quarta-feira, 30 de setembro de 2020

OS BODDHISATTVAS

 


                   OS BODDHYSATTVAS.

 

         É certo que viemos das energias primordiais e a ela retornaremos. Poderei até dizer: saímos de Deus e a Ele retornaremos. A nomenclatura sempre será uma imperfeita tradução daquilo que pensamos; as letras são grosseiras formas de se expressar, ou materializar o pensamento, o qual não é senão uma das energias mais sutis que nos acompanha, a todo o momento, emitindo e captando, cuja abstração, muitas vezes, a nomenclatura deixa muito a desejar. Utilizamos nomes para que possamos elaborar, de maneira didática, muitos conceitos, cuja abstração necessita de uma ancoragem literária. Por esta razão, é importante frisar e fixar ideias, as quais são muito mais superiores do que letras e nomes.

        No início do parágrafo anterior citei a queda e o retorno. E poderíamos dizer que, a partir do "mergulho" na densificação da matéria, iniciamos um processo evolutivo. E tal evolução é confirmada pela ciência, não apenas quando o hominídeo começou a andar de forma ereta, mas desde que se formaram os primeiros rudimentos daquilo que a própria ciência chama de "vida". O homem comum tem sua evolução espiritual, que segue o princípio do "retorno", atrelada à disposição evolutiva do encadeamento natural. Porém tal disposição, como atestam unanimemente os maiores expoentes do evolucionismo, se faz através dos milhões, senão bilhões de anos, morosamente, limitada por inúmeros ciclos cósmicos, onde as "ondas de vida" sofrem suas transformações. "A natureza não dá saltos", já disseram e continuam dizendo os grandes pensadores, porém, o ritmo ascensional do espírito humano pode saltar sobre a morosa jornada evolutiva, superando a natureza da materialidade, galgando a patamares além da perspectiva natural do mundo, impulsionada pela espiritualidade que transcende todo aspecto da concretude material. Este salto, além da perspectiva mundana, é o caminho da iluminação, que se dá a partir do momento no qual o ser descobre que sua natureza é espiritual, e começa a se libertar do jugo das sensações puramente físicas, e vivencia este momento de despertar. Seu veículo passa ser o espírito, não mais a "mente".

 

       Encontrei no livro Isis sem Véu, volume quarto, uma citação que Blavatsky faz de uma antiga obra: "Mais valioso que a soberania da Terra, do que a glória do céu, que o domínio dos mundos é o prêmio de quem dá o primeiro passo na senda da santidade". Este primeiro passo é o "momento do despertar". É em cima desta "senda da santidade" que damos início daquilo que a "nomenclatura", ainda que antiga, nomeia os seres que trilham tal senda: os Boddhisattvas.

       Segundo a escola budista Mahayana (do sânscrito, "maha": grande, "Yana": veículo— o Grande Veículo) tal nomenclatura provém da linguagem sânscrita, na qual "boddhy", significa iluminando (boddhay: iluminação); e "sattva", que significa ser. Boddhisattva, portanto, significa "ser iluminado". É um ser que está no caminho da buddhaidade, para se tornar um Buddha, mas adia sua iluminação final para servir à humanidade, dentro do mais amplo espírito de compaixão a todos os seres.

        Dois pontos são essenciais de serem registradas: a primeira é a de que Buddha não é o nome de alguém, como tanto se confundem com Sidarta Gautama, popularmente conhecido por Buddha. Sidarta, que nasceu na Índia, meio milênio antes de Cristo, é um Buddha, porque atingiu o estado de iluminação suprema, assim como muitos outros Buddhas, anteriores a ele, e muitos que virão em sua sequência. Buddha é, portanto um estado, ou o título que se dá ao estado de consciência mais sublime, mais elevado.  O segundo ponto é um pequeno comentário, para que  seres como nós, não caiamos jamais na arrogância de sentirmos donos, ou mandatários de alguma verdade. Pois é simplesmente infindável a lista de seres evoluídos, Boddysattvas ou não, que morreram nas mãos de néscios seres humanos, que não compreenderam os ensinamentos destes mestres, e simplesmente os martirizaram por seus conceitos serem antagonistas às suas "verdades". Disse certa vez um velho mestre: "Se algum dia estiver em dúvida sobre dois conceitos, observe qual destes tenta impor com mais vigor a sua tese, certamente este será o mais errôneo".

