É impossível falar da mentalização sem que nos recorramos às Leis de Hermes, especialmente a primeira de suas sete leis, a Lei ou o Princípio do Mentalismo, a qual reza: "O Todo é mente — o universo é mental".
Observemos: a Lei do Mentalismo
explicita que o cosmo se assemelha a uma configuração mentalista — uma projeção mental. Mas, poderemos indagar: Uma projeção de que mente? Da consciência cósmica, aonde se convergem todas as mentes, a manifestação mentalizada que molda tudo aquilo que supomos como realidade.
Hermes jamais falaria de uma mente restrita, limitada a um ser exclusivo, mas sim a mente suprema, da qual todas as mentes derivam e para a qual se convergem, seguindo seus demais princípios eivados de atemporalidade, assim como também aquilatados de aplicabilidade em todo o dinamismo cósmico.
Para que qualquer evento possa ser passível de execução ou elaboração é necessário que tenha sua origem, ou princípio, no estado mental, formatada em PENSAMENTO.
"Tudo é pensamento" — já disse um antigo sábio. Somos pensamento. O que é a alma senão pensamentos em profusão? O que é o Espírito senão o pensamento harmonizado com o próprio Todo?
O Todo poderemos chamar de Deus. O universo é a manifestação em concretude da própria divindade — sejam quais forem as concepções que são ilustradas pela palavra "divindade" — na qual vivemos, movemos e percebemos a existência nos eflúvios dos aeons. Podemos assim afirmar que o universo é uma manifestação da mente divina — o Pensamento de "Deus" na sublime equação das eternidades e dos infinitos.
Essa lei hermética, portanto, vem ser o princípio existencial — por isso o primeiro de todos os demais princípios, pois nela está o sequenciamento de ser, estar e existir, assim como todo o poder de engendrar circunstâncias e alterar destinos.
Como dissemos anteriormente, tudo se inicia na mente, no Plano Mental, para que depois tenha a sua plasmação no Plano Físico de existência. Imaginemos agora a construção da grande pirâmide, que se ergue até hoje, no Planalto de Gizé há mais de quatro mil anos.
Antes de se erguer imponente sobre as areias do deserto, era uma perspectiva delineada em rolos de papiro. Antes, porém, de ser uma planta desenhada nas mãos de arquitetos egípcios, nada mais era senão o pensamento idealizado por um dos faraós da quarta dinastia.
Assim todas as coisas visíveis — têm sua origem no mundo das ideias, visíveis somente na ideação, projetada pela imaginação da mente humana. Uma perspectiva de existência anterior à concretização de um pensamento.
E não estaremos restringindo apenas às plasmações palpáveis, mas prospectos sociais, filosofias, obras que carregam configurações abstratas, ideários, crenças... enfim, tudo aquilo que existe dentro da perspectiva humana de elaboração e desenvolvimento.
Vamos seguir aqui toda a perspectiva mística, esotérica e metafísica cuja chave mestra reside nesse primeiro princípio hermético tanto de aplicabilidade quanto de abordagem holística.
A mente humana é, por si só, poderosíssima. E tal superlativo tem sua mais pena razão de ser — já disse o poeta grego Teócrito (310 A.C.): “Vigie seus pensamentos, porque eles serão suas palavras. Vigie suas palavras, porque elas serão seus atos. Vigie seus atos, porque eles serão seus hábitos. Vigie seus hábitos, porque eles serão o seu destino".
Existe um eficiente exercício prático de desdobramento astral que usa a mentalização como ferramenta especial para que tal poder seja desenvolvido.
Esta técnica milenar consiste em entrar em meditação em um determinado aposento. Primeiramente o indivíduo memoriza cada objeto do cômodo no qual está inserido — para esta concentração sugiro a magnífica obra "O Raja Yoga", de Yogue Ramancharaka — em seguida o indivíduo se acomoda de maneira confortável fechando seus olhos, passando a mentalizar cada detalhe do aposento, como se estivesse se levantando, em corpo astral, voltando a observar, em uma sequência pré determinada, cada um dos detalhes previamente observados.
Após algum tempo de treino, começa a observar detalhes de outros cômodos adjacentes ao aposento, de toda a casa, passeando pelos cômodos em pensamento, como se assim estivesse em corpo físico.
O que ele estará mentalizando irá ser evidenciado em seu corpo mental — que já estudamos em textos anteriores — e assim condicionando o veículo astral, sempre submisso ao adestramento do corpo mental concreto, favorecendo assim uma primeira disposição ao objetivo de suplantar o invólucro físico em suas experiências extra corpóreas.
Os seguintes exercícios consistem, cada vez mais, em uma mentalização mais prolongada, ampliando as distâncias. O indivíduo vai além da casa, observa a quadra, a redondeza, cada vez mais ampliando seu trajeto mental até adentrar em outro local previamente observado. Ao longo de alguns meses, com mais pleno domínio da concentração e da meditação, estará iniciando seus primeiros passos de desdobramento.
