sexta-feira, 24 de julho de 2020

O ANIMAL DO PODER


                                        
   

            O ANIMAL DO PODER

        Há inúmeros textos, artigos e obras que dissertam sobre como descobrir o "animal do poder", porém sua essência vem envolta em um grande mistério, não apenas da natureza humana, mas de sua relação com toda natureza primordial.
        Primeiramente vamos abordar o que é o Xamanismo, que é o fundamento para a concepção deste poder que acompanha o homem em sua característica essencial.

    O Xamanismo é o autoconhecimento das relações entre os indivíduos com o “Todo”, a unidade do ser com a natureza na qual ele faz parte, não somente na qual está inserido, mas na natureza que dentro dele também se insere. Através deste conhecimento, busca-se a leitura do "grande livro transcrito na natureza", através do qual se obtém a cura, tanto dos males físicos, psíquicos e espirituais. Esta "leitura" da natureza está ancorada nas ritualísticas xamânicas, as quais elevam a consciência e alteram as percepções do indivíduo, fazendo com que este seja integrado ao seu estado primordial, reconhecendo-se no Todo, compreendendo a essência única através das diversidades, mergulhando na divindade imanente em cada manifestação de existência.


        Um xamã é, portanto, um sacerdote que transita entre vários mundos, o físico, o espiritual e o arquetípico. E é justamente neste último que está o segredo da regência dos dois primeiros. O animal do poder, também chamado totem, é o grande utensílio das práticas xamânicas, é a arma mágica do xamanismo, tanto na proteção quanto no entendimento da própria razão da existência.

        Como citado anteriormente, o animal do poder se faz através de uma grandeza arquetípica, a origem deste arquétipo, contudo, está na própria formação do ser humano, através dos milhões de anos de evolução. O homem moderno saiu da selva há pouco mais de 50 mil anos. Isto sem contar que até há pouco tempo, grande parte dos seres humanos ainda eram integrados à natureza selvagem. A selva, a natureza e todos os seus segredos, está latente dentro do nosso ser, e a cada instante somos confrontados pela nossa natureza instintiva. Este animal é a imagem instintiva de nossa trajetória evolutiva. É o guardião que carrega todo nosso histórico selvagem presente no poder de nossa ancestralidade. Despertá-lo significa restabelecer o elo entre nossa individualidade restritiva, com nossa realidade abrangente, através da qual toda natureza fala através de nós.


        Descobrir o animal do poder é algo fundamentalmente positivo no caminho da espiritualidade, pois ele aflora nossa ancestralidade, e redireciona o sentido de nosso conhecimento intrínseco, permitindo que vençamos os inúmeros desafios que se interpõem em nossos caminhos presentes. O animal do poder não é, de forma alguma, uma conexão com o passado, pois ele vive em nós, em toda a formação daquilo que somos. Ele não é uma entidade espiritual externa; é de fato nossa natureza íntima que nos conecta à natureza da qual nunca realmente saímos.

        Não temos um único animal do poder, possuímos muitos através das aglutinações energéticas que formaram nosso ser, sobre as quais explanarei mais adiante.
        Há, no entanto, o principal. O "animal" que configura nosso aspecto principal ligado à natureza e que serviu de base nas aglutinações que estruturaram o encadeamento do nosso ego atual.
        Sob este elemento principal, encontramos inúmeros animais que nos serão familiares em meio à nossa estruturação. Encontrar essas configurações é perfeitamente possível através da meditação profunda. Meditamos até mergulharmos no Todo, até perdermos momentaneamente nossa identidade individual. Adentraremos no ponto de origem, não apenas na essência de nosso próprio ser, mas na essência de todas as coisas, na qual deixamos de pensar para simplesmente sentir; vivenciar a grande realidade universal onde nos reconhecemos como o próprio Universo, no qual estamos e que também está em nós.
        Através deste mergulho poderemos desfragmentar toda a formação que deu origem àquilo que somos, e, neste caminho está o animal do poder no qual olharemos os olhos como se estivéssemos diante de um velho espelho.