        Vejamos agora a diferença de alguns conceitos baseados na nomenclatura.

 

 


DIFERENÇA ENTRE BUDDHA E BODDHYSATTVAS.

 

        Buddha, conforme citação anterior, é um ser que atingiu a iluminação suprema, e seu significado literal vem ser "desperto". Pois atinge o despertar para a existência real, que é a amplitude, ou melhor, o clímax da plena sabedoria e compaixão. Buddha é o estado daquele que atingiu o supremo, completo, perfeito e máximo estado de iluminação. É o ser que retornou ao lar sagrado da eterna bem aventurança.

        Diferente de um Buddha, o Boddysattva está no caminho de despertar, um estágio altamente evoluído, mas que ainda não atingiu a Buddhaidade. É um ser, próximo à suprema iluminação, que tem o desejo essencial de auxiliar todos os seres nesse propósito, para extinguir-lhes o sofrimento na Roda do Samsara, o ciclo das reencarnações. Deste modo, um Boddhysattva está próximo ao despertar supremo, cujo grau não aspira apenas para si, mas para todos os seres.

 


 AS ASPIRAÇÕES BÁSICAS DO BODDHYSATTVA.

 

        As aspirações básicas do Boddhysattva são chamadas no budismo Mahayana de "Os Quatro Votos Universais".

São eles:

        1. Os seres sencientes são inumeráveis, faço votos de guiá-los à libertação.

        2. As aflições mentais são infinitas, faço voto de extingui-las por completo.

        3. Os métodos do Dharma são ilimitados, faço voto de estudá-los e aprendê-los.

        4. O caminho de Buddha é insuperável, faço voto de trilhá-lo até a realização.

 

 


                    OS CAMINHOS.

 

        É importante citar que os ensinamentos do Buddha Sidarta Gautama, fizeram dois caminhos principais, a fim de que se possa trabalhar o potencial existente no homem e na natureza essencial da vida, o Caminho Maior, ou o Grande Veículo, e o Caminho Menor, ou Pequeno Veículo.

        O Caminho Menor, Hinayana, cujos seguidores na iluminação  se denomina Shravakas, "aqueles que acatam o ensinamento". Consideram a felicidade do mundo como superficial e ilusória, e encontram sua força na meditação. Possuem como meta essencial se tornar um Arhat, aquele que atinge a iluminação, e o pleno despertar na suprema paz.

        O Caminho Maior, o Mahayana, ou Grande Veículo, cujos seguidores no caminho da iluminação vêm ser os Boddhysattvas, foco deste texto, difere do Hinayana precisamente neste aspecto. Diferentes dos Shravakas, os Boddhysattvas seguem o caminho para tornarem-se Buddha, porém não se retiram para a paz interior, antes se envolvem com o mundo, antes de sua iluminação suprema, auxiliando a humanidade mesmo nos mais baixos planos de vibração. Tanto os Boddhysattvas quanto os Shravakas estão em um patamar de evolução indescritivelmente superior ao homem comum. Ambos estão próximos ao Nirvana, cujo significado é "sofrimento transcendido".

        Existe também o Budismo Vajrayana, que possui o significado de Veículo de Diamante que é o budismo tântrico, profundamente esotérico. É considerado como uma extensão do próprio Mahayana, ou um de seus caminhos, pois alguns autores o consideram como um caminho e não propriamente uma escola diferente.

        Outra escola do budismo, carregada de importância, vem ser o Theravada. É a mais antiga escola budista, cuja significação literal é "Ensino dos Sábios", e, em tais ensinos enfatizam a focalização, nos quais suas experiências estão profundamente alicerçadas. Muitas pessoas confundem Theravada com o Hinayana, o que vem ser um grande erro advindo do desconhecimento da essência fundamental de ambas as escolas.

        Para adentrar detalhadamente nos conceitos do budismo e do próprio estado de Buddha seriam necessário inúmeros textos suplementares, sem contar que existe uma vasta literatura, tão vasta quanto à complexidade filosófica deste tema cuja abrangência pressupõe diferentes níveis de interpretação e entendimento.

 

 

 


           O SENTIDO DE BODDHYSATTVA.