É claro que há pessoas com maior dom inato para experiências extra físicas — temos um longo sequenciamento de vidas pretéritas no qual nenhuma experiência é definitivamente perdida.
É bom deixar claro que mentalização difere da imaginação, pois a primeira se baseia na concretude, sem que ocorra divagação mental. Por isso que o primeiro passo é a observação atenta de todo detalhe existente, e não perspectivas imagináveis.
O mesmo ocorre nos processos de cura — Já explanamos tal assunto na mentalização das cores — em textos anteriores — em que, cada uma das quais, se relaciona mentalmente com a saúde ou com a enfermidade.
Consiste, como já observamos, em mentalizar algumas cores como a saúde plena — a cor azul, por exemplo, ou qualquer outra que possa se relacionar, na mente do indivíduo, com uma perspectiva de saúde. Assim como outras, como a cinza, a vermelha, ou qualquer outra da preferência do indivíduo, para representar a enfermidade. O indivíduo vai substituindo, mentalmente, as "cores negativas" por "cores positivas", se concentrando sobre a enfermidade da pessoa na qual procura restabelecer a saúde. A mente treinada possui a grande potencialidade que as religiões dão o nome de "fé" — sobre a qual inúmeros mestres já disseram "mover montanhas"
O treinamento mental é o treinamento espiritual. Como vimos no início deste texto: Tudo é Mente.
Outra perspectiva do treinamento da mentalização é a visão e audição astral. É claro que, para adentrarmos nesta perspectiva extra física, deveremos alinhar e ativar os nossos chakras, essencialmente através do exercício do Nadi Shodana Pranayama — como já vimos no texto "A Ciência Mística da Respiração" — mas todo processo se desenvolve a partir da mentalização; seja no fluir do Prana através dos Nadis, seja em preparar a mente para uma concentração maior e mais profunda mentalizando nossa relação com a nossa adjacência, com o Todo, no qual estamos plenamente integrados e desconhecemos. A mentalização é este reconhecimento, ou melhor, o redescobrimento dessa perspectiva de correspondência plena — onde vemos o segundo Princípio de Hermes, o da Correspondência, pressurosamente relacionada com o Princípio do Mentalismo, do qual derivam todos os demais princípios, pois o que mantemos em nosso pensamento torna-se, efetivamente, em realidade, através do qual podemos ter a mais plena certeza de que todos os planos de existência, incluindo primeiramente o mental, assim como as mais altas ou as mais baixas frequências vibracionais, estão plenamente conectados. Não existem barreiras para a nossa mente, e, livres de qualquer limitação — quando nos tornamos conscientes que nada pode nos restringir ou limitar — temos acesso a todos esses planos.
Somos parte dessa mente universal que dinamiza os ciclos cósmicos, e, através desse exercício sagrado da mentalização, poderemos nos integrar à consciência suprema, onde estão guardados todos os mais recônditos arcanos das insondáveis perspectivas.
O Kriyashakty
Vamos recapitular algumas explanações de um dos nossos antigos textos para encetar a relevância deste magnífico conceito do esoterismo:
"Kriyashakti é uma terminologia sânscrita que provém das palavras 'Kriya', que significa esforço; e da palavra 'Shakti', que se traduz em poder divino (poder imanente, que existe no interior de cada ser)."
"Disse H. P. Blavatsky: 'Os antigos afirmavam que qualquer ideia será manifestada exteriormente se nossa atenção estiver profundamente concentrada nela. Do mesmo modo uma vontade intensa será seguida do resultado desejado'".
"Como citou a grande codificadora da Doutrina Secreta, "qualquer ideia", e, é conhecido que ideias podem ser benéficas como também prejudiciais. Alguém que tenha insegurança ou medo, obterá a realização de tudo aquilo que sua mente imprimiu no plano astral, manifestando no plano físico a curto ou longo prazo, dependendo da intensidade (esforço), consciente ou não, com que foi plasmada astralmente".
Como podemos ver, tudo se inicia primeiramente no astral para que depois, em diferentes períodos propícios às manifestações, possa ter a sua plasmação física — logicamente que, anterior ao plano astral, todas as coisas têm início no mental, como vimos no primeiro princípio hermético do Mentalismo.
As próprias leis do karma não deixam de ser o resultado das mentalizações, pois todas as atitudes, prospectos e ações têm seu início nas energias advindas das ondas mentais que se propagam na adjacência do Corpo Causal (o corpo causal está descrito em um de nossos primeiros textos, do qual é o próprio título). As energias mentais que propulsionam as ações criam situações futuras onde ações semelhantes são deflagradas. É, portanto, um sentido figurado quando dizemos que "o karma é como uma pedra que se joga para cima e cai na própria cabeça" — o karma, nada mais é que o conjunto de mentalizações presentes no próprio indivíduo, que gera uma ação prejudicial ao mundo, assim como recorrentes ações prejudiciais sobre a própria pessoa. É certíssima a afirmação que se diz: "o karma não é o resultado de uma má ação perpetrada pelo indivíduo; o karma é o resultado da própria energia que o indivíduo carrega; a mesma energia que o fez praticar suas ações prejudiciais ao mundo".