        Como citado em textos anteriores, existe uma ilusão de individualidade, e, consequentemente, de separatividade. A alma humana não é, de maneira alguma, indivisível, e se forma, ou se formou da aglutinação  de energias. Uma analogia que penso ser perfeita para este entendimento é o do "curso d'água", na qual comparamos o homem a um pequeno rio, no constante fluxo de sua transitoriedade, formado pela junção de pequenos córregos, que são a junção de pequenas grotas, formadas por inúmeras fontes cujas águas se confluem desde as mais ínfimas gotas. Este pequeno rio desemboca em rios maiores, que, por sua vez deságuam no oceano. Por aí notamos que o grande oceano é composto pela aglutinação que surgem desde as primeiras gotas, que se confluem gradativamente durante todo o processo evolutivo a caminho da unidade.


        Somos, portanto, a aglutinação de todos os pequenos seres formando novos seres sempre sob um gradativo aumento de complexidade.
        Desde os organismos unicelulares há a perspectiva de aglutinação formando os pluricelulares, se integrando em novos seres no caminho evolutivo: surgiram posteriormente os anfíbios, e, na sequência os répteis, que, no eflúvio de milhões ou, até mesmo, bilhões de anos, deram sequência aos mamíferos, nos quais se encontra o homem, advindo, após uma escalada evolutiva desde o mais simples representante desta ordem, até o atual grau do desenvolvimento humano, tudo isto passando por todas as formas sequenciais de hominídeos, dos quais somos hoje uma derivação.
        Todo este processo evolutivo está desenhado na própria embriologia humana, que se inicia desde o espermatozoide que fecunda o óvulo, unicelular, passando por todos os estágios correspondentes à evolução, tudo isso no "alojamento" intrauterino.
        E, todos aqueles que já tiveram aulas de anatomia humana, sabem que, há três divisões fundamentais no cérebro humano: o cérebro basal, ou Reptiliano, formado principalmente pela medula espinhal, vem ser o cérebro instinto, responsável pelas sensações primárias de sobrevivência, como a fome, a sede, e instinto de reprodução. O segundo nível funcional é o cérebro dos mamíferos inferiores, onde se encontra o sistema límbico, o centro regulador das emoções, por esta razão é chamado "cérebro emocional". O terceiro nível corresponde ao cérebro racional, que diferencia o homem e os demais primatas dos outros animais da escala zoológica inferior. No homem há neo-córtex, através do qual consegue realizar o pensamento imbuído de abstrações, a forma mais evoluída de compreender o mundo em seus aspectos físicos temporais.



  Mas por que se alongar em assuntos tão distantes do tema em questão?

        Tal dissertação é essencial ao entendimento daquilo que vem a se caracterizar como "animal do poder", pois só assim compreendemos que o Homem é a junção de incontáveis "eus", desde os animais no mais baixo escalão evolutivo, até os animais que seguem a linha sequencial mais próxima ao ser humano.
        Portanto, o animal do poder é parte de nossa própria estrutura, que se baseia na junção de todo o agrupamento de seres formadores daquilo que somos, ou pelo menos pensamos ser.
        É fundamental saber que a evolução física caminha adjacente à evolução espiritual. Nada existe no físico que não tenha formado sua contra parte astral (espiritual). Toda matéria é a densificação das energias mais sutis. O mundo espiritual está nessa própria sutileza.


        Como vimos anteriormente, o animal do poder vem ser a manifestação das forças interiores. A força animal dentro de nós, a nossa parte intrínseca intimamente ligada à natureza, esta ligação que perdemos após milhares de anos vivendo no artificialismo de uma civilização cada vez mais distante da essência original.
        Por restabelecer esta ligação perdida, o animal do poder confere a força, o desembaraço a percepção àqueles que o encontram. Ele é uma das muitas partes que se aglutinaram para a formação daquilo que somos. São eles os animais que um dia fomos e os trazemos como memória do "registro akáshico", a grande memória universal que resguarda cada detalhe do grande equacionamento cósmico.