 

        Vamos agora adentrar no verdadeiro sentido daquilo que vem a ser um Boddhysattva e seu relacionamento com a intimidade do ser humano. Podemos observar que a noção filosófica da existência dos Boddhysattvas vem ser, justamente, de um ser que ainda não atingiu a plena perfeição, ou seja, não atingiu o estado de Buddha. Está, no entanto, no caminho ascendente a esta libertação, e, seu inquebrantável desejo é estender este propósito libertador a todos os seres. Segundo nossa interpretação, o Boddysattva está além do ser humano comum e aquém do estado de iluminação presente em um Buddha. Configura-se, portanto, no estabelecimento de uma "ponte" que liga o homem à perfeição, esta que, sabidamente, está muito acima da esfera energética correlacionada aos padrões humanos que conhecermos.

        A maioria das religiões necessita estabelecer esta ponte, acima do gênero humano, abaixo de uma perfeição divina. Que surge como  "rosto humano de Deus", mais acessível, cônscio da natureza terrena, que ensina, protege e auxilia o homem o verdadeiro caminho à divindade, aparentemente distante das imperfeições presentes no mundo físico. No próprio Cristianismo, Jesus faz esta "ponte", esta ligação, como uma expressão divina presente na humanidade — o Varão Perfeito — como se pode ver na Epístola de Paulo aos Colossenses, capítulo 1, versículo 28: "A quem anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando em toda sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo”.

        Boddhisattvas então se estabelecem, também, como figuras arquetípicas, que, além de se constituírem seres em muito maior adiantamento que os humanos, incorporam as características e virtudes presentes na concepção humana de santidade, se caracterizando como fontes simbólicas de inspiração, assim como auxiliares invisíveis na dificultosa peregrinação humanas nos mundos inferiores. Desta forma, conceberam-se vários Boddhysattvas, cada qual dentro de seu padrão arquetípico, incorporando virtudes diametralmente opostas à corruptibilidade, advinda da insensatez humana. Possuem, consequentemente, os atributos essenciais para que o homem se direcione, dentro dos sagrados propósitos do caminho do retorno, rumo à libertação.

        Existe um símbolo no oriente representado pelo empilhamento de pedras, uma a uma, sobreposta sobre a outra, este proclama a estabilidade, sempre presente na mente de um Boddhysattva. Tal estabilidade é um atributo muito distante dos padrões humanos. Porém, este símbolo se traduz numa forte ancoragem psíquico espiritual, capaz de elevar os humanos além de sua natureza densa. Este símbolo, assim como muitas personificações, que veremos a seguir possuem a arquetípica imagem que o ser humano necessita, impulsionadoras da tomada do caminho espiritual.

 

 

                 


 

                 O QUE SÃO AVATÂRAS.

 

        Pensei ser bom incluir neste texto um assunto muito importante no meio esotérico, muito falado na teosofia e em inúmeras escolas iniciáticas. Muitos já ouviram falar dos avatâras, muitos são os que utilizam o termo "avatares" e muitíssimos são aqueles que desconhecem o que realmente são.

        Avatâra é uma palavra sânscrita, e tem como significado "a descida de Deus". É um termo utilizado no hinduísmo, onde muitas vezes o avatâra é reverenciado como uma divindade.

        Fora do hinduísmo este termo é utilizado para fazer menção às encarnações de diferentes divindades, ou mesmo de seres altamente evoluídos que vêm à Terra instruir a humanidade.

        É a forma encarnada de um ser superior, a manifestação física de uma divindade ou um ser altamente iluminado.

        Podemos dizer, com relação ao próprio hinduísmo, e dentro de suas crenças que Krishna é o avatâra de Vishnu. Onde Krishna se faz a encarnação da pessoa divina de Vishnu. É, portanto,o nome terreno do ser encarnado.

 

 

 


                            OS BHUMI.

 

        Segundo o budismo Mahayana, existem dez Bhumis, que são os dez estágios no caminho do despertar, ou as dez etapas do caminho da iluminação. Cada um desses estágios se revela como um degrau de realização, e, assim como uma escada, composta por dez níveis, cada um destes é a base para o próximo em seu sentido ascensional, elevando-se, gradualmente. O avanço a níveis mais elevados se dá através da sabedoria, portanto, cada degrau vem ser um passo fundamental tanto na evolução quanto no poder que se estabelece em cada um deles nesta senda de iluminação. A "escada" seria o caminho do Boddhysattva que iniciou deu caminho rumo à plenitude, e cada Bhumi seria o nível de elevação na senda. Outro nome destes níveis é Vihara, palavra sânscrita cujo significado é "mosteiro", a morada que se faz em cada um destes estágios. Os bhumis são descritos na "Sutra das Dez Etapas", antiga escritura do Budismo Mahayana.

