transcende os espaços sob a intrépida imponência
própria daqueles seguros de sua força.
...E seguem infatigáveis
suas longas jornadas.
A Cobra:
Descrita no
livro do Gênesis como a mais astuta entre as alimárias, traz, combinada à sua
peculiar astúcia, seu poder de renovação. Pois se renova a cada troca de pele,
conferindo a virtude da adaptabilidade. Simboliza o contínuo ciclo renovador e
regenerador. Nesta essência regeneradora, consagra o poder da cura, e, ao mesmo
tempo a morte, através de seu veneno mortal. O remédio, que traz a cura, difere
através da dosagem, do veneno que traz a morte. Por isso rasteja entre a vida e
a morte, o secreto "caduceu" que desvela a eternidade.
A Coruja:
Ela vê aquilo
que quase ninguém vê. Atenta aos ruídos, espreita os movimentos na sutileza de
quem vela o silêncio e segrega os espaços. Noturna, observa através da escuridão,
silenciosa a ouvir as vozes da penumbra. Simboliza a sabedoria, a magia a visão
astral. Sussurra mensageira na escuridão vazia, preenchendo os místicos
caminhos escondido entre os mistérios.
O Dragão:
Representa a
mais remota ancestralidade, a mítica sabedoria daquele que voa apesar do peso,
daquele que lança chamas, apesar da humidade exterior; daquele que é magnífico,
apesar de assustador. Revela o contraditório, essencial àqueles que questionam
galgando os elevados caminhos do saber.
Estar aberto ao contrário é o
enfrentamento da sombria caverna onde se esconde o dragão da sabedoria. Sua
essência se estriba no domínio próprio, sem o qual se queima nas chamas do
mesmo fogo que serviria para a iluminação.
O Esturjão:
Próprio do
elemento água da qual retira vida, traz em si a tenacidade, a força viva que
nada contra as correntezas e adentra nas profundas águas do sagrado e do
mistério. Simboliza a força daquele que busca, dos "buscadores da
verdade" que destemidamente avançam nas águas profundas onde submergem os
arcanos e elevam-se as consciências.
A Formiga:
Incansável,
determina seus propósitos pacientemente no contínuo dinamismo comunitário.
Fazendo, através da união, a força que supera as adversidades de sua pequenez.
Simboliza a tenacidade e o esforço, integradas ao ideal coletivo de uma meta
essencial.
O Gato:
Dorme formando
o círculo. Traz em seus olhos todos os períodos das lunações nas vinte e quatro
horas do dia. Veem o invisível e
pressentem aquilo que ainda não podem observar. Simboliza a sensualidade, a
sutileza e os mistérios do mundo da magia. Caminham pelas sutis subdivisões do
astral, e sutilmente exaltam sua esperteza tão necessária em um mundo no qual
hora são caças, hora caçadores.
O Grilo:
É o inseto
noturno que celebra continuamente a fartura onde se encontra.
Simboliza a voz
interior a propagar o otimismo e o contentamento.
No oriente era
um sinal de mal presságio quando repentinamente os grilos paravam sua cantoria.
Traz em si o poder da sonoridade, também como uma perspectiva de cura
consubstanciada na alegria envolvente transformadora de energias.
O Lagarto:
É aquele que
ensina a sobrevivência. Traz intrínseco ao seu ser todo o poder da regeneração.
Ele atravessou eras, se adaptando, se renovando e, acima de tudo, se
transformando para se integrar às mudanças do meio, às mudanças do mundo em
constantes transformações. É o símbolo da adaptabilidade, sempre versátil,
seguindo as mudanças, sem nunca olhar para trás.
O Leão:
Possui evidente
beleza, grandeza e imponência, os atributos régios daquele que tem o domínio, a
nobreza e a combatividade essencial para a superação de todos os obstáculos,
especialmente a própria insegurança.
A coragem, a
liderança e a autoconfiança estão simbolizadas neste magnífico arquétipo do
elemento fogo.
A Lebre:
Representa essencialmente a agilidade, o atributo especial
daqueles que correm contra o tempo, vencendo os espaços e superando distâncias.
Possui a força da fertilidade. Faz do receio a própria
esperteza que lhe confere o dinamismo.
O Leopardo:
É o grande
guardião do mundo espiritual. Tem em si aliadas a força, a sutileza e a
intrepidez. Estes três atributos dirigem suas perspectivas para a proteção
espiritual daqueles que possuem o mérito do alinhamento subconsciente com as
suas peculiaridades.
O Lobo:
O Lobo é um
animal do poder especial, pois possui a particularidade de traçar novos
caminhos, estabelecer novas rotas, mudar suas direções. É o explorador dos
espaços vinculado intimamente ao astral, por isso faz sua saudação à Lua no seu
particular ritual do chamamento. Eivado
da misteriosa percepção da natureza, ele se faz mestre daqueles que seguem os
caminhos alternativos das paragens astrais. Abre as portas de seu
"expresso noturno" a todos aqueles desejosos a decifrar a voz do
silêncio, que fala de mistérios insondáveis ao raciocínio, mas esclarecedores
aos aflorados instintos nas noites claras de luar.
O Morcego:
Assim como
vários outros animais possui o dom de ver o invisível. Assombra os céus
noturnos através de seus voos tétricos emitindo sua incomum sonoridade.