        A maneira de utilizar toda a sutileza desse animal, presente dentro de nós, se realiza através da mentalização, posteriormente a meditação, e, finalmente o acompanhamento que se dá através de dois níveis de consciência.
        A mentalização compreende, desde o reconhecimento deste animal, até a amplificação de nosso grau de intimidade com ele. Quando descobrimos o animal do poder principal, e, à medida que o mentalizamos buscando a gradativa acessibilidade a este, iremos descobrindo os animais do poder secundários, que aos poucos se formatarão no interior de nossa mente, à medida que mentalizamos o principal. Como disse um velho xamã: "Não é preciso ir buscá-los, eles vêm até você". Lembro-me que sempre apareciam gatos nos telhados de um barracão atrás da casa de meus pais. E os alimentávamos. Eles surgiram miando, como se captassem uma afinidade natural. Colocávamos o alimento sobre as telhas, e eles, de início, temerosamente, se aproximavam. Quando nos distanciávamos eles enfim comiam. Com o passar do tempo eles adquiriam mais confiança, e comiam diante de nossos olhos. Após algum tempo já desciam das telhas na certeza de nossa sincera afetividade. Muitos se tornavam moradores de nossa casa.


        Tudo é análogo no universo. Assim como os gatos das telhas do barracão, o animal do poder sente a afinidade natural a partir do momento que desejamos  o seu encontro. São eles "pedaços" fugidios da misteriosa essência que se transfundiu em nossa concepção humana. Com o tempo eles deixam o temor, ou, na verdade, deixamos a nossa noção de individualidade indivisível, e conectamos com estas divisões da mesma maneira que os gatos desciam das velhas telhas. A mentalização seria o processo que se inicia com a chegada do gato e se completaria com sua descida das telhas.
       Após o pleno reconhecimento do animal do poder, principal e secundários, devemos meditar em cada um deles. Deixar a impressão instintiva substituir o pensamento racional. Seguir seus passos na saborosa viagem da meditação, até o momento em que são integradas as duas essências e nos tornamos Um no contato íntimo e integrado com a natureza, na qual consequentemente também estabelecemos uma unidade indissolúvel.
        A partir do momento no qual estabelecemos a unidade com o animal este passa a nos acompanhar, como uma sombra noturna sob a luz do plenilúnio. Este acompanhamento se dá em dois níveis diferentes,  no nível físico e no nível astral.
        No nível físico quando necessitamos de força, desembaraço e percepção, invocamos sua presença em pensamento, dentro de nós, e sentiremos toda sua potência fluir dentro de nosso ser, assumindo o vigor escondido nos recônditos de nossa alma, favorecendo nosso desempenho diante dos desafios do mundo.
        No nível espiritual o processo é muito mais longo e muito mais trabalhoso de ser alcançado. Para alcançar este nível são necessárias o aprofundamento meditativo e o ancoramento através da ritualística xamânica. Tanto o aprofundamento meditativo quanto a ritualística são fundamentais para que haja o desligamento do plano físico. E tal desligamento pode ser relativamente fácil em alguns e especialmente difícil em outros. Tudo dependerá da "afinidade extra-física" intrínseca na natureza individual de cada ser.

        Este acompanhamento ocorre durante o desdobramento astral, porém não um desdobramento comum. Mas na viagem astral como próprio animal que transfere para si toda individualidade presente no ser. É como se a pessoa se transformasse no animal, e através de seus sentidos, vagasse pelo mundo espiritual, e, instintivamente, perscrutasse cada detalhe de cada coisa dentro da indescritível perspectiva da integração com o Todo.
        Neste nível de integração, o animal do poder reconhece todos os padrões dissonantes na harmonia com o Todo. Cada ser, em desarmonia com sua natureza essencial, altera seus padrões energéticos correspondentes à sua normalidade espiritual, e, consequentemente, a normalidade emocional e física. Através do animal do poder tais desarmonias são detectadas, possibilitando trabalhar esta reestruturação energética. Este é o trabalho de cura, mais efetivo que "curar" uma enfermidade a nível físico, pois qualquer distúrbio físico é o resultado de uma disfunção energética, justamente no campo da energia que o animal do poder atua.




