terça-feira, 24 de setembro de 2019

O EQUACIONAMENTO CÓSMICO

       

        Todas as coisas possuem uma origem. Chamemos esta origem de causa. Toda causa engendra consequências e suas derivações, toda derivação segue direcionamentos infindáveis seguindo a lei cósmica da transformação. Imaginemos uma mesa de madeira. Ela tem sua origem na parte lenhosa das arvores, cada árvore é o resultado de milhões de anos de evolução, de transformação, a partir das mais simples moléculas de aminoácidos formados através das reações químicas a partir das combinações do átomo de carbono com inúmeros outros elementos. Voltemos novamente à mesa e sigamos as outras interações além de sua matéria prima; esta ganhou forma sob o laborioso trabalho das mãos humanas, seguindo técnicas e maquinários desenvolvidos desde a aurora da humanidade aprimorando-se desde o período paleolítico. Adentremos no período paleolítico, que compreende um segmento de mais de dois milhões de anos até dez mil anos atrás, conhecidos também como período da “pedra-lascada”, quando os hominídeos começaram a empreender seus primeiros artefatos. Os hominídeos são os ancestrais do homo sapiens, seres humanos atuais, que surgiram por volta de 300 mil anos atrás, e estes ancestrais humanos também são o resultado de milhões de anos de evolução de espécies, cada vez mais simples, também formadas a partir dos mesmos aminoácidos dos quais se formaram os mesmos espécimes vegetais mencionados logo acima. Este é o ponto de convergência entre o homem, fabricante e modelador da mesa, e a matéria prima, a madeira, proveniente das árvores que seguiram sua linha evolutiva paralela à linha evolutiva humanoide. Anterior aos aminoácidos os elementos se combinaram em uma gradual sequencia de complexidade, e, em algum momento, ainda num ambiente onde o oxigênio ainda era inexistente, os primeiros organismos teriam surgido na forma de seres unicelulares heterótrofos, nutrindo-se de matéria orgânica. 


       Não devemos esquecer que a Terra possui mais de quatro bilhões de anos. Da formação do planeta terra, até toda a diferenciação que conhecemos, poderemos dar o nome de sequenciamento. Se formos seguindo à contra mão da cronologia veremos que a terra se formou a partir da aglomeração contínua de massas devido à atração gravitacional. O Sistema Solar, por sua vez, foi formado a partir de uma nuvem de poeira e gás. Esta é conhecida como Nebulosa Solar Primitiva, à qual após o fim do equilíbrio gravitacional, ocorreu a contração, dando inicio ao Sistema Solar. Não é o objetivo aqui, contudo, detalhar cientificamente cada etapa da formação das galáxias, ou mesmo do universo que, segundo a teoria cosmológica, se formou a partir de um momento, de um ponto, o qual se denominou “Big Bang” há cerca de catorze bilhões de anos. 


       Big Bang é uma expressão incrivelmente pobre para se tentar descrever aquilo que é quase intraduzível à linguagem humana. Adentrando no campo metafisico, poderemos dizer que o Big Bang é o Fohat, a força de interação entre a Ideação Cósmica e a Substância Cósmica, ou seja, a energia pura que fecunda o espaço puro, dando origem ao Mulaprakriti, que significa raiz da matéria. A matéria é, portanto, formada à partir de Fohat, a energia primordial que se densifica formando a matéria densa que conhecemos. A matéria nada mais é que uma ilusão. Voltemos à mesa de madeira: ela é formada por celulose, a celulose por inúmeros átomos cujo elemento principal é o carbono. Poderemos adentrar em qualquer outro átomo, mas visualizemos esquematicamente o carbono, seu essencial formador. O núcleo do carbono é formado por seis prótons e seis nêutrons, cada um destes elementos, tanto o próton quanto o nêutron, são formados por quarks, interagidos por glúons. Estas subpartículas atômicas são nada mais, que conglomerados de energias, formadas sempre da conjugação de outras energias mais sutis até chegarmos à energia primordial, que estrutura a essência do universo. Esta energia primordial é a onipresença divina, o Fohat é a força ativa da própria divindade, em sua imanência, em sua manifestação. Todas as coisas se fazem presentes e existentes alicerçadas nesta energia primordial, tudo se equaciona a partir desta energia primordial. Tudo se origina na sutileza e se densifica. A mecânica celeste, a expansão do universo, os ciclos dos elementos, a formação da terra, seus seres, suas historias, tudo é um sequenciamento onde está presente a sua própria energia formadora. Somos a poeira das estrelas. Em cada um de nós há átomos que se renovam aos milhões a cada dia. Uma pessoa que vemos agora daqui a uma semana não será a mesma, pois terão seus átomos totalmente renovados na constante transformação da matéria. Pode haver em nosso corpo, em um determinado momento, átomos que já fizeram parte do corpo de um Moisés, de um Eliseu, de um simples pardal ou da árvore cuja madeira fora transformada na mesa, tão importante no presente texto.


       Todas as coisas se reciclam sob as leis da transformação que se dá através do dinamismo e do equacionamento da energia primordial. A vida é um fluxo constante das incomensuráveis trajetórias das diferenciações. Compreender a fundo este equacionamento é discernir os propósitos da existência, discernir seus detalhes é aquilo que se chama sabedoria. Sabemos a sua origem e seu destino, pois tanto sua origem quanto o seu destino estão contidos na própria essência das energias. Viemos desta energia primordial e caminhamos novamente para ela. O segredo da existência é a descida à matéria densa e seu retorno à energia sutil. Viemos de deus e regressaremos novamente ao seio da divindade. Posso dizer até algo mais: nunca deixamos o seio da divindade, pois a energia primordial está em nós, estruturando tudo aquilo que somos, vemos e sentimos. A verdadeira alegria não está condicionada a um futuro retorno ao seio da divindade, mas a noção e a certeza que estamos inseridos nele, e que Deus está presente em nós e em todas as coisas a todo o momento, aqui e agora. 



       Um simples esquema cabalístico como a Árvore da Vida demonstra tudo o que  fiz referencia neste texto. As energias nascem em Kether, derivam através de sua descida até chegar à densidade de Malkuth, o mundo material. Ela tanto desce quanto sobe, e sua via dupla representa o caminho do retorno, sem jamais deixar de esquecer que a energia de Kether está presente em todas as nove esferas subsequentes. Tudo se resume em uma Respiração Divina, o Manvântara e o Pralaya da teosofia, o dia e a noite de Brahmna. O infinito e a eternidade estão presentes no hoje, no momento que se perpetua através desta energia divina, onde o espaço se integra na sua  inescrutável  dimensionalidade, onde o tempo se anula no ponto em que todos os momentos se encontram.

Namastê