Representa a singularidade de ser o único mamífero capaz de voar, simbolizando
as exceções, quebrando regras, abrindo espaço para as possibilidades.
Arquetipicamente representa a mudança de padrões, túmulo para velhos conceitos,
berço para novas proposições.
A Onça:
Aqui pode ser
compreendido o puma e também as jaguatiricas. Semelhante ao arquétipo do
leopardo em suas características, possui também o padrão específico da
precisão, pois, através da atenção que precede todas as suas ações, calcula
exatamente todas as minúcias e possibilidades, tornando-se quase infalível na
tomada de suas metas.
A Raposa:
Possui as
qualidades inerentes à sua disposição habilidosa, as quais são a astúcia, a
observação, e a presteza de suas ações precedidas pela celeridade de seus
pensamentos.
É a simbologia
da habilidade, altamente eficaz na execução de toda obra esmerada.
A Salamandra:
Em semelhança ao sapo, este anfíbio possui
grande parte de sua vida em estado larval, transformando-se em animal terrestre
na fase adulta. Diz a lenda que resiste ao fogo, devido a saírem dos troncos
quando estão a arder em chamas.
Sua
característica essencial, porém, é a regeneração, tanto que as salamandras
mexicanas vêm sendo amplamente estudadas devido a este fator peculiar inerente
à sua natureza. Simboliza a regeneração transformadora, a adaptabilidade
intimamente associada à sua forte conexão Elemental.
O Sapo:
É o animal que
possui dupla jornada de vida. Anfíbio, quando girino, respira o oxigênio da
água, e em sua fase adulta o oxigênio do ar. Simboliza a adaptação, assim como
também o mistério da transformação, essencial para o alcance dos níveis mais
elevados de consciência. Alimenta-se de
insetos e larvas, que faz deste uma peça importantíssima no equilíbrio
ecológico, dentro da teia alimentar.
Simboliza o
equilíbrio transformador, um elemento chave das equações que traduzem no
crescimento, suave e contínuo como os ruídos de uma noite de verão em meio à
solidão de uma floresta.
O Tigre:
Carrega em si o
poder, a grandeza e a força. Traz estampada em sua imagem a ferocidade benigna
de atacar as sugestões contrárias, o espírito combativo para alcançar
superações. É o grande gato que, uma vez cativado, afugenta as influências
negativas e toda espécie temores que possam advir de uma eventual falta de
segurança.
O Touro:
É a imagem
arquetípica da potência, da fertilidade e da sexualidade. O touro traz em si o
aspecto da liderança, da força geradora, prolífera e produtiva. Sua potência
está presente em seu porte, do qual emana toda a essência da ancestralidade.
O Urso:
Este animal
possui três grandes características fundamentais: extraordinária beleza que
inspira pavor; consegue se manter ereto sobre suas duas patas traseiras, faz
uma longa hibernação invernal, baixando seu metabolismo a níveis
imperceptíveis. Por estes três aspectos, é a figura arquetípica da força, da
capacidade e da introspecção. Adentra no seu sono, no colo da mãe terra, para
reinventar a vida nos primeiros ares da primavera.
O Vaga-Lume:
É o inseto
noturno que embeleza a escuridão. Sua luz própria cintila na penumbra como
pequenas estrelas passeando pelo breu. É a luz intrínseca autenticando a força
da vida que interpenetra o vazio aparente. A luz do pequeno ser que representa
a inequívoca potencialidade interior. É o arquétipo da iluminação, da esperança
e da verdade, que doa seus pontos luminosos aos olhos que almejam os archotes
espirituais.
Como podemos
ver, perfazem o número de 28 arquétipos, que é o número da divindade
multiplicado pelo número 4, dos quatro elementos dos quais derivam todas as
manifestações visíveis da natureza.
Também sua redução cabalística tem como resultado o número 10, ou seja, o número 1, a unidade, o princípio do qual derivam todas as coisas.
Também sua redução cabalística tem como resultado o número 10, ou seja, o número 1, a unidade, o princípio do qual derivam todas as coisas.
Observamos que
os animais representam os arquétipos de inúmeras características, cuja essência
empodera aqueles que as consegue agregar em sua bagagem espiritual. Eles
integram a nossa natureza, e, uma vez revelados, nos reintegram à natureza na
qual perdemos a conexão. A natureza está inserida dentro de nós assim como
estamos também inseridos dentro dela. A
consciência de que não somos seres isolados faz com que vivenciamos a
integração com o Todo, possibilitando a canalização do misterioso poder
subjacente a todas as coisas, e que estrutura os mundos.
Somos células
deste "sistema", deste "corpo" que congrega o movimento de
"vida", assim como os animais são as células que compõem nosso
universo intrínseco, e nos faz despertar para a conexão com o universo no qual
estamos inseridos.
Integramos o
Todo, somos parte desse Todo e Ele está em nós. O íntimo segredo de uma parte
revela todo segredo do Todo, pois todos somos Um. E o retorno a essa unidade é
a razão de ser e de existir. Compreender a essência íntima é desvendar os
insondáveis arcanos do universo. Assim como os animais do poder dão
conformidade à nossa essência primordial, seremos o animal do poder perante as
forças futuras, na grande era da regeneração.
Paz e Luz.
Om Tat Sat Om