 O Animal Totem e o Animal do Poder.

        É muito comum alguns autores atribuírem, como sinônimo, ambas as designações. De fato há muita semelhança, porém existe uma significativa diferença entre tais conceitos.
        O animal totêmico vem ser aquele com o qual a pessoa se identifica. Isso faz com que haja um regionalismo para que exista tal preferência. E, geralmente o animal totem pode ser o símbolo de uma determinada região ou de um povo. Ele seria uma representação humana dentro da perspectiva animal. Um índio norte americano dificilmente terá um tigre como o animal que se identifique, inversamente proporcional ao lobo, peculiar à sua região, com o qual terá muito maior chance de se identificar. O animal totêmico vem ser aquele com o qual a pessoa se identifica. Pois Totem é um símbolo sagrado de um clã, de uma tribo, e até mesmo de um povo.
        O animal do poder, como citamos anteriormente, é uma ferramenta de força, que emerge do próprio interior, sem que simbolize o legado intrínseco de um povo. O animal totêmico, desse modo, evidencia qualidades que a pessoa possui inspiradas neste animal que admira, no animal do poder são desenvolvidas as qualidades justamente que carece, a força naquele que é fraco, a desenvoltura naquele que é tolhido.
         É como se um urso conferisse mais força ao forte, e água conferisse a intrepidez ao tímido.
        O animal totêmico potencializa um padrão inerente.
        O animal do poder expande o leque de potencialidades.
        Como vimos, o animal totem pode ser um animal do poder, mas um animal do poder vai além do perfil intrínseco da pessoa, e, isso não significa necessariamente ser seu totem.



    Significado dos Animais do Poder.

        Seria impossível listar todos os animais do poder existentes na conformação energética humana. Por esta razão, apresento aqui alguns padrões específicos, que dispõem de peculiar significação. Muitos dos animais que não estão expostos terão profunda similitude com alguns que lhes são próximos na  escala zoológica.
        Outra questão que poderá suscitar alguma dúvida serão os animais imaginários que não apresentarei na sequência.

        Poderá surgir a seguinte questão:
        — O dragão é um animal imaginário. E por que está elencado na sequência, visto que o animal do poder é parte energética da própria formação do homem, como foi citado anteriormente?

        Devemos lembrar que realmente são energias intrínsecas formadoras de nosso próprio ser, contudo, tais energias assumem símbolos arquetípicos que exprimem características próprias essenciais, e são justamente de tais características que derivam seus significados.



                           A Águia:

        Simboliza a elevação. A elevação às grandes altitudes. Plana muito acima dos aspectos terrenos e observa o mundo de um modo que este se faz pequeno, diante de sua vasta amplitude de visualização. Singra o ar nos vôos que atestam a sua liberdade. O ar é o seu elemento onde as correspondências se expandem além de toda concretude, permeando o mais elevado plano mental, nos níveis das abstrações.
        Focaliza na distância seus objetivos, e os persegue seguindo a clareza de sua visão. É a força que direciona suas perspectivas nos altos caminhos segredados ao plano terreno.




                        A Aranha:

        Simboliza a essência criadora do Grande Espírito. Estabelece padrões, geometriza linhas, tece os modelos que refletem sua potencialidade fundamental. Sua habitação provém de sua natureza intrínseca, criando seu próprio mundo a partir de seus instintos. Vive dentro de seu próprio universo a trilhar seus caminhos resolutivos.



                        O Bisão:

        Reverenciado amplamente pelos povos ameríndios da América do Norte, o bisão, erroneamente chamado de búfalo, representa a passividade da força. Sem jamais impor seu veemente potencial de poder e tenacidade, vaga livremente pelos campos junto à própria manda, que, unida, congrega seus membros no grande espetáculo da lenta caminhada pelos imensos espaços que fazem de morada. Representa a humildade na grandeza, a união que adere as forças, e o contato íntimo com a terra, que é o seu elemento, na qual se estabelece simbolizando a ancestral sabedoria.