O hábito de perseverar em mentalizações que se estabelecem consubstanciadas no amor, na luz, na fraternidade, promove a "queima das Sementes Kármicas", e não uma sequência de desgraças e infortúnios que se sucedem ao longo das vidas.
Somos o reflexo daquilo que, mentalmente, emitimos à nossa adjacência e ao próprio universo. Conscientes desta realidade, poderemos iniciar as transformações necessárias para que nossa existência possa se transcorrer sob a égide dos elevados pensamentos.
Exercício de Comunhão com o Divino
Não podemos nos esquecer que, tanto no exercício de projeção astral, quanto na mentalização de cura através das cores, estamos nos mergulhando em planos existenciais mais próximos da verdadeira realidade, pois tanto o Plano Mental — o Manas — tanto o Plano astral, são frequências de níveis muito maiores de sutileza que a concretude física; o físico, como já explanamos em inúmeros textos anteriores, nada mais é que a densificação das energias, e que, quanto maior a sutileza dos mundos energéticos, mais próximos estarão da verdadeira realidade. Pois a realidade do universo é energia. Aquilo que chamamos matéria está alicerçado na sutileza, em seus incontáveis graus de estruturação. Dessa forma poderemos afirmar que, tudo aquilo que se distancia das densas frequências do mundo físico, mais distantes se tornam de "Maya" — palavra sânscrita que significa "ilusão", "fantasia". Quanto maior densidade for o plano existencial, mais ilusório é o seu sistema de coisas, o seu estado, e não o inverso como tantos pensam.
A verdadeira realidade é que somos parte do Todo, no qual estamos integrados e do qual não existe verdadeiramente a separatividade. A separatividade é uma ilusão. O exercício de Comunhão com o Divino, é, na verdade, um exercício de desprendimento daquilo que se fez ilusório, e a mentalização está consubstanciada em afirmar essa realidade tanto primordial quanto essencial.
Vamos, primeiramente, recapitular algo já visto em textos anteriores: Os Sete Passos do Raja Yoga para atingir o estado de Samadi. Ainda que, resumidamente, é essencial observar esse caminho sagrado de sublimação espiritual. Inicia-se com o yama, seguido pelo niyama, na sequência os assanas, seguido pelo pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e, finalmente o estado de samadhi.
Yama significa as interdições subdivididas em cinco práticas: repúdio à violência (ahinsa); submissão à verdade (satya- vodi); repudiar todo tipo de corrupção, furto ou apropriações indevidas (asteyam); banir da vida todo tipo de promiscuidade sexual — em textos sagrados faz-se referência em "não abastardar o sexo" (brahmachârya); e o desapego às coisas do mundo (aparigrâha).
Niyama seriam as prescrições:
Sâdhana: pureza espiritual.
Santosa: alegria.
Saucham: serenidade.
Vadhyâya: estudo.
Iswara Pranidhâna: Submissão ao amor, ou seja, à vontade de Deus.
Assanas são as posturas.
Pranayama, o domínio do Prâna — essencialmente o exercício da respiração alternada.
Pratyahara, a atitude mental de desligar a mente dos sentidos.
O Dharâna, a concentração. O Dhyana, a meditação; até alcançar a identificação com a divindade, que é o estado de Samadi.
Poderemos observar que todos esses passos se consistem em uma mentalização de desprendimento do ego para a integração com o Eu Superior.
Este desprendimento é alcançado a partir do momento que mentalizamos a verdadeira essência de nosso ser — este é o exercício de Comunhão com o Divino: Não somos o corpo físico, este é apenas nisso veículo de ação neste plano de vibrações densas. Mentalizamos também que não somos ego. Somos uma parte integrante do Todo. O Todo está em nós e nós estamos no Todo. Não existe separatividade. Tudo é uma unidade. O próprio ar que respiramos nos consagra no mergulho à sublime essência do Ser. Somos esse Ser. Somos o universo. Somos uma forma do próprio universo fazer um auto reconhecimento. Devemos afirmar em nossa mente que somos o universo pensando sobre si próprio.
Exercitando esta integração com o Todo; ou podemos até dizer: exercitando esta integração com Deus, gradativamente iremos aflorando nossa essência divina e todo o poder que esta essência confere.
A vida é muito mais que uma sequência de nascimento, morte e renascimento: devemos redescobrir a nossa natureza real e divina — e a mentalização é a chave para este portal para a própria divindade intrínseca.
Paz e Luz.