Todas as coisas possuem uma origem. Chamemos esta origem de
causa. Toda causa engendra consequências e suas derivações, toda derivação
segue direcionamentos infindáveis seguindo a lei cósmica da transformação. Imaginemos
uma mesa de madeira. Ela tem sua origem na parte lenhosa das arvores, cada
árvore é o resultado de milhões de anos de evolução, de transformação, a partir
das mais simples moléculas de aminoácidos formados através das reações químicas
a partir das combinações do átomo de carbono com inúmeros outros elementos.
Voltemos novamente à mesa e sigamos as outras interações além de sua matéria
prima; esta ganhou forma sob o laborioso trabalho das mãos humanas, seguindo
técnicas e maquinários desenvolvidos desde a aurora da humanidade aprimorando-se
desde o período paleolítico. Adentremos no período paleolítico, que compreende um
segmento de mais de dois milhões de anos até dez mil anos atrás, conhecidos
também como período da “pedra-lascada”, quando os hominídeos começaram a
empreender seus primeiros artefatos. Os hominídeos são os ancestrais do homo
sapiens, seres humanos atuais, que surgiram por volta de 300 mil anos atrás, e
estes ancestrais humanos também são o resultado de milhões de anos de evolução
de espécies, cada vez mais simples, também formadas a partir dos mesmos
aminoácidos dos quais se formaram os mesmos espécimes vegetais mencionados logo
acima. Este é o ponto de convergência entre o homem, fabricante e modelador da
mesa, e a matéria prima, a madeira, proveniente das árvores que seguiram sua
linha evolutiva paralela à linha evolutiva humanoide. Anterior aos aminoácidos
os elementos se combinaram em uma gradual sequencia de complexidade, e, em
algum momento, ainda num ambiente onde o oxigênio ainda era inexistente, os
primeiros organismos teriam surgido na forma de seres unicelulares
heterótrofos, nutrindo-se de matéria orgânica.
Não devemos
esquecer que a Terra possui mais de quatro bilhões de anos. Da formação do
planeta terra, até toda a diferenciação que conhecemos, poderemos dar o nome de
sequenciamento. Se formos seguindo à contra mão da cronologia veremos que a
terra se formou a partir da aglomeração contínua de massas devido à atração
gravitacional. O Sistema Solar, por sua vez, foi formado a partir de uma nuvem
de poeira e gás. Esta é conhecida como Nebulosa Solar Primitiva, à qual após o
fim do equilíbrio gravitacional, ocorreu a contração, dando inicio ao Sistema
Solar. Não é o objetivo aqui, contudo, detalhar cientificamente cada etapa da
formação das galáxias, ou mesmo do universo que, segundo a teoria cosmológica,
se formou a partir de um momento, de um ponto, o qual se denominou “Big Bang” há
cerca de catorze bilhões de anos.
Big Bang é uma
expressão incrivelmente pobre para se tentar descrever aquilo que é quase intraduzível
à linguagem humana. Adentrando no campo metafisico, poderemos dizer que o Big
Bang é o Fohat, a força de interação entre a Ideação Cósmica e a Substância
Cósmica, ou seja, a energia pura que fecunda o espaço puro, dando origem ao
Mulaprakriti, que significa raiz da matéria. A matéria é, portanto, formada à
partir de Fohat, a energia primordial que se densifica formando a matéria densa
que conhecemos. A matéria nada mais é que uma ilusão. Voltemos à mesa de
madeira: ela é formada por celulose, a celulose por inúmeros átomos cujo
elemento principal é o carbono. Poderemos adentrar em qualquer outro átomo, mas
visualizemos esquematicamente o carbono, seu essencial formador. O núcleo do
carbono é formado por seis prótons e seis nêutrons, cada um destes elementos,
tanto o próton quanto o nêutron, são formados por quarks, interagidos por glúons.
Estas subpartículas atômicas são nada mais, que conglomerados de energias,
formadas sempre da conjugação de outras energias mais sutis até chegarmos à
energia primordial, que estrutura a essência do universo. Esta energia
primordial é a onipresença divina, o Fohat é a força ativa da própria divindade,
em sua imanência, em sua manifestação. Todas as coisas se fazem presentes e existentes
alicerçadas nesta energia primordial, tudo se equaciona a partir desta energia
primordial. Tudo se origina na sutileza e se densifica. A mecânica celeste, a
expansão do universo, os ciclos dos elementos, a formação da terra, seus seres,
suas historias, tudo é um sequenciamento onde está presente a sua própria
energia formadora. Somos a poeira das estrelas. Em cada um de nós há átomos que
se renovam aos milhões a cada dia. Uma pessoa que vemos agora daqui a uma
semana não será a mesma, pois terão seus átomos totalmente renovados na
constante transformação da matéria. Pode haver em nosso corpo, em um
determinado momento, átomos que já fizeram parte do corpo de um Moisés, de um
Eliseu, de um simples pardal ou da árvore cuja madeira fora transformada na
mesa, tão importante no presente texto.
Todas as coisas
se reciclam sob as leis da transformação que se dá através do dinamismo e do
equacionamento da energia primordial. A vida é um fluxo constante das
incomensuráveis trajetórias das diferenciações. Compreender a fundo este
equacionamento é discernir os propósitos da existência, discernir seus detalhes
é aquilo que se chama sabedoria. Sabemos a sua origem e seu destino, pois tanto
sua origem quanto o seu destino estão contidos na própria essência das
energias. Viemos desta energia primordial e caminhamos novamente para ela. O segredo
da existência é a descida à matéria densa e seu retorno à energia sutil. Viemos
de deus e regressaremos novamente ao seio da divindade. Posso dizer até algo
mais: nunca deixamos o seio da divindade, pois a energia primordial está em
nós, estruturando tudo aquilo que somos, vemos e sentimos. A verdadeira alegria
não está condicionada a um futuro retorno ao seio da divindade, mas a noção e a
certeza que estamos inseridos nele, e que Deus está presente em nós e em todas
as coisas a todo o momento, aqui e agora.
Um simples esquema
cabalístico como a Árvore da Vida demonstra tudo o que fiz referencia neste texto. As energias nascem
em Kether, derivam através de sua descida até chegar à densidade de Malkuth, o
mundo material. Ela tanto desce quanto sobe, e sua via dupla representa o
caminho do retorno, sem jamais deixar de esquecer que a energia de Kether está presente
em todas as nove esferas subsequentes. Tudo se resume em uma Respiração Divina,
o Manvântara e o Pralaya da teosofia, o dia e a noite de Brahmna. O infinito e
a eternidade estão presentes no hoje, no momento que se perpetua através desta
energia divina, onde o espaço se integra na sua inescrutável dimensionalidade, onde o tempo se anula no
ponto em que todos os momentos se encontram.
Namastê