                     A Borboleta:

        A borboleta é, sem sombra de dúvida, o símbolo da transformação, pois possui diferentes formas anatômicas e funcionais em sua vida. Rasteja enquanto que larva, dormita o sono do silêncio dentro do casulos, e se liberta alada em sua forma adulta, alçando vôos, esbanjando beleza e celebrando a liberdade.
        Traz em sua essência o sagrado ciclo das transformações, inaugurando a cada momento sua eterna novidade de vida.

                                    


                         O Boto:

        O boto ou golfinho são os retentores do Prana, pois sutilmente dominam os segredos da respiração. Eles sorriem graciosamente para aqueles que correspondem à sua afetividade, espalhando a pureza e a alegria na doce sincronicidade dos afetos. Simbolizam a aproximação, o diálogo e a interação, essencial a todos que possuem seus propósitos consubstanciados no amor.






                     O Cachorro:

        É não apenas uma figura arquetípica, mas talvez o insofismável protótipo da fidelidade. É profundamente leal àquele por quem nutre estima, ao qual vive por ele e também morre se for necessário. Simboliza a mais perfeita dispensação, a eterna amizade incondicional. Mais que um símbolo da lealdade, se faz um impoluto paradigma ao qual os humanos necessitam se espelhar.




                       O Cavalo:

        Traz intrínseca toda a versatilidade daqueles que velozmente traçam seus próprios destinos. Simboliza o vigor incansável que supera os obstáculos.
        É a beleza que se esforça, seguindo os caminhos que o destino mapeia durante de suas perspectivas.
        Seu elemento também é a terra, na qual transcende os espaços sob a intrépida imponência própria daqueles seguros de sua força.
        ...E seguem infatigáveis suas longas jornadas.





                          
                        A Cobra:

        Descrita no livro do Gênesis como a mais astuta entre as alimárias, traz, combinada à sua peculiar astúcia, seu poder de renovação. Pois se renova a cada troca de pele, conferindo a virtude da adaptabilidade. Simboliza o contínuo ciclo renovador e regenerador. Nesta essência regeneradora, consagra o poder da cura, e, ao mesmo tempo a morte, através de seu veneno mortal. O remédio, que traz a cura, difere através da dosagem, do veneno que traz a morte. Por isso rasteja entre a vida e a morte, o secreto "caduceu" que desvela a eternidade.





               
                        A Coruja:

        Ela vê aquilo que quase ninguém vê. Atenta aos ruídos, espreita os movimentos na sutileza de quem vela o silêncio e segrega os espaços. Noturna, observa através da escuridão, silenciosa a ouvir as vozes da penumbra. Simboliza a sabedoria, a magia a visão astral. Sussurra mensageira na escuridão vazia, preenchendo os místicos caminhos escondido entre os mistérios.

  
                                    


                         O Dragão:

        Representa a mais remota ancestralidade, a mítica sabedoria daquele que voa apesar do peso, daquele que lança chamas, apesar da humidade exterior; daquele que é magnífico, apesar de assustador. Revela o contraditório, essencial àqueles que questionam galgando os elevados caminhos do saber.
         Estar aberto ao contrário é o enfrentamento da sombria caverna onde se esconde o dragão da sabedoria. Sua essência se estriba no domínio próprio, sem o qual se queima nas chamas do mesmo fogo que serviria para a iluminação.







                     O Esturjão:

        Próprio do elemento água da qual retira vida, traz em si a tenacidade, a força viva que nada contra as correntezas e adentra nas profundas águas do sagrado e do mistério. Simboliza a força daquele que busca, dos "buscadores da verdade" que destemidamente avançam nas águas profundas onde submergem os arcanos e elevam-se as consciências.






                      A Formiga:

        Incansável, determina seus propósitos pacientemente no contínuo dinamismo comunitário. Fazendo, através da união, a força que supera as adversidades de sua pequenez. Simboliza a tenacidade e o esforço, integradas ao ideal coletivo de uma meta essencial.