 

        1°. Estágio: Chamado "Pramudita", que na linguagem sânscrita significa "Muito Alegre", pois o Boddysattva se encontra em estado de júbilo por ser agraciado com a superação dos "três impedimentos", os quais são os desejos mundanos; o obstáculo do Karma e o chamado "obstáculo da retribuição", que é a submissão às autoridades mundanas. Neste primeiro estágio o Boddhysattva alcança a espontânea e suprema generosidade, possuindo também o elevadíssimo poder do controle das vibrações de luz. Ele se regozija com o recebimento de um parcial aspecto da verdade, mesmo sabendo que é parcial, diferentemente dos seres humanos espiritualmente arrasados que, quando aceitam algo como "verdade", fazem desta uma verdade total em sua visão embaçada da realidade, atacando, como "mentira", todas as ideias e conceitos conflitantes com sua errônea concepção de verdade absoluta.

 

        2°. Estágio: Seu nome, em sânscrito, é "Vimala", que significa "sem máscara". Pois, de maneira natural, se afloram as mais plenas ações, engendradas na virtude, do corpo, da mente e da expressão, fazendo com que a ética moral se torne perfeita em seu maior estado de sublimação. Ele se torna o "Senhor das Preciosidades", auxiliando os seres no elevado caminho da libertação.

 

        3°. Estágio: Chamado "Prabhakari", "brilhante" em sânscrito. Nasce a luz pacificadora da sabedoria, a qual irradia a todas as direções. São aniquilados o desejo e o ódio, e, consequentemente, atinge a paciência suprema, assim como a plena visão dos mundos e os diferentes planos de vibração e existência.

 

        4°. Estágio: Seu nome em sânscrito é "Archisthamani", e significa "Radiante". A luz da sabedoria faz com que reconheça a irreal condição de "Maya" (ilusão das coisas transitórias), o ilusório mundo da impermanência, tornando-se, à partir deste grau, o cultivador das ações que buscam propagar a luz. O fogo da suprema sabedoria incinera as mundanas considerações.

 

        5°. Estágio: Em sânscrito denomina-se "Sudurjaya", cujo significado vem ser "difícil de superar". Nesta fase, ou etapa, reconhece, assimila e vivencia a essência das nobres verdades. Supera todas as dúvidas, e, da mesma maneira, as aflições, a ilusão e todas as formas de ignorância.

 

        6°. Estágio: Vem ser o "Abhimukhi", que significa "aproximação" ou "manifesto". Aproxima-se ou manifesta as qualidades de um Buddha, pelo sábio e diferenciador discernimento, assim como também pelo mergulho na quietude glorificadora, a quietude do espírito que pacifica toda essência interior suplantando o orgulho e toda pretensão advinda dos desejos. A sabedoria se manifesta, como uma rajada de luz, eliminando todas as sombras presentes no ego.

 

        7°. Estágio: É o "Duramgama", que significa "afastado". Adentra no perfeito equilíbrio, e com ele, perfaz a direta realização das verdades eternas, suplantando os vínculos com a essência egoica.

 

        8°. Estágio: Tem por designação sânscrita a palavra "Achala", que vem ser "Vigoroso". Habita firmemente a verdade do Caminho do Meio, tornando-se inabalável. Jaz na impassibilidade, acima de todos os enunciados, pois já vivencia a essência cósmica consubstanciada na verdade. É o grau elucidação.

 

        9°. Estágio: "Sadhuma", cujo significado é "Perfeita Inteligência", sendo a completa realização individual. Torna-se o conhecedor de todos os pensamentos.

 

        10°. Estágio: O décimo estágio é chamado "Dharma-Megho", "Nuvem do Dharma". Consagrado com as "excelentes chuvas das luzes". Possui a infinita e eterna sabedoria.

 

 

 


                      OS MAHASATTVAS

 

        A palavra Mahasattva provém do sânscrito; "maha" grande; "sattva" ser. Literalmente, traduziríamos como "grande ser". Seria correta a designação como "um grande ser iluminado”, e vem ser bodhisattva que atingiu pelo menos o sétimo dos dez bhumis.