                                    
                          O Gato:

        Dorme formando o círculo. Traz em seus olhos todos os períodos das lunações nas vinte e quatro horas do dia.   Veem o invisível e pressentem aquilo que ainda não podem observar. Simboliza a sensualidade, a sutileza e os mistérios do mundo da magia. Caminham pelas sutis subdivisões do astral, e sutilmente exaltam sua esperteza tão necessária em um mundo no qual hora são caças, hora caçadores.






                         O Grilo:

        É o inseto noturno que celebra continuamente a fartura onde se encontra.
        Simboliza a voz interior a propagar o otimismo e o contentamento.
       No oriente era um sinal de mal presságio quando repentinamente os grilos paravam sua cantoria. Traz em si o poder da sonoridade, também como uma perspectiva de cura consubstanciada na alegria envolvente transformadora de energias.




                       O Lagarto:

        É aquele que ensina a sobrevivência. Traz intrínseco ao seu ser todo o poder da regeneração. Ele atravessou eras, se adaptando, se renovando e, acima de tudo, se transformando para se integrar às mudanças do meio, às mudanças do mundo em constantes transformações. É o símbolo da adaptabilidade, sempre versátil, seguindo as mudanças, sem nunca olhar para trás.






                          O Leão:

        Possui evidente beleza, grandeza e imponência, os atributos régios daquele que tem o domínio, a nobreza e a combatividade essencial para a superação de todos os obstáculos, especialmente a própria insegurança.
        A coragem, a liderança e a autoconfiança estão simbolizadas neste magnífico arquétipo do elemento fogo.





 
                         A Lebre:

Representa essencialmente a agilidade, o atributo especial daqueles que correm contra o tempo, vencendo os espaços e superando distâncias.
Possui a força da fertilidade. Faz do receio a própria esperteza que lhe confere o dinamismo.


                            


                      O Leopardo:

        É o grande guardião do mundo espiritual. Tem em si aliadas a força, a sutileza e a intrepidez. Estes três atributos dirigem suas perspectivas para a proteção espiritual daqueles que possuem o mérito do alinhamento subconsciente com as suas peculiaridades.





                         O Lobo:

        O Lobo é um animal do poder especial, pois possui a particularidade de traçar novos caminhos, estabelecer novas rotas, mudar suas direções. É o explorador dos espaços vinculado intimamente ao astral, por isso faz sua saudação à Lua no seu particular ritual do chamamento.    Eivado da misteriosa percepção da natureza, ele se faz mestre daqueles que seguem os caminhos alternativos das paragens astrais. Abre as portas de seu "expresso noturno" a todos aqueles desejosos a decifrar a voz do silêncio, que fala de mistérios insondáveis ao raciocínio, mas esclarecedores aos aflorados instintos nas noites claras de luar.





                      O Morcego:

        Assim como vários outros animais possui o dom de ver o invisível. Assombra os céus noturnos através de seus voos tétricos emitindo sua incomum sonoridade. Representa a singularidade de ser o único mamífero capaz de voar, simbolizando as exceções, quebrando regras, abrindo espaço para as possibilidades. Arquetipicamente representa a mudança de padrões, túmulo para velhos conceitos, berço para novas proposições.





                          A Onça:

        Aqui pode ser compreendido o puma e também as jaguatiricas. Semelhante ao arquétipo do leopardo em suas características, possui também o padrão específico da precisão, pois, através da atenção que precede todas as suas ações, calcula exatamente todas as minúcias e possibilidades, tornando-se quase infalível na tomada de suas metas.







                       A Raposa:

        Possui as qualidades inerentes à sua disposição habilidosa, as quais são a astúcia, a observação, e a presteza de suas ações precedidas pela celeridade de seus pensamentos.
        É a simbologia da habilidade, altamente eficaz na execução de toda obra esmerada.







                    A Salamandra:

        Em semelhança ao sapo, este anfíbio possui grande parte de sua vida em estado larval, transformando-se em animal terrestre na fase adulta. Diz a lenda que resiste ao fogo, devido a saírem dos troncos quando estão a arder em chamas.
        Sua característica essencial, porém, é a regeneração, tanto que as salamandras mexicanas vêm sendo amplamente estudadas devido a este fator peculiar inerente à sua natureza. Simboliza a regeneração transformadora, a adaptabilidade intimamente associada à sua forte conexão Elemental.






                        O Sapo:

        É o animal que possui dupla jornada de vida. Anfíbio, quando girino, respira o oxigênio da água, e em sua fase adulta o oxigênio do ar. Simboliza a adaptação, assim como também o mistério da transformação, essencial para o alcance dos níveis mais elevados de consciência.   Alimenta-se de insetos e larvas, que faz deste uma peça importantíssima no equilíbrio ecológico, dentro da teia alimentar.
        Simboliza o equilíbrio transformador, um elemento chave das equações que traduzem no crescimento, suave e contínuo como os ruídos de uma noite de verão em meio à solidão de uma floresta.







                         O Tigre:

        Carrega em si o poder, a grandeza e a força. Traz estampada em sua imagem a ferocidade benigna de atacar as sugestões contrárias, o espírito combativo para alcançar superações. É o grande gato que, uma vez cativado, afugenta as influências negativas e toda espécie temores que possam advir de uma eventual falta de segurança.






                        O Touro:

        É a imagem arquetípica da potência, da fertilidade e da sexualidade. O touro traz em si o aspecto da liderança, da força geradora, prolífera e produtiva. Sua potência está presente em seu porte, do qual emana toda a essência da ancestralidade.






                         O Urso:

        Este animal possui três grandes características fundamentais: extraordinária beleza que inspira pavor; consegue se manter ereto sobre suas duas patas traseiras, faz uma longa hibernação invernal, baixando seu metabolismo a níveis imperceptíveis. Por estes três aspectos, é a figura arquetípica da força, da capacidade e da introspecção. Adentra no seu sono, no colo da mãe terra, para reinventar a vida nos primeiros ares da primavera.





                     O Vaga-Lume:

        É o inseto noturno que embeleza a escuridão. Sua luz própria cintila na penumbra como pequenas estrelas passeando pelo breu. É a luz intrínseca autenticando a força da vida que interpenetra o vazio aparente. A luz do pequeno ser que representa a inequívoca potencialidade interior. É o arquétipo da iluminação, da esperança e da verdade, que doa seus pontos luminosos aos olhos que almejam os archotes espirituais.

       

        Como podemos ver, perfazem o número de 28 arquétipos, que é o número da divindade multiplicado pelo número 4, dos quatro elementos dos quais derivam todas as manifestações visíveis da natureza.
        Também sua redução cabalística tem como resultado o número 10, ou seja, o número 1, a unidade, o princípio do qual derivam todas as coisas.



        Observamos que os animais representam os arquétipos de inúmeras características, cuja essência empodera aqueles que as consegue agregar em sua bagagem espiritual. Eles integram a nossa natureza, e, uma vez revelados, nos reintegram à natureza na qual perdemos a conexão. A natureza está inserida dentro de nós assim como estamos também inseridos dentro dela.   A consciência de que não somos seres isolados faz com que vivenciamos a integração com o Todo, possibilitando a canalização do misterioso poder subjacente a todas as coisas, e que estrutura os mundos.
        Somos células deste "sistema", deste "corpo" que congrega o movimento de "vida", assim como os animais são as células que compõem nosso universo intrínseco, e nos faz despertar para a conexão com o universo no qual estamos inseridos.
        Integramos o Todo, somos parte desse Todo e Ele está em nós. O íntimo segredo de uma parte revela todo segredo do Todo, pois todos somos Um. E o retorno a essa unidade é a razão de ser e de existir. Compreender a essência íntima é desvendar os insondáveis arcanos do universo. Assim como os animais do poder dão conformidade à nossa essência primordial, seremos o animal do poder perante as forças futuras, na grande era da regeneração.

        Paz e Luz.
        Om Tat Sat Om

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