        Geralmente personificar figuras arquetípicas que salientam virtudes que o ser humano deseja alcançar, assim como poderes dos quais os seres humanos necessitam para resguardar seus caminhos trilhados entre suas próprias imperfeições.

 

        1. Manjusri. Literalmente manjusri significa "suave glória", na linguagem sânscrita. Vem ser o mais antigo dos Boddhysattvas. Traz em si a figura arquetípica da sabedoria transcendente. Esclarece os pontos mais difíceis dos ensinamentos. É o Boddysattva da sabedoria, mas traz em si a força que esta sabedoria representa. É representado, portando,  com uma espada em suas mãos, a "Vajra", que simboliza a ação penetrante do poder da sabedoria, que atravessa e liberta os seres da ignorância e de "Maya", as ilusões que entorpecem o entendimento.

 

        2. Samantabhadra: Do sânscrito: o “digno universal". ("Samanta", algo universal; "bhadra", algo bom). Está associado à prática da meditação. Percorre o mundo em todas as direções predispondo a harmonia interior, essencial àqueles que iniciam e trilham a senda meditativa.

        É o patrono da Sutra do Lótus,  é um dos sutras da escola Mahayana mais conhecido e que também exerce maior influência nos estudantes. Neste Sutra, segundo muitos autores, contém os ensinamentos finais de Gautama Buddha, com os ensinamentos necessários para a plena iluminação.

        Samantahadra é também conhecido por ter feito os "dez grandes votos", que enlaçam a perspectiva e o propósito de todo Boddhysattva.

 

        3. Mahasthamaprapta: Do sânscrito "maha" significa grande; "sthama" significa poder e "prapta" aquele que traz. É, portanto aquele que traz a grande força. Traz em si a imagem arquetípica que configura a força de superação, a vontade que determina e o dinamismo que inaugura a vitória. Em suas representações traz a flor do lótus em suas mãos, a qual é um símbolo da emancipação, a flor que supera o lodo exalando a beleza contrastante.

 

        4. Akasagarbha: Seu significado, do sânscrito, vem ser: "gharba", tesouro; "Akasa", espaço ilimitado, portanto, "tesouro do espaço ilimitado". Pois sua sabedoria é considerada ilimitada como o próprio espaço. Está associado ao grande elemento "Akasha", de cuja sutileza se engendram a concretude dos mundos. Configura-se, portanto, com a figura arquetípica diretamente relacionada ao Akasha, a qual se constitui como a essência, e todo seu adjacente poder transformador.

 

        5. Kṣitigarbha: É o Boddysattva dos Grandes Votos. "Ksiti", na linguagem sânscrita, significa Terra, "garbha" significa Ventre. Seria "aquele que abriga a Terra", ou não literalmente, "tesouro da terra". É aquele que fez os inabaláveis votos de suporte e acolhimento de todos os seres, votos estes sólidos e extensos como a própria terra. Gautama Buddha descreve na Sutra sobre os votos originais do Boddhysattva Kstigarbha que este, em muitas vidas, atuou como filho ou filha buscando o direcionamento de seus pais no caminho sagrado da iluminação, por esta razão, se apresenta como uma figura arquetípica do amor filial, no respeito, no zelo e no mais pleno espírito da gratidão. Suas representações comuns aparecem como um monge em cuja cabeça há uma espécie de auréola, carregando um bastão, para escancarar as entradas dos mundos inferiores, e uma pedra cintilante para trazer a luz nos sombrios caminhos da insensatez.

 

        6. Sarvanivarana - Vishikambhin: Ele é o removedor dos obstáculos para garantir as práticas meditativas

        Sua figura arquetípica, contudo, carrega em si a virtude de aplainar os caminhos, removendo todos os obstáculos que as sugestões contrárias podem interpor na senda da iluminação.

        Suas representações se configuram como um monge com uma pele de tigre em volta da cintura e uma guirlanda na cabeça.

 

 


        7. Avalokitesvara: Literalmente, do sânscrito, vem ser "aquele que ouve os clamores do mundo". É o Boddysattva que corporifica a compaixão, o amor e a benignidade. Alguns autores denominam-no simplesmente como Buddhas da Compaixão.

        O Sutra do Lótus (Saddharma Pundarika Sutra), que é o ápice da literatura budista, faz a ele referência como capaz de assumir os mais diferentes aspectos, os quais são possíveis de se constatar através das representações que se faz do Avalokitesvara nas diferentes culturas do continente asiático, que vão desde as formas que se expressam com a ostentação de grande poder às mais humildes e simples configurações, sejam humanas ou não humanas, masculinas ou femininas, que buscam encaminhar todos os seres nos caminhos da iluminação. Diz-se que o Avalokitesvara é um antigo Buddha, das eras pretéritas, que, após a sua plena realização, se manifesta como um Boddhysattva, renunciando ao Nirvana para auxiliar a humanidade.

        Conforme mencionado acima, o Avalokitesvara assume diferentes formas em diferentes culturas, entre as quais os gêneros, masculino e feminino. Entre as figuras femininas a mais conhecida vem ser Kuan Yin, que em chinês significa "observa os clamores do mundo". Também conhecida como a Deusa da Misericórdia, Kuan Yin é o modelo arquetípico da compaixão, da misericórdia e do amparo. Amplamente conhecida na Ásia, a partir do século vinte tornou-se conhecida no ocidente, e seu modelo de mãe acolhedora despertou nos países ocidentais elevado sentimento de veneração.

        Muitos são aqueles que se concentram no nome e na figura dos Boddhysattvas para com que seja estabelecida a conexão com os aspectos transcendentes que emanam de sua configuração.

 

 


        8. Boddhisattva Maitreya:

 É o Buddha do futuro. Virá quando o mundo, em sua maioria, tiver olvidado o verdadeiro sentido do Dharma, "o caminho correto", a senda da perfeição. Segundo as escrituras, reiniciará o atual ciclo iniciado por Sidarta Gautama Buddha. Seu nome provém da raiz sânscrita "Maitri" que significa "o amoroso". Existem inúmeros cálculos sobre a data da chegada de Maitreya, desde cálculos de que já tenha chegado até um futuro de milhares de anos. É, no entanto, uma incógnita a o período de seu advento. É também muito provável que possa adentrar em nosso meio com a chegada da Nova Era de Aquário.  Por esta razão, muitos fazem a este a referência como “O Buddha da Era de Aquário”.

 

 


          Há uma história que, alegoricamente, enuncia a natureza essencial de um Boddhysattva.

        Dois homens, extremamente sedentos, atravessavam uma terra de acentuada aridez, e, após uma longa e extenuante caminhada, deram por encontrar, atrás de uma inóspita colina, uma fonte de água límpida. Após saciarem a sede, seus olhos como que se abriram, e notaram que a fonte fluía para uma grota, formando um pequeno riacho que se avolumava mais e mais conforme descia às terras baixas. Subindo em uma elevação, notaram que o riacho, gradualmente, era cercado por terrenos cada vez mais férteis, até  engrossar o arvoredo, como um paraíso que, lentamente, se formava substituindo o panorama desértico.

        Um deles diz assim: "Meu Irmão, sigamos o rio. Chegaremos às planícies férteis e colheremos os frutos das incontáveis árvores que vemos mais adiante!"

        Ao qual o outro replicou: "Eu votarei atrás dos nossos outros irmãos que estão ainda perdidos no deserto, para que, assim como nós, sorvam desta água cristalina, e possam retornar à vida".

"Está bem, meu irmão, sua intenção é sublime, e faço dela um aprendizado em minha alma. Porém segurei o caminho do rio, e poderei ajudar a todos quando reencontrarmos”. — Disse o outro.

        Terminadas suas palavras desceu o rio. O outro, porem, retornou à sequidão fazendo, a cada quilômetro, marcos de pedra para resguardar os caminhos da salvação. Este último é um Boddhysattva.

         Sempre necessitamos daqueles que conhecem os caminhos das fontes, e deveremos ter a humildade de aceitar suas instruções, da mesma maneira que este possui a humildade de retornar a atenção àqueles que vagam sem rumo nos desertos da existência.

        Mais sagrado que uma fonte nas paragens inóspita é aquele que retorna para indicar seu caminho. Abençoado é aquele que aprende. Abençoado é aquele que ensina. Tudo tem uma finalidade, nada é por acaso, só nos completamos plenamente quando vivenciamos a perfeita unidade. Esta é a plenitude do Amor. Todos somos Um.

 

       Namastê


 

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